segunda-feira, 14 de março de 2016

O pontapé de canto é um aristocrata falido


O perigo num pontapé de canto é sobrevalorizado. Por a bola estar parada, acha-se que o lance é mais perigoso do que um qualquer cruzamento em bola corrida quando tanto um como outro são geralmente lances desinteressantes do ponto de vista ofensivo. É evidente que se tivermos superioridade numérica na área adversária ou especificamente um jogador da nossa equipa sozinho em zona de finalização não será má solução assisti-lo através de cruzamento mas, regra geral, estar a atirar balões para uma catrefada de jogadores é deixar o destino não às mãos de uma maior probabilidade de êxito mas apenas à sorte (um ressalto,  um mau posicionamento adversário, um erro individual). É mais religião e menos futebol.

O canto pode ser interessante se usarmos o facto de ele ser desinteressante para nós mas interessante para a equipa adversária.  Ou seja, jogar com o facto de o adversário levar muito a sério isto dos cantos. E então surpreendê-lo com saídas de bola estudadas e organizadas para usar o posicionamento da outra equipa. O Barcelona, por exemplo, despreza constantemente a bola alta só porque é canto; sai com 3 e 4 jogadores pelo chão, entrando na área adversária pela surpresa de movimentos, criando novos perigos, novos caminhos para o golo. Contra o Benfica, Jesus também tentou este tipo de solução, conseguindo várias vezes superioridades numéricas na zona lateral (3 e 4 contra apenas 2 jogadores na zona entre a linha lateral e a entrada da grande área).

Ora, ter o adversário todo enfiado à frente da baliza pode ser uma vantagem crucial para criar desequilíbrios assim que se procure a zona da bola. São jogadores que estão com espaço,  com algum tempo e sobretudo de frente para a baliza, observando todo o movimento das partículas dentro da área adversária. As soluções aparecem, diagonais, mudança de flanco, passe de ruptura, até o remate. Mas, antes do perigo, o essencial: não atirando uma bola para o acaso da maralha, a posse continua nossa. A bolinha, a pelota, continua jogada pelos nossos pés. Com ela poderemos fazer o que bem entendermos em vez de a desprezarmos pelos céus; se a atiramos assim dessa forma tão leviana sabe-se lá o que o destino lhe terá reservado. Pelo sim pelo não, melhor tentar ir pela relva. É no chão que a redonda gosta de rolar.


2 comentários:

Ricardo disse...

David, por lapso, apaguei o teu comentário. Desculpa.

Quanto ao seu conteúdo, discordo. Não estragou, apenas se limitou a ser um lance que deu golo no canto. Não digo que nenhum lance dá golo em cantos com bolas altas.

fui disse...

É absolutamente verdade. Mas depois aquela incrível aleatoriedade do futebol que deu uma Champions ao United nos 3 últimos minutos em 2 cantos!