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terça-feira, 10 de setembro de 2019

Com os jogadores do City...


A chegada de Pep Guardiola ao comando técnico da equipa principal do Barcelona, trouxe consigo um impacto que, quanto a mim, ainda está por calcular em toda a sua total extensão. Pela primeira vez em longos anos, uma equipa exclusivamente baseada no talento conseguiu disputar e vencer as maiores provas do mundo do futebol, contrariando de uma só vez, uma infinidade de leis não escritas que de tanto ditas e repetidas se haviam tornado verdades absolutas no futebol mundial.

Tais conceitos versavam sobre a impossibilidade de se vencer encantando adeptos e rivais; dizia-se ainda que o futebol “moderno” era intolerante e incompatível com equipas baseadas essencialmente no ataque; jogar no corredor central? Jamais compensaria o risco; jogar no corredor central e com baixotes? “Líricos” diziam eles; e tantos outros dogmas que foram destruídos por um só homem e uma só ideologia.

O sucesso desse Barcelona dos “baixotes” foi de tal ordem que ninguém ousou dizer que não gostava do estilo. Sim, porque só as vitórias convencem a larga maioria de adeptos e protagonistas do jogo, nunca a ideologia que subjaz a cada estilo. Ganha? É bom. Perde? É fraco, mesmo que no dia seguinte o que é fraco passe a bom, porque ganhou, ou o inverso porque perdeu. Mas para além das vitórias, há algo mais nesse jogo que faz com que ninguém ouse dizer que não gosta: a inteligência. De facto, se há predicado absolutamente necessário para se jogar e compreender e jogar o estilo de Pep Guardiola são mesmo as faculdades cognitivas aliadas às faculdades técnicas. E quem é capaz de admitir facilmente que não gosta ou não compreende a inteligência de outro? Antes, procuram desqualifica-lo, mas enquanto isso não sucede por via dos resultados (o que mais?), não há como desqualificar o que é altamente qualificado.

E é por medo e vergonha que as vozes dissonantes do técnico Catalão se vão mitigando e, no limite, se vão procurando colar à sua ideologia, embora não cheguem sequer perto. E é nessa sequência, nesse processo mental que surgem sempre os comentários que procuram desmerecer o extraordinário pensamento e metodologia e Pep Guardiola, traduzidos na frase: “Com os jogadores do Barcelona/Bayern/City também eu jogava assim”. A infinidade de gente que já disse isto, desde adeptos a treinadores, passando por comentadores, deixa-me na dúvida se o dizem por mera dor de cotovelo ou, por outro lado, se por acharem mesmo que a ideologia nasce dos jogadores, bastando para tal junta-los e esperar que tudo aconteça por geração espontânea.

Pois bem, nem o jogo de Pep nasce dos jogadores, nem quem acha e afirma a frase transcrita acima escolheria os jogadores que Guardiola escolhe. E este último facto é mesmo mais extraordinário de todos. É que se me parece relativamente normal que nem todos consigam replicar aquele estilo de jogo - caso fosse fácil, de facto, não faria de Guardiola um treinador tão extraordinário - já me parece completamente surreal que afirmem ser dos jogadores que nasce todo o mérito, mas na hora de escolher os seus, escolhem tudo menos os que mais próximo estariam daquele perfil.

“Esses jogadores são caros” – diriam uns quantos. Mas não são todos? Quantos autênticos cepos são transacionados a preço de craque? Mas ignoremos este argumento e aceitemo-lo como verdadeiro e analisemos aqueles que não têm no preço dos jogadores qualquer restrição na hora da escolha: os selecionadores, mais concretamente, Fernando Santos.

É um facto que Fernando Santos não tem no preço dos jogadores um inibidor na hora de escolher, sendo então de supor que nada se colocaria entre ele e as escolhas de jogadores de perfil “Barcelona/Bayern/City”, seja para as sucessivas convocatórias, seja nas escolhas para o 11. Pois bem, mesmo sem esta inibição, o engenheiro faz gala em achar que, por exemplo, hoje em dia existem 11 Portugueses melhores que João Félix. “Não é bem assim, apenas acha que Félix não pode jogar com Cristiano Ronaldo e Bernardo Silva em simultâneo”, dirão. E o resultado não é o mesmo? O que Fernando Santos acha mesmo, é que a Seleção é tanto melhor quanto mais talento estiver fora dela, porque é simplesmente inadmissível que em 11 jogadores, ignore um dos 3 melhores da atualidade. Fernando Santos não sabe nem saberá nunca como conjugar os melhores, preferindo sempre uma ideia de jogo profundamente medíocre e miserabilista, tenha ele quem tiver ao dispor.

E o nome aqui nem é assim tão importante, porque o Fernando Santos desta triste história, poderia ser um José Mota, um Tiago Fernandes, um Lito Vidigal, um Jorge Simão ou qualquer um dos 99% de treinadores categorizados cá do sitio, porque todos eles iriam afirmar sem qualquer problema que “com os jogadores do Baça/Bayern/City também eu”, mas no momento de os ter ao dispor… só por obrigação estatutária é que os escolheriam.

E este é Portugal: Ter qualidade individual para um futebol de qualidade, mas que vive agarrado e amordaçado por um conjunto de treinadores que se caricaturam todos num individuo que venceu um Europeu com o mérito de um tipo que sobrevive a um tsunami agarrado a um pedaço de madeira.

