Na senda do magnifico texto anterior, resolvi também recuperar um texto meu, mais ou menos da altura em que o Ricardo escreveu o dele. Aliás, chegamos a comentar a coincidência de termos escrito sobre quase a mesma matéria praticamente em simultâneo...
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Decididamente devia ter sido jogador da bola. Porque é que não fui bafejado por um talento fenomenal e descoberto por um olheiro de um clube grande quando esbanjava magia nos improvisados campos do Largo da Feira? Dias inteiros ao sol e à chuva, na lama ou no pó, por entre calhaus e estendedouros de roupa, com bolas mais ou menos boas, normalmente más. Com amigos com idades compreendidas entre os 5 e os 12 anos, gordos, magros, com fome, asseados e menos limpos, ciganos e de outras etnias, para quê???
Mais tarde no campo do Matuzarense, eu de barquinho ao peito, electricista de coração, chegava na Casal de 4 e treinava no pó ou na lama, com amigos da mesma idade e alguns com habilidade para a coisa… Jogos no fim de semana, flatulências nauseabundas nas carrinhas e passear gloriosamente pelo distrito. E nem aí fui descoberto! Porque é que não abri o livro, como se diz na gíria, num jogo em que havia alguém importante a ver? Chamavam-me e diziam: “Vens para tal sítio assim assim, pagamos-te um balúrdio e tu só tens que jogar à bola todos os dias…”
Jogar à bola todos os dias e ter uma conta bancária volumosa… Que mais se pode querer?
Quando era pequeno e assistia a jogos do Benfica e quando corriam mal, uma das formas que tinha de me confortar era pensar para mim: “Não há problema, quando eu for grande, vou jogar para lá e ganhamos sempre…” Era com a maior das naturalidades que acreditava nisto. Porém cedo o sonho se foi desvanecendo e a percepção das minhas qualidades futebolísticas limitadas ajudou. Ok, não há problema, sou bom na escola, hei-de arranjar aí um curso que me pareça bom e ter uma profissão... Bom, agora que tenho o curso e a profissão, jogo à bola de vez em quando e não tenho uma conta bancária volumosa. Pois é…
Um dia destes estava num bar aqui em Vilamoura e vejo chegar um carro fenomenal: um Maserati não sei quantos com matrícula italiana… Quem é que salta lá de dentro enfiado numas calças coiso e tal, numa camisa xpto e com um relógio reluzente, portanto caro? O bronzeado Rui Costa, esse mago da bola, esse poeta dos relvados, para não lhe chamar maestro que isso toda a gente chama.
Ora eu, que não tive a fortuna de ser jogador da bola ali estava, a beber o meu cafezito, depois de um dia de trabalho num contentor de uma obra, a olhar preocupado para o galgar dos minutos, subtraindo mentalmente cada um que passava ao número de horas que me restava de sono. E o Rui Costa feliz, de férias, sendo que as férias dele, basicamente, são não jogar à bola por um período.
Foi depois disto e de ter cumprimentado o simpático e acessível artista que pensei: “Não, afinal quero ser jogador da bola… Ah, não, já não dá… Ok, amanhã às nove na obra!”
Mais tarde no campo do Matuzarense, eu de barquinho ao peito, electricista de coração, chegava na Casal de 4 e treinava no pó ou na lama, com amigos da mesma idade e alguns com habilidade para a coisa… Jogos no fim de semana, flatulências nauseabundas nas carrinhas e passear gloriosamente pelo distrito. E nem aí fui descoberto! Porque é que não abri o livro, como se diz na gíria, num jogo em que havia alguém importante a ver? Chamavam-me e diziam: “Vens para tal sítio assim assim, pagamos-te um balúrdio e tu só tens que jogar à bola todos os dias…”
Jogar à bola todos os dias e ter uma conta bancária volumosa… Que mais se pode querer?
Quando era pequeno e assistia a jogos do Benfica e quando corriam mal, uma das formas que tinha de me confortar era pensar para mim: “Não há problema, quando eu for grande, vou jogar para lá e ganhamos sempre…” Era com a maior das naturalidades que acreditava nisto. Porém cedo o sonho se foi desvanecendo e a percepção das minhas qualidades futebolísticas limitadas ajudou. Ok, não há problema, sou bom na escola, hei-de arranjar aí um curso que me pareça bom e ter uma profissão... Bom, agora que tenho o curso e a profissão, jogo à bola de vez em quando e não tenho uma conta bancária volumosa. Pois é…
Um dia destes estava num bar aqui em Vilamoura e vejo chegar um carro fenomenal: um Maserati não sei quantos com matrícula italiana… Quem é que salta lá de dentro enfiado numas calças coiso e tal, numa camisa xpto e com um relógio reluzente, portanto caro? O bronzeado Rui Costa, esse mago da bola, esse poeta dos relvados, para não lhe chamar maestro que isso toda a gente chama.
