domingo, 18 de dezembro de 2016

O jogador da nossa vida



Jonas é o melhor jogador que vi jogar no Benfica. Não me esqueço de Chalana, de Rui Costa, de Paulo Sousa, de Pablo Aimar, de João Vieira Pinto, de Diamantino, de Valdo, mas Jonas não é só o que faz com e sem bola. É o que melhora nos outros. É raro encontrar na história do jogo craques que pela forma como jogam melhoram substancialmente o jogo dos colegas. Como diz de forma muito feliz o Felipe Rebelo, é o jogador da nossa vida.

11 comentários:

Anónimo disse...

Isso é uma opinião um pouco arriscada, o Jonas para mim é um dos melhores de sempre, mas o seu sósia, JVP, não lhe ficava atrás, nem no jogo de cabeça.
E o Valdo, com o perfume do futebol bonito e objectivo, Chalana, o fantasista.Tantos...a verdade é que tirando Eusebio e Coluna, é dificil falar em melhor que...
Mas que é um dos jogadores da nossa vida isso sim!

VC disse...

Na verdade é isso mesmo.
Um GRANDE jogador.

António Madeira disse...

Estas podiam ser as minhas palavras.
Depois de me ter despedido de Valdo, Rui Costa e Aimar, fá-lo-ei igualmente com Jonas, com a esperança de que um dia possa voltar a ver um jogador destes qual papoila saltitante de águia ao peito.

Anónimo disse...

Ricardo, devemos ter quase a mesma idade (pelo que entendo sou mais novo, pois de Diamantino e de Chalana já só mesmo o final ). Sendo isto extremamente subjectivo (e acima de tudo pessoal), subscrevo a tua opinião.

Noto, no entanto, que o bom momento do clube (e o natural efeito do tempo na nossa memória) podem ajudar o "Pistolas" neste ranking pessoal. É que houve JVP na melhor fase da vida de jogador. Já pensaste o que seria o JVP de 1994 com 23/24 anos ladeado por jogadores como temos tido nestes anos a apoia-lo?

Como li, num comentário feliz algures por aí onde se discutia quem é a equipa que melhor futebol pratica em Portugal nesta fase:"É o SLB, nos 15'' em que Jonas esteve em campo no Estoril".

Sim, vamos perder e empatar com ele em campo. Mas acima de tudo vamos ter o prazer de o ver em campo, de catapultar colegas para um nível superior.

Pegando (com alguma geresia) no belíssimo poema do Manuel Alegre para o falecido Eusébio:
"Não era só instinto era ciência
Magia e teoria já só prática
Havia nele a arte e a inteligência
Do puro e sua matemática
Buscava o golo mais que golo-só palavra
Abstracção, ponto no espaço. teorema
Despido do supérfluo rematava
E então não era golo - era poema"

P.S: Continua com o teu bom blog.
Avante P'lo Benfica!

RedMist disse...

1. “O melhor jogador que vi jogar no Benfica” e “O jogador da nossa vida” podem não ser necessariamente a mesma coisa. Por exemplo: não tendo sido o melhor que vi jogar, o jogador da minha vida chama-se Juan Sebastian Veron. Porquê?

2. Anos 90. Transpirou entre a maralha da bola de rua que uma loja de equipamentos de futebol havia aberto a (meros) 3 ou 4 kms dali: e, mais importante, que vendia camisolas com preços a partir de €1. Naturalmente, na hora de maior incidência de calor de um qualquer verão, fiz aquilo tudo a pé com um sorriso nos lábios.

3. Lá chegado, esmoreci. As camisolas estavam de facto lá, para todos os gostos e de todos os feitios. Só que as poucas moedas que trazia no bolso não lhes conseguiam sequer fazer cócegas. A um canto, lá meio sonegada, uma caixa de cartão, rasgada e poeirenta, com os dizeres mais mágicos de todos os tempos:

4. “Tudo a €1!”.