Por isso, sempre que se ouvir a frase “com os jogadores do City também eu”, que não se tenha medo de dizer: é MENTIRA! É mentira, porque o nome dos jogadores não influi no pensamento de cada um; é mentira, porque quem o diz não faz ideia do que é qualidade; e é mentira, porque sempre que a tiverem ao dispor, vão varre-la rapidamente para baixo de um qualquer tapete!

Não tenho grandes dúvidas de que hoje em dia, Fernando Santos é um dos que mais torce para que João Félix não faça assim tanto ao serviço do Atlético, porque se o “puto” explodir em Espanha, o engenheiro não terá como varre-lo para o banco de suplentes, porque não saberá nunca como, realmente, tirar partido dos verdadeiramente melhores.

quinta-feira, 7 de julho de 2016

Estamos na Final!

Parece mentira mas é verdade. Mesmo não parecendo verdade, mentira é que não é.

Não sei o que este Europeu me está a fazer mas já não digo coisa com coisa. Parece que já não percebo nada disto, que já não sei nada ou que só sei que nada sei ou até que não sei o que sei.

Bem o que importa é que…

Estamos na Final porra!

A excitação de estar na Final do Euro só fica ligeiramente anestesiada pela falta de entusiasmo do caminho até aqui. Nem parece que isto está mesmo a acontecer.

Ontem foi o melhor jogo de Portugal. Sem brilhantismo e sem grande criatividade conseguimos ser muito competentes e ter sempre o jogo controlado.
Sem Ramsey o País de Gales não passa de uma equipa muito mediana. Incapaz de ter bola e totalmente dependente de rasgos de força e da meia-distância do Bale.
Soubemos controlar a profundidade, soubemos ter bola e soubemos ser pacientes. O Adrien foi o nosso melhor médio e o Cristiano fez o seu melhor jogo deste Euro.

Não podemos voltar a cair no erro de prender o Cristiano entre os centrais.
Tanto com a Polónia como ontem já vimos um Cristiano mais solto em campo. Ele tem de participar na construção do jogo e precisa de terreno para arrancar. Prendê-lo entre os centrais é desperdiçar um excelente jogador e facilitar a vida dos defesas.

Portugal joga poucochinho mas compensa em atitude e vontade. Isto tem chegado para ir passando sem vencer qualquer jogo e contra adversários acessíveis. Ontem foi a nossa primeira vitória e o nosso melhor jogo. Contudo este País de Gales, a par da Áustria, foi o adversário mais fraco que apanhámos.

Isto está a ser um pouco a imagem do Fernando Santos, focado na ideia que dificilmente alguém nos ganha e não na ideia que dificilmente não venceremos seja quem for. O Seleccionador Nacional tem mostrado excelência em todos os momentos e responsabilidade do cargo que ocupa menos em um: o futebol jogado. Tem 2 anos para melhorar nesse aspecto.

É como já disse. A excitação de estar na Final é imensa mas parece um pouco anestesiada pela falta de entusiasmo do todo o percurso, tanto pelos adversários como pelas exibições.

Só nos Oitavos apanhámos uma boa selecção e com grandes jogadores. Eliminar a Croácia é digno de registo mas nunca será digno de grande entusiasmo. É uma selecção ambiciosa, com potencial mas longe da primeira linha dos favoritos.
Eliminar uma Croácia com um golo em contra-ataque aos 117 minutos numa altura em que nos estavam a sufocar, uma Croácia que foi superior a nós durante os 120 minutos num jogo em que homenageámos a Carris, foi o melhor que conseguimos neste Europeu.

Sobre o jogo só mais uma coisa:

“Oh Fernando por favor, Bruno Alves em vez do Ricardo Carvalho? Nunca mais me faças uma coisa dessas”.

A Final será um jogo diferente e por isso faço já o ponto de situação e dou já os parabéns.

Parabéns a todos, principalmente ao Fernando Santos e ao Cristiano Ronaldo.

Parabéns pela união do grupo, parabéns pelo comportamento com os adeptos, parabéns pelo esforço, pelo trabalho e pelo desportivismo em campo.

Parabéns ao Cristiano pela humildade. No final da fase de grupos houve ali um momento no qual ele mudou de postura. Agora temos visto um Cristiano muito mais capitão do que em toda a sua carreira na Selecção. Colocou o vedetismo de lado e está a dar-se mais ao grupo, tanto a jogar como a liderar. Nunca deixará de ser arrogante mas tem humildade para reconhecer o erro e mudar a postura.

Parabéns ao Fernando Santos pela sua liderança, pelo seu discurso, pela sua crença, pela sua vontade, pela sua educação, pela sua comunicação e pelo respeito que tem sempre mostrado pelos rivais e principalmente pela nossa bandeira.

Ser seleccionador é muito diferente de ser treinador. O Fernando Santos tem tudo para ser o Del Bosque Português.

Sou um daqueles que no arranque do Euro estava confiante que este ano iríamos lutar olhos nos olhos com os maiores pela Final e pela vitória final.
Estamos na Final mas reconheço que a nossa Selecção me desiludiu muito. Esperava muito melhor. Não gosto nadinha do que temos feito em campo.
Mas há expectativas que não saíram defraudadas. Adoro o ambiente que agora se vive na Selecção e adoro estar na Final.

Agora é fazer de tudo para sermos campeões. Não somos favoritos e um futebol defensivo, à imagem do que temos praticado, fará agora algum sentido.

As criticas e tudo o que de menos bom há a dizer deve ser deixado para depois, para a preparação do próximo Mundial.

O nosso futebol é este, a nossa coesão é esta e a nossa vontade é esta. Agora é assim que temos de vencer o último jogo deste Euro.

