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quinta-feira, 1 de março de 2012

Oráculo cósmico

O futebol é um bicho difícil de entender. Entre crenças mais ou menos sobrenaturais, rituais satânicos, mezinhas, obsessões, poções mágicas e superstições, de repente vemo-nos num emaranhado de explicações metafísicas para aquilo que é, apesar de não parecer, uma coisa bastante simples. Um intelectualóide extremamente notável não diria melhor: são 11 contra 11 atrás de uma bola. 

Isto se a bola fosse redonda ou não houvesse Gabriel Alves para nos confundir as voltas. Há um lado do futebol que só é entendível no plano do mirífico, algo a que, dependendo do grau de fanatismo, podemos ou não chegar. Por vezes, olhamos o relvado e é aquilo, sem mais nada: uma bola, jogadores e duas balizas. Outras, por não nos rendermos ao simples, vemos nele um lugar de peregrinação e transcendência. Para as nossas vidas, para as vidas alheias, para o mundo. Para uma infância que sobrevive de coração apertado em 90 minutos entre a vida burocrática. Um espaço de infantilidade e sonho.

Tinha acordado sobressaltado, cheio de dúvidas. Proença invadiu-me os sonhos e metamorfoseou-os em horripilantes pesadelos; "A BOLA" anunciou-me de manhã: Garay sofre de joelho macerado, após jogar 90 minutos; a equipa vem de dois jogos consecutivos sem marcar golos; 5 pontos perdidos nos últimos 6 possíveis; Jesus disparata e diz que o jogo não é decisivo; o Benfica sofre de uma trauma qualquer, só explicável num sofá vermelho de psiquiatra, sempre que entra em campo contra o demo; os adeptos temem mais uma desilusão; as equipas de Jesus tendem a cair no abismo no mês de Março; não há alternativas aos centrais e ao lateral-direito; não há lateral-esquerdo; ninguém pode substituir Javi Garcia; Gaitán estará em dia sim ou dia normal?; Emerson fará o jogo da sua vida?; os adeptos irão de vermelho? e cantarão ou sentar-se-ão em modo velório?

Dúvidas e inquietações de uma semana de luto entremeada, chouriçada, afiambrada com uma esperança que não sei de onde vem, talvez da memória presente de um Cosme que nos alimenta a alma e nos leva a acreditar na superação para além dos limites do possível.

Tudo isto existe em mim como coisa tangível e simultaneamente abstracta. Vive aqui, comigo, sem razões que a possam explicar. Mas, por algo igualmente do foro do etéreo, estou certo de que amanhã será um dia histórico. Há um fogo que se propaga até ao fim dos tempos. 11 contra 11, uma bola, duas balizas. E uma vitória do Benfica.




Nota da gerência para o pessoal que pergunta onde esta malta se encontra em dias de jogo: para nos encontrarem e beberem connosco ao Jaime Graça e ao Benfica, basta procurarem a rulote Manelito, no Alto dos Moinhos. É lá que se estagia. Venham todos e bebamos, companheiros, bebamos.