5. Avancei para cima daquilo como o Exterminador Implacável à procura da Sarah Connor. Só que não era nada daquilo: camisolas da Madonna, do Eminem, da Britney… coisas às quais não dava para um tipo sequer se assoar.

6. Contudo, lá bem no fundo, meio escondida (como que à minha espera), vi uma que parecia ter algum potencial. Era azul. Com umas listas estranhas na zona abdominal. Uma cruz no peito. Um emblema estranho, de um tipo que parecia fumar um cachimbo. Nas costas, um clássico, branco e enorme 20.

7. O clube: Sampdoria. O nome: Veron.

8. Se há euro que foi bem aplicado, foi aquele. Se há camisola que foi bem estafada, foi aquela. Joguei tanto com aquela camisola, que se tornou quase como uma segunda pele. Joguei tanto com aquela camisola, que ainda hoje há quem me trate ou conheça por Veron.

9. Joguei tanto com aquela camisola, que o meu próprio jogar foi-se adaptando às características do jogador. O miúdo das correrias, fintas e desequilíbrios deu lugar a um outro: cerebral, de olhos levantados, solidário com o colectivo, num futebol de toque, jogado em bicos de pés, por quem passou a pensar o jogo 1 a 2 momentos mais à frente.

10. De flecha a maestro. De desequilibrador a potenciador. De estafeta a filósofo.

RedMist disse...

11. Perdi-a alguns anos depois num incêndio e foi dos maiores desgostos que tive na vida. E já tive alguns.

12. Mesmo apesar das circunstâncias invulgares da coisa, em termos gerais, nenhum outro jogador viria a ter em mim semelhante impacto: pelo que, não havendo amor como o primeiro, aquele afigura-se, necessariamente, como o jogador da minha vida.

13. Quanto aos melhores que vi passar pelo Benfica… O clube tem sido brindado com atletas de absoluta excepção. Também aqui, no meu caso, os melhores não foram, necessariamente, os que deixaram de forma indelével a sua impressão digital no meu imaginário.

14. Encantavam-me as estiradas do “Saint” Michel, o qual voava como se asas tivesse. As fintas do “levezinho” Edilson: que chorou baba e ranho quando saiu do Benfica e a quem o Oceano não conseguia sequer acertar, quanto mais tirar a bola.

15. As zangas entre a miudagem que um Checo provocou: nos jogos de rua, todos queriam ser o Poborsky. O “coveiro” Amaral. A dupla de betão Fernando Meira/Marchena. A última época do Di Maria de águia ao peito. Assim como a do Coentrão.

16. Mas aquele que verdadeiramente me maravilhou chamava-se Gamarra. Era uma coisa… Uma classe… Não fazia uma falta. Não levava um cartão. Não ameaçava. Não dava massa. O adversário perdia a bola, não dava por ela e ainda agradecia. Atacava o lance com a garra de um lince, a precisão de uma águia, a elegância de um cisne. Nunca mais voltei a ver outro igual: no Benfica, ou em lado algum.

17. Pelos mais diferentes motivos (tempo no clube, fase pela qual o clube atravessava, qualidade dos plantéis…), nenhum deles será, muito provavelmente, passível de ser considerado “o melhor jogador que vimos passar pelo Benfica”. Se puxarmos então a fita mais atrás (anos 60, 70, 80…), a coisa roça o impossível.

18. Contudo, dos que vi jogar, destacaria necessariamente, por ordem crescente de importância, três atletas:

19. Em 3.º lugar: Jonas. Somente 2 anos de clube, mas com implicações fortíssimas quer na dinâmica do jogo colectivo, quer, consequentemente, nos feitos alcançados. Não tenho dúvidas: mais do que qualquer outro, sem Jonas, tudo o que nesse período foi conquistado não teria sido possível. De que é exemplo o “tri” que fugia ao Benfica… há décadas. Só.