Vamos Portugal!
 

sexta-feira, 24 de junho de 2016

Portugal (ainda) no Euro



Portugal 1-1 Islândia

Portugal 0-0 Áustria

Hungria 3-3 Portugal

Conseguimos apurar-nos para os Oitavos sem vencermos um jogo, fazendo só 3pts e conseguindo a qualificação como o terceiro 3ºmelhor por uma questão de golos. Portugal fez menos pontos que dois outros 3ºs e tantos pontos quanto os restantes.

O empate com a Islândia não merece contestação. Exibição muito cinzenta.
Com a Áustria conseguimos fazer uma boa exibição mas faltou marcar.

Com a Hungria foi mais um empate e mais uma exibição cinzenta.

Conseguimos a qualificação para as eliminatórias mas não nos enganemos, isto até agora foi péssimo.

Uma selecção com grandes jogadores e enormes aspirações tem de jogar muito mais.

Pessoalmente tinha muitas esperanças para este Euro. As exibições e os vários escusados episódios têm-me desanimado.

Temos agora 3 dias para melhorar e ou há uma grande evolução ou a vergonha vai aumentar.

No sorteio dos grupos Portugal teve a sorte de calhar com as equipas teoricamente mais acessíveis de cada pote.
Ao terminar a fase de grupos Portugal voltou a ter a sorte do golo da Islândia aos 94 minutos, evitando assim todos os tubarões até à Final.

Agora falta começar a jogar um futebol que justifique esta sorte.

O problema agora é na sorte já não nos calharem os menos bons mas sim os não tão favoritos.
Contra a Croácia teremos o primeiro grande desafio deste Euro. Acabou o facilitismo e o espaço para exibições medíocres ou crises de eficácia.

O tempo para crescimentos pessoais e experimentalismos acabou.
O Fernando Santos não pode continuar a ignorar o Rafa. O Moutinho agora ou vai ou racha. O Eliseu não serve. É preciso definir se a nossa identidade é o losango ou o 4-3-3.

Temos também de decidir se o Cristiano é só um excelente finalizador ou se também é um grande jogador. O Cristiano tem talento para ter bola no pé e jogar em todo o ataque ou só tem capacidade para actuar junto das zonas de finalização?
Sempre defendi que o Cristiano tinha de participar mais no jogo da Selecção pois temos necessidades que não existem no Real.
Hoje o Cristiano já não pode dar à Selecção o que podia ter dado em anteriores competições mas continua sem poder ser limitado à posição 9. A Selecção precisa de mais dele.
Longe dos mitos de ser o melhor do mundo continua a ser indispensável para a Selecção e não pode continuar escondido juntos aos defesas.

E não me venham dizer que com a Hungria o seu posicionamento chegou só porque marcou dois grandes golos (aquele primeiro então é puro espectáculo). Chegou para quê? Chegou para empatarmos com uma das equipas mais fracas do Euro?
(Atenção que é das mais fracas mas com uma excelente ideia de jogo)

Se somos bons temos de o mostrar. Com a qualidade individual dos nossos jogadores temos de conseguir ser bons.

O que também não tem ajudado é esta Federação de fretes.
Pensei que esses tempos já tinham passado e que íamos para França de cara lavada. Enganei-me.

Sempre foi claro que o Cristiano não merecia a braçadeira de capitão. Nunca fez por a merecer e muito menos por a manter. A Federação não tem autoridade, olha para o lado e deixa o jogador ter todas as regalias que quer.
Parece que aquilo é tudo dele. É a Selecção do Cristiano. Culpa dele? Não. Culpa de quem não tem tomates para liderar.
O passado é passado, até porque temos muito a acontecer agora.

O Cristiano continua a ser o rei lá do sítio.
Não sabe bater livres mas irá fazê-lo até não lhe apetecer. A família dele quase parece a máfia lá do sítio: aparecem quando querem, falam quando querem e dizem o que bem lhes apetece.

Até agora contei 4 episódios inexplicáveis.

Temos o episódio do passeio matinal em que um microfone voou para o lago e a federação assobiou para o lado. Como seria com outra federação e/ou outro jogador?

Tivemos há poucas semanas o anúncio que a marca CR7 agora calça a Selecção Nacional. Portanto o Cristiano patrocina a Federação, é isso?

No final do último jogo tivemos o episódio em que o Cristiano se vê na obrigação de perguntar ao assessor de imprensa da Federação se é ele que manda ali. O próprio jogador ficou com essa ideia e a federação não o conseguir negar.

E finalmente temos aquele que para mim é o episódio mas inexplicável de todos. Falaram-me disto há umas semanas mas não acreditei. Entretanto fui confrontado com fotos, com o directo do passeio e com o directo da entrega do troféu de melhor em campo ao Cristiano e não tenho mais como ignorar. Estou a falar da presença de um amigo pessoal do Cristiano na comitiva da Selecção.

Digam-me, está um amigo do Cristiano integrado no estágio e no dia a dia da Selecção? É isto possível? É possível que um tal de Regufe ande a ter estas regalias?

Repito. A culpa não é do Ronaldo. A culpa é de quem ali não lhe sabe dizer não.

Nunca iremos vencer nada enquanto os nossos líderes forem tão fracos e subservientes.

