quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Um caso de falta de leite

Ao longo de dois anos de existência deste blogue, se alguma vez escrevi um post exclusivamente dedicado a um dos rivais será muito. Não vejo interesse, para além da discussão futebolística, em passar a minha vida a pensar nos outros nem como particularmente produtivo em termos de análise à realidade do nosso clube a constante alusão aos adversários. No entanto, há sempre o chegar de um dia em que a excepção toma, por momentos, o lugar de destaque na sala principal. Chegou esse dia. Farei um post exclusivamente sobre o Porto. Ei-lo:

Antes de mais, vejam isto. Estou a falar a sério: vejam isto. Não, não é para saltarem o vídeo, vejam tudo, do princípio ao fim.

Está visto?

Eu também vi. Caído de pára-quedas no vídeo, mas vi. E fiquei boaquiaberto. Pode parecer estranho alguém ainda ter um momento surpreendente quando vê Pinto da Costa fazer referências ao Benfica, mas confesso, ainda assim, e 30 anos depois de este ter chegado ao poder sempre com o mesmo ódio na mira, a minha total e mais sincera estupefacção por aquilo que este vídeo demonstra e prova à saciedade.
É como aqueles momentos em que uma epifania se nos chega, por vezes sobre coisas tão óbvias e facilmente imaginadas - uma vez, enquanto conduzia e fazia sol e chovia ao mesmo tempo, vi o arco-íris pôr-se sobre uma montanha; e depois, qual momento divino, apesar de facilmente confundível com uma análise de um estúpido (e se calhar era), pensei na palavra "arco-íris". "Arco" e "íris", separados, um arco visual, um arco de cores translúcidas à membrana interior dos olhos. Nunca tinha pensado nelas separadamente e as juntado depois para compreender o significado sem ser apenas uma ideia geral, sem ser uma palavra composta que associamos a uma imagem sem que pensemos realmente nela (pensem em "rainbow", também dá).
Este homem não ama o clube que preside; odeia o nosso. Não assina por mais uns anos com o treinador que tem por querer desalmadamente o treinador que tem por mais uns anos; quer desestabilizar o nosso treinador. Não diz que nos clubes sérios não se dão votos de confiança, fazem-se renovações de contratos por achar realmente isso; diz porque o Presidente do Benfica deu votos de confiança ao nosso treinador em vez de lhe renovar o contrato. E, no fim, fala das vitórias do próprio clube não pelas vitórias do próprio clube mas para poder falar noutra Vitória, a nossa.

Como a epifania do arco-íris, hoje tive outra: Pinto da Costa queria ser não o Presidente do Porto mas o Presidente do nosso clube.

E é por isso que esta imagem serve de prova em qualquer estudo psicanalítico que se possa fazer sobre esta perturbada personalidade:

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Nuit et brouillard

Eu sou do Benfica. Não porque faça parte de um clã de iluminados, não porque conheça melhor a verdade e, de certeza, não porque seja melhor do que os outros que vêem, pensam, lêem, amam, são futebol. Sou do Benfica porque o meu Pai era do Benfica. Se o meu Pai fosse do Alain Resnais, eu era do Alain Resnais. E sou. Eu nem sequer gostava de esparregado e agora gosto, e isto não é para falar de esparregado, embora o esparregado seja uma das descobertas da minha maturidade, não contando o Alain Resnais, que é bom e não consta que fosse benfiquista. Eu amo o Benfica porque nem sei explicar. Entre o que foi o exterior e o interior, algo em mim despertou para este clube. Se podia ter sido outro? Podia, embora hoje, aqui, nisto que sou, essa seja uma ideia igual a não gostar do Alain Resnais. O meu Pai viu o Eusébio ao vivo, no Estádio de Alvalade, que era a catedral do meu Avô, sportinguista patológico. O meu Pai não se apaixonou pelo Estádio de Alvalade. A partir desse momento, um gene nasceu. Chegou a mim. Se filhos aparecerem, gostarão do Benfica. Já do Alain Resnais, não posso dizer. Será escolha deles.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Salviola, o Jardel de Coimbra e outros disparates

Jesus e a crítica dizem que foi o melhor Benfica da temporada. Eu acho que sim. Mas não foi só. Mas vamos por partes, como dizia o Jack, o Estripador:

