terça-feira, 25 de maio de 2010

Empataram, foi? Não interessa. Eu este ano nem vou ver o Mundial!

O povo português é estúpido. Visceral, boçal e geneticamente estúpido. É capaz de cometer actos contra os seus próprios desejos na desesperada tentativa de não sofrer uma desilusão, de não perder a razão, com medo de que os outros (esquecendo-se que os outros não existem, porque todos são povo e, por isso, todos estúpidos) lhe apontem o dedo por uma decisão, uma crença, uma vontade que se verificou errada.
Sentado num bar, uísque de um lado, média do outro, cigarro a fumegar, eu olhava para um plasma que me mostrava cabo-verdianos a trocarem a bola ao som de "olés" vindos da bancada dos... portugueses. Podia ser a mistura de bebidas a provocar aquela alucinação mas, não, felizmente o uísquezinho aguenta-se bem sozinho, nunca se imiscuindo com sumos de cevada, e portanto aquilo que eu estava a ver na televisão era o que de facto, e inequivocamente!, estava a acontecer. Ora, isto é de uma boçalidade, de uma estupidez, de uma falta de amor e de conhecimento de futebol, isto é... parvo. É isto, é parvo, não há como dizê-lo de forma mais rigorosa. Um povo que enche um estádio pronto a assobiar a sua própria equipa se ela chegar ao intervalo empatada com Cabo Verde é um povo que não merece ser povo não merece ser nada. Merece ser o que é: um conjunto de atrasados mentais.
Mas esta atitude não é só do povo, também é de quem disto faz vida: jornalistas, opinadeiros, reporteiros, e muitos eiros que no fundo, e nem é preciso vasculhar muito, povo são. A ideia generalizada por aí é que a única dúvida que existe para o Mundial está consubstanciada na pergunta: "quantos é que levamos do Brasil?". Ora, isto é jornalismo de qualidade, é investigação, é imparcialidade, é conhecimento futebolístico como raras vezes vimos ou ouvimos a alguém. É que, se já tinham todos a certeza de que Portugal ia fazer má figura à África do Sul, agora as provas são inequívocas, bizarra e absurdamente comprometedoras: empatámos com Cabo-Verde num jogo de preparação! Que heresia! Que humilhação! Que desnorte!
Esta atitude é de um povo estúpido. Primeiro, porque não é minimamente fundamentada, apenas regendo-se por critérios fúteis, ignorantes e que não se coadunam com o que é uma natural preparação para um Mundial, onde muitas vezes interessa descobrir soluções, inventar recursos, explorar uns em detrimento de outros, com os jogadores com cargas de treino muitas vezes exageradas para os jogos em questão, na tentativa de que cheguem ao primeiro jogo oficial na máxima força. Depois, porque toda a gente que vê um jogo de Portugal, por mais que diga que só vê porque gosta de os ver perder, quer que Portugal ganhe. É uma coisa intrínseca, nossa, instintiva. Portugal é o nosso país, gostamos que faça boa figura, porque, sim, nós podemos dizer mal, humilhar os nossas, assobiá-los, mas não ponham os outros a fazer o nosso trabalho; aí, ai Jesus que vamos todos para cima deles, ganhamos brio, orgulho, sobe-nos uma chama por entre o peito e se for preciso empurramos os jogadores para a vitória, para a conquista, para os Descobrimentos!
É isto Portugal. É isto este povo. Da depressão à auto-flagelação ao orgulho exuberante. De um dia para o outro. De um segundo para o outro. Basta um golão do Ronaldo, uma bicicleta do Nani, de uma correria do Coentrão e logo a questão será:
"quantos é que o Brasil vai levar?"

