quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Ainda digerindo a azia…



Ontem não consegui ver a primeira parte. Lá ao longe no rádio ia ouvindo os gritos de golo do locutor. 0-3 ao intervalo e eu a caminho de casa.

“Porra devemos estar imperiais!”

Estava ansioso por chegar a casa e ver o nosso Benfica a brilhar ao mais alto nível.

Epa mas que merda…

Expectativas máximas e desilusão maior ainda. Comecei a ver o jogo aos 50 minutos e não é preciso descrever o que aconteceu. Aquela segunda parte é uma dolorosa memória que não adianta estar agora a avivar.

Foi mesmo muito mau.

O que resta do assunto é perguntar como é possível um super-Benfica acabar massacrado. Como é possível deixar aquele jogo empatar?

Há mérito dos turcos? Obviamente. Pelo que percebi o treinador do Besiktas soube ler o jogo, soube mexer no jogo e mudou o rumo de todos os acontecimentos ao fazer entrar o Tosic para a ala esquerda da equipa.

Mas o mérito do Besiktas nunca poderia ser suficiente para o Benfica sofrer o que sofreu naquela segunda parte.

A minha opinião é baseada no que vi ontem e não só.

Este Benfica é uma equipa de ataque. Mentalidade ofensiva e muita qualidade nos processos ofensivos. O que não nos falta é criatividade e imaginação.

Somos bons a atacar. Muito bons. Que o diga o Besiktas que levou 3 e podia ter levado mais (segundo li).

Contudo, e como foi ontem aqui referido neste espaço, há uma bipolaridade na nossa equipa.

Nos processos de uma equipa é o defensivo que tem mais mão do treinador.
Aqui mora o grande defeito do Rui Vitória.

O nosso processo defensivo é muito fraco. Temos uma equipa mal trabalhada defensivamente.
Quando apanhamos uma equipa com bons definidores no ataque, quando apanhamos um Besiktas, a coisa treme toda ali atrás.
O nosso processo defensivo depende todo ele da omnipresença do Fejsa. Cabe ao sérvio compensar todas as lacunas que temos no modo como encaramos o ataque adversário.

A ganhar 0-3 e com o jogo e qualificação no bolso tínhamos 3 abordagens possíveis:

- Continuar a fazer o nosso jogo, expondo-nos a contra-ataques e condicionando a posse de bola adversária.
- Recuar um pouco a linha ofensiva e dar mais bola ao adversário, não nos limitando a querer defender mas tentando controlar mais os espaços e tempos do jogo.
- Segurar o resultado com unhas e dentes. Foco na defesa, autocarro estacionado e todos os caminhos tapados.

Normalmente a segunda opção é a abordagem mais inteligente e matura de uma grande equipa. Foi a escolha do Rui Vitória, a escolha mais óbvia mas a pior escolha para a especificidade da nossa equipa.

Nesta abordagem arrefecemos o nosso ponto forte e expomos ao máximo o nosso ponto fraco. Com esta escolha damos espaço e liberdade para o adversário constantemente explorar a nossa ineficiente forma de defender.

Ficar ali no intermédio foi o que nos lixou.

Aquela segunda parte foi muito uma colisão entre a nosso filosofia de jogo – mentalidade de equipa grande que se recusa a jogar à equipa pequena – e a nossa necessidade.

Se não era para atacar teria de ser para defender com tudo. É este o contexto do nosso jogo em duelos mais exigentes.

Mas atenção. Não critico a opção do Rui Vitória. Eu não quero o Benfica com o autocarro na Turquia e adoro que o nosso treinador respeite a grandiosidade da nossa águia. Gosto de um Benfica com mentalidade de clube enorme.

Simplesmente constato que para a situação em análise talvez outra abordagem tivesse sido mais eficaz. Faço-o à posteriori.

No jogo de ontem só tenho uma critica para o nosso mister. Critico o Rui Vitória por ter permitido que o Salvio deixasse que o Semedo fosse atropelado toda a segunda parte.

