segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Terapia de choque

O jogo de Quarta-feira não é só mais um jogo. Não o é pelo adversário, não o é por ser onde é, não o é por ser "apenas" para a Taça e, principalmente, não o é porque é, historicamente, o jogo mais difícil, em termos mentais, que o Benfica tem desde há duas décadas atrás.
Jogar no Dragão é, para a nossa equipa, uma espécie de última fortificação psicológica depois de uma grande e exaustiva viagem: é o Adamastor para a nossa nau. 
Todas as questões tácticas que queiramos abordar para este jogo, embora relevantes e condicionantes do que poderá vir a acontecer, passam para um segundo plano se a questão mental não for ultrapassada. 
O Benfica tem um trauma profundo em jogar no Porto. Por questões históricas extra-futebol (ou que deveriam sê-lo) - como a chegada a um balneário infestado de excrementos, gente bizarra e violenta nos túneis das Antas, arbitragens deploráveis, recepção por parte dos adeptos com insultos e arremeso de objectos e mais um sem número de barbaridades que, ao longo dos anos, aqueles cães amestrados, de trela ao pescoço (mas sem açaime), espumando de raiva, a mando do dono, exerceram sobre os nossos jogadores -, mas também porque, dentro de campo, o Porto tem sido quase sempre superior - basta pensar que nos últimos 25 anos o Benfica ganhou apenas por duas vezes em terras invictas. E não chega desculparmos esta incapacidade desportiva à luz dos caricatos acontecimentos que vêm ocorrendo por parte daqueles energúmenos porque a um clube e a uma equipa como o Benfica exigem-se sempre a superação e a transcendência nos momentos difíceis.
Foi, aliás, numa das vezes em que cheirava a merda no balneário, em que a pressão dentro do Estádio (no relvado mas principalmente em zonas interiores dele) era sufocante, que o Benfica foi vencer o jogo e o campeonato com dois golos de César Brito em 1991. Aqui, o Benfica superou-se, encontrou, na adversidade, a razão para demonstrar a sua superioridade futebolística - e é sempre isto que esperamos do nosso clube. Que alguém ensine esta lição aos nossos jogadores e que eles entendam o jogo de Quarta-feira como a crucial oportunidade da época para, além de ganharem um novo impulso para o que dela resta, poderem fazer abanar a estrutura consistente que o adversário tem revelado.
Ganhar ao Porto, depois de amanhã, não será só ganhar ao Porto. Será ganhar uma segunda vida no campeonato, uma ida ao Jamor mas, fundamentalmente, será ganhar a todas as fraquezas mentais que o Benfica tem tido nos últimos 30 anos sempre que se desloca àquele terreno pejado de imundos acéfalos.

7 comentários:

LDP disse...

é manifestamente pouco apenas duas vitòrias naquele antro em apenas 25 anos. Mas é o reflexo precisamente de como jogar sujo funciona. Pois sem tanto terror psicològico e fìsico vivido naquela arena de hipòcritas, hoje o Benfica teria talvez 6 ou 7 vitòrias a juntar a essas duas. E com os empates obtidos a balança estaria clara e forçosamente equilibrada.

Recordo o jogo no ano de Quique. Em que, e sem jogarmos um futebol por aì além, sò o senhor àrbitro impossibilitou a nossa vitòria assim como a fuga na classificaçao para, quem sabe, uma vitòria no campeonato. Mesmo com Quique....
Pois quando a lixivia no chao e paredes, o Diazepam na àgua das torneiras ou no ar condicionado, o cheiro a merda ou qualquer outro tipo de condicionamento subliminar nao chega, de pronto chega a pressao psicològica vivida desde a saida do balneàrio até à entrada em campo.
E quando nada disto funciona, junta-se um àrbitro marioneta para haver a certeza de que sò muito, mas mesmo muito dificilmente o Benfica sai dali com uma vitòria.

