terça-feira, 17 de janeiro de 2017

A magia (in)visível da CAN



O preconceito é mais sanguíneo do que se possa pensar. Todos somos racistas - brancos, pretos, mulatos, indígenas, ciganos, asiáticos, seres de outros planetas. A educação que tivemos condicionou-nos, tentou fazer de nós seres maldosos. Mesmo quando os nossos pais e os nossos amigos foram boas pessoas ou tentaram ser boas pessoas, mesmo assim a língua venenosa do preconceito tentou sempre condicionar a nossa forma de ver o mundo. E só há um antídoto: viajar (ou pelo mundo ou pelo nosso cérebro). Viajar para quebrar todas as barreiras. Viajar para amar as diferenças. Viajar para sermos melhores.

No facebook, a maior competição futebolística africana é partilhada através de pequenos momentos humorísticos, coisas peculiares, gestos cómicos. Alguém diz

- Os gajos só dão porrada!

Outro concorda e faz um like. Depois passa um vídeo em que um jogador na maca leva um toque de um carrinho de apoio.

Nada disto interessa para aquilo que o futebol africano tem a dar ao mundo, e é muito e é lindo.

Confesso que só há 8 anos comecei a ver a CAN com olhos de quem quer ver. O que tenho visto é um futebol cheio de invenção e de infância. Claro, mal jogado tantas vezes como aquelas que vemos em Portugal, em Inglaterra, em França,  mas há coisas naquela forma de lidar com a bola que não são europeias.  Coisas que ainda vêm de uma maneira de viver o jogo muito para além da táctica ou de exigências milionárias dos clubes.

A CAN ainda nos permite ver pedaços de futebol de rua descalça. Mesmo os craques conhecidos mundialmente, quando chegam às suas selecções tornam-se mais humanos, arriscam mais, esquecem as prelecções em hotéis de luxo. Não é raro ver um jogador africano, que no seu clube é obrigado a cumprir religiosamente as directrizes do seu técnico, a deixar fluir a sua memória de futebol. A fintar 3 adversários como se estivesse ainda na rua onde nasceu. E vêem-se coisas lindas. Coisas que o fizeram ser o extraordinário jogador que agora é na Europa.

A CAN não é um circo para desenvolver no facebook o preconceito mascarado. A CAN é um óptimo lugar para ver futebol. Para perceber futebol. Porque o futebol não é nem nunca foi património de nenhum lugar.

5 comentários:

Rogério Paulo disse...

heheeheh concordo camarada Benfiquista!!

Eu há uns anos que sigo na Eurosport a CAN e aprecio os comentadores deles, que comentam o jogo em si e partilham algumas situações bem curiosas dos jogadores e das selecções, não se deixando levar por "masturbações técnico-tácticas" como muitos engenheiros do futeluso. O comentador de origem francesa é "priceless". Este ano acho que nem na Eurosport a CAN dá....
Só se pode ver à Inácio!!! ehehe

Saudações Vermelhas!!!

R.B. NorTør disse...

O mais racista do jogador "atropelado" é o ser acompanhado da expressão "só na CAN". Pelo menos na forma como me chegou.

E sim a CAN é de certa forma a imagem do Continente como um todo, se usarmos a nossa visão inquinada. É futebol em estado puro, é o futebol que jogávamos na rua, com os brutos que dão pau mesmo à séria e ainda ficam a olhar se refilamos; os tecnicistas que fogem aos brutos com mais uma finta e se abilitam a levar outra e metem um cabrito; uns quantos a fazer número porque as regras mandam e festa, festa por todo o lado, festa pela finta, pelo corte, pelo golo, pela defesa.

Pena estragar a época a tanta equipa europeia! ;)

Rogério Paulo disse...

Boas, a propósito do tópico, hoje se manhã apurei que a CAN está a passar no canal "Eurosport Xtra" que é a pagantes (€5 acho eu), pelo que, a maioria do pessoal (eu incluído) continuaremos a ver à La Ináciu. ehehe
A hora dos jogos é pelas 16h e pelas 19h.

Saudações Vermelhas!!!

jorgen80 disse...

Boa reflexão.

Anónimo disse...

Que grande texto ó Ricardo! Parabens!