3-3
8pts

Ganhar na Luz e ganhar o grupo. Não há outra conta a se fazer.

15 comentários:

João disse...

Concordo com algumas coisas mas acho que, na generalidade, a nossa equipa é competente defensivamente. Ontem aconteceram várias coisas que nos prejudicaram, nomeadamente as saidas do Cervi e do Guedes e a continuidade do Salvio no jogo. O Rafa não esteve feliz e não trabalhou defensivamente como o Cervi; o Samaris entrou para uma posição mais recuada e deixou de haver uma pressão mais adiantada (e boa) que o Guedes fazia; o Salvio rebentou fisicamente e deixou de defender e o Nelson ficou muito desamparado.

A isto podemos juntar a imbecilidade que são os 3 golos que sofremos. No primeiro o Nelson cometeu um erro que lhe é habitual, por não é capaz de avaliar a trajectória da bola neste tipo de lance; no segundo o Lindelof foi imprudente e cometeu um erro que não lhe é comum e que suspeito nunca mais vai repetir; no terceiro um cruzamento em desespero entra em carambola e sobra para o Aboubakar rematar.

No entanto o resultado não pode apagar aqueles 50/60min de muita qualidade que fizemos. Devemos trabalhar em cima deles porque é aquilo que tem que ser feito durante 90 minutos. Fica um amargo de boca ainda maior porque tivemos oportunidade de matar o jogo e não o conseguimos fazer.

Anónimo disse...

João,

Infelizmente só vi os últimos 40 + 5 minutos do jogo...

Tenho formado a opinião que Rui Vitória é fraco do treino defensivo.

Assim logo à primeira verificamos isso na quantidade de oportunidade perigosas que vários adversários conseguem construir contra nós.

Olhando com mais atenção destacam-se algumas características do nosso processo defensivo:

- Um vazio no meio-campo. Há um espaço enorme entre a defesa e os médios. É aquele espaço onde anda o Fejsa a correr de um lado para o outro.

- Fazemos pressão nos defesas mas assim que a bola chega aos médios adversários a pressão acabou. A nossa defesa recua para a área sem pressionar nem condicionar o adversário. Se a bola passa a nossa linha de meio-campo os jogadores adversários têm tempo para tudo.

- Passividade. Há muita passividade na nossa forma de defender. Muita contenção, muita expectativa.

João disse...

Não acho que RV seja um treinador brilhante, muito menos no aspecto defensivo. Acho que conseguiu libertar os jogadores para jogarem um futebol ofensivo de qualidade, com muita mobilidade e criatividade. Defensivamente quando não asfixia o adversário sofre um pouco... Ainda assim, acredito que o jogo de ontem foi perdido em erros individuais e não tanto colectivos (também os houve).

VC disse...

O Benfica tem cinco golos sofridos na liga portuguesa. Igual ao Porto e metade dos sofridos pelo Sporting treinado por esse "génio" da bola de que não lembro o nome. Na Liga dos campeões tem tantos golos sofridos e marcados como o Nápoles.
Na época 2015-2016 o Benfica sofreu 22 Golos em 34 jornadas (o Sporting sofreu 21, mas é treinado pela criatura).
Face aos dados concluo: o Benfica não é uma equipa defensivamente mal treinada. O penalti cometido pelo Lindelof é um acidente.
Quanto à defesa do Benfica: volta rapidamente Jardel. Concordo: o Benfica nunca pode sofrer o 1.º Golo da forma como o sofreu. Quando o Semedo fecha a lateral tem que ser fechada pelo médio. Isso nunca aconteceu, neste jogo. Não acredito que o Vitória não o diga ao Salvio. O Cervi como é "caloiro" cumpre "as ordens". Isto são coisas primárias. Podia dizer mais umas coisitas quanto à defesa mas já é tarde.

RedMist disse...

Isto não é o futebol: é o Benfica.

1. “Faltou-nos uma pontinha de sorte”. “Faltou comunicação”. “Tivemos uma noite má”. “Continuamos a depender de nós próprios”. “Antes do início do jogo, este seria um resultado simpático”. “Fizemos 60 minutos de grande nível”. “Não matámos o jogo”.

