terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Andrés Iniesta, um jogador contra a estatística



Nada tenho contra Ronaldo. Pelo contrário, acompanho-o desde que chegou à equipa principal do Sporting, gostei de ver a evolução que teve em Manchester, a maturidade em Madrid, a liderança na Selecção Nacional.

Vejo-lhe todas as centenas de golos, os arranques diabólicos, os remates certeiros, potentes e confiantes de um miúdo que chegou ao topo do mundo por ter uma ambição desmesurada que o faz não ter impossíveis, uma humildade emocionante que o faz trabalhar sempre mais do que os outros.

É uma máquina de fazer golos. É um portento atlético, uma mistura explosiva de técnica, velocidade e potência. Já é um dos Eternos na História do jogo e ainda lhe faltam pelo menos mais 5 anos dentro dos relvados.

Mas dar 4 bolas de ouro a um jogador como Ronaldo é a demonstração clara de que ainda falta caminhar muito para que tenhamos este maravilhoso jogo verdadeiramente apreciado. O futebol para ser golo tem de ser remate. Para ser remate tem de ser passe. Para ser passe tem de ser espaço. Para ser espaço tem de ser cérebro. O jogo dos génios não é melhor só porque é mais bonito, é melhor porque é mais eficaz. Porque cria constantemente as condições para que a equipa brilhe sempre mais.

Não dar uma única Bola Dourada ao melhor jogador do Mundo, Andrés Iniesta, e dar 4 a um jogador que, sendo fantástico e empolgante, não trouxe nada de novo ao jogo, não criou, não o entendeu, não o reinventou por dentro, é um insulto ao próprio futebol. É ser adepto da estatística e a estatística em futebol vale perto de zero.

A estatística em futebol é um diálogo de surdos:

- Gostaste d"O Jogador", do Dostoievski?
- Eh pá,  adorei. Tem 170 páginas e a imagem da capa é extraordinária.

5 comentários:

jorgen80 disse...

Antes de Iniesta, teria que estar Xavi, o melhor jogador espanhol de todos os tempos. Mas quando penso em Iniesta, vejo-me obrigado a relaciona-lo com o Messi já que o último é capaz de fazer o mesmo que o seu colega de equipa, e ainda ser uma máquina de marcar golos. Basicamente, Messi podia ser 8, 10, 9 e 7, que seria sempre o melhor, qualquer que fosse o papel que tivesse que desempenhar. E quando assim é, pode-se elogiar Iniesta, mas o símbolo terá que ser sempre Messi. E aí, sim, seria momento para refletir um pouco nesta questão das bolas de ouro, já que não faz grande sentido que a diferença dos galardões seja tão reduzida entre um génio total do futebol e um jogador, muito, muito bom, mas que raramente te paga um bilhete do estádio.


E olho, que Iniesta, juntamente com Deco, é provavelmente dos melhores médios ofensivos que vi jogar na vida. Não fosse pelo simples facto de pertencer ao verdadeiro apogeu do futebol que foi a época de Guardiola no Barcelona. Inesquecível e irrepetível, muito provavelmente.

Anónimo disse...

Ronaldo não ganhou 4 bolas de ouro porque o maravilhoso futebol não é "verdadeiramente apreciado" (seja lá o que for o maravilhoso futebol e o verdadeiramente apreciado), nem por os votantes serem adeptos da estatística.
Ronaldo ganhou 4 bolas de ouro porque é representado por Jorge Mendes e é a mina de ouro do Jorge Mendes.

De resto o futebol de hoje é 80% físico e 20% de técnica.
E o Barcelona só ganhou quando em termos físicos foram tão ou mais fortes que os adversários. Porque em termos técnicos foram sempre superiores a todos.
Cumprimentos,
JP

JMJ disse...

O problema do futebol não são as estatísticas mas a análise que é feita a partir delas.

Posse de bola; remates à baliza; cruzamentos; cantos; passes certos, etc... tudo são números e números que individualmente nada dizem sobre o jogo. No entanto, dentro desses mesmos números, na sua relação entre si, está o segredo da análise do jogo que nos permite dizer porque ganham mais as equipas com Iniestas, Xavis, Messis, Jonas, Pizzis, etc...

Negar essa fonte de conhecimento, esse instrumento de análise é tão redutor como analisar o Ronaldo tendo por base o numero de golos que marca.

Há espaço num campo de futebol para todas estas perspectivas. E o futebol é muito mais interessante assim.

Luis 10 disse...

Sou Sportinguista, mas concordo na totalidade que é uma total falta de logica o Andrés Iniesta nunca ter vencido este premio, realço apenas que o ano que venceu a Liga dos Campeões e o Mundial nesse ano quem venceu foi o premio foi o Messi, posto isto do meu entender o Iniesta bem como o Xavi tinham vencido uma, retirando uma ao messi e outra ao Cristiano.

Saudações leoninas diretamente dos Açores

andré raposo disse...

concordo com o último comentário.

é que para falar das 4 de Ronaldo, é preciso falar das 5 de Messi. Há 9 anos que a bola de ouro é uma conversa de surdos.

Iniesta devia ter uma bola de ouro (exactamente no ano em que a Espanha foi campeã do mundo e .... Messi venceu) e Xavi também devia.