- O melhor Benfica da época? Durante meia hora, provavelmente, sim. Dois golos, várias oportunidades, pressão sobre o adversário. Não foi tão bom como o ano passado, mas foi bastante bom. Claro que fazer dois golos quase antes de o jogo começar ajuda. Mas tentar fazê-los também. É esta mudança de atitude que se aplaude. E ao mesmo tempo se critica: onde é que ela andou? E não me lixem: isto não tem a ver com questões físicas, técnicas ou tácticas: é uma questão mental. O ano passado entrávamos em campo com vontade de atropelar o adversário e...às vezes atropelávamos mesmo. Vamos lá, Jesus. É este o caminho para a Terra Prometida (de certeza que já alguém tinha feito este chiste, mas aqui fica na mesma).

- E o resto? Bom, o resto foi muito parecido com o que temos visto: quando acabou o gás de Gaitán o meio campo voltou a ser tenrinho. Aí a diferença de qualidade fez o resto, mas a jogar assim arriscamo-nos a dissabores frequentes. Mas em casa com o Rio Ave pode ser.

- Destaques individuais? Sálvio, claro. O Ricardo só tem elogios para o rapaz e ele dá-lhe razão. Acho que vamos ter um desgosto quando o Vieira não accionar a cláusula de compra em Junho. Dois golos de cabeça de um extremo são sempre uma anormalidade. Se esse extremo não tem pescoço (o que dificulta o “gesto técnico” do cabeceamento) ainda tem mais valor. Saviola, também. Mas eu nunca o vejo jogar mal (defeito meu, com certeza). O Gaitán parece ter mais vontade de trabalhar, mas dá a sensação de não aguentar 90 minutos. Já é um progresso: preocupa-me menos que não possa do que não queira. Pela negativa, Cardozo. Não desenvolvo muito porque detesto falar mal de jogadores do Benfica. Se jogou mal tinha uma boa razão para isso (provavelmente esteve até às tantas e distribuir comida aos sem-abrigo de Lisboa – os jogadores do Benfica quando jogam mal é por razões nobres, não tenham dúvidas).

- Do outro lado, João Tomás. 34 anos, e ainda tinha lugar no plantel de qualquer dos grandes (já para não falar da selecção, que andou a testar os Edinhos desta vida). Sábado (mais) uma exibição extraordinária, com dois golos e uma bola no poste (reparem na posição em que ele está neste lance, de onde vem a bola, e de como ele a coloca magistralmente). Jogador completo, profissional de mão-cheia, mas o empresário deve ser o Darren Lamb.
É um dos jogadores mais injustiçados de sempre. Sábado, para não variar, voltou a sê-lo: o que é que fez para merecer ser assobiado na Luz? Veio para cá por meia dúzia de tostões, fez golos em barda no pior Benfica de sempre, e saiu por 5 milhões (muito dinheiro na altura). Nunca teve, que eu saiba, nenhuma palavra incorrecta para com o clube. Obrigado, João, e desculpa qualquer coisinha.

- A expulsão do Coentrão: se calhar foi muito inteligente. Eu acho que foi chico-espertice, e não gostei. Gostava de ver sair uma punição exemplar para estes lances. Jesus, isto é o Benfica. Não gostamos disto. E não, o facto de o Special One (“El especial”, “il speciale” ou “o sacana que ganhou tudo para o Porto” como é conhecido noutras línguas) o fazer não é desculpa.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Estratégias de compra e venda