Sábado há Croácia. Haverá Portugal?
Quero ganhar o Euro, por favor joguem à bola.

segunda-feira, 20 de junho de 2016

Fernando Santos - ou a glória ou o espeto


Em cada português, uma lousa onde traçar a vitória no Euro. Gizar a táctica perfeita. Escolher o 11 evidente. É simples, basta "não inventar". Talvez precisemos de um programa informático que reúna 11 milhões de onzes e dali saia então, filtrado por um algoritmo altamente lusitano, os 11 heróis que nos levarão à glória, mesmo que a máquina acabe metendo o Bruno Alves a ponta-de-lança, o Patrício nas entre-linhas e o Cristiano Ronaldo a fechar a ala direita.

Se escolher 11 jogadores para uma competição desta natureza fosse fácil, não era para nós. Decidir implica muito mais do que olhar estritamente para as características individuais de cada jogador. Requer um pensamento mais elaborado e colectivo, precisa de ter coerência com o trabalho que vem sendo preparado nos últimos meses. É por isso que Fernando Santos começa a dar sinais preocupantes.

Desde logo, a escolha por Quaresma em detrimento de João Mário no último jogo. De repente, sob o peso da crítica e das exigências populares por enfiar no relvado os 3 reis magos, o mister sucumbiu à pressão e perdeu a bússola com que vinha norteando as suas opções. Se o que estava trabalhado era um 11 que privilegiasse o entendimento entre 4 médios - dois mais interiores que soubessem furar defesas mais compactas através da movimentação dentro do bloco adversário e abrissem espaços para a entrada dos laterais, um posicional e um "8" em apoio aos dois avançados selvagens lá na frente - não se percebe a opção no jogo com a Áustria, que acabou por nem ser carne nem peixe. Portugal acabou por entrar em jogo em formato delícias do mar e naturalmente pagou por isso.

Sem ponta-de-lança de qualidade inegável, Santos, inteligente, optou por trabalhar uma equipa que tivesse nos seus médios a capacidade para semear com bola, num jogo de posse e pelo relvado, a planta que crescesse até ao golo. Uma linda árvore frondosa que fosse crescendo pelo jogo interior e constantes combinações curtas, usando as alas não para cruzamentos insípidos mas como forma de embuste. É evidente, um cruzamento não é nenhuma erva daninha se tiver o propósito e as condições ideais. Será o passe de André Gomes para Nani no nosso único golo igual a um charuto do Quaresma de meio do meio-campo? Não é, mas há quem queira chamar cruzamento a tudo e justificar cada bola atirada pelo ar sem critério como "mais uma opção válida".

O futebol desta equipa estava a ser trabalhado para uma forma específica de jogar - que, quanto a mim, viria a ter a sua natural glória a curto prazo - mas Fernando Santos, após o primeiro empate, decidiu esquecer-se de tudo isso e foi atrás do palreio (legítimo, porque todo o palreio é legítimo) da generalidade dos palradores lusitanos. Aí cometeu o seu primeiro erro, sobre o qual deverá reflectir e rapidamente corrigir, fazendo reentrar no 11 o único médio (já que não levou Pizzi) que pode elevar o futebol de Portugal à lucidez: João Mário. Na frente, soltar Ronaldo livre e escolher entre Nani ou Quaresma o seu companheiro para os desvarios.

O segundo erro de Fernando Santos derivou do primeiro: após uma aposta incoerente contra a Áustria, a equipa empatou, o futebol piorou (apesar das naturais oportunidades de golo), e o Mister, confrontado com tudo o que prometera, decidiu prometer ainda mais: agora já não íamos só fazer tudo para ganhar isto, agora já sabíamos que só vamos acabar no dia 12 de Julho no Marquês, com 11 milhões de portugueses em cima da cabeleira do Pombal. Era o desespero final.

Na sua bondade, na resposta às preces sedentas de glória dos emigrantes que amam este país de forma absolutamente enternecedora, Fernando Santos despiu-se, passou molho barbecue pela pele, abriu o grelhador e deitou-se em cima das brasas. Resta saber se o povo o vai querer bem ou mal passado.


quarta-feira, 18 de maio de 2016

Convocatória Euro-2016



Para começar tenho de dizer que há muitos anos que uma convocatória nacional não me satisfazia tanto.
As convocatórias de Paulo Bento eram uma aberração e Fernando Santos conseguiu trazer um novo ar a tudo isto.

Vemos hoje uma Selecção Nacional mais aberta ao talento e aos jovens portugueses. Vemos hoje uma convocatória mais justa e meritória.
Respira-se melhor na Selecção Nacional.

Neste Euro teremos uma Selecção de Portugal e não uma Selecção de protegidos do seleccionador.

A meu ver não é uma convocatória perfeita mas há uma evolução clara. É uma boa convocatória.

Ainda vejo aqui 4 nomes que já contava não ver na Selecção a esta altura. Falo do Eduardo, do Bruno Alves, do Quaresma e do Éder.

O Eduardo como vem para 3º guarda-redes não incomoda muito. O Éder é convocado para suprir uma necessidade táctica, para permitir uma alteração no desenho ofensivo caso o jogo assim o exija. Haveriam outros pontas de lança a considerar mas neste momento nenhum que se destaque particularmente. Ter Nani e Quaresma é algo que me custa aceitar. Tendo Nani considero que a outra vaga deveria ser ocupado por um extremo mais jovem e num momento de forma superior. A insistência no Bruno Alves é algo que não compreendo há já 6 anos e por isso agora já estou como que resignado.

Fiquei foi muito surpreendido com a chamada do Renato. Acho que ainda é muito cedo para ele. Num ano de estreia, num ano em que estamos muito bem servidos no meio-campo e num ano de Jogos Olímpicos, considero que não era ainda a hora do Renato na Selecção principal.