domingo, 23 de maio de 2010

A equipa do campeonato

Andei a ler uns blogues e parece que está na moda fazerem-se listas sobre a melhor equipa do campeonato. Ora, nós no Ontem vi-te no Estádio da Luz temos alguma aversão às coisas comuns e muito difundidas (chamem-lhe parvoíce, se quiserem, e é) e portanto pensei logo em não fazer a minha melhor equipa do campeonato. Uma espécie de amuo: "ah vocês fazem todos isso, é? Então eu não faço!". Mas depois perguntei-me se fazia algum sentido amuar para mim próprio e para mais dois ou três que de vez em quando (muito de vez em quando) passam por esta taberna em busca de bebedeiras pseudo-literárias, pseudo-opinativas, pseudo-coisa nenhuma. E entramos assim na lista dos blogues cujos seus editores (sempre adorei o facto de chamar editor a um blogger; um blogger é, no máximo dos máximos, um parvo que acha que tem mais do que parvoíce para escrever mas... não tem, é mesmo só isso, parvoíce) fazem a sua equipa maravilha.
E a minha, em 4132, que é o melhor sistema porque é o do Benfica, é esta:
GR - Bracalli
DD - Fucile
DC - Luisão
DC - Bruno Alves (eu sei, eu sei, ele nem sequer é humano, mas na possibilidade de um não-humano ser bom jogador, ele consegue alguma coisita)
DE - Coentrão
MD - Javi Garcia
EE - Di Maria
MO - Aimar
ED - Ramires
A - Falcao
A - Saviola
Treinador: Jorge Jesus
Os suplentes?
GR - Quim
DD - Maxi Pereira
DC - Carriço
DC - David Luiz
DE - Evaldo
MD - Fernando
EE - Veloso
MO - Mossoró
ED - Alan
A - Cardozo
A - Liedson
Treinador: Domingos Paciência (ela é precisa, mas o homem até nem parece mau, pois não?)
Agora façam as vossas, se vos apetecer. Se não vos apetecer, também está tudo muito bem. Eu prometo não amuar.
PS - Se não concordarem e vos apetecer insultar ferozmente este editor (lá está!), ao menos insultem com alguma originalidade. Não me venham com um: "Ó burro do caralho, então o David Luiz não é titular?!?!?!?". Ao menos, sejam criativos nos insultos. Coisas como: "comes gelados com a testa" ou "tens óculos de cabedal" serão fortemente pontuadas nesta humilde casa de pasto. Obrigado.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Um cromo sem caderneta

Quando eu era pequeno, fazia-me confusão que a mentira não fosse punida decentemente, que ela sobrevivesse à verdade, que se impusesse, que, no limite, por ser ignorada, se tornasse para muitos verdadeira. Lembro-me de ir ter com o meu pai a chorar porque um amigo mais velho dizia que o cromo do Eilts valia mais que o do Moller. Era mentira. Uma vergonhosa mentira, e tinha de ser desfeita naquele momento, sem apelo nem complacência. Câmara de gás, no mínimo, embora naquela altura a câmara de gás para mim fosse ter de ficar sem jogar futebol pelo menos uns 10 minutos. O meu pai ria-se, continuava o que estava a fazer e eu voltava à troca de cromos sem que a mentira tivesse sido desfeita. Mas não trocava o Moller pelo Eilts, que isso já era exigir em demasia à minha própria verdade.
Hoje em dia, apetece-me, em vez de chorar, bater, sempre que um mentiroso mente com quantos dentes tem mas com a cara de quem está, qual arauto da honestidade, a ser justo. Vejo Domingos Paciência (e se ela é precisa...), dia sim, dia não, afirmar autênticas barbaridades, MENTIRAS!, em frente às câmaras, e logo a vontade de um espancamento colectivo me sobe pelo corpo todo. Não é bonito, bem sei, este sentimento. Não é lúdico, não é recomendável, mas custam-me estes atalhos ao pensamento, estes desvios de personalidade, esta espécie de opinião-travesti com que Domingos nos brinda sempre que abre a fétida boca.
Elas, as mentiras, são tantas que daria muito trabalho explicá-las aqui pormenorizadamente, mas quem está atento ao futebol, que se lhe dedica com paixão e o quer defender, sabe bem ao que me refiro. Não só benfiquistas, mas todo e qualquer um que preze a honestidade, o saber ganhar e o saber perder deverá sentir o mesmo, estou em crer.
E é por isso que lanço o repto à direcção do Porto: não percam esta oportunidade! Um bípede com esta qualidade para mentir, para conspurcar, para corromper o futebol português tem, por genética e por direito adquirido, o dever de poder continuar a sua carreira num clube que saiba aproveitar, e melhorar até, estas características. Senhor Pinto da Costa, faça-me um favor: contrate Domingos para treinador do seu clube. Já!, antes que um qualquer Paços de Ferreira ou até mesmo um Chaves o faça! Domingos a treinador do Porto, porque o Porto e Domingos se merecem.
E porque - para bestas e mentiras, futebol e vitórias - nada me daria mais gozo do que deixar o Domingos, treinador do Porto, a dizer barbaridades mais umas épocas. Seria bom sinal.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Este é para ti