Tendo em conta as notícias que saíram hoje sobre a concretização do negócio de compra de Fernandez ao Racing e de venda de Patric ao Atlético Mineiro, fico simultaneamente satisfeito e preocupado. Se, por um lado, há o assumir de um mau planeamento da época, indo em busca de um jogador que, de facto, seja o extremo-esquerdo de que a equipa precisa, por outro tenho sérias dúvidas que seja Fernandez a solução para o problema. Não porque conheça o jogador (não conheço), mas porque, mais uma vez, a escolha recai num elemento que precisará, por vir de um campeonato em que as características de jogo são substancialmente diferentes, do natural tempo de adaptação. Esta contratação poderá fazer sentido se o pressuposto for o de médio prazo, preparando-o para na próxima época poder ser integrado já rotinado com o resto da equipa; se a ideia é colocar Fernandez a titular a partir do momento em que saia do Aeroporto, estaremos muito provavelmente incorrendo em mais uma má decisão estratégica.
Em Janeiro, só faz sentido contratar um jogador se ele tiver as características certas para vir colmatar, no imediato, as lacunas do onze titular: conhecimento do tipo de jogo que aqui se faz, experiência ao mais alto nível europeu e facilidade de assimilação das ideias do treinador. Fernandez poderá até vir a revelar-se um jogador com facilidade de adaptação mas, a priori, não me parece o caminho certo a seguir.
Por outro lado, com esta escolha, assume Jesus e toda a estrutura do Benfica que a opção de compra de Gaitán para suprir o espaço deixado vago por Di Maria, foi um verdadeiro falhanço. O que é contraditório, visto que o treinador do Benfica opta, sempre que pode (e tem podido quase sempre), por Gaitán para aquele espaço do terreno. E, se nos primeiros dois meses poderíamos ter compreendido a sua vontade em adaptá-lo a uma posição que claramente não é a sua, nos últimos dois - e esta escolha por Fernandéz vem corroborá-lo - tem sido um caso de pura falta de humildade em assumir o erro e de teimosia bacoca, o que não deixa de ser preocupante.
Há, no entanto, e se Fernandez entrar directamente para a esquerda do meio-campo, uma boa notícia: veremos o talento de Gaitán explorado decentemente. Na minha visão, dar-lhe-ia a oportunidade de jogar a segundo avançado, no lugar do Saviola. Ou seja, um suplente muito utilizado. Veremos que planos tem Jesus para este talento.

Outra notícia que saiu foi a de o Benfica ter vendido Patric ao Atlético Mineiro. Sinceramente não percebo esta decisão. Há cerca de um ano e meio o Benfica comprou 70 por cento do passe de Patric por 2 milhões de euros; agora, depois de um excelente campeonato brasileiro, em que revelou poder ser uma alternativa credível a Maxi Pereira (e essa é umas lacunas do plantel, não ter um substituto natural ao uruguaio; deixemos Amorim a médio, a sua posição natural), um jovem com potencial, que provavelmente nos próximos dois anos verá o valor do seu passe altamente inflaccionado, vendemos 50 dos 70 que tínhamos por 1 milhão e meio. É verdade que recuperámos o dinheiro investido mas parece-me que teria sido mais benéfico para o clube uma de duas coisas: recuperá-lo para o nosso plantel, fazendo-o evoluir a espaços na lateral direita e prepará-lo para a próxima época OU deixá-lo emprestado no Brasil, evoluindo no jogo para depois, se mostrasse a qualidade que parece ter, trazê-lo para o plantel principal da equipa. Entre ter recuperado 1 milhão e meio de euros e ter esperado mais um ano pela sua evolução, escolheria claramente a segunda opção. Não aconteceu assim, é pena. Espero que não o vejamos no futuro numa grande equipa europeia e a remoer o erro de casting.
Sílvio, do Sporting de Braga, seria uma contratação inteligente. Grande qualidade, português, 23 anos, provável jogador de Selecção no futuro, das escolas do Benfica. Olhem, gastem o dinheiro recebido pelo Patric no Sílvio e não se fala mais nisso.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Ontem vi-te no Estádio da Luz reforça o plantel

Depois de uma busca apurada por parte da equipa de prospecção deste blogue - a quem Villas-Boas pede recorrentemente conselhos sobre Power Point e Excel -, após meses e meses a visualizar comentários em blogues, a definir perfis e a enquadrá-los adequadamente nas necessidades do Ontem vi-te no Estádio da Luz, é com grande satisfação que anunciamos a contratação de mais um elemento para dizer disparates: Mr. Shankly.

O contrato tem a duração do tempo que o Mr. Shankly quiser, sendo que, por ingressar no blogue, receberá as contrapartidas financeiras de ser insultado por anónimos imbecis e muitas vezes apenas o silêncio resultante de ser este um sítio onde se juntam à vez 2, 3 ou, em dias de loucura, 4 pessoas ao mesmo tempo. Ao blogue terá de dar apenas e só uma coisa: a sua mais sincera opinião, coisa em que é, de facto, bom.

