sábado, 14 de janeiro de 2017

O elo mais fraco

O erro é um acontecimento natural em todas as profissões. Correctores de bolsa, médicos, bancários, empregados de mesa, advogados, jornalistas, todos erram. Os árbitros não são excepção. Tempos houve em que o erro na arbitragem se associou a um elevado clima de suspeição e com motivos que o justificavam. Mas os tempos mudaram. De uma classe composta por gente desonesta e corrupta, o paradigma da arbitragem no futebol português alterou-se com o folhetim Apito Dourado, que teve consequências muito positivas no que toca à transparência e honestidade intelectual dos juízes do jogo.

Depois de uma geração composta por homens como Pedro Proença, João Ferreira, Pedro Henriques ou Duarte Gomes, árbitros com maior ou menor competência, com qualidades e com defeitos, uns mais vaidosos, outros mais arrogantes e outros ainda bastante inseguros, mas todos eles minimamente idóneos e íntegros, abriu-se um gap geracional com a saída destes ex-árbitros. Deu-se lugar a uma classe que apesar dos estudos, dos seminários e das formações é francamente inexperiente e que tem mostrado não ter arcaboiço mental para lidar com as pressões de que tem sido vítima. Uma classe que hoje é facilmente influenciável.

Pelos erros próprios de Sporting e Porto, foram os árbitros a pagar a fava. É sempre mais fácil culpabilizar esta classe que assumir os próprios erros. Os principais rivais do Benfica colocaram o futebol português em estado de sítio, pondo em causa a honestidade dos árbitros e em perigo a  sua integridade física, com as ameaças de morte que são conhecidas. E como se viu pelo seminário organizado que juntou Conselho de Arbitragem, árbitros e dirigentes dos clube dos campeonatos profissionais, as tão propaladas decisões controversas foram, na sua larga maioria, correctas.

O problema vem depois. Os árbitros, fruto da sua inexperiência, vão acusar o toque. Se exceptuarmos Jorge de Sousa e Artur Soares Dias, não há em Portugal árbitros que conjuguem experiência e qualidade. Esta nova geração sentiu o toque e isso viu-se hoje na Luz. Não conheço Luís Ferreira, árbitro da partida de hoje. Não sei se é bom ou mau árbitro, se o seu coração bate pelo Benfica, Sporting, Porto ou Carcavelinhos. Acredito na sua boa fé, até na sua competência técnica, mas hoje mostrou que a sua classe é excessivamente vulnerável fruto da inexperiência e que está mais predisposta a cometer erros contra quem tem o alvo a si apontado, neste caso o Benfica. Errou como erram os jovens correctores de bola, os jovens médicos, os jovens bancários, os jovens empregados de mesa, os jovens advogados e os jovens jornalistas. Errou porque não tem experiência. E este grupo actual de árbitros é profundamente inexperiente. É, neste momento, o problema desta classe.


13 comentários:

Zé de Fare disse...

escusas de arquivar ou discutir lances porque o teu clube não aceita o video arbitro. Portanto se o árbitro não assinalou, o lance morreu em campo.

já agora...

1º golo do boavista. Há falta sobre o rafa que é pisado.
2º golo totalmente legal, não há nenhuma falta sobre o andré almeida.
3º golo totalmente legal, o fora de jogo posicional já não existe, salvo se for um remate à baliza. Ademais o jogador em questão não tocou na bola.

o único lance vergonhoso é a grande penalidade que não colocas ao lado desses lances. E sabemos muito bem porquê.

Zé de Fare disse...

outra questão.

o teu clube é contra o video e as repetições ao vivo dos lances porque entende que as decisões do árbitro morrem em campo com ele.

porque razão estás a arquivar repetições de lances que já morreram?
o que queres discutir?
também não estás a condicionar futuras decisões como os outros?

disse disse...

Apesar das imagens aqui colocadas em rigor no terceiro golo do Boavista não há fora de jogo, nem se pode considerar falta no segundo golo, mas de facto em ambas há um elo mais fraco que se chama André Almeida!
No primeiro há falta sobre o Rafa mas não é esse erro que origina o golo.
Cumpts

José Rama disse...

