domingo, 7 de fevereiro de 2021

Dupla Darwin/Seferovic, Porquê?

 

Dia 05/02/2021 o Benfica recebe o Vitória de Guimarães na Luz. O jogo vai empatado a zero para o intervalo. Deus por indicação de Jesus retira Everton do jogo e lança Darwin para atacar os últimos 45 minutos.

E eu pergunto “Porquê?”

A época de 2009/10 foi o ano de grande afirmação de Jorge Jesus. É um ano que está marcado para sempre no Benfiquismo.

Desde a adaptação de categórica do Fábio Coentrão a lateral esquerdo à explosão de Di Maria como um mágico de classe mundial. Desde a afirmação do miúdo David Luiz ao lado do Luisão até à detonação de golos do pé esquerdo de Tacuara Cardozo.
E também trouxe ao nosso dialecto a posição 9,5 – um jogador de ataque que ocuparia o espaço entre o ponta de lança e o médio criativo. Esse ano era Javier Saviola que brilhava com essa camisola – entre o “9” de Cardozo e o 10 de Aimar.

Assim Jorge Jesus brilhava com um ataque construído por um ponta de lança e um atacante mais solto em terrenos interiores na procura do espaço.

Posteriormente as duas duplas de ataque que mais sucesso tiveram com Jorge Jesus foram:

2013/14 – Rodrigo e Lima

2014/15 – Jonas e Lima

É perceptivel que nenhuma destas duplas apresenta um ponta de lança. Jogadores de ataque mais móveis, de futebol de apoios e combinações.

No primeiro caso temos Rodrigo a explorar mais a profundidade e Lima a procurar os espaços para jogar e fazer jogar.
No segundo caso voltamos a ter Lima mas desta vez apoiado por Jonas que junta a sua veia goleadora ao seu posicionamento como 10 enquanto o cérebro do ataque encarnado.

Mais recentemente temos o grande sucesso de Jorge Jesus no Flamengo. Brilhando na América do Sul com um médio de maior contenção, um 8 com mais chegada à área, dois médios ofensivos com maior jogo interior e no ataque um extremo bem aberto à esquerda a dar aceleração aos ataques e um avançado a descair na direita.

Neste Flamengo Jorge Jesus actuava só com um avançado, um avançado móvel a explorar o corredor direito e a abrir espaço para a progressão dos médios.

Na presente temporada desde cedo se percebeu que Jorge Jesus iria querer actuar com um ponta de lança. Não contando com Vinícius – que parecia desligado do futebol que Jorge Jesus pretendia para a equipa – Seferovic apareceu como a solução até ser contratado um novo avançado para o plantel. Veio Darwin, um avançado poderoso, com boa presença na área e capaz de procurar a profundidade do ataque. Apesar do uruguaio não ser um atacante de associação, tem um fantástico sentido colectivo.

Por tudo o que foi visto na pré-temporada e no arranque da época, uma bela discussão no seio benfiquista era sobre quem seria o 9,5 de Jorge Jesus, qual seria o jogador que iria apoiar Darwin alternando entre a ocupação dos espaços entre os médios e o atacante com as chegadas à zona de finalização. Havia o recém-contractado Luca Waldschmidt que cedo mostrou uma incrível ligação com o uruguaio, mas também a possibilidade de Rafa, Pizzi e do Pedrinho.

E daí o meu “Porquê?”

Na Grécia jogámos com Seferovic apoiado por Pedrinho. Dominámos o primeiro tempo com um grande preenchimento do espaço interior faltando só um melhor entendimento – primeiro jogo da época – entre os jogadores para se criarem mais oportunidades de golo. Na segunda-parte o PAOK procurou adaptar-se melhor, equilibrou o jogo e com 30 minutos para jogar os gregos chegarem ao golo. Um bom Benfica com 30 minutos para fazer o empate e Jorge Jesus decidiu quebrar a identidade da equipa. Sai Pedrinho e entra Darwin. Nasce a dupla de ataque Seferovic/Darwin e o futebol da equipa morreu ali.

Assim nasceu o meu primeiro “Porquê?”

Temos uma primeira metade de época na qual o arranque deixou vários sinais prometedores mas que se foram dissipando ao longo dos jogos, ficando a ideia que perante um insucesso Jorge Jesus abdicava da identidade de jogo que andava a ser construída.