Aproveitamos para anunciar que o plantel, com esta contratação, fica fechado. Não haverá saídas e muito menos entradas, visto que não queremos fazer disto uma equipa de futebol. Temos 5. Dá para o futsal. Quem se desculpar com os árbitros estupidamente ou passar o tempo a falar dos outros, vai à baliza.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

A César o que é de César!

De uma coisa não nos podemos queixar: este Benfica é sempre uma incógnita, cria expectativas, aumenta a surpresa, traz emoção e incerteza a qualquer jogo. Nunca sabemos como irá entrar em campo: o Benfica confiante do ano passado ou o pesadelo macambúzio deste? É nisto que estamos: quando a equipa parece pronta a desabar por meses em exibições medíocres e sonolentas, ela apresenta-se mais forte, pronta a vencer todos os obstáculos que lhe aparecem à frente, ainda que, e essa é a única constante, cheio de tremeliques no seu jogo. Ontem não foi diferente. Uma primeira parte com vontade, com períodos de bom futebol mas longe da área adversária até uma segunda parte em que, nos primeiros 20 minutos, nem sabíamos desenvolver contra-ataques nem sabíamos defender até aos nossos últimos 20 metros (em que, aí sim, estivemos bem). Nessa parte negra do jogo, bastava um passe vertical bracarense para ultrapassar meia-equipa do Benfica. Lembrou-me tempos idos, os de Flores, Quique Flores, numa espécie de linha pirilau com que o Benfica fazia (pensava que fazia) pressão aos adversários. Isso e Gaitán e Cardozo a marcarem homem-a-homem com a mente - não lhes conhecia atributos tão esotéricos como os que ontem apresentaram; muito bem estiveram na arte de deixar os colegas na merda. Parabéns. Depois o Domingos - que dizem ser bom treinador e eu também já tive os meus momentos de engano - decidiu que o Benfica tinha de ganhar o jogo (talvez para ter mais tempo para preparar a equipa para a Taça da Liga) e retirou de campo Andrés Madrid, que era só o gajo que estava a varrer o meio-campo e a dar bolinhas adocicadas por entre os médios do Benfica. Obrigado, Domingos. O Jesus, que tem dias, viu a jogada e agradeceu. Meteu o Sálvio pelo Martins (que correu muito, quase sempre mal) e estava construída a auto-estrada - o Guilherme, que até estava a aguentar a coisa, viu-se, desejou-se e enterrou-se, crítico em relação à construção desta quando os problemas do país não se coadunam com empreitadas estruturais. Aimar apareceu, Javi apareceu, Gaitán apareceu (aleluia!), Saviola apareceu. Cardozo também andava por lá mas só foi visto como Walking Dead (está provado cientificamente que os joelhos dos zombies estão virados ao contrário). Deu para tudo. Obrigado, Domingos. Até para o Aimar marcar um golo de cabeça.

O Roberto estava no banco a matutar sobre o euromilhões e a agradecer a Deus (e a Jesus, filho pródigo) o facto de ser titular em detrimento de um gajo melhor e pornograficamente mais barato do que ele, o que só vem corroborar a ideia de que, a haver força Divina, ela não é socialista. O Coentrão continua a pensar no Hulk e o David Luiz, como quer ser vendido, começou a perceber o estratagema: ser mais parecido com Bruno Alves. O gordo e talentoso Sidnei varreu a ocorrência e veio provar que os gordos merecem nem sempre ir à baliza. Maxi, este meu ódio de estimação, às vezes dá-me vontade de casar com ele - todos os dias dá lições de humildade aos colegas (deve ser do ar de monge budista). Javi parece que vai mas não vai e Gaitán definitivamente não vai. Martins, como é mais bolos e petardos, prefere zonas centrais e Aimar deve ter recebido ordens do psicólogo para extravasar as frustrações pessoais com os árbitros. Depois é Cardozo, zombie jarreta (aprende, Roberto), e Saviola a ensinar todos os dias como se trata a bola. 

Amorim foi no fim.
Sálvio é o que está à vista - não de todos. Mas compreende-se: não é jogador do Benfica, portanto não convém metê-lo a jogar. O problema é que, quando joga, fá-lo bem. Vieira é que não deve ter gostado nada. Por ele, Sálvio não jogava mais. Mas que afronta é esta? 

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Confiança...

