quarta-feira, 14 de março de 2018

O pontapé de canto em balão é um aristocrata falido



O perigo num pontapé de canto é sobrevalorizado. Por a bola estar parada, acha-se que o lance é mais perigoso do que um qualquer cruzamento em bola corrida quando tanto um como outro são geralmente lances desinteressantes do ponto de vista ofensivo. É evidente que se tivermos superioridade numérica na área adversária ou especificamente um jogador da nossa equipa sozinho em zona de finalização não será má solução assisti-lo através de cruzamento mas, regra geral, estar a atirar balões para uma catrefada de jogadores é deixar o destino não às mãos de uma maior probabilidade de êxito mas apenas à sorte (um ressalto, um mau posicionamento adversário, um erro individual). É mais religião e menos futebol.

O canto pode ser interessante se usarmos o facto de ele ser desinteressante para nós mas interessante para a equipa adversária. Ou seja, jogar com o facto de o adversário levar muito a sério isto dos cantos. E então surpreendê-lo com saídas de bola estudadas e organizadas para usar o posicionamento da outra equipa. O Barcelona de Guardiola, por exemplo, desprezava constantemente a bola alta só porque é canto; saía com 3 e 4 jogadores pelo chão, entrando na area adversária pela surpresa de movimentos, criando novos perigos, novos caminhos para o golo.

Ter o adversário todo enfiado à frente da baliza pode ser uma vantagem crucial para criar desequilíbrios assim que se procure a zona da bola. São jogadores que estão com espaço, com algum tempo e sobretudo de frente para a baliza, observando todo o movimento das partículas dentro da área adversária. As soluções aparecem, diagonais, mudança de flanco, passe de ruptura, até o remate. Mas, antes do perigo, o essencial: não atirando uma bola para o acaso da maralha, a posse continua nossa. A bolinha, a pelota, continua jogada pelos nossos pés. Com ela poderemos fazer o que bem entendermos em vez de a desprezarmos pelos céus; se a atiramos assim dessa forma tão leviana sabe-se lá o que o destino lhe terá reservado. Pelo sim pelo não, melhor tentar ir pela relva. É no chão que a redonda gosta de rolar.

terça-feira, 6 de março de 2018

Seriedade

Desde há muitos anos a esta parte, com maior ou menor disponibilidade laboral e pessoal para expressar as minhas ideias, que uma das batalhas que venho travando é a luta pela existência de um conjunto de figuras idóneas, sérias e honestas a dirigir os destinos do Sport Lisboa e Benfica. E se em várias ocasiões não me coibi de apontar o dedo a Luís Filipe Vieira e à trupe da qual se rodeou, foi precisamente por não confundir quem está a servir (ou a servir-se) (d)o Benfica daquilo que é a matriz e os valores do maior clube português.

E se a presunção de inocência é um direito importante que assiste a todos os indivíduos, não é por existir que nos devemos esconder atrás dela para não analisar criticamente os indícios preocupantes de actividades ilícitas praticadas por este conjunto de pessoas pouco recomendáveis que dirigem o Sport Lisboa e Benfica. Infelizmente, é mesmo assim: o Benfica é dirigido por um grupo de pessoas pouco recomendáveis, em nada melhores ou moralmente superiores aos dirigentes de Sporting ou FC Porto.

O Benfica, o meu Benfica, não é e não pode ser o refúgio ou protecção para a prática de actos ilegais. Que sejam investigados até ao tutano. E que se forem culpados, que seja a Justiça a fazer aquilo que os adeptos do Benfica já deviam ter feito há muito tempo: correr com esta gente que arrasta o nome do Benfica para a lama.

domingo, 4 de março de 2018

Da Seriedade ao jogo com o Estoril

Há um grave problema de seriedade no Futebol.

É sentido com maior importância do que realmente tem e discutido como se não importasse para nada.

Sentimo-lo de forma demasiado séria mas discutimo-lo sem ponta de seriedade.
Um mundo à parte. Um mundo onde paixões e fanatismos originam comportamentos individuais incompatíveis com os comportamentos sociais.

Uma dictomia pessoa/adepto.

No outro dia ouvia Ricardo Araújo Pereira e só podia concordar. O estádio é o local onde o adepto tem de ferver. É o local onde a boçalidade, a paixão, o irracional e a loucura têm de extravasar. Mas assim que esse irreconhecível louco sai do recinto, deve voltar a assumir controlo o cidadão, a educação, a honestidade, o respeito e a seriedade.

Não acontece. Não acontece porque as pessoas vibram mais com as rivalidades do que com o jogo jogado. Os estádios multiplicam-se. O Facebook é um estádio. Cada programa televisivo é um estádio. O nosso sofá é um estádio. A nossa mesa de almoço. O café ali da esquina. Um constante estádio de alma.

Imaginemos que realmente o Jorge Jesus traiu o Benfica na hora da sua saída. A razão do clube seria um facto e nunca uma justificação.
Contudo rapidamente se perde foco da verdadeira acusação e se desperdiça a razão em guerras de barulho, em circos de não-verdades.

