segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

A César o que é de César!

De uma coisa não nos podemos queixar: este Benfica é sempre uma incógnita, cria expectativas, aumenta a surpresa, traz emoção e incerteza a qualquer jogo. Nunca sabemos como irá entrar em campo: o Benfica confiante do ano passado ou o pesadelo macambúzio deste? É nisto que estamos: quando a equipa parece pronta a desabar por meses em exibições medíocres e sonolentas, ela apresenta-se mais forte, pronta a vencer todos os obstáculos que lhe aparecem à frente, ainda que, e essa é a única constante, cheio de tremeliques no seu jogo. Ontem não foi diferente. Uma primeira parte com vontade, com períodos de bom futebol mas longe da área adversária até uma segunda parte em que, nos primeiros 20 minutos, nem sabíamos desenvolver contra-ataques nem sabíamos defender até aos nossos últimos 20 metros (em que, aí sim, estivemos bem). Nessa parte negra do jogo, bastava um passe vertical bracarense para ultrapassar meia-equipa do Benfica. Lembrou-me tempos idos, os de Flores, Quique Flores, numa espécie de linha pirilau com que o Benfica fazia (pensava que fazia) pressão aos adversários. Isso e Gaitán e Cardozo a marcarem homem-a-homem com a mente - não lhes conhecia atributos tão esotéricos como os que ontem apresentaram; muito bem estiveram na arte de deixar os colegas na merda. Parabéns. Depois o Domingos - que dizem ser bom treinador e eu também já tive os meus momentos de engano - decidiu que o Benfica tinha de ganhar o jogo (talvez para ter mais tempo para preparar a equipa para a Taça da Liga) e retirou de campo Andrés Madrid, que era só o gajo que estava a varrer o meio-campo e a dar bolinhas adocicadas por entre os médios do Benfica. Obrigado, Domingos. O Jesus, que tem dias, viu a jogada e agradeceu. Meteu o Sálvio pelo Martins (que correu muito, quase sempre mal) e estava construída a auto-estrada - o Guilherme, que até estava a aguentar a coisa, viu-se, desejou-se e enterrou-se, crítico em relação à construção desta quando os problemas do país não se coadunam com empreitadas estruturais. Aimar apareceu, Javi apareceu, Gaitán apareceu (aleluia!), Saviola apareceu. Cardozo também andava por lá mas só foi visto como Walking Dead (está provado cientificamente que os joelhos dos zombies estão virados ao contrário). Deu para tudo. Obrigado, Domingos. Até para o Aimar marcar um golo de cabeça.

O Roberto estava no banco a matutar sobre o euromilhões e a agradecer a Deus (e a Jesus, filho pródigo) o facto de ser titular em detrimento de um gajo melhor e pornograficamente mais barato do que ele, o que só vem corroborar a ideia de que, a haver força Divina, ela não é socialista. O Coentrão continua a pensar no Hulk e o David Luiz, como quer ser vendido, começou a perceber o estratagema: ser mais parecido com Bruno Alves. O gordo e talentoso Sidnei varreu a ocorrência e veio provar que os gordos merecem nem sempre ir à baliza. Maxi, este meu ódio de estimação, às vezes dá-me vontade de casar com ele - todos os dias dá lições de humildade aos colegas (deve ser do ar de monge budista). Javi parece que vai mas não vai e Gaitán definitivamente não vai. Martins, como é mais bolos e petardos, prefere zonas centrais e Aimar deve ter recebido ordens do psicólogo para extravasar as frustrações pessoais com os árbitros. Depois é Cardozo, zombie jarreta (aprende, Roberto), e Saviola a ensinar todos os dias como se trata a bola. 

Amorim foi no fim.
Sálvio é o que está à vista - não de todos. Mas compreende-se: não é jogador do Benfica, portanto não convém metê-lo a jogar. O problema é que, quando joga, fá-lo bem. Vieira é que não deve ter gostado nada. Por ele, Sálvio não jogava mais. Mas que afronta é esta? 