Nesta convocatória sinto falta de um médio mais ofensivo e criativo. A lesão do Bernardo Silva é um duro golpe.
Com Danilo e William presentes, provavelmente eu apostaria numa convocatória só com 3 centrais. Assim chamaria o Pizzi para o lugar do Bruno Alves.

É uma pena partirmos para este Europeu com as lesões do Bernardo, do Fábio Coentrão e do Tiago. Também há a do Danny mas essa desportivamente não me custa tanto.

Como benfiquista não gosto de ver o André Almeida e o Pizzi de fora.

Os sectores que mais me preocupam são as laterais. Nesta altura nem os convocados para a direita nem os convocados para a esquerda me dão grandes garantias.

Resumidamente,

Gostei da convocatória. Mudava algumas coisas, não me enche as medidas mas é uma boa convocatória que vem cortar com a decadência do passado.

O novo 4-4-2 do Fernando Santos e esta convocatória trazem-me um novo entusiasmo relativamente à selecção.

Patrício, Vieirinha, Pepe, Ricardo Carvalho, Eliseu, Danilo, Moutinho, João Mário, Rafa, Nani e Cristiano.

(Custa não colocar o André Gomes. Talvez pelo Nani libertando mais o Rafa e também o João Mário para o ataque.)

Entusiasmo, esperança e ansiedade para ver a equipa das quinas em acção.


sexta-feira, 25 de março de 2016

Daqui a pouco há Selecção



Reconheço o desinteresse crescente que há na nossa Selecção Nacional. Não existe uma ligação entre a equipa nacional e os portugueses.

É evidente o que cada vez os adeptos ignoram mais a Selecção e focam mais nos seus clubes e muitos são aqueles que vibram mais com o Cristiano Ronaldo do que com a equipa nacional.
“Que se fod* a Selecção, eu sou do Benfica”

Eu afasto-me muito desta cultura. Sempre vibrei muito com a Selecção, sempre vivi os jogos da selecção, já gritei, pulei, cantei e chorei muito com a nossa Selecção.
Sou um romântico no que toca à Selecção Nacional. Gosto que os jogadores do meu clube sejam convocados para as suas selecções e que joguem. Gosto de ver a Selecção Nacional recheada de jogadores do Benfica.
Percebo a preocupação com o cansaço e com as lesões mas do mesmo modo que acredito que uma equipa beneficia no campeonato pelo facto de ir ganhando na Europa, também acredito que o rendimento dos jogadores no clube sai beneficiado pelas suas internacionalizações.

E atenção, não estou nem vou criticar quem olha para a Selecção e para o Futebol de forma diferente da minha.
Simplesmente acho que o gostar e viver a Selecção não me reduz em nada a paixão pelo Benfica.

Os responsáveis pela Selecção Nacional andam perdidos deste os tempos do Humberto Coelho. Scolari foi um tiro de sorte. Contrataram um motivador a pensar que estavam a contratar um treinador. Com a equipa que tínhamos, com os jogadores que tínhamos e com um Europeu a ser realizado em Portugal, um excelente motivador foi o necessário tanto para 2004 como para 2006.

Carlos Queiroz foi um erro e Paulo Bento, ao não ter saído logo em Julho de 2012, rebentou com tudo o que é uma Selecção Nacional.

As convocatórias inexplicáveis juntamente com exibições deprimentes e uma clara falta de liderança, tem criado esta nuvem cinzenta à volta da Selecção das Quinas.

Cristiano Ronaldo é um falhanço enquanto capitão e quem o escolheu e manteve também o são. Um jogador não pode ser capitão só porque é o mais famoso e galardoado.

O Fernando Santos tem agora de atravessar este deserto para se livrar da sombra do antigo seleccionador.
Os jogos foram ganhos, novos jogadores apareceram e Portugal está no Euro e aponta para bem alto.

Agora falta Futebol. É crucial melhorar muito as exibições, não fazer a equipa depender da inspiração de um só jogador e saber deixar cair jogadores que estão a mais nas convocatórias há muito tempo.

E hoje é o dia em que se tem de dar este passo.
Não há motivo para sermos uma Selecção de mentalidade pequena e de futebol pequeno.

Não temos Figo, nem Rui Costa. Não temos Paulo Sousa nem Deco. Não temos Fernando Couto nem Miguel. Mas temos muito talento e muita qualidade que não podem mais ser ignorados.

Esta convocatória já é uma evolução relativamente ao passado recente mas ainda está longe de ser a ideal.

Quero uma equipa com uma dupla de centrais entrosada e de qualidade. Ser alto e forte não pode ser prioritário ao saber ler os lances, fazer as coberturas e ter qualidade na bola no pé. Os laterais têm de ter uma excelente combinação com os extremos, coragem para atacar competência para defender. O meio-campo tem de se equilibrar nos desequilíbrios. Homogeneidade não é equilíbrio. É essencial um trio de rasgo, velocidade, drible, leitura de jogo e capacidade de passe. Quero três jogadores diferentes com funções diferentes e que criem um entrosamento e não 3 jogadores iguais a jogar no mesmo espaço e a insistir na pasmaceira da segurança. Quero ver um ataque móvel, com bola no é e alegria pelo jogo. Chega do jogo directo para o jogador do costume na esperança que surja o espaço para finalizar.

O meu 11 para defrontar a Bulgária:

Patrício ou Anthony Lopes.
Ambos têm qualidade para a Selecção. O Patrício é o titular mas há ainda o jogo com a Bélgica.