É o bandeirinha que acompanhou o ataque do Boavista, não podia ter ajudado o árbitro nessa sua "inexperiência"?
Nas más decisões esteve sempre em posição privilegiada para ajudar o chefe de equipa, com melhor visibilidade para as faltas, será que é míope? Os juízes auxiliares fazem testes de visão?

Ace-XXI disse...

Quer dizer quando o porto e o sporting perdem com culpa dos árbitros estão a ultizar estes como desculpa já quando são vocês a culpa é da pressão...

O SCP hoje também sofre o 2—2 com um off side no início da jogada e?

Erros sempre houveram e sempre vão haver quem é prejudicado fala quem é beneficiado cala acho que é evidente para todos quem tem sido prejudicado e beneficiado.

Em relação ao CA aquilo foi simplesmente ridículo chegando ao ponto de diZer que em chaves fica um pênalti por marcar mas na luz num lance.completamente idêntico o árbitro fez bem em não assinalar.

Na CS existem varios compartivos do acumulado de erros de arbitragem e em todos eles aparece o Benfica como beneficiado e o SCP e porto como prejudicado.

Unknown disse...

Isso é tudo muito bonito mas desde o início do campeonato temos visto em todos os jogos a permissividade ao jogo faltoso e ao antijogo. Amarelos para os jogadores e sistematicamente recorrem à falta para travar as investidas dos jogadores do Benfica só a partir de meio da segunda parte e amarelos para jogadores que comprovadamente se atiram para o chão a pedir equipa médica e que demoram a repor a bola ou a serem substituídos, nem ve-los.
Nada disto é exclusivo do Luís Ferreira mas sim transversal a todos os árbitros que apitaram os jogos do Benfica nas diferentes competições.
E não me venham dizer que o Benfica tem de saber superar tudo isso porque são 11 jogadores de cada lado e estão a ser dadas artificialmente e sistematicamente condições de jogo aos adversários em deterimento dos nossos.
É como se estivessem a "compensar" o facto de termos mais e melhores soluções que a maioria dos outros clubes da 1ª Liga, mas isso é desvirtuar completamente a competição e o fair-play.

tobias disse...

é esse tipo de discurso que configura a sportinguização do SLB, nós somos melhores, não falamos de arbitragens...não foi inexperiência nenhuma foram 3 erros em 25 minutos para o mesmo lado por parte de um advogado do apito dourado.

JNF disse...

Zé de Fare, o penalty sobre o Cervi é clarinho como água. Há uma câmara lateral que mostra o contacto. Tal e qual a falta que dá origem ao segundo golo do Boavista, por isso é melhor nem ires por aí. Além de que TODOS os ex-árbitros que comentam na televisão (Pedro Henriques, Leirós, Rola, M. Ferreira, etc) concordam que era penalty. Quanto ao vídeo-árbitro, não sei sinceramente qual é a opinião do Benfica acerca dessa matéria até porque ainda não vi ninguém do Benfica pronunciar-se sobre isso. Se me puderes dizer onde é que viste isso escrito agradecia.

Ramalhete, todos os elementos destas novas equipas de arbitragem são inexperientes.

Ace-XXI, portanto, para ti, deduzo que os jornalistas percebem mais de arbitragem que os próprios elementos do consumo de arbitragem depois de analisarem os lances. Essas análises que aparecem nos jornais são baseadas em opiniões que já foram contraditas pelo CA, pelo que, para mim, valem zero.

Tobias, espero não te ver a chorar no final do campeonato se estes erros continuarem a acontecer contra o Benfica. É que seria uma pena.

Ace-XXI disse...

JNF as tabelas que falei são feitas por ex árbitros internacionais (marco Ferreira, Duarte Gomes e painel do ojogo) parece me que a opinião deles é no mínimo tão válida como do CA.