2. A minha preferida: “É o futebol”.

3. O que aconteceu ontem não foi o futebol: foi o Benfica. O mesmo Benfica de sempre. O Benfica amedrontado, complexado, coitadinho, das vitórias morais, que mirra na adversidade. Não fosse a fibra e dedicação da sua massa adepta, e um clube assim não duraria 112 dias, quanto mais 112 anos.

4. Forte frente aos fracos, fraco frente aos fortes.

5. O Benfica das 1001 finais perdidas. Que, tendo beneficiado da melhor equipa europeia de toda a década de 60, congratula-se com as 2 Taças dos Campeões Europeus conquistadas. O mesmo Benfica que, para ir à Turquia vencer esse colosso chamado Besiktas (cujas principais referências são dispensados dos grandes de Portugal), necessita, ao que parece, de 4 golos de vantagem para “matar o jogo”.

6. Que responde aos seus com chavões. Como se ontem tivesse sido dia de Taça de Portugal e uma qualquer equipa do CNS tivesse ganho com um pepino do meio-campo. Como se tudo isto fosse uma matéria esotérica. De sorte ou azar.

7. Este não é um Benfica de verdade, rigor, razão ou lógica: mas de ditados popularuchos, de estupidificação dos seus.

8. Não se vence um único confronto de grau de exigência/dificuldade acima da média? “Tivemos uma noite má”.

9. Fazem-se 8 pontos em 15 possíveis num dos grupos mais acessíveis da presente edição da LC, deixando tudo para o último jogo frente àquela que, por exclusão de partes, tem-se revelado a melhor equipa do grupo (mesmo que, no seu próprio reduto, apenas tenha vencido o Benfica, e logo por 4)? “Continuamos a depender de nós próprios”.

10. Desbarata-se, em 30 minutos, uma vantagem de 3 golos, uma qualificação, uma verba milionária, tendo a equipa manifestado uma gritante incapacidade, sobretudo, mental para gerir o rumo dos acontecimentos? “Fizemos 60 minutos de grande nível”.

RedMist disse...

11. Este discurso, à semelhança desta equipa, não é de campeões.

12. Eu, que vi todas as equipas deste grupo jogar entre si, defendo que este Benfica não merece passar. À luz da relação qualidade/produção, vejam o que alcançou o Besiktas: indo vencer onde levámos 4, não sendo derrotado numa única ocasião. O próprio Dínamo: a carregar aos 90” sobre o “papão” Nápoles, com os italianos a necessitarem vencer, apresentando a sua actual melhor equipa, no seu ambiente “infernal”.

13. Comparado com aqueles, este é um Benfica de passarinhas.

14. Na vida, como no futebol: ser (em teoria) melhor não basta. Esta é uma lição que este Benfica nos tem ensinado de borla. Mais 7 ou 8 minutos daquele jogo e tinham novamente levado 4. Percebeu-se desde logo que, a partir do 1.º, tudo aquilo viria por ali abaixo. O que, só por si, atesta a debilidade de muito do que para ali vai.

15. Não se tratou de uma noite má. Este é o mesmíssimo Benfica dos 6-0 ao Marítimo. E de tantos outros jogos tidos em ambientes favoráveis, frente a adversários modestos e pouco confiantes. Onde o Benfica treina, sobretudo, a transição e posicionamentos ofensivos.

16. Onde “passeia”, sem ser verdadeiramente sujeito a nada.

17. Quantos orçamentos anuais de clubes da I Liga custou só o (suplente) Raul?

18. Depois, lá de vez em quando, surgem estes jogos: duros, de concentração máxima, onde não se pode tirar o pé por o jogo terminar não aos 60”, mas somente quando o árbitro apitar. Aqueles jogos dos quais eu gosto: porque aí sim é possível aferir o verdadeiro nível competitivo e, sobretudo, carácter de uma equipa.