Vieirinha, Pepe, José Fonte e Eliseu.
Há muitas ausências para este jogo – Coentrão, Ricardo Carvalho e Nélson Semedo por exemplo. Quero ver mais do Vieirinha. O Raphael Guerreiro conheço pouco e parece-me menos preparado que o Eliseu.

Danilo Pereira, João Mário e João Moutinho.
Sempre vi o William Carvalho como o nosso 6 titular mas neste momento o Danilo está muito melhor. Gosto muito do André Gomes mas a dupla Moutinho e João Mário parece-me dar mais colectivamente à equipa.

Rafa, Bernardo Silva e Ronaldo.
Este é o trio dinâmico que quero ver jogar. O Nani e o Danny são também opções mas ambos andam longe das grandes performances. Estes três tanto podem dar largura, profundidade e jogo interior ao nosso ataque. A convocatória não me permite ponderar um ponta de lança – o Nélson Oliveira seria o que melhor se encaixaria. Este trio exige grande dinâmica de outros sectores. Vieirinha, Moutinho e principalmente o João Mário são essenciais neste processo.

sexta-feira, 19 de junho de 2015

Selecção Rumo ao Futuro



O Arménia – Portugal foi um jogo demasiado pobre. A exibição portuguesa meteu dó. Defensivamente o Ricardo Carvalho foi compensando a incapacidade ofensiva da nossa equipa. Ofensivamente, apesar de também um exibição muito apagada, o Cristiano conseguiu fazer proveito de três erros defensivos da selecção da Arménia, com um tiraço no terceiro erro.

Falta um ano para o Europeu e três anos para o Mundial. Quem jogou?

Rui Patrício – 27 anos

Vieirinha – 29 anos

Bruno Alves – A fazer 34 anos

Ricardo Carvalho – 37 anos

Eliseu – A fazer 32 anos

Fábio Coentrão – 27 anos

Tiago – 34 anos

João Moutinho – A fazer 29 anos

Nani – A fazer 29 anos

Danny – A fazer 32 anos

Cristiano – 30 anos

José Fonte – A fazer 32 anos
William Carvalho – 23 anos

Adrien – 26 anos

Ficaram de fora por lesão dois jogadores que têm sido titulares.

Pepe – 32 anos

Bosingwa – A fazer 33 anos

Neste grupo de 16 jogadores a média de idades é superior a 30 anos, só 1 tem menos de 26 e só 4 têm menos de 29 anos.

Depois de Paulo Bento, depois daquele triste Mundial e depois daquela derrota com a Albânia, percebo que Fernando Santos opte por jogar pelo seguro. Percebo a preocupação em somar vitórias e garantir o apuramento para o Europeu.

Percebo tudo isto mas não irei perceber se tanta preocupação continuar.
Portugal está em primeiro no grupo e tem o apuramento muito bem encaminhado.

A Selecção precisa urgentemente de nova alma, de coragem e de frescura. Precisava disso em 2013, precisava disso em 2014 e enquanto nada se fizer irá continuar a precisar disso em 2015, 2016, 2017 e 2018.

Espero um novo paradigma depois do Verão. Com o fim do Mundial Sub20, com o fim do Europeu Sub21 e com as pré-épocas que vão agora se realizar, acredito que Fernando Santos, se quiser, pode finalmente começar a preparar o renascimento desta Selecção.





terça-feira, 31 de março de 2015

Seleccção Nacional na Luz e a caminho do Cabo Verde



Bem, hoje joga Portugal. 

Portanto hoje ainda tenho o botão selecção accionado. Felizmente isto dá para ter vários botões ligados ao mesmo tempo. A partir de amanhã já foco somente no Benfica que a todos nos une. 

O que dizer da Selecção… 

Jogo no Estádio da Luz, casa cheia, ambiente fantástico. Só podia. 

Coentrão a marcar, Matic a brilhar… mais do mesmo. 

O Fernando Santos chegou agora. Os resultados do seu trabalho ainda estão longe de ser aquilo que todos queremos. Nota-se que há muito para mudar, muito para afinar e muito para trabalhar. Vai levar tempo, é um processo longo. Tem mais um ano para o fazer. 

A Selecção joga pouco. Joga o suficiente para ir ganhando com dificuldade cada jogo que vai fazendo. E sinceramente, neste processo de transição, é crucial conseguir ganhar os jogos, somar os 3 pontos, garantir o apuramento e ganhar o grupo. Mas isto só nos leva ao Europeu. Há toda uma outra parte que precisa evoluir para não irmos somente fazer turismo a França. 

O Fernando Santos chegou e fez logo o que tinha de fazer: abrir o grupo fechado que esta selecção se tinha tornado.
O Paulo Bento tem as suas qualidades. Conseguiu ter um impacto muito positivo quando chegou a seleccionador. Contudo não soube renovar a sua imagem e mês após mês foi cada vez mais se fechando num conservadorismo de grupo e táctico que não pode existir numa Selecção Nacional. 

O FS soube acabar com este conservadorismo. Reabilitou jogadores de qualidade para a selecção, trouxe novas ideias de jogo e percebe-se que está à procura de algo.
É importante que aos poucos não comece a cair no erro do seu antecessor. É importante que não comece a fechar a selecção a um grupo da sua confiança e a uma ideia única. 

O jogo com a Sérvia agradou pelo resultado mas deixou claro que a selecção está ainda longe de encontrar um novo ritmo e identidade. 