Ora eu, que não tive a fortuna de ser jogador da bola ali estava, a beber o meu cafezito, depois de um dia de trabalho num contentor de uma obra, a olhar preocupado para o galgar dos minutos, subtraindo mentalmente cada um que passava ao número de horas que me restava de sono. E o Rui Costa feliz, de férias, sendo que as férias dele, basicamente, são não jogar à bola por um período.
Foi depois disto e de ter cumprimentado o simpático e acessível artista que pensei: “Não, afinal quero ser jogador da bola… Ah, não, já não dá… Ok, amanhã às nove na obra!”
(Quem quiser falar sobre a taça de Portugal esteja à vontade... Que não pareça isto uma fugida com o rabo à seringa , what ever that means..)
5 comentários:
De facto, darem-nos contas pornográficas de dinheiro por jogarmos à bola não é só um sonho, é um luxo, um luxo de vida. Infelizmente, somos isto. Felizmente, somos isto.
Quanto à Taça: foi um jogo equilibrado. De um lado estava uma equipa que não sabe atacar em ataque organizado, do outro uma equipa que sabe defender muito bem uma equipa que não sabe atacar em ataque organizado. Resultado disto? Um 0-0, com uma única real situação. Sidnei, que, escandalosamente, atira para o boneco Beto.
Depois foi esperar pelo momento negativo do Reyes e estava o Benfica atirado para o mar de Matosinhos, enquanto os leixonenses pescadores continuavam no barco a rir daqueles milionários náufragos.
Enquanto persistirmos no 442, ao menos que não se persista naquele gajo que lá anda - um gajo que, eu tenho a certeza, não faz mais do que eu ou tu se lá estivéssemos - com cabelo amarelo e vontade de ceifar tudo o que mexe. 442 com um gajo que não sabe receber, não sabe passar, não sabe rematar, não sabe criar linhas de passe e, ainda por cima, em cada lance pode ir para a rua? Não, obrigado. Shôr Quique, veja lá isso. Esta puta deste modelo só resultam com dois médios no miolo que saibam ter a bola. Katsouranis-Amorim é a dupla que nunca foi testada, de entre as 10.000 possíveis que já o foram. Será que vai ser desta?
1. Concordo com a análise ao jogo. Faltou-nos imaginação para entrarmos na bem organizada defesa deles .
2. Acho que deviamos meter mais gente no meio. Um dos dois da frente tem também de ser o vértice do meio campo (acumula funções...)
3. O Amorim é capaz de resultar com o Katso, mas eu gosto de o ver na ala, dando razão aquela ideia de que, se tens um gajo do outro lado que defende mal, metes deste lado um gajo tacticamente mais cumpridor, estás a ver...
4. Sabes que eu acho que o Bynia se pode fazer... Por enquanto ainda não é, mas ele tem tudo (à excepção talvez de inteligência), para ser. Tem força (muita), capacidade física e não é mau tecnicamente. Se o gajo fosse submetido a um qualquer tratamento de choque em que lhe ensinassem a ter maneiras, sobretudo do ponto de vista táctico, mas também de controlo de stamina... (Ou então se calhar não se faz...)
Bom texto.
Infelizmente, faço parte também dos que um dia sonharam ser jogadores do Benfica e poderem entrar naquele estádio monumental que era o Estádio da Luz.
Hoje sou fotógrafo e, sinceramente, não me arrependo. Claro que não ganho as fortunas que os jogadores ganham mas tenho uma profissão cuja beleza me transcende dia após dia. Isso chega-me.
Um abraço a todos do blogue e um especial ao Rogerajacto por ser o novo membro!
Em grande, João!
Espero que essa profissão te traga muitas alegrias. É, sem dúvida, uma profissão de grande beleza.
Obrigado João. Um abraço também para ti.
Também gosto do que faço, mas infelizmente não há nada de transcendente na minha profissão... É tudo muito concreto. Por isso tenho que admitir que te invejo...
(Tenho um amigo que faz fotografia amadora e acho que o gajo tem jeito... Visita www.ricardo-cruz.net)
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