19. Confrontos onde, porque são uns meninos, este Benfica não vence 1. Repito: 1.

20. Onde, a vencer por 3, não procuram o 4.º: mas antes baixam o bloco. O facto de, em bloco baixo, só o Luisão ali saber defender: irrelevante. Porque, conforme nos é ensinado, “o adversário tem muito valor”. Logo, ninguém ali tem culpa, dormindo assim toda a gente mais descansada.

RedMist disse...

21. O plano pode ser uma merda: mas se todos já estiverem de sobreaviso para tal, a coisa é sempre encarada com outra tranquilidade.

22. Onde, querendo fazer “campo curto”, entrega-se o meio-campo a médios “peso pluma”, que jogam de pantufas, quem qualquer capacidade de choque, agressividade, vantagem na disputa directa, no jogo aéreo, para mostrar os dentes e “intimidar”.

23. Daí a um suplente desconhecido, em 45”, fazer o que fez, com todo o tempo e espaço do mundo, indo ainda a tempo de ser considerado o homem da partida… Calma: “Faltou-nos comunicação”.

24. A mesma comunicação que, conforme disso temos hoje noção, não faltou ao Besiktas. Ao Nápoles. Ao FCP. E que, estranhamente, não havia faltado quer nessa mesmíssima 1.ª parte, quer noutros contextos mais favoráveis.

25. Onde, não sabendo gerir o jogo, nem procurando o 4.º, anulou-se toda a mobilidade e capacidade ofensiva da equipa: com Semedo e Eliseu “plantados” lá atrás, Guedes (compreensivelmente) e Salvio (não tão compreensivelmente) desgastados, Mitro a soporíferos e Rafa sem ritmo: quem era suposto manter o Besiktas em sentido?

26. Já sei: “não matámos o jogo”. Quando um 0-3 afigura-se insuficiente frente ao Besiktas, a quem se propõe verdadeiramente este Benfica vencer? Ao Massamá?

27. Este Benfica sabe fazer o mais difícil: sabe jogar. O que não sabe é fingir que quer jogar, especular com o jogo. Quando se mete por esses caminhos, dá isto. Está a milhas da classe de um Real Madrid: que, em piloto-automático, controlou o jogo frente ao SCP do princípio ao fim. Assim quisesse, tinha dado 4 ou 5.

28. Porque não sabe nem tem os instrumentos para tal, não são os jogos do Real Madrid a que deve assistir com atenção: mas os do Dortmund – que, marcando 5, vai à procura do 6º. É isso que faz do Dortmund a equipa mais excitante do mundo. E só isso fará deste Benfica uma equipa campeã e, sobretudo, de campeões.

29. PS1: Com a pasta do n.º 8 perfeitamente resolvida (conforme temos atestado), gostaria desde já de congratular quem de direito pela brilhante gestão da carreira de, por exemplo, Jimenez: certo de que os 45” até ao momento tidos ao serviço do SCB serão, certamente, imensamente produtivos na sua evolução e adaptação ao futebol nacional.

30. PS2: Mais do que Carrillo, a alfinetada que o Benfica deveria ter desferido no SCP chamava-se André Martins. Já sei: demasiado barato.

Benfiquista Primário disse...

As leituras que os dois treinadores fizeram do jogo determinaram esta viragem absurda. Eles melhoraram muito com as substituições, nós piorámos muito!...

Tirar o Cervi, com o que estava a jogar, ofensiva e defensivamente, e manter o Salvio exausto em campo???

Uma equipa grande não desbarata um apuramento para os oitavos da CL assim.

Benfiquista Primário disse...

E para não ser acusado, pelos sabujos acríticos do costume, de só criticar e não propor outras soluções, aqui vai o que acho que teria sido uma boa leitura de jogo, naquele início da segunda parte:

- sai Salvio, pelas razões acima, entra André Almeida; três hipóteses com esta substituição - AA vai para lateral direito e sobe N Semedo para a ala direita do meio-campo ou AA vai para a ala direita do meio-campo ou Pizzi vem para a ala direita e AA vai para médio centro (por ordem decrescente de preferência).

