domingo, 26 de fevereiro de 2017

Futebol camaleónico

O futuro do jogo passará por ter 10 jogadores que podem jogar em todas as posições do campo. Com a evolução táctica a forçar mais criatividade individual e colectiva, ganhará mais vezes quem tiver jogadores-camaleões. Não mais a treta de o central ter de ser "alto e forte", o médio "intenso", o extremo "rápido" ou o avançado "possante". Ao longo do jogo, os melhores serão os que fizerem rodar os seus jogadores por todo o espaço do relvado. Aos 10:35 e 11:37 - Hummels, o central médio ofensivo.

domingo, 19 de fevereiro de 2017

Rogério Ceni e João Schmidt, dois extraterrestres no Brasil


Há uma boa ideia de futebol a nascer lentamente e incompreendida em São Paulo. Há um treinador a dar os primeiros passos que vai ser um dos melhores da História. Há um jogador que tenta ser o veículo dessa boa ideia através do seu treinador para os restantes colegas. Mas antes do sucesso vai haver polémica, já há polémica.

Rogério Ceni está a mostrar ao Brasil algo que ele definitivamente não quer nem compreende: pinturas de futebol europeu. Quer ter a bola, não quer ter de chegar à área adversária em 24 segundos. Diz: "não temos tempo contado, isto não é basquetebol" e levanta a ira de milhões de brasileiros pelo mundo. Neste momento, só os adeptos do São Paulo tentam perceber o que Ceni anda a fazer nos treinos e só porque foi dar 3 a Santos e deu 5 em casa ao Ponte Preta. Bastará que os resultados piorem para que o seu discurso maravilhosamente encantado pelo jogo e a ideia que tem para a sua equipa sejam massacrados.

Tem, no entanto, a seu favor as duas décadas e tal que deu ao clube como guarda-redes goleador. Isso dar-lhe-á algum espaço para poder revolucionar de vez um futebol que transborda de talento e escasseia de cérebro. Ponho as mãos no lume por Rogério Ceni enquanto ele vai cumprindo os seus primeiros meses de carreira: será finalmente o treinador brasileiro capaz de chegar aos grandes clubes europeus e ter sucesso. A fome de bola, o amor pelo jogo, o gosto por discutir o que quer fazer, a qualidade que se vai vendo em campo, a persistência na sua ideia no país mais céptico do mundo em relação a um outro tipo de futebol, dizem-me que mais cedo ou mais tarde Ceni ganhará tudo. Há ali um olhar ainda ingénuo de quem vem para o jogo para lhe trazer algo que ele ainda não viu. E depois João Schmidt.

Diz tudo de Ceni ter feito girar a sua ideia em redor de um jogador que é raríssimo aparecer por aquela banda. Anuncia que nos próximos meses veremos um São Paulo capaz de fazer do futebol brasileiro um pouco mais do que NBA. É médio, tem sangue de médio e cabeça de médio. Pode ser 6 ou 8, pode ser sempre o que a equipa precisar que ele seja.

João Schmidt, 23 anos, já passou por Portugal quando representou o Vitória de Setúbal há 2 épocas. Olhando para os 750.000 euros que custaria o seu passe e o facto de terminar contrato nos próximos meses, por mim regressaria ao nosso país para envergar a Gloriosa. O futuro vencedor da Champions Rogério Ceni que me perdoe.

 https://m.youtube.com/watch?v=BHYjavRVT3s

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

Perdemos com uma vitória por 1-0



Talvez seja preciso recuar a um Benfica-Barcelona de 2006 para encontrar um dia em que o adversário chegou à Luz e fez de nós o que quis. Mas nem assim (ainda respirámos nesse jogo). O que se passou ontem foi um atropelo do princípio ao fim. Foi olhar para um jogo em que de um lado há um óptimo treinador e do outro há um mau treinador. Sem medos: há um mau treinador. Os jogadores do Benfica não estavam minimamente preparados para o atropelo que levaram; não sabiam o que iam encontrar, ninguém lhes disse que terrenos deveriam pisar, o que fazer em campo, que fórmulas para contrariar o adversário.

Como benfiquista - sócio, adepto, doente -, sinto vergonha do que se passou no Estádio da Luz. Ver o meu glorioso clube enterrado na sua área durante 90 minutos não é aquilo que eu espero, não é esse o desígnio que eu defendo para uma ideia colectiva que tem de ser briosa. Não fomos briosos, não ostentámos Mística nenhuma - a malta dos anos 60, 70 e 80 só não vai dizer isto porque foi comprada a troco de pneus para os carros e talvez uns ambientadores para snifar cheiros.

O Benfica, o maravilhoso Sport Lisboa e Benfica, é outra coisa. É um clube que, sem dinheiro, sem reconhecimento, sob a mão trágica de uma ditadura, chegou à Europa e tornou-se Bicampeão Europeu. Em 7 anos, foi a 5 finais europeias. O Glorioso Sport Lisboa e Benfica é o clube que tem 11 finais europeias, 3 delas ganhas. O Benfica, o mais Glorioso, é o clube que mais Campeonatos Nacionais tem, mais Taças de Portugal tem, mais Taças da Liga tem. O Benfica foi durante décadas o clube que contrariou o Estado Novo - o único com eleições democráticas, o único clube do povo, o clube ao qual foi proibido o seu Hino (Avante, Avante p'lo Benfica), o que viu ser-lhe negada a cor  (passou de vermelho a encarnado). O maravilhoso Sport Lisboa e Benfica é maior do que Portugal.