O meio-campo é onde estamos melhor servidos. Temos o Tiago e o Moutinho, temos também o William Carvalho e o André Gomes. E ainda temos outras soluções como o Amorim, Pizzi, Adrien, João Mário, André André, Tiba, Bernardo Silva, Ruben Neves, entre outros.
Mais importante que os nomes ou que a qualidade individual, é encontrar um equilíbrio e uma heterogeneidade para o meio-campo. É preciso saber expandir o meio-campo. É preciso potenciá-lo no momento da posse de bola. Basicamente, o oposto do que acontecia com o Paulo Bento. Tenho então alguma expectativa na inclusão do William e/ou do Pizzi e/ou do Bernardo Silva.

Sem nenhuma exibição de encher o olho, foi no centro do terreno que tivemos os melhores jogadores: tanto o Moutinho e o Tiago pela qualidade de jogo como o Coentrão pela presença nas jogadas.  

A baliza não está mal entregue mas ainda gostava de ver o que o Anthony Lopes pode fazer. O Beto é que não. 

No início deu para perceber a chamada do Bosingwa mas… já chega. 

Na esquerda… Há Coentrão e há Antunes. Há também o Sílvio e o André Almeida. Há ainda outros jogadores como por exemplo o Tiago Gomes ou o Tiago Pinto. O Eliseu é que não, por favor. 

No centro da defesa há novamente Ricardo Carvalho. Faz logo toda a diferença. Infelizmente saiu antes do minuto 20 por lesão. Até aí estava a ser o melhor da selecção. Além do golo esteve impecável tanto no seu papel de central como no de corrector de borradas do Bruno Alves. 
Pepe e Fonte são apostas seguras. Falta explorar outras possibilidades, como o Paulo Oliveira. O Bruno Alves no máximo como quarto central e nesta altura já estaria bem melhor fora das observações do seleccionador. 

Nas três peças ofensivas foi onde vi menos qualidade. É no ataque que se nota uma maior deficiência na selecção. Ainda é tudo muito experimentas e individualmente as coisas não estão a funcionar.
Deus me livre estar a pedir a inclusão do Almeida ou do Éder… mas algo tem de ser criado.
Neste jogo o Danny foi inexistente, como normalmente é. O Nani foi esforçado, participativo mas ineficaz. O Cristiano foi um apagão com dois ou três pequenos momentos de qualidade. Não se pode ter um jogador com a qualidade do CR afastado do jogo criativo da equipa. Um jogador como o Cristiano tem de ter uma participação constantemente activa no jogo da Selecção. 

A Selecção Nacional é a Selecção de Portugal. Nunca poderia ter sido a Selecção do Paulo Bento e não pode ser a Selecção do Santos nem a Selecção do Cristiano. Já passou da hora de a braçadeira de capitão ser entregue a quem a merece. Já passou da hora da responsabilidade das bolas paradas ser colocada em quem tem qualidade para a ter. 

Tenho reparado que apesar do meio-campo com 3 elementos, o jogo da selecção passa muito pelos ataques rápidos e contra-ataques. Jogar contra uma Alemanha assim até percebo e acho que pode resultar. É uma forma eficaz de explorar os pontos fortes do Cristiano, a velocidade dos avançados e laterais da selecção e a subida da defesa adversária. Mas jogar assim contra equipas do nosso nível ou de um nível inferior já me parece um desperdício de talento e uma forma ineficaz de enfrentar quem não se expõe ao risco.
A presença do Coentrão no meio-campo veio acentuar esta ideia de jogo. 

Posso dizer que estou agradado com a selecção mas a partir de agora a exigência irá aumentar jogo após jogo. É crucial começar a ver-se mais.

Estou mais entusiasmado hoje com os convocados para o jogo do que estava no jogo anterior. Gosto desta politica de convocar só nacionais e de promoção de jovens dos sub-21 para a A. Espero que se queira tirar proveitos disto e que seja uma medida estratégica e com continuidade e não só uma excepção no percurso.

Portugal tem qualidade, talento e principalmente competência para sonhar mais alto. Só os “Srs. Só somos 10M” é que não conseguem ver isso. 

Quando uma selecção joga, em campo não estão jogadores individuais nem uma equipa colectiva mas sim um país. Todos os nomes são secundários, o que realmente importa são as 11 camisolas, enquanto símbolo nacional, que estão a disputar o jogo.
É esta noção que se tem perdido, tanto entre os jogadores como entre os paineleiros e também entre os adeptos.

sábado, 29 de novembro de 2014

O Homem que Mordeu a Champions

Há rábulas dignas d' O Homem que Mordeu o Cão. Aquela em que Jorge Jesus é o único homem em Portugal que não sabia que o Benfica já estava de fora não só da Liga dos Campeões mas também da Liga Europa é uma delas. Provavelmente até Nuno Markl já teria tomado conhecimento de tal ocorrência.

Nesta história rocambolesca que é a eliminação do Benfica da prova rainha da Europa do futebol, o maior destaque vai para o "lapso" que Jesus cometeu na conferência de imprensa de antevisão ao jogo com a Académica. Quando confrontado com a fatalidade de o Benfica terminar a fase de grupos da Champions em 4º lugar, Jesus retorquiu ao jornalista afirmando que era preciso esperar pela última jornada para saber se se confirmaria a última posição. Depois, novamente confrontado com a realidade, Jesus recorreu à matemática para confirmar aquilo que até provavelmente José Sócrates já sabe: o Benfica está mesmo eliminado da Liga dos Campeões.

