sexta-feira, 30 de novembro de 2018

O ECLIPSE DE RUI COSTA



Quando pensamos em Rui Costa, pensamos em Benfica. Parece-me indesmentível que, enquanto jogador, foi um dos nomes mais míticos da grandiosa História do Sport Lisboa e Benfica. Porém, esta imagem (quase) imaculada do nosso antigo Maestro, foi feita refém assim que assumiu funções directivas na Estrutura do nosso querido Clube.

O Benfica está, neste momento, a passar por uma fase muito conturbada ao nível desportivo e parece que nenhum dos elementos da Estrutura tem oportunidade, voz ou poder para demover Luis Filipe Vieira dos seus devaneios. E se, para mim, não é surpresa nenhuma que a esmagadora maioria dos elementos preocupa-se mais consigo próprio e com o seu posto  do que com o Sport Lisboa e Benfica (ou não tivessem muitos deles mudado radicalmente de posição em relação ao que achavam de Vieira num passado recente), o que é facto é que Rui Costa tem-se revelado uma profunda desilusão.

Tal como acontece com os restantes elementos da Estrutura, é um facto que Rui Costa parece impotente. Afinal, deve ser muito difícil fazer parte da mesma equipa directiva de um Clube em que o líder pouco se importa com as opiniões dos seus vices e administradores, bem como dos próprios sócios e adeptos. Mas é imperdoável que não se tenha já afastado e trabalhado para se tornar numa oposição forte e credível – sem qualquer dúvida, a melhor e mais importante de todo o “reinado” de Vieira. Pelo contrário, Rui Costa continua na sombra, agarrado ao poder como todos os outros que pouco se importam com o bem-estar do Clube.

É muito difícil encarar a actual figura do antigo internacional português. É inegável que a melhor contribuição que Rui Costa teve foi quando pendurou as chuteiras e assumiu a pasta de Director Desportivo. Aqui sim, o seu trabalho foi bastante bom. A partir do momento em que entrou para a Administração da SAD, vimos um Rui Costa afastado das decisões, pouco importante para o Clube. E aqui continua, fiel ao seu presidente e igual aos demais.

O Benfica está doente. Vieira está a arrasar o Clube e Rui Costa assiste a esse filme, impávido e sereno, como se nada se passasse. Já por várias vezes (e principalmente nas AG), os adeptos abordaram-no e pediram-lhe que interviesse. Quando houve a confusão das cadeiras pelo ar, Rui Costa estava a um canto da sala, a ver a casa a arder, enquanto os adeptos o chamavam à razão. Rui Costa via a ditadura que foi aquela AG e que se tornou o Benfica e não toma uma decisão em prol do Clube. Rui Costa vê o Benfica a deteriorar-se a cada temporada que passa e não toma uma decisão em prol do Clube. Rui Costa não é capaz de descer do seu cómodo posto e tomar uma decisão em prol do Clube.

Há uns anos, houve uma publicidade de angariação de sócios em que Rui Costa dava o seu testemunho, recordando o dia em que marcou um golo ao Benfica, em pleno Estádio da Luz e enquanto estava ao serviço da Fiorentina, dizendo que “quem ama assim tanto um clube, assume-o”.

Palavras leva-as o vento e, afinal, Rui Costa não ama assim tanto o Sport Lisboa e Benfica.

quinta-feira, 29 de novembro de 2018

OS FILHOS DA PUTA, OS GRUNHOS E UM FAROL CHAMADO ONTEM VI-TE NO ESTÁDIO DA LUZ



"Este filho da puta está agarrado ao tacho".

É assim que uma maioria de benfiquistas mimoseia o (ainda) treinador do Benfica. Uma maioria que, há não muito tempo, mimoseava de filhos da puta quem fizesse, mesmo que de forma muito leve, uma crítica a Rui Vitória. É o problema dos grunhos: como não conseguem ver nada à frente, reagem por impulsos. Quando Vitória ganhava, era o melhor do mundo e ai desses filhos da puta que o achavam mau treinador; quando deixou de ganhar, passou ele a "filho da puta agarrado ao tacho".