Eu não tenho qualquer problema em reconhecer o prejuízo do Benfica ontem embora ache que estão a exagerar no 1 e no 3 golo.

joão carlos disse...

@disse
quem coloca o iuri em jogo no terceiro golo é o lindelof e não o almeida, este bem estava a colocar os dois em fora de jogo.
mas lá esta mais vale cair em graça que ser engraçado.

RedMist disse...

Cumprimentos, caro JNF.

1. Sim: todos nós erramos, todos nós controlamos bem menos do que aquilo que julgamos (e por aí a fora). E ainda bem: caso contrário, além de irreal, a vida provavelmente teria o interesse de uma máquina calculadora. A questão não é, portanto, se os árbitros erram, mas perceber a principal causa inerente ao erro. E, neste capítulo, tenho 1 ideia ligeiramente diferente da tua.

2. Sim: a experiência é, naturalmente, um factor determinante. Mas não explica tudo. Mais: acredito que, ao invés, explica muito pouco. Terás, porventura, alguns árbitros que, na fase “ponto rebuçado” das respectivas carreiras, conseguiram as suas melhores prestações.

3. Contudo, muitos (provavelmente, até em maior n.º) são igualmente os casos de árbitros experientes que se revelaram medíocres. Outros, inclusive, que iniciaram as respectivas carreiras de forma promissora e, por este ou aquele motivo, foram caindo: tendo a experiência, por si só, de pouco ou nada servido.

4. O que é que isto indicia? Que a experiência ajuda, mas está seguramente longe de ser um factor preponderante. E se não o é para os árbitros de 40 anos, também não tem de ser seguramente para os de 30. Muitos de 30 terão inclusivamente maior capacidade que outros de 40.

5. A experiência é um “plus”: só. Não passa atestados de (in)competência a ninguém.

6. Confesso-te: leio os exemplos que referes e, boa parte deles, do alto de todo o seu conhecimento técnico e empírico, cometeram erros absolutamente inacreditáveis de forma relativamente reiterada ao longo das respectivas carreiras. Mais do que lances rápidos ou que, por estarem tapados, não puderam avaliar, falo de lances “de caras”, com gravidade tal que desvirtuaram desfechos finais de campeonatos. Só.

7. Um deles, ainda há relativamente pouco tempo, esquecendo-se seguramente da idade em que foi lançado, dissertava loas acerca dos males da inexperiência. Para concluir (mesmo hoje, já retirado) que, muitas das vezes, a um árbitro, importa sobretudo sentir, deduzir, intuir: sendo a experiência fundamental neste capítulo.

8. Conforme os benfiquistas sentiriam na pele e disso, entre outros, Jardel e Lisandro Lopez (as versões adversárias) tirariam bom partido, a arbitragem, mais do que uma matéria de facto, viria, nas mãos daqueles, a assumir uma natureza esotérica, mística, de adivinhação.

9. Mesmo passados todos estes anos, tendo beneficiado de condições que nenhum outro no passado beneficiou, não perceber que só é passível de ser assinalado aquilo que é passível de, objectivamente, ser analisado (sem intuições, sem expectativas, sem recalcamentos clubísticos, imune a pressões exteriores): é não perceber nada.

10. É querer correr sem saber sequer gatinhar.

RedMist disse...

11. E é gente desta que, diariamente, avalia as prestações dos árbitros actuais. Tece loas sobre o estado da arbitragem. Tem palco e faz opinião. Não tenho quaisquer dúvidas de que Vítor Pereira, no seu primeiro dia de carreira, já era mais árbitro do que todos eles alguma vez foram.

12. O problema não é a falta de experiência: mas a falta de qualidade. E porque o que já nasce torto dificilmente se endireita: ou se tem, ou não se tem. O que lhes falta não é experiência: é qualidade. O que lhes falta não é experiência: é vida. O que lhes falta não é experiência: é mentalidade.