Parado, olhos na multidão em loucura, gente empoleirada nas estátuas da estátua do Marquês, cânticos, alegria, álcool, sonhos, fumo e luz, veio-me a ideia absurda, mas de todas as formas justa:
"E se arranjássemos um autocarro monstruoso, onde coubesse toda esta gente, e o fizéssemos ir desde o Estádio da Luz até ao Marquês, onde estariam jogadores, técnicos e dirigentes com cervejas na mão a aplaudirem os heróis?"
A Benfica TV entrevistar-me-ia, chamar-me-ia, enquanto eu gritava para os jogadores lá em baixo, recebia cachecóis do David Luiz e do Javi García e diria uma coisa qualquer como isto: "quero agradecer aos jogadores e aos técnicos e aos dirigentes e a toda esta gente da estrutura do Benfica que comemora nas ruas de Lisboa a conquista deste título. Sem eles, nada disto seria possível."
O Benfica somos nós. Todos. Até os que estiveram, não estando. Até os que, não estando, são os responsáveis pela presença dos que estiveram. Os que deixaram no Estádio o perfume do seu benfiquismo, nos filhos a semente do benfiquismo, no clube a memória das alegrias e tristezas, de tardes e noites a sentirem o Benfica, a propagarem o Benfica.
O Benfica somos nós. Todos.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

A mutação e a estabilidade

Estranhos fenómenos, os que esta época desportiva está a fazer sobressair. Depois de virmos assistindo à belenização do Sporting, clube cujos objectivos para esta época, traçados pelo cabeça de cotonete, passaram por assegurar quanto antes o 4º lugar e que está - é sempre bom recordar - a 28 pontos do Benfica, o que faz com que esteja mais perto, em termos pontuais, dos dois últimos do que da liderança, deparei-me hoje com o fenómeno da sportinguização do Porto. Se acho normal deleitar-me com momentos sublimes do Sporting, como o de hoje, em que, sofrido um golo em Alvalade, os sportinguistas aplaudiam eufóricos o golo dos portistas no Dragão, ainda não tinha vivido a loucura generalizada de adeptos do Porto por, vencendo o Benfica, garantirem o 3º lugar, dizerem adeus à Champions e adiarem a festa do título ao eterno objecto da obsessão deles: o glorioso.
Dar-me conta disto foi tão refrescante e tão agradável que até dei por mim a ficar feliz por termos perdido no Dragão e por o Braga ter marcado aquele golo-em-fora-de-jogo-e-dado-de-bandeja-pelo-guarda-redes-do-Paços. Porque se evitou muita espuma aos cães raivosos tripeiros pelas ruas da Invicta e porque comemoraremos na nossa casa, na Luz de todos os sonhos.
Somos cada vez mais o único grande clube em Portugal. Por aquilo que somos, que temos, que ambicionamos, mas acima de tudo porque nos preocupamos única e exclusivamente com as nossas vitórias, com o nosso destino. Assistimos assim, caros companheiros, a uma cada vez maior benfiquização do Benfica.

domingo, 2 de maio de 2010

29a jornada

1. Não diria que o Porto mereceu ganhar, mas foi um justo vencedor.

2. Pela violência que o Porto desta época patrocinou, em túneis ou fora deles, à pedrada e ao pontapé, e isto é importante, pela maneira como aquele clube pactua com a nojice e o ódio, fico contente com o 3o lugar. Aliás, a pequenez deles merecia lugar mais baixo na tabela.

3. O Cardozo é mesmo leal. Para não desvirtuar o duelo com o Falcão, optou por uma auto-suspensão e também não jogou esta jornada.

4. Não culpo os jogadores. Umas vezes ganha-se e outras perde-se. Continuam a ser fantásticos, continuam a ser a equipa que melhor futebol praticou, continuo a ter uma fé enorme que seremos campeões. Mas há que saber olhar para o lado: a uma jornada do fim, acho que o título de campeão será bem entregue, aconteça o que acontecer.


P.S.: e ainda por cima, perdemos a hipótese de deixar o Sporting a 31 pontos. Aqueles gajos estão mesmo a fazer um campeonato daqueles...