O meu Pai não me ensinou a ser de um clube submisso. Portanto, para mim ontem perdermos com uma vitória por 1-0.



terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

Mudanças para ganhar

Ederson
Semedo, Lindelof,  Jardel, Almeida
Fejsa
Carrillo, Pizzi, Cervi
Jonas, Rafa

- Almeida por Eliseu. Com Cervi naquele corredor a garantir alguns momentos de profundidade, as poucas  mais-valias de Eliseu ficam colmatadas e Almeida defende melhor.

- Jardel por Luisão. Não sou fã do primeiro; nunca fui grande fã do segundo. Mesmo sem jogos nas pernas, contra uma equipa que explora constantemente o espaço entre o nosso médio defensivo e a nossa linha defensiva e a profundidade nas costas da defesa, Jardel será sempre melhor solução do que Luisão. Além disso, solta Lindelof para a direita, onde explora melhor as suas qualidades, especificamente a qualidade na saída de bola e a possibilidade de criar superioridade numérica em zonas perigosas para os alemães.

- Carrillo por Salvio. Talento contra correria desenfreada. Inteligência e instinto contra contabilizações da GoalPoint.

- Rafa por Mitroglou (ou por Jonas, se este não puder jogar). Comigo, o português seria sempre titular. É, a par de Jonas, Pizzi e Zivkovic (e Carrillo, a espaços), o que mais constantemente cria. Tem uma imaginação prodigiosa, faz coisas que não foram ainda vistas. Neste jogo específico será fundamental a pressionar em zonas mais baixas e depois,  na recuperação,  a ligar toda a equipa para os lances letais em que poderemos criar as nossas melhores oportunidades de golo.

2-1.


terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

UM POUCO MAIS SOBRE O ÓPTIMO JOGADOR QUE É PIZZI


Antes de mais, é importante esclarecer que 9 em 10 pessoas que falam de futebol só vêem uma vez o jogo sobre o qual falam: ao vivo ou através da televisão. Ora, isto limita muito a capacidade de perceber o que se passou em campo, já que há uma infinidade de acontecimentos que não são percebidos com uma só visualização. Juntem a isso a natural emoção e nervosismo de estar a ver a própria equipa e têm uma óptima poção mágica para não terem percebido nada do que se passou em campo para além dos golos, das jogadas perigosas, das faltas mais agressivas, dos possíveis penalties e das correrias de um jogador que consegue guardar a bola dentro de campo em carrinho.  Vejam, portanto, se puderem, o jogo mais uma vez. Mais duas, mais três.

No último jogo, Pizzi fez mais uma óptima exibição. Já sei: fez um passe de merda que ia dando golo do adversário.  É verdade, mas esqueçam agora esse lance. Revejam o jogo e atentem só no que anda Pizzi a fazer pelo campo. Com bola, sem bola, as indicações que dá aos colegas. "Mete ali", "traz", "estou livre", "solta na ala". Só lhe falta ter uma batuta. Vejam quando não só decide bem por ele mas pelos outros. O passe que encaminha a bola para o que ele sabe que vai resultar. Pizzi não é só um jogador que decide bem; ele ajuda a que toda a equipa decida melhor.

Escolho um entre milhares de lances iguais que faz durante a época: aquele que acaba com Semedo a sofrer penálti. São 15 segundos que resumem tudo sobre Pizzi: visão de jogo acima da média, noção perfeita do espaço,  dos colegas e da bola,  técnica, imaginação, inteligência, criatividade.

Ponham o vídeo nos 18:55 e vejam até aos 19:10. Pizzi recebe no meio, solta em Semedo para obrigar o adversário a focar-se na ala e a deixá-lo com espaço para pensar. Vai sempre dando o apoio a Semedo para que ele possa devolver.  Semedo devolve e corre para o espaço. Pizzi percebe que está congestionado,  que não é a melhor opção,  que a equipa não precisa de fazer tudo em histeria. Vai chegar ao perigo mas de outra forma. Sente que o adversário vem atrás dele, faz compasso de espera para retirar o adversário daquela zona e mete outra vez na direita, agora em Salvio. Vai logo dar ao argentino a opção de passe no meio. Salvio, muito bem, mete em Pizzi que, sem recepção,  directo, põe logo em Semedo que fica de frente para a baliza em posição privilegiada.

Pizzi é isto. Faz coisas destas constantemente. Faz de uma bola no meio-campo uma jogada de perigo em 15 segundos. Mete a equipa toda a fazer o que ele quer só pelo posicionamento e tipo de passe (geralmente para o espaço para condicionar positivamente as opções ao colega). Pizzi é extraordinário e não é pelos golos que marca ou pelas assistências. É porque mete sempre a equipa muito mais perto do golo. Agora digam-me: como é que a goalpoint vai meter a inteligência desta jogada na estatística?