É claro que, como grunhos que são e continuarão a ser, não percebem que Rui Vitória tem todo o direito a exigir o dinheiro que lhe devem. Sobretudo, porque viu o seu contrato renovado há poucos meses e viu o Presidente dizer, há um mês!, que ele era o treinador para o projecto. Como grunhos que são, não compreendem que o verdadeiro filho da puta não é Rui Vitória, não são os adeptos que criticam Rui Vitória, nem sequer são os próprios grunhos. Como grunhos que são, continuarão a apoiar o filho da puta-mor e a chamar filhos da puta a todos os que o criticarem.

Da minha parte, vejo com satisfação a saída do treinador do Benfica pela simples razão de que o acho um treinador medíocre. Como sócio do Benfica, é meu dever lutar pela excelência no clube e não pela mediocridade. Por isso, desde 2015, quando se soube que Rui Vitória viria para o Glorioso, escrevi centenas de textos a explicar o porquê da mediocridade do técnico; saíram no meu blogue vários vídeos a mostrar o medíocre futebol que a equipa apresentava.

Isto não aconteceu há um mês; aconteceu com Rui Vitória campeão, depois bicampeão, até hoje. A minha análise ao jogo não depende de resultados e por isso está sempre sujeita à ira dos grunhos que nada vêem à frente dos olhos. Fui e fomos (no blogue que partilho com uma equipa de benfiquistas de luxo) insultados, ameaçados, chamados de portistas, apelidados de inimigos do clube. O costume em grunhos que infelizmente, pela sua pobreza de espírito, ajudam a fazer do Benfica um clube liderado por incompetentes. Houvesse mais lucidez, mais conhecimento, mais seriedade, mais educação, mais frontalidade, mais dignidade, mais inteligência, mais benfiquismo, e o Glorioso Sport Lisboa e Benfica poderia ser tudo aquilo que sonhasse ser.

Assim, com esta maioria de gente que vive de impulsos, populismos e mentiras presidenciais, ver-nos-emos sujeitos à total ignomínia: contratar um treinador que, há 3 anos e meio, foi atacado pelo Presidente do Benfica por supostamente ser um traidor da pior espécie. A propaganda de croquetes da BTV logo se apressara a anunciar a grande medida: iríamos receber 14 milhões de euros de indemnização - dizia Vieira: "um euro por cada adepto do Benfica traído". A reentrada de Jesus no Benfica, a acontecer, será o Presidente a enfiar o dedo no cu de todos os benfiquistas. E os grunhos vão gostar.

No meio disto tudo, de uma Ditadura vieirista que faz lavagens cerebrais aos grunhos e uma pseudo-oposição que ou não existe ou se bamboleia entre interesses pessoais, incoerências,  apoios e desapoios a Vieira consoante as marés, só uma luz no universo benfiquista resiste. Um blogue que ilumina, antecipa, avisa, propõe, demonstra, defende, não se vende, dá luz ao Sport Lisboa e Benfica. O Ontem vi-te no Estádio da Luz é o farol glorioso.

segunda-feira, 26 de novembro de 2018

11 GLORIOSO PARA O NOVEMBER FEST



Ulisses
Almeida, Conti, Dias, Grimaldo
Fejsa
Zivkovic, Pizzi, Rafa
Jonas, João Félix

Sejam Gloriosos



Nunca, na História dos dois clubes, o Benfica teve uma oportunidade tão flagrante de poder ir vencer a Munique. A máquina demolidora tem tido graves problemas na engrenagem, deixando aos nossos craques uma possibilidade real de fazer muitos estragos.

Um plantel que tem Grimaldo, Fejsa, Gabriel, Pizzi, Zivkovic, Krovinovic, Rafa, Salvio, Jonas, Ferreyra, Seferovic e João Félix pode sempre ter uma noite gloriosa e aproveitar o mau momento do Bayern.

Sim, mesmo sem treinador acredito que amanhã seremos felizes.

quinta-feira, 22 de novembro de 2018

Onze anti-aéreo

Svilar 
Corchia, Conti, Dias, Grimaldo 
Gabriel 
Zivkovic, Pizzi, Rafa 
Félix, Jonas 