8 comentários:

Anónimo disse...

queres comentarios ou opiniões para quê tu fazes a festa deitas os foguetes e vais a correr apanhar as canas mais pareces o grunho do rui moreira a falar do glorioso .. sera por isso que a tua opinião vale nepia ...

Ricardo disse...

Obrigado pela produtiva participação, anónimo. Volta sempre.

mago disse...

Em primeiro lugar, desculpa lá a desmarcação em cima da hora.

Em segundo lugar, "zombie jarreta (aprende, Roberto)": a piada do ano. Genial! Ainda me estou a rir...

Em terceiro lugar: referências ao GVAB são sempre de aplaudir.

E em quarto: pelos vistos temos mais um assunto que nos vai dar pano para muitas mangas, e muito compridas... Ódio de estimação pelo Maxi? Só te digo que a única camisola do Benfica que tenho com número e nome de um jogador é a preta-campeã do... monge budista.

Abraço!

Ricardo disse...

Na boa, Mago, fica para o Rio Ave.

A referência ao "ódio de estimação" ao Maxi é num registo humorístico, claro. Há coisas nele que não me agradam muito mas tenho de dar a mão à palmatória: este Maxi está com uma intensidade de jogo brutal! Sempre foi aguerrido, sim, só que muitas vezes era um esforço em vão e mal orientado (primeiras duas épocas). Este ano, depois de um período em que apareceu mal fisicamente (também por causa do Mundial), está imparável e muito mais objectivo - a cavalgada de ontem foi épica. Não é um jogador fenomenal, tem limitações mas compensa-as com outros atributos. Melhorou muito no posicionamento defensivo (que era um dos seus males, tendo resultado deles alguns golos sofridos) e consegue, ainda assim, participar de forma activa nas movimentações ofensivas. Só tenho pena da pouca clarividência que tem muitas vezes nas zonas em que podia decidir melhor: seja no passe, seja no remate (ainda ontem isso se viu). Mas está muito bem. Tivessem todos a intensidade do uruguaio e esta equipa defenderia muito melhor.

É uma espécie de mistura entre monge budista, cantiflas e emplastro:)

Abraço!

Dylan disse...

Bela prosa, bem escrita!
Gloriosas saudações.

mago disse...

Ok, nesse caso para o Maxi podemos deixar só os elogios :)

Na minha modesta opinião, validada obviamente pelo inigualável OSP, o Maxi é o verdadeiro "defesa-lateral à SLB" (descrição dos próprios donos do estaminé). Conhece as suas limitações, não tenta ser mais do aquilo que é nem fazer mais do que aquilo que sabe, nunca desiste nem vira a cara à luta, e, consequência disso mesmo, acaba muitas vezes por... se superar.

Se já não leste, aconselho vivamente: http://obrigadosapinto.blogspot.com/2009/01/se-taca-da-liga-cair-na-floresta-e-nao.html . Highlight pessoal: "... o maxipereirismo é toda uma ética".

Abraço, e antes do Rio Ave digo qualquer coisa então.

Anónimo disse...

O Salvio já mostrou que merece ser titular, o Gaitan pode ser bom mas ainda está muito verde e defende mal. Tem condições para ser como o Di Maria muito bom mas por enquanto devia estar no banco e entrar na segunda parte para ir ganhando rodagem. E concordo que ele devia jogar noutra posição, por exemplo a 10.

Não concordo é com o que dizes do Cardozo. É um óptimo avançado, não sejas injusto.

Ricardo disse...

Nem mais, Mago, o Maxi é isso tudo que dizes. Quanto ao OSP, são geniais. É pena que postem de dois em dois meses.

Anónimo, também gostaria de ver um jogo dele a 10 mas acho que se enquadra mais a segundo avançado. Pode ser que o Jesus tente isso no futuro, visto que o Salvio tem entrado muitíssimo bem e será de esperar que, nos próximos jogos, ganhe a corrida ao Gaitán pela titularidade.

Quanto ao Cardozo, eu adoro o paraguaio, não me interpretes mal. Aquilo que escrevi neste texto foi apenas e só sobre este jogo, em que, na minha opinião, esteve pouco agressivo em termos de pressing e algo displicente. Tomara eu que ele se mantenha no Benfica por muitos anos.