Antes falei do jogo com Quique, mas o ano passado foi a mesma història. Belushi nao sò fez um penalty na sua àrea como também mergulhou na nossa àrea e sò numa terceira intervençao viu um amarelo. Obviamente estava ainda em campo para marcar o terceiro golo. Antes ainda, Farias em fora de jogo maior do que o Grand Canyon marcou o 2-1. Ganharam por 3 golos? Sim, certo. Mas foi um resultado altamente enganador assim como a arbitragem.

Outros exemplos em épocas passadas hà ainda. Mas no essencial concordo contigo Ricardo, normalmente o Benfica entra naquele relvado com muitas reticencias sobre o seu real valor e acaba por perder. Umas vezes bem(mas nem tantas assim), e outras porque joga contra 14 ou mais...

Jesus sò tem de fazer aquilo que nao fez da ultima vez. Montar a equipa como ela é feita normalmente, dar-lhes a bola e dizer-lhes para se divertirem.

Se assim for, e de acordo com o futebol apresentado pelas duas equipas desde hà quase dois anos para cà, temos 2/3 de probabilidade de sair dali com uma vitòria mais do que convincente.

lawrence disse...

Excelente!
E se alguém contesta que num momento destes faz falta um timoneiro à Mourinho, que se desengane.
Mais que a boa tática, que a boa preparação física, que os bons jogadores, é necessário o carácter!
Seja dos jogadores, seja da equipa técnica!
É assim que se fazem os campeões!
Especialmente num clima de guerrilha permanente como nesta merda de país desportivo!

Ricardo disse...

Tudo isso é verdade, Low, mas acho, como digo no texto, que será mais útil ao Benfica não perder muito tempo em vitimizações. Há que superar aquele estado de coisas enquanto o estado de coisas não for superado por quem deve tomar conta disto e não toma.

Quanto à questão táctica, estou algo dividido. Se o Benfica tivesse o tal médio que urge (e não chega), diria que seria melhor alterarmos, retirando um ala (para mim, Gaitán) para o colocarmos. Como não o temos, talvez o melhor seja manter a estrutura. Embora me pareça que aquela segunda parte de ontem trouxe muitos indícios. Infelizmente, se queres que te diga. Não vejo em que é que o Benfica terá a ganhar em colocar Javi e Airton a titulares ao mesmo tempo. Perderá a dinâmica com que tem vindo a jogar e dará, mais uma vez, a motivação extra ao adversário de saber que o Benfica está com cuidados excessivos.

Lawrence, não acho que o Jesus não seja um bom motivador de homens. Acho é que o trauma é tão grande que mesmo um bom líder tem dificuldade em conseguir superar essa fronteira mental. Mas não é impossível. E se há Benfica capaz de o fazer, é este.

Claro que os 5-0 de há 2 meses não ajudam muito...

LDP disse...

Rapazes como o Aimar, o Saviola ou o Coentrao nao ficam descansados enquanto nao conseguem a desforra de um resultado como esse...

Por isso eu acho que os 5-0 de hà 2 meses serao precisamente o tònico principal para demonstrar ao treinador petiz que fala muito e nao diz nada.

Ricardo disse...

Gosto do optimismo, Low.

Diana Maia disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Diana Maia disse...

Muito bela a descrição quase bélica que fazes da recepção do Benfica nas Antas. Talvez quase tão bela como as pedradas, incêndios e outros "mimos" com que os jogadores do Futebol Clube do Porto são brindados nas suas visitas à "catedral".

O falso moralismo é algo mesmo feio e vocês andam a abusar dele este ano, talvez como forma de expiar a vossa cada vez mais evidente frustração.

No entanto agradeço a tua lucidez para verificares que realmente dentro de campo o FCP tem sido claramente superior.

Para o Benfica este foi quase o jogo da época. Fico agradavelmente elucidada das marcas profundas que o atropelamento que sofreram no Dragão em Novembro deixou.

Continuem competitivos, faz bem à competição interna ;)