O JORGE NÚNCIO



Há muitos muitos muuuuuuitos anos, nascia na Cedofeita um rapaz raquítico, de porte frágil, orelhas estranhas e uma verruga no coração. Os médicos atentaram no pormenor verruguento com cuidada atenção: nunca antes tinham visto tal coisa e decidiram, após profunda e demorada entabulação com o prior da freguesia, logo aconselhar os pais do rebento que o melhor, para evitar fúrias demoníacas e vulcões do demo, seria dar-lhe um nome de padreco ou pelo menos fazer uma referência, mesmo que sigilosa, à verruga consubstanciando-a num título religioso, para ver se Deus - nem sempre de bom humor com verrugas, quistos e outras deficiências - deixava passar este fenómeno sem iras divinas nem achaques nervosos.
Algo despeitados, os pais da criança lá acabaram por anuir aos desejos celestiais do padre de serviço. Estava em causa a sobrevivência do menino Jorge; tudo o que servisse para acalmar as forças do Eterno seria parco, até porque havia outras questões ainda por definir no seio do lar, como as recorrentes cagadelas da mãe nos lençóis brancos e a estranha mania do pai de ludibriar os clientes vendendo, não raras vezes (e disto o Senhor estava a par, com toda a certeza), água da torneira por águas finas da França. O casório deu em divórcio, naturalmente - nenhum Deus, por Santo que seja, aceita observar tais fracas virtudes nos seus apaniguados, menos ainda quando se misturam, em simultâneo, os pecados da badalhoquice com os do furto. Caramba, até para o Criador há limites.

Não interessa, no entanto, explorar este tão mal paridinho casamento. Detenhamo-nos em Jorge, agora já baptizado (não se sabe se a água dos canos se a Perrier) de Jorge Núncio de Lima Tinto da Encosta. Um nome que afinal, esqueçamos o título de embaixador do Papa que ali aparece em segundo lugar para não levantar grandes suspeitas, até revelava algum charme portuense. O "Lima", sempre tão agraciado pelos habitantes da Invicta, nome de ascendências históricas e nobrezas mil. O "Tinto" que funciona como os "Smith" ou os "Silva" da Cedofeita - nome popular, é certo, mas digno. E, é lógico, o "Encosta", que leva já milénios idiossincráticos no lombo, nome de marqueses e ladrões, feirantes, putas, prestidigitadores e seminaristas - no fundo, tudo da mesma cepa, apesar dos apesares.
 As professoras na escola ou os vizinhos nas montras dos devedores de fiados liam o nome: Jorge Núncio de Lima Tinto da Encosta e não podiam deixar fugir um "apre, quisto é nome de tripeiro, carago!", sempre entoando o "tripeiro" com mais força, mais veemência, mais orgulho, porque nisto dos nomes e das origens os corações batem sempre mais depressinha.

Jorge Núncio fez escola entre os seus pares: costumava apalpar os rabinhos dos colegas quando eles não estavam a ver e depois ria-se muito (malandro!) com aquele ar de espertalhaço que a verruga no coração sempre lhe deu. Tinha algumas dificuldades de aprendizagem, demorou dois anos para aprender a tabuada do 1 - via sempre mais à frente, Jorge Núncio; enquanto os colegas viam num 1x2 um 2 eles juntava sempre o x e respondia 1x2, que era o que ele tinha posto no Totobola sobre um emocionante Cedofeita-Madalena.
 Devido a estes episódios menos brilhantes, os amigos jocosamente apelidavam Jorge Núncio de "génio", denominação que ele levou no sentido literal e por isso repetia vezes sem conta sempre que chegava a casa. Pena a mãe estar aos peidos em cima do sofá e o pai a encher garrafas de PerrIer com água do Douro - a falta que não faz um harmonioso lar para o crescimento das crianças. "Papá, mamã, dizem que eu sou um génio, papá? mamã?", e o pobre Núncio num aflitivo e solitário pesar, não tendo a quem contar a sua evidente genialidade. Havia uns irmãos que por ali andavam aos caídos, um fazendo-se de macaco - "coitado", dizia o senhor prior, "é anormal" - e outros dois que passavam as horas sentados a contar os peidos da mãe, numa estereofónica sucessão de orquestra, perdendo-se, no entanto, na contagem, tal era a produtividade da progenitora - "mamã, vamos em 532 ou 533? Com molho ou sem?".