Com esta mudança, teríamos estancado a sangria desatada de superioridade numérica sobre o Nelson Semedo e teríamos mantido Cervi a dar preciosa ajuda a Eliseu, do outro lado, e a esticar o jogo em transições rápidas...

Mas isso sou eu, que não percebo nada disto...RV acha que o problema foi não marcar o quarto golo e matar o jogo, como se uma equipa grande não tivesse o jogo já morto e bem morto com 3-0...é uma nova teoria do futebol, esta de 'dar oxigénio' ao adversário quando se está a ganhar só por 3-0 e se falha o quarto...será que afinal, 'o resultado mais perigoso no futebol' não é estar a ganhar 2-0, mas estar a ganhar 3-0???!!!

Farto destes clichés de RV repetidos até à náusea em todos os jogos com equipas decentes...e ainda mais farto deste Benfica do Medíocre: forte com os fracos e fraco com os fortes...faz lembrar o governo anterior de Portugal!!....

VC disse...

O nome que se dá, a uma equipa que está a ganhar aos 60 minutos 3-0 e se deixa empatar, é só um: INCOMPETENTE. É o caso do Benfica. Concordo em tese com o REDMIST.

Suwayd disse...

Meu Aimar, as coisas que se vão lendo pela internet fora.

Com que então o Benfica é fraco defensivamente. O Benfica deixa um espaço enorme entre a defesa e os médios.
Aconselho-vos a, das duas uma, ou irem ao psiquiatra ao oftalmologista. Ou então que se dediquem a ver outro desporto qualquer, porque de futebol percebem zero.

O Benfica deste mesmo Rui Vitória é uma equipa fortíssima na transição defensiva. O Besiktas durante os primeiros 60 minutos não teve 1 única bola que entrasse no espaço entre linhas. Porque este espaço simplesmente não existia. A equipa do Benfica junta a linha média com a linha defensiva e sobe ambas as linhas como muito poucas equipas na Europa.
Já que não viste a primeira parte, aconselho-te a veres. E tentares perceber o futebol jogado e deixares-te dessas frases feitas que se ouvem no café que o meio campo do Benfica é assim e assado. É incrível como basta alguém começar a dizer uma coisa, que o resto vai tudo atrás sem pensar.

Queres saber o que falhou na última meia hora? Vê essa última meia hora com olhos de ver, e não como se vê no café, em que toda a gente só olha para o último passe antes dos golos, e depois metem as culpas em quem não tem culpa nenhuma.
Dou-te uma dica: Samaris e Salvio.
Depois há um primeiro golo que aquele jogador em 10 jogadas iguais falha 9. E um penalty que não é, de todo, normal no miúdo.

Mas não, é preferível andar a clamar pelo descalabro que é a defesa do Benfica por ter encaixado um golo cagado, um golo de penalty, e um golo de ressaltos.

Enfim.

jorgen80 disse...

É verdade. O Benfica tem dificuldades em mudar a abordagem ao jogo, caso seja realmente necessário.
O problema do Benfica não foi não ter querido procurar o 4 ou o 5, porque teve oportunidades para tal. Neste caso, o que se exigiria, seria, outra solidez defensiva, no momento em que o Besiktas decidiu arriscar tudo, subindo linhas com os laterais a pressionar bem dentro do nosso meio-campo. E o Benfica, como disse o Ricardo, não tem jogadores para isso. Não se pode querer controlar um jogo sem bola, com Fejsa e Pizzi. É impossível. O último só sabe controlar com a mesma; sem ela, não domina os espaços tão bem como um Enzo, por exemplo. Nem tem físico para ganhar segundas bolas que ter-nos-iam dado muito jeito.

E depois há outra questão. O Benfica se baixa em demasia, não tem capacidade para furar linhas assim que recupera a bola à frente da sua área. Médios como Fejsa e Samaris jogam "parados"; Pizzi é um playmaker: dá e vai buscar. O jogador que realmente poderia dar esta nuance tática nestas circunstâncias de jogo, nem sequer foi registado para a Champions: Danilo. O único verdadeiro box-to-box, da génese de Enzo e Renato, ficou em casa em detrimento de Cellis e Samaris. Um erro crasso, que não se compreende dada as características ímpares, no plantel, do jogador.