Assim a vitima rapidamente se confunde com o culpado. Olho por olho e todos ficam cegos, uma guerra cega onde realmente ninguém já vê nada. 

Esta foi a guerra recente com o Sporting. Depois de 2 anos de barulho, acabou antes sequer de ter começado.

Agora estamos perante a uma guerra com o Porto. Uma guerra que começou com a divulgação dos mails.

Admitamos que existe um comportamente menos ético do nosso clube e que esse fere a legalidade da nossa posição no futebol português. Admitamos.

O que fez o Porto com essa razão? Esbardalhou-a em ódios. Sem qualquer auto-controlo deixou-se levar pela ânsisa de atacar o seu inimigo.
Enterrou o seu bom argumento num circo de novelas. Juntou barulho onde deveria haver precisão.

Alimentou uma discussão de bruxarias, de compras de jogadpres, de relacionamentos com jogadores do próprio clube, de facilitismos dos adversários. Perderam-se no rídiculo.

E o Benfica que anunciou uma estratégia calculista e certeira, rapidamente colocou os seus agentes a ripostar com barulho e mais barulho.

Acusações idiotas de um lado e do outro. Acusações ruidosas sem fundamentação.
Uma urgência irracional de abdicar do sentido de justiça e envergar por uma competição louca de manipulação da opinião pública.

E é nesta toada que chegamos ao dia de hoje.

Na sequência de acusações e insinuações de um lado e do outro, chegamos ao jogo do Estoril - Porto.

Começa a suspeição com o adiamento prolongado do jogo? Poderia ser de outra forma? Talvez. Mas a ninguém interessa realmente analisar essa possibilidade.

Tanto tempo depois, com a segunda-parte a arrancar com o Porto a perder e com uma situação classificativa onde o Porto estava a 2 mas podia ficar a 5pts, ninguém conseguiu aceitar a reviravolta no marcador.

Começou-se por apontar ao árbitro. Depois ao VAR porque tinha sido advogado no processo Apito Dourado. Depois apareceu um Cesar Boaventura a falar de malas. Mais tarde surgiu a acusação que o Porto tinha pago. Depois afinal tinha sido um pré-pagamento.

Quem tem acompanhado esta sequência desesperada de acusações, fica com a clara noção que isto provavelmente é só mais um episódio.
Surge numa altura em que o debate "futebolistico" está num nivel extremamente reles. Um debate onde sem qualquer pudor se acusa os jogadores de facilitarem em troco de dinheiro. 

É assim que agora vamos olhar para a Liga Portuguesa? É assim que agora vamos encarar qualquer jogo menos ou muito conseguido de um grande?

Este Cesar Boaventura não será só mais um Peão Guerra no combate ao Francisco J. Marques?

É tanto lixo que nos servem...

Voltando ao Estoril.

A situação é estranha e no Futebol Clube do Porto não há santinhos. A podridão não desaparece só porque as escutas não foram aceites como prova em tribunal.

Por isso, e para bem da minha sanidade, resolvi desligar-me do barulho propangadista e fui analisar os factos. Enfiei a cara nos Relatórios e Contas do Futebol Clube do Porto dos últimos quatro exercícios. 

Começando pela questão dos dinheiros.

Nos Relatórios e Contas do FCP é possível verificar que em Junho/15 estes deviam 705mil euros ao Estoril. Posteriormente, em Julho/15, o Porto vendeu o Carlos Eduardo.

No documento seguinte, consta que o Porto nada deve ao Estoril a Junho/16.
Entretanto na rúbrica "Outros Passivos Correntes/não Correntes - Acréscimo de gastos - Encargos com transacção  de "passes" de jogadores, não vencidos" aparece um valor consequente da venda do Carlos Eduardo.

O FCP aí explica que esta rúbrica é referente a valores devidos a terceiros ainda não facturados e decorrentes de transacções de jogadores.
Também indica alguns jogadores que estão integrados no montante dessa rúbrica - o Carlos Eduardo é um deles.

Em Junho/17 a situação mantém-se. O Porto não apresenta qualquer dívida ao Estoril mas indica dever a terceiros montantes resultantes da venda do Carlos Eduardo, estando ainda à espera que esses valores sejam facturados.

Portanto até aqui não temos nada de anormal nas contas do FCP.
Deviam X ao Estoril, esse valor foi liquidado. Venderam um jogador e registaram o valor que deviam a terceiros como um montante que aguardava factura. E assim se manteve tudo durante dois exercicios.

No último documento, o Porto já indica uma dívida ao Estoril com o valor de 784 mil euros. Portanto em Dez/17 o Porto deve Y ao Estoril.

A dívida de Jun/15 e a de Dez/17 são montantes independentes. Havia uma dívida, foi paga e dois anos depois contraiu-se outra dívida.

De onde surge a dívida existente em Dez/17? O FCP refere ter sido facturado em Nov/17 pelo Estoril relativamente a valores devidos de transferências, valores onde se incluem os da venda do Carlos Eduardo - que anteriormente estavam na rúbrica de valores por facturar.