É triste, de facto, pensar no que Jorge Núncio teve de passar para chegar a homem. Tantas provações, privações, privados, parvoíces. O rapaz até tinha algum talento (belíssimo a preparar ramos de flores, por exemplo), mas a vida sempre a rebaixá-lo à condição humana do esgoto existencial. O padre da freguesia costumava dizer de Jorge Núncio aos vizinhos que "o rapaz até possui qualidades, mas quem patina em tais destroços tarde ou nunca se embeleza", mesmo que, nas tardes-noites, depois da missa, explorasse a beleza de orelhas estranhas, porte frágil e verruga no coração do menino Jorginho com deleite e mal-disfarçada desfaçatez, obrigando-o a horas extraordinárias a ajeitar as vestes dos santinhos, a cantarolar cançonetas de fraco teor bíblico e - Deus nos perdoe a confissão - a rezar em silêncio (ou quase, a saliva às vezes desnorteia-se), de joelhos na fria mármore do altar da gloriosa Igreja Paroquial de São Martinho da Cedofeita. São pecados que os santos não vêem porque não têm nem coração nem verrugas mas que as gentes, mesmo do lado de fora, pressentem.

Porém, a vida nem sempre se mantém neste patamar excremental. A muito custo - e tanto que Jorge Núncio pediu -, os pais acabaram por ouvir as suas preces (não há peidos que sempre durem nem água suja que nunca acabe): vinha aí o Colégio das Caldinhas, antro de luxo de uns jesuítas loucos por novas contratações de Inverno. Foi feliz, Jorge Núncio, em Santo Tirso. Comia duas ervilhas ao almoço, ao jantar sopa da panela - uma nhanha de água da canja com restos de ossos a preceito coada para dentro de um copo. Tinha brincadeiras e tudo - corria atrás de um pneu horas a fio, enroscava-se nas árvores, descobria o amor: um esbelto cigano que assentou tendas no descampado junto ao Colégio. Com ele descobriu a virtude do engano. Adorava andar às cavalitas do feirante, roçando a verruga nas costas largas do vendedor de putas. Conheceu putas, belíssimas mulheres que alimentavam o seu desejo intestinal de maternidade. Jorge era feliz em Santo Tirso - exceptuando as noites e as surpreendentes visitas de estudantes teológicos à procura da absolvição das almas, tinha uma razão para viver, quase não chorava quando ia dormir, possuía verdadeiro amor na verruga e já estava quase-quase pronto a ser um homenzinho.

Havia, no entanto, algo que Jorge Núncio ambicionava e não podia cumprir: ver o Bi-Campeão Europeu ao vivo. As tardes e noites que passou de transístor ao ouvido, com um padre em cima, a deleitar-se com os golos do José Águas, do Simões, do Torres, do Eusébio; momentos que o marcaram, enquanto fechava as pernas de espanto e desejava ser feliz num emprego mais próximo do Estádio da Luz. Infelizmente, diziam-lhe que essa era a terra dos mouros, que não podia aproximar-se, que eles comiam crianças ao pequeno-almoço, que era preciso ter cuidado - e desavergonhadamente lembravam-lhe a verruga no coração e a necessária devoção aos santos, não fossem eles conspurcar-lhe a existência. Inventaram-lhe um ofício num banco, puseram-lhe uma gravata ao pescoço e disseram-lhe que a partir daquele momento devia esquecer o Benfica: era portista e ponto final!, era do clube dos seminaristas e dos padrecos, dos governantes do Regime e dos pidescos, dos necrófilos e dos sem-lar. Era, no fundo, da equipa de Deus. Com camisola listada azul e branca e sentimento azul e bronco.

Sofreu muito, Jorge Núncio, com o trauma. Mas, como "génio" que era, rapidamente desenvolveu as suas maiores qualidades advindas dos traumatizados: bem patrocinado pelo chefe - homem de grandes contactos na região, empresário de sucesso e ilustre banqueiro -, não demorou a fazer de Núncio uma visita regular na sua casa da Madalena - anos mais tarde, Jorge Núncio também cumpriria esse sonho de possuir imóvel na zona, fazendo de GPS a árbitros e outros aconselhamentos matrimoniais  que nos escusamos a explicar não vamos ser presos, no lugar do famigerado terapeuta, por não estarem as provas suficientemente validadas pela Justiça Portuguesa.
Núncio comia e bebia como nunca: autênticos banquetes, já não de ervilhas e sopas da panela mas de latagões atraentes, musculados, bem oleados por vaselinas de castas da região (a manifesta qualidade reconhecida que há no Douro); Núncio vomitava muito: normal, o organismo de verruga e o cérebro de ervilha não tinham ainda aquela finesse que viria a adquirir quando se tornasse dirigente do Futebol Clube do Porto e transpusesse todos os conhecimentos que foi adquirindo ao longo da vida em bordéis, cerimónias, casas de empresários, seminários, igrejas, paróquias e demais empreendimentos turísticos, alguns no Brasil, que conhece de lés a lés, entre o calor da noite e as noites cheias de calor. Jorge Núncio tinha finalmente atingido o patamar da degeneração humana: queria ser grande e foder o mundo por o mundo o ter fodido.