A discussão anda na boca de todos, ou quase todos, e tem ofuscado os juros da dívida pública e falências e FMIs e outras pantominices que fazem o dia-a-dia do nosso triste país.

Naturalmente, a discussão anda também aqui, e claramente, é o sítio onde tem sido discutida de forma mais brilhante e clarividente. Li o post anterior e os respectivos comentários e tenho a firme convicção que estão bem perto do busílis da questão - quero com isto dizer que não opinaria melhor.

Mas quero opinar mais, sobre uma nuance que é discutida, sim senhor, mas não vai onde eu gostaria que fosse. É assim:

Fico possesso com a cabecinha dos nossos jogadores, tão fraquinha que é! Em termos de atitude mental é das equipas mais fracas que vi jogar este ano. E porquê?

- Porque são fracos da cabeça? Sim, mas não chega…

- Por causa do Jesus? Sim, mas não justifica…

- Por influência do LFV? Epá, sim…mas nem tanto ao mar nem tanto à terra…

Então mas porquê?

Enquanto penso nisto, disperso-me um pouco e relembro estórias do mundo do futebol: daquelas que os jogadores contam quando se reformam, de treinadores que não dirigem palavra aos jogadores e presidentes que nunca aparecem e coisas que tal… Sempre achei estas estórias esquisitas porque a malta até pode ser incompetente, mas tratando-se das suas carreiras, custa-me a acreditar que não se esforcem. Os dirigentes e afins hão-de querer que a equipa ganhe, certo?

Eu acho que sim. E então penso em como será o dia-a-dia nos corredores do estádio, ou do centro de estágio do Benfas. E depois lembro-me de uma entrevista que o Diogo Luís (lembram-se?) deu a comparar o Toni e o Mourinho: ele contava que durante o treino se falhasse um par de cruzamentos o Toni batia palmas e dizia que para a próxima era melhor; já o Mourinho o obrigava a ficar mais meia hora depois do treino só a cruzar. Já estão a ver onde quero chegar? Já estão a pensar no Porto? Pois, eu também, mas só um bocadinho, porque eles são uns sebosos e como exemplo deixam muito a desejar. Mas uma coisa é certa: nenhum jogador do Porto, que se arme em campeão das dúzias, anda tranquilo nos corredores lá da toca onde habitam. Porque em cada esquina deve haver um gajo de bigode a arrotar a alho e a cheirar a casa de alterne para lhe fazer logo sentir que escolheu o caminho errado para a felicidade. Tenho a certeza. Como tenho a certeza que todos os clubes ganhadores terão o mesmo tipo de estratégias (embora mais elevadas) de “motivar” os seus activos.

E é isto. A malta farta-se de falar no que está diferente em relação ao ano anterior, mas esquecem-se do que não mudou, do que se mantém desde os tempos em que fomos treinados por um lobotomizado (e um pouco antes, para ser verdadeiro – mas é sempre bom denegrir o gajo que levou uma pêra do Sá Pinto – viram como o fiz outra vez?); e o que se mantém é esta tolerância para o fracasso, para a fraqueza. Os jogadores sabem que quem se lixa é o clube, ou o treinador, ou o treinador e o clube.

Será que me perdi? Espero que não. Apenas queria dizer que há clubes em que os jogadores têm confiança nas suas qualidades e outros clubes onde os jogadores têm confiança que se fizerem uma triste figura alguém os vai surpreender num corredor do estádio a arrotar a alho e bom…há clubes onde os jogadores não têm confiança…

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

O preço da falta de atitude

Não me apetece dissertar sobre o que se passou na Luz. Foi de tal modo mau que me parece uma estupidez debater os assuntos tácticos (ainda que eles, mais uma vez, revelem o desnorte de Jesus). Quando uma equipa que entra de pijama em campo decide fazer a cama ao treinador, até podiam estar em campo Casillas, Dani Alves, Carvalho, Piquet, Lahm, Busquets, Xavi, Iniesta, Ronaldo, Messi e Villa. Queria só relembrar aos jogadores do Benfica - não que eles pareçam muito importados com isso - que, além do prestígio que deitaram na lama, além do dinheiro que fizeram o clube perder e além do desrespeito total que revelaram pelos adeptos, há uma outra realidade que, e apesar do anjo Lacaralhette vos ter salvo do abismo, a vossa atitude revelou:

Em vez de defrontarem um destes:

Basileira, Rubin Kazan, Glasgow Rangers, Lech Poznan, Aris Salónica, Gent/Lille, PAOK/Dínamo Zagreb, Bate Borisov, Sparta Praga, AEK, Young Boys, Metalist, Sevilha, Steuaua Bucareste/Nápoles, Besiktas

irão jogar contra um dos seguintes:

Spartak Moscovo, Ajax, Twente, Manchester City, Bayer Leverkusen, Villarreal, Dynamo Kiev, CSKA Moscovo, Zenit, Estugarda, PSV, PSG, Liverpool


Obrigadinho por tudo e vão para o caralho, se Jesus quiser, está bem?

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Assim de repente, na pausa para o cigarro...

Foda-se! Que merda.
Vou precisar de tempo para enumerar todas as merdas que vi...talvez no feriado...



sábado, 4 de dezembro de 2010

Um talento que dá sono

No futebol, o que faz haver favoritismo de uma equipa sobre outra tem um nome: talento. Outra(s) coisa(s), bem diferente(s), é(são) o que faz uma equipa aproveitar esse talento e merecer esse favoritismo: atitude, intensidade, garra, organização, superação. Se uma equipa se encosta ao talento e despreza os restantes o mais provável é não ganhar um jogo ou, se ainda assim a qualidade se impuser, ganha mas passa por dificuldades pelas quais não necessita. Ontem foi isto que aconteceu: acomodada ao talento individual e à qualidade dos seus jogadores, o Benfica entrou em campo como se a vitória tivesse de chegar por hereditariedade natural, como se os genes do jogo tivessem sido escolhidos ainda antes de este começar. Se eu consigo entender um jogo menos conseguido da equipa, quando ela faz tudo para o ganhar, é-me de todas as formas inconcebível ver os jogadores do Benfica displicentes, arrogantes, lentos, crentes numa ordem qualquer divina que os ilibe de lutarem pelo resultado.

A escolha do onze foi a correcta embora haja uma excepção: Aimar por Martins. Não se compreende a escolha de um em detrimento do outro, se pensarmos que um vem de uma lesão e o outro vive um momento fulgurante tanto a nível exibicional quanto físico e mental. Parece ser um desperdício de recursos. E o jogo, esse filtro da verdade, provou-o de forma cirúrgica. Martins, entrado ao intervalo, recuperou a intensidade que Gaitán deixara nas ruas de Buenos Aires e Aimar esvaziou o balão antes de o jogo passar pelos ponteiros dos 60 minutos. Teria sido mais benéfico para a equipa ter entrado com Martins e deixado entrar Aimar na última meia-hora. Mas Jesus põe e dispõe. Limitemo-nos, pois, a rezar com mais ou menos crença na absolvição.

Em posse, fomos previsíveis e pouco dinâmicos; em perda, quase ausentes de intensidade; em contra-ataque, pouco esclarecidos. Valeram-nos dois momentos exteriores a tudo isto: um brinde do Pai Natal Moretto e uma bola parada (onde, haja luz, ainda conseguimos manter um nível de eficácia razoável e que parece ser das poucas ideias que viajaram do ano passado para este que se mantiveram lúcidas sem entrarem em depressão crónica).


Notas individuais:

- Coentrão, desde o jogo do Dragão, parece outro jogador: temeroso, pouco consequente, falho na luta individual, menos agressivo. É um dos case-study mais (des)interessantes desta época, um exemplo de como a falta de confiança tem toldado esta equipa.

- Gaitán: fez-me dizer o dicionário inteiro de asneiras. Gastei todo o vocabulário pornográfico com o argentino. Tem talento? Aos magotes. Está a jogar onde deve? Não. Mas nada justifica a atitude passiva, desinteressada, pouco solidária com o resto da equipa. Gaitán definitivamente não serve para jogar na ala. Se isso era perceptível quando a equipa estava desequilibrada, continua a sê-lo com o meio-campo remendado. Não sofre pelo movimento colectivo, é ele, a bola e o que lhe apetecer. Procura movimentos internos mas até aí sem chama, sem capacidade de decisão, um diamante em bruto embrutecido pela pouca clarividência. É deixá-lo aprender este futebol e, a dar-lhe oportunidade de pisar o relvado, metê-lo noutras andanças - experimentar o rapaz a 10 e a segundo avançado. Não vale a pena insistir mais nisto: estraga-se um talento nato e a equipa perde fluidez e intensidade de jogo.