Sinceramente não há ponta por onde possamos pegar nestas Contas apresentadas pelo FCP.

Podemos colocar 3 questões:

1. Porque é que o Estoril demororou mais de 2 anos a cobrar estes valores? É estranho sim mas será relevante para o assunto em causa? Se realmente tiver cobrado em Nov/17 então é irrelevante para a questão do jogo com o Porto.

2. A factura apresentada pelo Porto é veridica? A justiça facilmente irá averiguar a veracidade daquele documento. Na minha opinião o Porto deveria apresentar o documento original e não o fazendo deveria explicar os motivos para não o fazer. Não há qualquer obrigação de o clube trazer a público documentos privados, contudo ficaria bem para a imagem dos intervenientes junto da opinião pública.

3. O timing do pagamento é estranho. No minimo apresenta uma enorme falta do bom senso. Será só isso? Basta provarem que ficou acordado o pagamento no decorrer de Março e basta provarem que, tal como informaram, fizeram pagamentos também a outros clubes. Portanto, foi uma liquidez do momento que só serviu para liquidar contas com o Estoril?

Percebido que a factura é real e que as contas todas batem certo, falta comprovar que o Porto se comprometeu a liquidar a dívida naquela data. Outra possibilidade seria o Porto se ter recusado a reconhecer aquele valor até... dar jeito reconhecer dependendo de uma outra contrapartida. 

Para se evitar estas polémicas, não deveriam os clubes comunicar à Liga estas situações com a devida antecedência?

A menos que se prove que a factura apresentada pelo Francisco J. Marques é falsificada, para mim tudo o que aqui há é uma tremenda estupidez de toda a gente envolvida no processo e no barulho.

Além da situação do tal pagamento, também tem havido muita polémica quanto à utilização dos jogadores.

Vou ser sincero, há muita gente a emprenhar pelos ouvidos. Se eu me fiasse no que tenho ouvido e lido, andaria bem longe da realidade.

A polémica tem surgido à volta da não utilização do central Pedro Monteiro e do lateral Abner.

Comecemos pelo lateral. 
Este foi emprestado pelo Castilla ao Estoril. Mal foi utilizado a época toda. Foi titular frente ao Porto devido aos muitos indisponiveis para o jogo. De seguida foi terminado o seu empréstimo e o jogado foi devolvido.

Segundo o presidente do Estoril, o jogador já tinha pedido para ser devolvido porque tinha mercado no Brasil e no Estoril não jogava. Foi pedido ao jogador para ficar pelo menos no jogo com o Porto porque não havia mais soluções para a titularidade. O jogador aceitou, fez esse jogo, insistiu em ser devolvido e foi.

Quanto ao Pedro Monteiro.
O central começou a época como titular ao lado do Paulão. O brasileiro lesionou-se e o Halliche assumiu a titularidade ao lado do Monteiro. Em Janeiro o Estoril contratou o Dankler. A dupla de centrais passou a ser Dankler e Halliche. Quando se realizou a segunda parte do jogo com o Porto (21 de Fevereiro) o Monteiro não saía do banco já há vários jogos. Nesse jogo teve de ser titular com o Halliche.
No jogo seguinte o Paulão, titular antes da lesão, recuperou e voltou ao convocados. A dupla de centrais titulares manteve-se e o Paulão foi o suplente - Monteiro na bancada. No jogo seguinte (ontem) o Paulão relegou o Halliche para o banco e assumiu a titularidade.

Como podemos ver, tanto um caso como o outro são extremamente lógicos e normais.
Num contexto de suspeição claro que iremos questionar tudo, afastar cortinas à procura de qualquer monstro ou monte de pó.

Terá o Porto pago ao Estoril e a direcção deste terá se dirigido aos dois jogadores dizendo "Olhem, vocês já perceberam que não têm lugar na equipa mas vão ter de jogar com o Porto. Então o que me dizem, já que vão desaparecer dos convocados e dos holofotes, de facilitarem e receberem um bónus extra antes do adeus?"

Não é impossível mas é rebuscado.

Eu não acredito. 

Vejo um mau jogo de um Estoril muito condicionado. Vejo uma entrada em força de um Porto, ao seu estilo. Vejo um desespero pelo alargamento da distância pontual. Vejo uma tremenda falta de ética. E vejo uma total falta de bom senso quanto ao timing do pagamento da dívida. 

Que seja feita a investigação necessária.

E que de uma vez por todas os dirigentes deixem de querer manipular aqueles que são cegos de paixão pelas suas cores. 

PS: Há muita gente que comenta nos jornais, na televisão e no facebook, gente responsável, inteligente e respeitável. Essa gente tinha obrigação de trazer alguma seriedade ao ambiente que se vive no nosso Futebol. A superficialidade com que falam sobre a questão o bruxo da Guiné, sobre os descontos do Capela e sobre o dinheiro do Paulo Pereira Cristóvão, é de uma irresponsabilidade repugnante.