13. O erro? O erro é pensar que isto é de agora. Não é. Essa tem sido sempre a norma: com uma excepção aqui e ali. Houve inclusivamente um “pseudo melhor árbitro do mundo” português, experiente, internacional: mas que não reunia quaisquer condições emocionais para sequer arbitrar jogos do Benfica. Ou seja: apontava-se ao “melhor do mundo” aquilo que, hoje, é precisamente apontado a esta nova geração.

14. Contrariamente ao que é proclamado aos 7 ventos, esta não é a mais bem preparada geração de sempre: seja no futebol, seja na vida. Porque, apesar de todos os estudos, seminários e formações, não capta os melhores. Possivelmente, nem sequer saberá detectar os melhores. O mais seguro? Que os melhores de hoje não cheguem sequer aos calcanhares dos melhores de outrora.

15. Numa realidade de milhões, altamente profissionalizada e escrutinada: isto, invariavelmente, paga-se caro.

16. Um exemplo da boa merda que a arbitragem era: ela metia-me tanto nojo, há tanto tempo, que um dia peguei em mim e fui tirar o curso. Ali chegado, olhavam para mim como se fosse um ET. Não havia dia em que não me perguntassem porque tinha resolvido candidatar-me. Era olhado com um misto de orgulho e desconfiança. A formação foi excelente, as condições precárias, a remuneração uma absoluta indecência.

17. Ao fim de uma época, o dinheiro auferido habilitava-te, quanto muito, a comprar uma PS, das antigas, já bem estafada, no OLX. Se, ao invés de ires à boleia, levasses o próprio carro para os jogos… ainda perdias dinheiro. Vida pessoal: seriamente afectada. Ao 4.º ou 5.º jogo a, enquanto auxiliar, ser escoltado como resultado da “classe” espalhada por um principal com mais dioptrias que a irmã Lúcia, resolvi fechar a loja.

18. Perdida a ingenuidade daquela altura da vida e contrariamente ao meu intuito, percebi que não ia conseguir contribuir para melhorar nada.

19. Como captar os melhores nestas condições?

20. A isto, junta-se aquilo que, vulgarmente, é conhecido por “círculo de competências”: ter-se plena noção daquilo em que se é bom e apostar forte nessa área. Ao olhar (mesmo que superficial) de quem conheça o jogo, percebe-se que muitos deles podem ser excelentes em muitas outras vertentes: mas nunca o serão ali. E, à semelhança do que se verifica igualmente com dirigentes, treinadores ou jogadores: todo o tempo do mundo não mudará rigorosamente nada ao cenário.

RedMist disse...

21. Não vi este último jogo frente ao Boavista. Os lances são relativamente fáceis de avaliar, falam praticamente por si. Acompanhei com expectativa as suas prestações após os ataques infames de que foram alvo e isto não vem de agora: já em Guimarães, para a Liga, o Benfica descomplicou uma 1ª parte ultrajante. Na 2ª, com o resultado feito, a encomenda lá parou de “espalhar classe”. Mas já dava para perceber o que aí viria (e virá).

22. A isto, somou-se o FCP-Moreirense. Um pontapé do tamanho da Torre dos Clérigos do central do FCP num adversário para o qual claramente não tinha pernas (a fim de o debilitar, retirar-lhe velocidade), tendo passado como “corte para fora” e, naturalmente, sem direito a qualquer repetição. Um lance em que um AV do Moreirense segue lançado em direcção à baliza, é agarrado e… nada. Uma expulsão gratuita, na 1ª parte, de um jogador do Moreirense. O Felipe acabar aquele jogo em campo. É escolher…

23. Será que eles pensam que as pessoas são (todas) estúpidas? Será que eles consideram um piadão pagar-se uma fortuna por um bilhete de jogo ou uma mensalidade de um canal desportivo para assistir-se a uma grande e suculenta mentira?

24. No “Suspeitos do Costume”, há uma referência que nos diz que “o maior engodo que o Diabo alguma vez pregou foi fazer-nos acreditar que não existe”.

25. Sabem o que é que eu vos digo? Com Luisão ou Jardel, Mitro ou Guedes… se “ele” não existisse, o FCP não estaria a 4: mas a 14.