20. Jonas é especial, daqueles que aparecem lá de vez em quando. Surge num daqueles momentos em que os astros se alinham e tudo bate certo. Em que o jogador chega na idade certa, com a mentalidade certa, ao clube certo. O jogo já não lhe esconde segredos. Tudo é feito com a serenidade, confiança e qualidade que só a classe que tem pode aportar.

RedMist disse...

21. Incorpora o avançado clássico, em vias de extinção. Mais do que os golos que marca, os títulos que soma: é o que é (o melhor) porque melhora tudo o resto à sua volta: a prestação dos colegas, o futebol jogado no campo, a alegria que desperta nos adeptos. Tudo porque, ao final do dia, por muitos “laboratórios” e “carrocéis” que uma qualquer moda do momento eleve… porque orgânico, genuíno e intemporal, é disto que um povo continuará a gostar: de futebol. E Jonas é futebol de corpo inteiro.

22. 2.º lugar: Simão Sabrosa. Se por não ser extraordinariamente carismático, se por ter saído do clube há já algum tempo: confesso ser-me relativamente desconcertante ver a forma como, muitas vezes, é esquecido. Não tenham dúvidas: mais do que Mantorras ou Luisão, o grande jogador da presidência de LFV chama-se Simão Sabrosa.

23. Querer olhar para a recuperação desportiva de LFV é, necessariamente, ter em Simão Sabrosa o ponto de partida. Com a devida ressalva para todo o colectivo, não foi graças a Camacho que nos foi permitido ombrear com o FCP de Mourinho: mas a Simão Sabrosa. Não foi graças à “Velha Raposa” que, após 11 anos de jejum, vencemos a Liga e iniciámos o (bom) hábito de regressar às noites europeias (as da LC, as do Benfica): mas a Simão Sabrosa.

24. Dentro de campo, é em Simão Sabrosa que tudo começa. Goleador, desequilibrador, aglutinador. Quando a coisa estava tremida, tínhamos em Simão o farol da esperança. Mais do que a conversa fiada da contratação de Jardel, esta sim foi a 1.ª grande contratação do Benfica do século XXI. O que não é nem coisa pouca, nem para qualquer um. Somente reservado para o n.º 2 da minha lista.

25. 1.º lugar: João Vieira Pinto. O “menino de ouro”. Aquele que, injustamente, sofreu por todos os nossos pecados. Tendo, negligentemente, permitido que o clube tivesse chegado àquele estado, incidíamos sobre si a pesada cruz de, sozinho, resolver todos os problemas. Dentro e fora de linhas, o Benfica era uma sombra do passado. A representação de uma velha nobreza decadente e falida. João Pinto era a única pérola que nos restava.

26. João Pinto deu-nos os seus melhores anos. Foram muitos. Deviam ter sido ainda mais. Não foi por acaso que sofreu o que sofreu por parte de alguns delinquentes com pitons: mas porque era o melhor. Mesmo no meio de toda a mediocridade, anarquia e insanidade que assolou esse período, tínhamos em João Pinto um porto seguro. Uma réstia de esperança. Um motivo de orgulho.

27. Em Portugal, encontramos alguns jogadores na linha de Rui Costa. Paulo Sousa. Luís Figo. Procurem um na linha de João Pinto: não encontram – porque não é fácil, é raro. O que revela o quão especial este foi. Fazia tudo bem. Tudo. Se mais não fez, foi porque: ou não o deixaram; ou não teve quem o guiasse e/ou acompanhasse convenientemente; ou porque, no meio de tanto lamaçal, a confiança de um atleta sai necessariamente abalada – e sem confiança, um atleta definha. Muitas das vezes, João Pinto teve de se debater com as três.

28. Muitos lembrar-se-ão de João Pinto pelos célebres 3-6 em Alvalade. A 1.ª nota 10 dada a um jogador na história d’”A Bola”. As minhas memórias mais marcantes de João Pinto são, contudo, dos seus jogos nas Antas: a ir ao chão, a ser insultado, provocado, alvo de marcações infames, cuspido, agredido, inclusivamente expulso. Com dirigentes, técnicos, árbitros, jogadores e crítica a assobiarem para o lado.