Falta de atenção? Desconhecimento da verdade? Não sei ao certo o que foi aquele momento [mais um] verdadeiramente deprimente de Jesus numa conferência de imprensa. Mas acho muito estranho que tenha de fazer contas à pontuação das várias equipas para se aperceber, passadas 48 horas da eliminação, de que o Benfica estava mesmo destinado a não viajar mais de avião esta temporada. É que se não fosse a bazófia do costume, aliada a uma leitura de jogo digna de um treinador das distritais (tirar Talisca e meter Derley foi uma das substituições mais incompetentes que me lembro de ver dado o contexto do jogo), o Benfica estaria a uma vitória de garantir o apuramento para a Liga Europa.

Somos todos do tempo em que Fernando Santos era crucificado por não conseguir passar a fase de grupos da Champions. E se não temos memória curta, todos nos lembramos. E se não somos intelectualmente desonestos, também não esquecemos as críticas que se fizeram (e que alguns ainda fazem) a Fernando Santos, enquanto colocam paninhos quentes no homem que recebe 4 milhões de euros por ano e que tem hoje o dobro do orçamento que os seus antecessores tinham. Fica a ideia.

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

O dia do jogo do Benfica

O dia do jogo do Benfica é sempre um dia especial. Podem vir anunciados meteoros nos telejornais, tempestades medonhas, uma crise de pão e leite, eleições, mais uma manifestação, greve dos trabalhadores, a sogra que vem almoçar. Nada interessa muito. Fingimos para o mundo que é mais um dia, cumprimos o ritual de acordar e fingir viver como se nada fosse. Cumprimentamos a sogra, preocupamo-nos com as notícias das televisões, dizemos «se este meteoro chega a cair, é o fim», mas no fundo o único fim que há é o do final do jogo do Benfica.

Podemos estar a dois passos do Estádio ou no outro lado do mundo, quando o Benfica joga nós paramos a vê-lo. Antecipamos o jogo. Sonhamos com o jogo. Dormimos agarrados ao jogo. Na noite anterior fazemos os onzes, o que em princípio vai entrar em campo e o que nós preferimos. Deitamos na cama, começamos a contar peças, a escolher posições, os jogadores que queremos no relvado, os jogadores que não queremos mas aceitamos - afinal, o mister é que sabe, é ele que treina com eles durante a semana. Olhos no tecto, noite cerrada, falamos baixinho para não acordar a pessoa ao lado. «Devíamos começar assim» e depois dissertamos no cérebro toda uma lógica táctica ou só uma vontade que temos para a vitória. Queremos que o Benfica ganhe, não é?

No dia do jogo fazemos coisas. Temos de fingir que há coisas a fazer. E fazemo-las com todo o denodo e devoção, as outras pessoas não podem perceber que o único pensamento que nos sobrevive é o de esperar religiosamente por ver o Benfica. Somos bons a disfarçar. Quem olhasse para nós e não nos conhecesse, diria até que nem ligamos para futebol, que parecemos sãos, que um dia seremos gente importante. Mas há indícios que os outros não vêem, ou fingem não ver, que nos denunciam. Há um qualquer nervosismo que nos denuncia; comemos mais rápido, não comemos de todo, falamos muito ou calamo-nos num olhar no vazio. 

O almoço de família vai animado, dizem-se graçolas com os dentes na tarte de maçã, bebem-se cafés, sorvem-se digestivos. O que se passa, então, com aquele benfiquista que nervosamente olha o relógio, não ri do que é dito, se esquece de brindar? Que tem dois olhos estáticos na eternidade, as mãos inertes, a boca sem graça? 

O benfiquista acha que finge bem. Que não dá barraca. Abre um sorriso para o mundo e pensa enganar quem o rodeia. «Estou adoentado», diz. «Um uísque agora...», enquanto volta a fazer o onze e diz que sim a toda a gente com a cabeça, não ouvindo nada. Come a sobremesa, dá um shot de café, ri-se muito do que as pessoas dizem. «Vai jogar o Cardozo ou o Rodrigo?», coisas que vai pensando embora já haja gente a desconfiar daquele olhar submerso. O benfiquista ia dizer «brindemos!», mas saiu-lhe um «VIVÓ BENFICA!», que espantou toda a gente na mesa, cães incluídos, paredes e sofás incluídos, quadros na parede mudando esgares de sorrisos. 

Já vi o Benfica em todo os lugares do mundo. Vi o Benfica no estádio, nos cafés deste e de outros países, em casa de amigos, na rua ouvindo o relato, no carro, em comboios, no trabalho - aconteceu-me trabalhar num restaurante, ter de servir sozinho 70 pessoas e ver o Benfica não vendo, naquela cozinha aonde ia esperar pratos e suplicar ao cozinheiro «Zé, diz-me que estamos a ganhar» e estávamos ou quase que estávamos, porque, como bem disse o Grande Artur, o Benfica nunca perde, às vezes não ganha. 

Lembro-me agora da América do Sul. Andava pela Bolívia no Agosto de 2007, Santa Cruz e a descoberta da civilização indígena sobre esta falácia que é a religiosidade católica. O Benfica fazia um jogo de pré-época, Fernando Santos ao leme. Entrei num cyber, escolhi o meu cubículo (devidamente contornado lateralmente por contraplacado e tapado por uma manta inca), pus os auriculares e vi, aos soluços, um jogo em que entrou o Adu e foi uma grande alegria. O Rui Costa terá marcado um golo de longe, é possível que tenha sido isto. 90 minutos a ver o Benfica na Bolívia, enquanto a minha companheira brasileira esperava o final do desfecho, perscrutando as ruas, provavelmente percebendo a doença que me alucina.

O dia do jogo do Benfica é sempre um dia especial. É um dia de doentes. Que nunca ninguém encontre a cura para nós.