O Benfica até não encontrar o verdadeiro parceiro do Fejsa para os grandes jogos, terá sempre um futebol prevísivel e expectante por parte dos adversários: Recuperar a bola e lançamento longo para os extremos. Como vimos, é um tipo de saída de bola que qualquer grnade equipa anula com maior ou menor dificuldade.

Estar sólido lá atrás, mesmo sem cheirar a bola, exige muita força mental, não só pelo facto de não ter o esférico, como também pela capacidade de decisão, que é necessária quando a mesma volta a estar nos teus pés. Fala-se no Tiki Taka e tal, mas dominar e controlar o jogo, sem e com bola, só está ao alcance de uma equipa como o Atletico. Mentalmente são do mais forte do mundo.

RedMist disse...

1. Este Benfica, regra geral, sabe defender: como nos prova, por exemplo, o jogo frente ao FCP, no qual não fizemos outra coisa. Contudo, convém lembrarmo-nos de que um processo defensivo não começa e termina na defesa e/ou GR: mas antes lá à frente, vindo por aí abaixo. É um processo orgânico. Dinâmico. Colectivo. Sensível.

2. Este é, precisamente, um dos problemas do actual SCP: reparem como a mera mudança de um elemento na frente (Slimani) ou a lesão de um outro no miolo do meio-campo (Adrien) tem feito tanta diferença relativamente ao que se viu ainda há poucos meses atrás.

3. Frente a adversários modestos, a coisa passa despercebida: tal a dimensão ofensiva deste Benfica, que “passeia” e “sufoca” os adversários. Contudo, perante outros com maior capacidade para ultrapassar essa 1.ª fase de (suave) pressão ou pressionar logo lá à frente, o que se vê?

4. A linha defensiva a levar com aquilo tudo de frente. A bombear bolas. Os médios de construção e desequilíbrio a vê-las passar. A ir recuando, recuando… A ser constantemente arrombado: fazendo notar debilidades individuais que sempre estiveram lá, camufladas, e que levam, erroneamente, a culpar A ou B – quando o problema está no todo.

5. Vamos ao Semedo. Os benfiquistas deviam benzer-se todos os dias da semana por beneficiar de um lateral daquela qualidade. Mais do que Pogbas, Iguains ou Raúles, estes são os jogadores que fazem verdadeiramente a diferença no futebol actual: mais um a atacar, mais um a defender. Com intensidade e critério. Um futebolista total.

6. O treinador do Besiktas, bem, percebeu-o. Ao intervalo, meteu ali um tipo naquela zona do terreno com vista a fixar Semedo, RV foi na conversa e, ao invés de impelir Salvio à necessária solidariedade e compromisso, meter AA e fazer subir Semedo, ou assumir o risco e manter o plano, com Semedo e Eliseu subidos, atrevidos e a equilibrar um meio-campo onde a superioridade passou a pertencer ao adversário… fixou os laterais.

7. Optou ainda por procurar fazer “campo pequeno”, perante atacantes e um meio-campo a marcar “com os olhos”, passivo, sem intensidade, dimensão física, mental ou emocional para a função. Sem os “ingredientes” necessários.

8. Com isso, as bolas nas costas de Semedo começaram a cair, dando a ideia de uma falha individual: quando, no fundo, é uma falha de interpretação táctica, aliada quer à falta de compromisso, quer às demais más opções técnicas tomadas aquando das substituições.

9. Qualquer hipótese de saída da zona (atrasada/recuada) de recuperação de bola ficaram em muito dificultadas. Daí a o Benfica começar a bombear bolas (e a perdê-las todas)… um pequeno passo. Para o Besiktas, com meio-campo mais musculado e reforçado por Inler, foi como mel na sopa.