- Amorim: é pau para toda a obra. Hoje, quando Jesus viu que o Gaitán ainda vinha de pijama, foi para a esquerda para ve rno que dava. Não esteve mal mas nota-se-lhe que nem é aquele o seu lugar nem ele está ainda no melhor momento físico. De qualquer forma, neste Benfica, tem lugar de caras na direita do meio-campo.

- Aimar: como escrevi atrás, acusou os maus níveis físicos. Ainda assim, foi dos que mais incorporou a ideia de que um jogo não se ganha apenas pelo talento. O problema é que um pressing consequente depende de toda uma equipa e não apenas de 3 ou 4. Lutou, procurou movimentos verticais com os avançados, tentou abrir espaços mas a pouca movimentação dos restantes e a boa organização defensiva dos de Olhão limitaram-lhe os rasgos. Saiu bem. Espero vê-lo com outra dinâmica no próximo jogo. Mesmo que entre a partir do banco.

- Martins: é daqueles que tem de estar em campo desde o começo do jogo. Vinha de boas exibições a 10 e ontem voltou a uma das alas do meio-campo, tendo nos últimos minutos estabelecido lugar atrás dos avançados. Trouxe logo outra capacidade de limitar os movimentos do Olhanense e abrir os olhos a uma equipa que parecia estar em campo à espera que o céu caísse sobre a própria cabeça. É, neste momento, um indiscutível.

- Salvio: se em termos de talento puro, deve alguma coisa a Gaitán - ainda que seja dotado tecnicamente -, do ponto de vista de entendimento do jogo e de capacidade colectiva está muitos furos à frente do Nico dorminhoco. Por mim, era aposta para a esquerda do meio-campo no jogo com o Schalke.

- Cardozo: o "tosco" já vai com os mesmos golos que Magnusson, o até ontem maior goleador estrangeiro da História do Benfica. Ele é feio, é lento, é parvo, cheira mal da boca mas é... bom. Vão assobiar para o caralho, benfiquistas de merda.

- Saviola: afinal não foram três, foi só um. É o melhor jogador do Benfica. E está a voltar aos golos. Dê a equipa tudo o que tem que ele está lá para fazer o que sabe.

Por fim, uma referência a Daúto Faquirá. É um dos melhores técnicos portugueses. E não é de agora. O trabalho de um técnico vê-se, mais do que no palavreado às vezes absurdamente fechado em triângulos perpendiculares e pontas verticais em duodenos cerebrais, no campo. Merece outras viagens. Quem sabe um dia não voa de águia... 

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Olhão bem aberto

Ainda não é hoje que iremos descobrir se Jesus aprendeu a lição ou não. Aimar está de fora e é, portanto, quase lógico (embora ultimamente nada o pareça com Jesus) entrar em campo com Martins a 10, Amorim à direita e Gaitán à esquerda. O que está por descobrir é o que fará o treinador do Benfica quando Aimar e Martins estiverem simultaneamente aptos - será essa a última cartada para entender o jogo que é a época 2010/2011.

No entanto, a Jesus ouvi coisas estranhas, por serem incoerentes. Ouvi Jesus falar no jogo de Aveiro como o jogo em que "a equipa esteve equilibrada". Ora, a equipa esteve equilibrada porque as peças do todo estiveram no sítio certo - coisa que andamos a pedir aqui há mais de dois meses. Jesus só viu em Aveiro como deveria jogar ou viu antes mas foi casmurro? Qualquer uma delas não descansa este pobre coraçãozinho encarnado.

Sem provas dos nove para tirar, espera-se que a equipa, JÁ EQUILIBRADA, possa fazer um bom jogo e mostre aos adeptos que podemos contar com ela para o resto da época. Temos tanta qualidade que é um crime desperdicá-la por factores mentais ou má disposição das peças no terreno. Este Benfica, bem organizado, pode ser a máquina mortífera do ano passado. Não duvidem disto. Para a goleada de mais logo:

Roberto
Maxi, Luisão, D. Luiz, Coentrão
Javi
Amorim, Martins, Gaitán
Saviola, Cardozo

Vidência: o Saviola hoje marca três golos.