29. Na adversidade, João Pinto levantou-se sempre com mais força do que aquela com que caiu: com uma dignidade, inconformismo e perseverança que o honrarão para sempre. Jamais esquecerei o seu exemplo, fazendo questão em passar a palavra aos mais novos sobre si. Será eterno: o jogador, o homem e o benfiquista.

30. Jonas é futebol. João Pinto foi futebol e benfiquismo da cabeça aos pés. Quando não era fácil sê-lo.

Anónimo disse...

“O melhor jogador que vi jogar no Benfica” e “O jogador da nossa vida” podem não ser necessariamente a mesma coisa.

Correcto.
Para mim, um é Jonas.
E o outro são dois: Isaías e VItor Paneira (e isto é tão sagrado que me excuso de explicar porquê) :)

Viva o Benfica!

Benfiquista Primário disse...

Ui ui ui Ricardo, que exercício tão fascinante e, ao mesmo tempo, tão impossível...como hierarquizar ídolos, quando a idolatria é, por definição, absoluta??

Suponho que isto depende muito da geração - daí o meu disclaimer: comecei a ver o Benfica por volta de 1980.

O máximo que consigo fazer é escolher alguns dos que mais me marcaram afectivamente, por posição no campo:

1. Números 10: Valdo, Pablo Aimar, Rui Costa. Suplente de luxo: João Alves, o 'luvas pretas'

2. Goleadores: Nené, Mats Magnusson, Oscar Cardozo, Jonas. Suplente de luxo: Nuno Gomes

3. Nove e meio/'segundos' avançados: Fabrizio Miccoli, Saviola, João Pinto. Suplente de luxo: Isaías

4. Extremos esquerdos: Nico Gaitán, Angel Di Maria, Fernando Chalana. Suplente de luxo: Simão Sabrosa

5. Extremos direitos: Karel Poborski, Vitor Paneira, Diamantino. Suplente de luxo: Pizzi

6. Médios centro (6 e 8): Jonas Thern, Enzo Perez, Matic, Fejsa, Shéu, Carlos Manuel. Suplentes de luxo: Javi Garcia, Katsouranis, Kulkov, Ramires, Karagounis

Defesas Centrais: Gamarra, Ricardo Gomes, Mozer, Garay, Humberto Coelho. Suplentes de luxo: Aldair, Lindelof

Laterais esquerdos: Léo, Grimaldo, Schwarz, Álvaro. Suplente de luxo: Siqueira

Laterais direitos: Veloso, Maxi Pereira. Suplente de luxo: Nelson Semedo

Guarda-redes: Preud'Homme, Oblak, Ederson, Bento, Manuel Bento e Manuel Galrinho Bento ;) suplente de luxo: Robert Enke

Isto não vale nada. Mas soube tão bem :)

Benfiquista Primário disse...

Sabia que esta lista ia incluir esquecimentos imperdoáveis...lembrei-me agora do primeiro: Paulo Sousa está obviamente nos meus médios centro favoritos.
Ah e o Luisão também está nos centrais, como 'suplente de luxo' - porque apesar se tudo, não se pode comparar a monstros como Humberto Coelho, Ricardo Gomes, Gamarra ou Garay...

Anónimo disse...

GAMARRA!

Não só o melhor central que vi no Benfica, mas, provavelmente, o melhor central que vi jogar. Ponto.

Uma classe inacreditável. Não sei se alguma vez levou um amarelo. Se levou, devem ter sido poucos. Conseguia tirar a bola sem falta em situações incríveis. Compensava a falta de altura com um sentido posicional do outro mundo.

Até hoje, não consigo perceber a falta de destaque que lhe é dado na história do Benfica.

E quem o foi buscar? Toni, pois (enquanto director técnico). Não será o melhor treinador da história do Benfica, mas é, certamente, o mais subvalorizado de sempre. Por ser demasiado bom rapaz.