10. Defender que, apesar disto, fizemos 60” de qualidade e que, após isso, aconteceu futebol… não é sério. Não é verdade. Tudo acontece por um motivo. É o equivalente a ficar muito orgulhoso com o que se fez ao longo de 2/3 de uma maratona, e queixar-se de a ter perdido quando fez o seu último terço a passo. Investir forte numa casa, mas edificar um telhado em bambu e folhas de palmeira. Não faz sentido.

11. Não foi o futebol. Não foi por não se ter marcado o 4.º. Foi o Besiktas a procurar anular o principal ponto forte do actual Benfica (vejam a quantidade de vezes que Semedo sobe, vai à linha, cruza, desmarca-se, destabiliza linhas adversárias, cria superioridade - inclusive, quando comparado com os próprios extremos) e o Benfica a permiti-lo. Tudo o resto é conversa para embalar.

RedMist disse...

12. Sufocado, o Benfica precisava partir rápido para o ataque. Manter o Besiktas “em sentido”. Assistimos precisamente ao contrário: um Benfica a tresandar a medo, o Besiktas a sentir o Benfica a “sangrar” e a investir. Não se faziam mais de 2 a 3 passes até, invariavelmente, entregar-se a bola ao adversário através de uma perda infantil de bola ou recurso a uma bola aérea: onde, tirando Mitro, todos os restantes são uma nulidade.

13. Não se percebe Samaris: sem recursos técnicos, anímicos, alma, a jogar a passo – só piorou. Não se percebe Rafa: sem rotinas, sem compromisso, sem nada, perante um Cervi atrevido, com compromisso e a dar o jogo pela relva que o Benfica precisava. Não se percebe a insistência num Salvio desgastado, com funções meramente verticais para as quais já não está habilitado a este nível, verdadeiramente sem capacidade para atacar ou defender.

14. Percebe-se Raúl: um jogador que representa a falência de um plano de jogo articulado – manifestado pelo “despejo” de bolas. Procurou-se, no individual, a resposta para a falência do plano colectivo. Expectavelmente, não resultou.

15. Os golos não são uma imbecilidade. Um acaso. Um infortúnio. São o resultado natural de um desespero crescente de atletas sem as respostas colectivas e emocionais para dar a volta ao problema.

16. Vimos, por exemplo, Lindel cometer erros nunca antes vistos. Infantilmente exasperantes. Isto não é um acaso: mas o resultado de alguém que está profundamente afectado e desestabilizado pelo desenrolar dos acontecimentos.

17. Às 2 abordagens absolutamente incompreensíveis e desfasadas, chamo a atenção à forma como, no 3.º golo, Lindel reage à forma como perde o lance. Reparem na sua expressão corporal: típica de alguém no limite das forças - não físicas, mas anímicas, emocionais. De quem não aguenta mais. De quem quer desistir. Acabar com aquilo.

18. Não é uma questão individual: mas colectiva, grupal, inclusive institucional. Não está no ADN uma cultura de exigência. De “raça”. De confiança. De abnegação. De superação na adversidade. A abordagem é sempre errada. A resposta dada é sempre sofrível.

19. Ignorar isto é marinar na mediocridade. Se me chateio com isto, é por rever ali capacidade para tanto mais, vendo tudo aquilo contentar-se com o suficiente. Ser bom, negando-se à excelência. Ao êxito entre fronteiras, quando podia ser badalados nos 4 cantos do mundo.

20. Nos últimos 3 anos, o Atlético foi, por 2 vezes, à final da LC. Repito: o Atlético, 2 vezes, nos últimos 3 anos. Quantas foi o Benfica nos últimos 20? Serão as diferenças entre Benfica e Atlético assim tão desmedidas?

21. Não. Com excepção do capítulo da abordagem mental: intelectual, espiritual, emocional. Ali, a entrega não é negociável. Mais: tem conseguido ombrear com as actuais 2 melhores equipas do mundo. Tais feitos fariam supor uma equipa de craques mundiais. Onde estão eles? Têm bons jogadores, mas os melhores, a nata, esses estão noutros sítios.