Não podemos, nesta história, passar um pano sobre a importância que o povo portista, macerado por uma existência de infertilidade de sucessos, teve para a elevação de Jorge Núncio a herói regional. E, claro, não há como esquecer aqueles seres que pululam pelos jornais e televisões, sempre tão preparados para o elogio da loucura. Erasmo, uns séculos antes, falou deles todos. O problema é que ninguém lê.

terça-feira, 20 de novembro de 2018

O melhor treinador que vi no Benfica


O Logo de Sonho


Abrimos hoje aos nossos ontianos um concurso que visa encontrar um novo logo para este blogue. Pedimo-vos que puxem por toda a vossa criatividade e façam os logos mais gloriosos que conseguirem. O único requisito é o de ter o nome Ontem vi-te no Estádio da Luz; o resto - estilo, imagem de fundo escolhida, tipo de letra, etc - é convosco.

Receberemos os vossos logos (enviem por mensagem) até Sexta-feira, 23 de Novembro. Depois criaremos eliminatórias entre logos até encontrarmos o logo final.

Obrigado e VIVÓ BENFICA!

sábado, 17 de novembro de 2018

O Hat-trick de Rui Águas - dois gloriosos golos e um extraordinário quase-golo



1988, segunda parte das meias-finais da Taça dos Clubes Campeões Europeus. Eu, o meu Pai e mais 129.998 benfiquistas na Luz sob o mote do Presidente João Santos - "Um benfiquista, uma bandeira" - cantamos "Benfica, Benfica, Benfica" a levar o Glorioso até à final de Estugarda. Mats Magnusson de costas faz um passe a isolar Rui Águas. O romeno do Steaua ainda consegue recuperar a bola, mas logo o filho do Bicampeão Europeu a rouba e segue rápido para a baliza, meio descaído na esquerda. Entra na área.

(O meu Pai mete a mão na minha perna e flecte os joelhos à espera do golo, eu meto a mão na perna do meu Pai e flicto os joelhos a desejar o golo, as pernas e as mãos cruzam-se e os joelhos flectem-se a ordenar o golo, os filhos metem todos as mãos nas pernas dos pais, os pais metem todos as mãos nas pernas dos filhos, todos os joelhos do mundo flectidos com saudades do golo. Tudo em tensão: mãos, pernas, joelhos. 130.000 pais e filhos, amigos, padrinhos, vizinhos e estranhos agarram-se às pernas uns dos outros numa corrente humana de pernas, joelhos e mãos a fazer do Estádio da Luz um absurdo fenómeno de flexões colectivas e o coração aos saltos, em místicas diástoles em gloriosas sístoles, pulsando desejos infantis: "faz golo, faz golo, faz golo, faz golo, faz golo, faz golo")

Rui Águas dá um toque ligeiro para a frente (amacia-a, prepara-a, acalma-a). Quando lhe aparece um adversário ao lado, mete-lhe a bola por entre as pernas, e, já sem espaço, salta - salta como um cavalinho, como se fosse o último salto de sempre - para poder rematar. Um lance à Jonas (ou é Jonas que tem coisas de Rui Águas?). Remata e a bola é defendida no chão por Liliac. Uma jogada transcendental que começou com Silvino e o seu equipamento verde a colocarem a bola em Álvaro que levantou na esquerda para a cabeça de Pacheco que, junto à linha, cabeceou para Magnusson que, de costas, meteu em Rui Águas e o resto é História. Um extraordinário quase-golo.

(Por todas as casas e cafés do país, por todo o mundo, os joelhos flectidos, as mãos nas pernas, a saudade do golo esvaem-se em quase-golo e os corações benfiquistas voltam à nervoseira habitual. Tudo sempre à espera de mais um golo. Do terceiro golo em viagem para Estugarda.)

