Falarei apenas sobre as saídas mais ou menos certas, uma delas já confirmada e a outra já aceite como tal, do actual plantel do Benfica, ou seja, as saídas de Nelson Oliveira e Enzo Perez.
Começando pela saída mais importante, ainda que não esteja confirmada, parece-me claro que o rotundo falhanço europeu do Benfica precipitou a saída de Enzo Perez. Ainda assim, não tenho por certo que, caso o Benfica continuasse nas provas da UEFA o Argentino se manteria no plantel. Seja como for, o facto (quase consumado) é que não contaremos com o médio para lá do que já se encontra disputado.
A importância de Enzo no plantel em geral, e no sistema e modelo de jogo de Jorge Jesus em particular é por demais conhecida e reconhecida, por isso não há muito a debater sobre o quanto nos fará falta sua capacidade para preencher espaços nos mais diversos momentos do jogo. Mais importante agora é perceber quem pode, ainda que de forma mitigada, colmatar o vazio que Enzo deixa na sua esteira.
Olhando para os actuais disponíveis vejo três soluções que podem ser percorridas por Jorge Jesus:
1 – A mais óbvia e já algo anunciada, Pizzi: O outrora ala Português, segundo palavras do próprio treinador, tem sido trabalhado para poder assumir a posição de Enzo, ainda que, penso eu, num papel de suplente do Argentino e não tanto numa ideia de substituto. Nas poucas aparições que fez até ao momento, Pizzi tem-se demonstrado claramente capaz de assumir as funções ofensivas que JJ pretende do jogador daquela posição, mas defensivamente parece ainda estar longe do que lhe é exigível - o melhor exemplo disso é a falta de agressividade demonstrada no golo de Pardo na semana passada.
2 - A que penso ser a preferida de JJ, Talisca: O médio Brasileiro tem perdido algum do fulgor inicial (algo que se explica muito pelo melhor conhecimento dos adversários e também por algum, e natural, desgaste físico de alguém que não teve férias), mas é e continuará a ser uma aposta muito firme e pessoal do nosso treinador. Com a entrada inevitável de Jonas para o 11 base, a manutenção de Lima no mesmo, e percebendo que Talisca cresce no jogo à medida que lhe é possível encarar o mesmo de frente, isto é, em movimentações de trás para a frente e não no inverso, revelando aqui uma grande falta de rotinas e instinto na posição de avançado, penso que JJ verá no jovem Brasileiro o melhor sucessor de Enzo, até porque é rápido, tem boa estampa física, não tem medo de assumir o jogo, possui uma excelente meia-distância e revela ainda uma forte vontade de beber tudo o que JJ lhe queira transmitir (característica muito apreciada por JJ em qualquer jogador).
3 - A menos provável, mas que eu não rejeitaria à partida, Samaris: O médio Grego tem revelado bastantes dificuldades na compreensão do que lhe é pedido por JJ na posição 6 (ou 4, usando a numeração de JJ que deriva da escola holandesa). Samaris, tal como Pizzi, tem revelado tremendas dificuldades de agressividade e posicionamento defensivo, muito por não estar habituado a um papel tão exigente ao nível posicional. É verdade que no Olimpakos já actuava como médio defensivo (como referiu JJ), mas também não é menos verdade que no clube Grego o fazia num sistema que contemplava uma dupla de médios defensivos (ou duplo pivô como agora se diz), tornando assim a função muito menos exigente do ponto de vista individual. É verdade também que Samaris, quando num sistema de dois médios recuados, era normalmente o escolhido para ser o designado box-to-box, ou seja, o elemento com maior liberdade criativa e posicional dessa dupla. Ou seja, talvez lhe assente melhor, e lhe seja de melhor compreensão, o papel de médio centro até aqui desempenhado por Enzo. O problema é a falta de quem assuma aquele que é o seu papel neste momento, sendo que, com os regressos de Amorim e Fejsa, esse problema se possa resolver e permita pensar em Samaris para uma função mais avançada de uma forma mais consistente.
Independentemente da solução que seja adoptada, não me parece que alguma tenha o sucesso de Enzo. Pode argumentar-se que se escreveu e disse o mesmo sobre a saída de Matic em Janeiro passado, é verdade. Mas não menos verdade é que eu mesmo, por essa altura, aqui escrevi que, sem embargo de ser uma perda importante, a verdadeira saída trágica naquele momento seria a de Garay e/ou de Enzo, pois para a posição 6 JJ gosta mais de alguém com o perfil de Javi ou Fejsa (mais posicionais e fortes no momento defensivo e nas bolas aereas) que propriamente Matic, ainda que este seja muito mais jogador que os outros. É tudo uma questão de encaixe nas dinâmicas e ideias colectivas do treinador. Com Enzo e a posição 8 (ou tão só médio-centro) a música é outra, pois o Argentino é/era a personificação mais que perfeita do que JJ pretende daquela posição.
Já confirmada está também a saída, por empréstimo, de Nélson Oliveira. A saída em si, e mesmo o empréstimo em geral, é algo que compreendo e até concordo, pois já se viu de forma clara e inequívoca que o jovem avançado não conta para JJ. O que não entendo é o destino da sua saída. O Swansea conta no seu plantel com avançados de créditos firmadissimos, falo de Gomis e Bony (este último chegou a ser muito cobiçado por JJ para reforçar o Benfica), logo, não vejo que o Nelson Oliveira possa ter minutos de jogo assinaláveis de forma tranquila. É certo que Bony estará ausente do clube enquanto disputar a CAN, mas essa ausência é muito restrita no tempo.
Mais uma vez acho que o Benfica escolhe mal os clubes onde coloca os seus jogadores que, segundo o presidente, quer ver evoluir ao ponto de se afirmarem no clube. Lá para Maio, caso as coisas corram de forma normal, será fácil dizer que Nelson Oliveira falhou mais um empréstimo, esquecendo-se toda a gente que o clube escolhido estava longe de ser o melhor.
Já o disse por mais de uma vez, se queremos emprestar um jogador para que ele possa evoluir favoravelmente e tenha minutos de jogo, esse empréstimo deve ser guiado tendo em conta os planteis dos clubes interessados e os treinadores que os dirigem, caso contrário, em vez de ajudarmos o jogador a evoluir, estaremos apenas a cavar-lhe a sepultura. Este empréstimo é muito semelhante ao que o Benfica fez ao Deportivo, ou seja, um clube média/pequena dimensão de uma liga superior à Portuguesa, mas com o lugar de avançado claramente preenchido.
O exemplo do sucedido com Bruno Gaspar, na presente temporada, deveria ser muito mais vezes seguido, mas infelizmente este é apenas a excepção e não a regra.