A inundação estragou o carro do Senhor Barros,
que tinha estacionado junto ao rio por ser mais fácil chegar à
papelaria da qual é feliz proprietário há 30 anos. A inundação entrou
pela porta da papelaria do Senhor Barros e molhou o chão, molhou
as revistas, molhou os jornais, fez dos maços de tabaco e das
raspadinhas uma grande confusão molhada. O Senhor Barros tinha uma águia
de loiça na montra que também acabou molhada e partida pela força da
água que entrou pela porta da papelaria e foi subindo pelos degraus dos
átomos. O Senhor Barros está molhado, tem as calças e as cuecas todas
inundadas de água. As meias molhadas. Os sapatos molhados. Nadando
dentro da papelaria, o Senhor Barros viu gente ser arrastada pela
corrente que passava na rua e pensou que estava sonhando um sonho
molhado. Levantou o braço cheio de gotas de água e culpou o Presidente
da Junta. O Presidente da Junta culpou o Presidente da Câmara. O
Presidente da Câmara culpou o Primeiro-Ministro. O Primeiro-Ministro
culpou o Presidente da República. O Presidente da República culpou o
Presidente da Comissão Europeia. O Presidente da Comissão Europeia
culpou o Presidente dos Estados Unidos. O Presidente dos Estados Unidos
culpou Deus. E Deus culpou o Senhor Barros por não ter visto o Boletim
Meteorológico.
4 comentários:
Excelente! E grande música a acompanhar!
deus está aquém mundo... ou simplesmente ausenta-se periodicamente e as pessoas desconhecem essa realidade convém abrir os olhos... :) muito bom!
Apesar de toda a tragédia que abateu o Senhor Barros, a tua escrita é uma autêntica "viagem". Saudações Benfiquistas.
Miguel Bola
Um Glorioso momento de leitura ...
Não me digas que o senhor Barros era policia ;)
Benfica Todos Tempos
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