quarta-feira, 8 de março de 2017

Não havia necessidade


Sinto-me um Diácono Remédios. Bem sei que a minha intervenção não será profiláctica, até porque o mal está feito, mas o futebol praticado pelo Benfica assim me obriga. Não havia necessidade de assistir ao que se passou hoje em Dortmund.

Sou um resultadista. Não sou um romântico à espera de um futebol cativante para me deixar com água na boca enquanto vejo o Benfica jogar. Quero resultados. Quero vitórias. E não me choca absolutamente nada que o Benfica seja eliminado por uma equipa como o Borussia Dortmund. Mas acreditem que mesmo para um resultadista tem de haver um conjunto de princípios de jogo, defensivos e ofensivos, que devem estar bem delineados e que devem ser cumpridos. Acreditar que os resultados podem surgir sem esses princípios não é resultadismo mas sim depositar a fé, a crença ou o que lhe quiserem chamar em algo de tão arbitrário e fortuito que dá pelo simples nome de... sorte. Há uma diferença enorme entre resultadismo e sorte. E os adeptos que acham que o Benfica esteve bem nesta eliminatória com o Dortmund porque pareceu em condições de discuti-la durante os primeiros 135 minutos da mesma, desenganem-se, porque não esteve. Este Benfica, personificado por Rui Vitória, não é resultadista. É um Benfica que se apoia e que aposta tudo na sorte. E isso é um péssimo princípio para quem quer ganhar no futebol, ainda para mais quando dispõe de um conjunto de individualidades muito acima da média, como é o caso do actual plantel do Benfica. A sorte não dura sempre.

Não peço para o Benfica jogar aberto nem para subir as linhas. Pensar que poderíamos jogar assim com o Dortmund seria de um romantismo que não se coaduna com a minha forma moderadamente cautelosa de ver o jogo. Mas precisamente por ser cautelosa e não ser medrosa faz com que não abdique de certos princípios de jogo. Falo de princípios de jogo e não de escolhas individuais de jogadores porque apesar de Vitória ter optado por Samaris, Almeida e Pizzi para o corredor central isso não faz do onze do Benfica obrigatoriamente mais defensivo da mesma forma que as escolhas de Mourinho para a final da Liga dos Campeões de 2010 (Pandev, Milito e Eto'o) não fazem do Inter uma equipa mais ofensiva. Está tudo relacionado com as ideias e com os princípios de jogo uma vez que as escolhas dos jogadores não reflectem obrigatoriamente uma ideia de jogo. E se o Benfica tem uma organização defensiva que é francamente boa para a realidade do plantel que apresenta (e aí o mérito deve ser dado ao seu treinador), ofensivamente, com tanto talento individual, torna-se incompreensível a ausência de um plano de jogo, o medo de ter posse de bola e a incapacidade de olhar o adversários nos olhos. É um reflexo de ausência de processos, de pouco treino e espelha o medo que Rui Vitória tem de jogar contra equipas de valia mais ou menos semelhante à do Benfica. Foi isto que se passou este ano com Besiktas, Napoli, Dortmund, Porto e Sporting. Com a certeza de que algumas vezes se perde, algumas se empata e outras tantas se ganha. Mas apostar o destino na sorte parece-me ser extremamente redutor para a qualidade individual que o plantel do Benfica tem.