Nesta semana que passou, tivemos a agradável surpresa de ver que o nosso Henrique Araújo foi considerado pelo Sindicato de Jogadores o Melhor Jovem da Segunda Liga no mês de Fevereiro. Um prémio que lhe assenta bem, não só pelos golos e assistências, mas principalmente pela evolução que tem tido ao longo desta temporada, onde tem acumulado tempo de jogo e experiência que lhe permitiram dar um bom salto qualitativo. Um salto que se pedia, pois quem acompanhava de forma assídua os escalões de Formação percebia que faltava algo ao jogo do Henrique.
Para ser um bom ponta-de-lança, o jovem madeirense não podia apenas aparecer quando a bola lhe chegava nas zonas de finalização; precisava de se associar mais, de ser mais pró-activo fora da sua zona de conforto. O Henrique beneficiou claramente da subida do Gonçalo Ramos à equipa principal, pois abriu-se ali um espaço que ele não tinha tido até então – o da titularidade. Mas, por outro lado, o próprio Gonçalo não beneficiou em nada desta subida.
Ao contrário do seu colega, perdeu tempo de jogo. Tempo de jogo que seria fulcral para a sua evolução e para se desenvolver nas áreas onde ainda precisa. Ora, não é no banco ou na bancada que ele irá ter esse espaço de evolução, mas também não consideramos que o Gonçalo Ramos estivesse totalmente preparado para subir à equipa principal e agarrar a titularidade. Se já poderia ter mais minutos? Isso sim, consideramos que deveria ter. Mas também não acreditamos que fosse o tempo de jogo suficiente para proporcionar tamanha evolução.
O título deste texto não serve para descredibilizar a nossa Formação, nem apontar lanças a um projecto de desenvolvimento de jovens. Há coisas a serem bem feitas dentro do Seixal, mas há outras que começam a preocupar aqueles que estão mais atentos. Neste momento, temos jovens da Formação a chegar demasiado cedo à equipa principal e a prejudicar o seu desenvolvimento, temos jovens que já não cabem no contexto da equipa B mas que também não sobem nem são emprestados e temos jovens que simplesmente não têm qualidade para representar o Benfica e continuam a tapar o caminho a outros que são mais talentosos do que eles, ainda que mais novos.
Em relação aos que não têm qualidade, não existem grandes sugestões que possamos dar, porque das duas, uma: ou estamos perante uma incapacidade gritante na avaliação daqueles que merecem ser jogadores profissionais do Benfica ou então a permanência destes com a Águia ao peito interessa mais a alguém dentro do Seixal. Nós cá acreditamos muito nas pessoas que trabalham e avaliam os nossos jovens talentos, por isso o problema só pode estar em quem gere e autentica essas avaliações...
Mas, para além destes jovens cujo futuro dificilmente passará pelo mais alto nível do futebol Glorioso, existem ainda os outros que têm talento. E o que fazer com estes quando o espaço competitivo da equipa B já é curto para eles, mas ainda não estão 100% preparados para a realidade da equipa principal? Um empréstimo a equipas competitivas da nossa Liga seria uma boa opção, mas gostaríamos de ver algo mais. A nossa sugestão passaria por incorporar no Benfica algo que já se faz nos campeonatos mais desenvolvidos ou nos grandes grupos mais mediáticos, como o City Group ou o universo da Red Bull. Já que gostamos tanto de falar na internacionalização da marca “Benfica”, porque não começar por aqui?
A absorção estratégica de uma ou duas equipas em competições como a Liga Belga, a Liga Austríaca ou até mesmo a Segunda Liga Holandesa poderia oferecer aos nossos jovens o tal patamar competitivo que necessitam antes de chegarem à equipa principal. Este seria um excelente contexto para que continuassem a potenciar as suas características, ao mesmo tempo que desenvolveriam/acrescentariam novas capacidades ao seu jogo. Obrigá-los a jogar fora da sua zona de conforto, num tipo de futebol diferente, debaixo de condições climatéricas diferentes, num país com uma língua completamente diferente. Dar-lhes mundo num contexto mais exigente que o da equipa B, mas não tão sujeito à pressão como a mediática equipa principal.
Seria um excelente passo a tomar, até mesmo para incorporar jovens talentos que o nosso Scouting detectasse em mercados mais alternativos, como o norte-americano, o asiático ou até mesmo o africano, onde se encontram alguns bons talentos com uma óptima margem de progressão, e a trazê-los para o universo Benfica sem que tivessem obrigatoriamente de vir logo para Portugal. Numa fase mais adiantada – e à imagem do City Group –, poderíamos expandir a nossa rede para outros continentes e absorver equipas de outros campeonatos, de maneira a aumentar a visibilidade da nossa marca e a possibilidade de chegarmos aos talentos locais de forma mais célere.
Estas são ideias que não acreditamos que nunca tenham passado pela cabeça de quem gere os destinos do nosso clube. No entanto, com estas ideias a serem colocadas em prática, ter-se-ia de abdicar de muita da promiscuidade que vemos entre o Benfica e alguns “players” do mercado futebolístico. Infelizmente, pelo meio vão-se perdendo oportunidades de desenvolvimento e modernização.
Em suma, o efeito da Formação é ilusório porque foi-nos passada a mensagem que todos os jovens fabricados no Seixal são Bernardos e Félixes, o que não é de todo verdade. Não, não é possível lutar pelo campeonato com 11 jogadores saídos recentemente da Formação. Há uma parte de jogadores geniais que atingem a sua maturidade futebolística mais cedo e, esses sim, merecem dar o salto mais rapidamente, uma vez que são sobredotados. E mesmo a esses há que juntar alguma experiência. Mas há outra parte (a grande maioria) que precisa de fazer o seu caminho. Sem pressas, sem pressões e, acima de tudo, sem exageros, principalmente no que toca à gestão das (suas e nossas) expectativas. E tudo o que servir para os ajudar no seu desenvolvimento e beneficiar o clube será sempre bem-vindo.