A bola distancia-se da baliza adversária, segue para os romenos. Já fora do plano das câmaras, Rui Águas, longe da bola e no meio dos centrais romenos, frustrado pelo extraordinário quase-golo, automotiva-se olhando o Estádio da Luz - "Um Benfiquista, uma bandeira" - e, em pleno relvado, começa a sonhar com os dois golos que já tinha marcado na primeira parte.

(GOLO GLORIOSO NÚMERO 1 - Aos 25 minutos, canto para o Benfica. Pacheco trata da ocorrência. Como Águia Vitória, a bola voa por cima do relvado. Entra na área. Mozer, armado em Mozart, já tem tudo na cabeça e desvia para o segundo poste. A bola parece meio perdida, vai a sair do perigo. Mas não, há Rui Águas e a sua disponibilidade mítica para o salto-peixinho. O goleador anteviu, reflectiu, dispôs-se ao chão. Cabeceou não só para o lado contrário do guarda-redes como ainda lhe deu efeito para cima - poucos jogadores no mundo seriam capazes desta loucura: talento, técnica e uns pozinhos de despero. A redonda entra no topo da baliza, abana as redes e depois é o caos, o Estádio entrou em erupção e a lava caiu quente a queimar o relvado. Lembro -me de ser atirado com os meus 6 anos para 7 ou 8 filas abaixo. "Foi você que perdeu o seu filho num golo do Benfica?"

GLORIOSO GOLO NÚMERO 2 - Aos 33 minutos, Mozer (outra vez doidão por aquilo que hoje se definiria como o "movimento ofensivo"), segue meio-campo romeno adentro, faz passe para Rui Águas, que sofre falta. Livre perigoso, sobretudo se na nossa equipa tivermos um Diamante chamado Diamantino. O capitão não marca o livre de forma normal, ele faz diferente. Ele faz diferente: amanteiga a bola, marca um livre como se passasse manteiga por pão quente. Ela segue tão amanteigada por cima dos romenos só para encontrar a cabeça de Rui Águas que, em jeito perfeito como lindíssimo cabeçeador que sempre foi (um dos melhores da História do Futebol), a desvia, a encaminha, a ensina, a dirige para dentro das redes. Rui Águas é abraçado efusivamente, não notando que, nesta altura, na maluqueira dos 130.000, eu já tinha sido atirado para dentro da toalha branca do Eusébio. "Foi Você que encontrou o seu filho num golo do Benfica dentro da toalha do Eusébio?")

Rui Águas pensa em José Águas, o Pai. O bicampeão europeu homenageado pelo filho com a melhor forma que um filho pode homenagear o Pai: repetindo-lhe os feitos. 20 anos depois, o Benfica estava outra vez numa final da Taça dos Clubes Campeões Europeus.

O melhor 10 que vi jogar.


O melhor MÉDIO-DIREITO que vi jogar.


sexta-feira, 16 de novembro de 2018

QUEM É JOSÉ MANUEL ANTUNES, O CROQUETE QUE INSULTA OS BENFIQUISTAS NA BTV?


José Manuel Antunes é um ex-lacaio de Vale e Azevedo que, quando quase todos os Vice se demitiram, ascendeu à Vice-Presidência e por lá se manteve até ao fim, sendo um dos principais responsáveis pela quase extinção do Glorioso Sport Lisboa e Benfica.

Hoje é lambe-cus de Vieira e insulta os benfiquistas em directo na BTV. Fica um cheirinho de quem é esta deprimente figura:

 https://arquivos.rtp.pt/conteudos/declaracoes-de-jose-manuel-antunes/

segunda-feira, 12 de novembro de 2018

O Treinador Rui Vitória

Um treinador de futebol é muito mas também mais que aquilo que faz no treino.

A sua imagem fica mais condicionada pelas decisões que toma nos jogos do que pela trabalho que desenvolve longe dos olhares dos adeptos.
Normalmente as discussões em seu torno rondam muito à volta das tácticas, dos titulares e das substituições.

Numa altura em que se fala tanto sobre o actual treinador do Benfica de forma tão critica e empolgada, achei por bem dar um passo atrás e analisar o seu desempenho no Benfica de forma mais serena e metodológica. 

Não vou olhar a resultados nem a conquistas. Não vou argumentar que ele é bom porque já ganhou nem que é mau porque está a perder. Quando ganhava e agora que perde, é o mesmo treinador, com as mesmas ideias e o mesmo método.
Não irei olhar a estatitisticas porque a sua viabilidade depende sempre de quem as maneja e de intenções de perspectiva. Tentarei olhar para o que precede os números.