22. Como o consegue então? Através de tudo aquilo que ainda vai faltando a este Benfica com vista a ascender ao patamar no qual o revejo. Para mim, é frustrante ver passar plantéis com qualidade para muito mais do que celebrar conquistas internas. É bom, a base para tudo o resto: mas, fruto de um passado recente de “seca”, corre-se o risco de incorrer naquilo a que temos assistido – olhar somente para a árvore, ignorando a floresta.

RedMist disse...

23. Sem demitirem-se das inerentes responsabilidades: através de frases feitas, contratações e rodos de dinheiro que não mudam nada. Veja-se Adrien Lopez. Ainda há 2 anos, estava na Luz a disputar uma final da LC. O jogador é o mesmo. O que mudou? Somente o contexto, as circunstâncias envolventes.

24. E o actual contexto do Benfica é o de “exigência QB”. Como o tipo que responde a um “Como vai?” com um “Vai-se andando”. Suficiente. Onde fica tudo em família. São todos uns porreiraços. Sem esticar em demasia. Sem ir ao fundo do seu âmago. A rasparem somente a superfície das suas potencialidades.

25. Onde é que este Benfica é verdadeiramente forte? No prazer de jogar. Em atacar. Como qualquer um de nós fazia na rua. O resto? Com as devidas reservas: uma ilusão. Fogo de vista. Assente na superior qualidade individual dos seus atletas. Tira-se Salvio: entra Carrillo, Rafa, Zivko. Tira-se Jonas: há Guedes, Raul, Mitro. E por aí fora.

26. Com excepção de 3 posições: Ederson, Semedo e Fejsa. Não têm substituto à altura. Sem eles (em jogo ou fora dele), este Benfica cai.

27. Com especial ênfase para Semedo: que, com a sua propensão ofensiva, atenua as debilidades no sector central (8), puxando ligeiramente Salvio mais para o centro (onde rende mais) e levando a uma maior concentração (e superioridade) naquele sector.

28. Se lhe são dadas ordens para ficar “plantado” lá atrás, o meio-campo “perde” homens, a defesa não ganha necessariamente mais um, a equipa altera a sua orgânica, os espaços e debilidades surgem.

29. O que prova que as tácticas são, de facto, meros números de telefone.

30. Mesmo para os que defendem que tudo isso assenta em meros ressaltos, penaltis ou carambolas: procurem reflectir o porquê de tudo isso somente acontecer em confrontos de tal magnitude. E se todas essas “coincidências” ocorrem perante adversários como Besiktas, SCP, Nápoles ou FCP: qual a verdadeira posição de “força” deste Benfica na “cadeia alimentar”?

31. É fácil produzir “momentos de brilhantismo” quando se tem o orçamento e as individualidades do Benfica: ao caso, sempre contra adversários de menor nomeada. Mesmo frente a adversários de outro calibre, também é possível, a espaços, produzir esses mesmos “momentos de brilhantismo”.

32. E porque “brilha”, é o que foca a atenção da generalidade. Contudo, importará, sobretudo, analisar o respectivo padrão: ao caso, a disparidade exibicional frente a adversários com semelhantes argumentos; os respectivos resultados obtidos; o número de ataques e golos sofridos; a tendência de jogo registada nesses mesmos jogos.

33. Neste capítulo, como em tantos outros, são os padrões comportamentais tidos ao longo do tempo que permitem fazer uma determinada previsão a médio/longo prazo. Não o fugaz, o supérfluo, a espuma dos dias.

34. E se, numa realidade na qual os adversários directos vão dando “tiros nos pés”, a coisa passa relativamente despercebida; noutra, na qual as coisas sejam disputadas “olhos nos olhos”, o desfecho final aparenta poder ser totalmente diferente.

35. Até ao minuto 92” do golo do Kelvin, outros houve que também julgaram que tudo está bem quando acaba bem. Esses, como tantos outros, também julgariam que o mal só acontece aos outros. Daí ao tri do Benfica… passaram 3 anos.