O arranque da dupla Luca/Darwin foi fortíssimo. Com algumas exepções onde o JJ tentou ganhar os jogos retirando o 9,5 e lançando outro 9, foi esta dupla que foi dando frutos no ataque do Benfica. Mas quando a coisa descambou no Bessa, pareceu cada vez mais evaporar-se – para Jorge Jesus – a importância do avançado do jogo entre-linhas. Cada vez mais Jorge Jesus começou a optar pelo ataque à bruta em prol do ataque em classe.

Após a derrota na Supertaça a aposta de Jorge Jesus na dupla Darwin/Seferovic intensificou-se, fosse de inicio ou fosse para inverter resultados. Uma mudança no seu futebol e sinceramente um jogo muito menos atractivo por parte do Benfica.

Isto traz-nos ao jogo da última Sexta-Feira, na Luz, com o Vitória de Guimarães.

O Benfica começa com um ataque formado por Seferovic e Pizzi. Weigl no equilíbrio do meio-campo, Taarabt na condução pelo centro, Everton e Cervi em rotação ocupando mais os espaços interiores, Seferovic como referência ofensiva apoiado por Pizzi que ia procurando o jogo entre-linhas para abrir a defesa e o jogo. Algo muito mais parecido com aquilo que vimos Jorge Jesus a trabalhar no inicio da época.

Sim explorámos demasiado as laterais e os cruzamentos para o meu gosto e sim o trio de médios do Vitória actuou mais na contenção tentando somente retirar espaço aos 4 médios criadores do Benfica -  – Weigl, Taarabt, Everton e Pizzi. Mas depois do descalabro dos últimos jogos, soube bem ver o Benfica a surgir dominador, com boas dinâmicas, a preencher os espaços, a retirar possibilidade ao adversário de jogar e a criar várias oportunidades de golo.

Apesar do 0-0 ao intervalo não havia qualquer dúvida que aquela era a fórmula para marcar um, dois ou três golos no segundo tempo.

Então porquê?

Porque é que ao intervalo se muda totalmente a dinâmica ofensiva da equipa? Porque é que se retira um dos médios ofensivos criativos e se coloca mais um ponta de lança? Porque é que o Benfica abdica do preenchimento do jogo entre-linhas? Porque é que opta por ter mais presença na área em prejuízo da zona de criação?
O Benfica continuou superior ao Vitória? Sem dúvidas. Mas ao contrário do primeiro tempo já houve Vitória com bola e a criar algum perigo, ao contrário da primeira parte já não houve um Benfica tão dominador com bola e tão capaz de criar jogadas de finalização.

Porque é que um treinador com o histórico de Jorge Jesus anda agora a recorrer tão frequentemente a um futebol com um duplo pivôt ofensivo?

Com o Vitória, tal como na Grécia, esta substituição matou a reacção do Benfica a um resultado menos favorável.

Por isso pergunto... Porquê?




2 comentários:

Vitor disse...

Totalmente de acordo. Everton era o único a conseguir entrar na área e a criar perigo, mas o "homem" que inventou a "bola" é quem manda. Infelizmente.

joão carlos disse...

no caso deste jogo na segunda parte fomos piores por causa da alteração mas não só por causa disso tem sido um padrão, e já são vários os jogos, em que na primeira parte produzes, e rematas muito mesmo com muito desperdício, e na segunda tens um quarto ou um quinto do que fizeste na primeira.
em termos defensivos o problema esteve muito mais na alteração que eles fizera, e na maneira como se posicionaram e pressionaram, do que com a nossa alteração.

o que se tem visto é que não temos equilíbrio ou só atacamos pelo meio, e aquilo parece mais futsal que outra coisa, esquecendo completamente as alas ou então usamos só as alas e esquecemos o meio não existe meio termo.
e o mal nem esta nos cruzamento o mal esta nos cruzamentos pelo ar, sendo que os pelo chão até devem de ser a forma que mais perigo temos criado.

a sua analise aos ponta de lança, e segundo avançado, não a vou discutir agora uma coisa é certa seja qual seja o modelo ele não pode nunca incluir o seferovic é que ele não sabe finalizar ao contrario de todos o que referiu, sendo uns mais moveis e outros não, todos sabiam finalizar.
é que na primeira parte com outro ponta de lança, por exemplo vinicius, quase de certeza que tínhamos finalizado com sucesso uma das jogadas e por isso nem sequer era preciso aquela alteração.