Vou considerar que existem 8 vertentes da responsabilidade de um treinador:

- Comunicação: Externa e Interna
- Construção do plantel
- Ideia de jogo
- Modelo táctico
- Treino colectivo
- Treino individual
- Convocatória e escolha dos titulares
- Leitura do jogo e substituições.

O primeiro pecado do treinador do Benfica é logo na comunicação. Nem vale a pena alongar-me muito neste aspecto. Para dentro e para fora é um discurso baseado em chavões de auto-ajuda. Peca pela ausência de conteúdo, pela superficialidade de um discurso linear que nada acrescenta. É um discurso que encaixa bem na primeira impressão mas que cansa quando não evolui, quando não passa daquilo. Não acrescenta nada.

E perante maus resultados a comunicação do treinador Rui Vitória piora porque a esta junta-se um discurso de desculpabilização que varia entre as arbitragens e o factor sorte.
É do mais básico e desinteressante que podemos encontrar.

Um discurso que não funciona no médio e longo prazo em alta competitividade. É indesmentível que Rui Vitória proporciona um bom ambiente de trabalho para os jogadores e para o balneário. Rui Vitória leva ao seio do grupo um bem-estar óbvio. Mas isto é pouco. Até a descontracção contrai. Até a pouca pressão pressiona. Até o não incómodo incomoda. Porque os jogadores necessitam de muito mais. Liderança acima de amizade.

Quanto à construção do plantel também não há necessidade de queimar muitas linhas.
O actual treinador do Benfica parece acomodado a que esta seja feita pelos dirigentes do clube.
Orienta o plantel que o clube lhe disponibilizar. Um romantismo que em nada beneficia a sua posição de liderança, a sua condição de Treinador.

No que respeita a modelos tácticos já me posso alongar mais.

Apesar de dois anos a jogar em 4-4-2 o modelo deste treinador é o 4-3-3 que actualmente utiliza.
Chegou a um Benfica que jogava com 2 homens no centro do terreno, dois alas e dois avançados. Um 4-4-2 que se desdobrava num rápido 4-2-4. Tentou implementar o seu modelo, onde reforçava o meio-campo abdicando de um avançado e solidificando um puro 4-3-3 com dois alas bem abertos. Não resultou. Não conseguiu fazer a mudança.
Acabou por ceder à fórmula antiga e deu aos jogadores o prazer da familiaridade.
Já no decorrer da terceira época, com as fragilidades defensivas cada vez mais incomportáveis, recorreu ao 4-3-3, o seu 4-3-3.

Com Rui Vitória este é um sistema táctico claramente mais defensivo. A opção pelos três médios não é em prol de um maior controlo da bola a meio-campo para uma mais curta e elaborada construção de jogo. No seu 4-3-3 o terceiro médio surge para um maior preenchimento dos espaços no jogo sem bola. Uma tentativa de um acrescido equilíbrio no momento de defender.

4 defesas - 3 médios centro - 2 alas de rasgo - um ponta de lança. Portanto tenta povoar a zona de recuperação para rapidamente lançar os velocistas enquanto o ponta de lança prende os defesas adversários e procura zonas de finalização.

É no seguimento da análise táctica que sou obrigado a entrar na análise à Ideia de jogo.

Rui Vitória tem uma ideia de jogo. Contudo é tão arcaica, tão desinteressante e tão básica, que a este nível parece ser quase inexistente.
Reduz-se à capacidade de luta dos jogadores. Queimar linhas com passes longos e tentando ganhar as segundas bolas em zonas do terreno que deixam a defesa adversária em desequilíbrio.

A ideia de jogo deste treinador passa por defender com muitos, recuperar a bola e colocar rapidamente na zona defensiva do adversário.
Assim tem tendência por optar por um ponta de lança forte capaz receber os lançamentos longos e por dois extremos velozes que usem essa velocidade para rapidamente se aproximarem da defesa adversária, seja para recuperarem as segundas bolas, para pressionarem o receptor da bola ou para a receberem do ponta de lança.
Queima-se linhas com os passes longos, queima-se linhas com velocidade e fintas dos alas, e tenta-se ganhar a bola no terço ofensivo para surgirem os desequilíbrios.

Este é uma ideia de jogo muito britânica - Kick and Rush. Contudo em estado muito primitivo e introduzido num contexto - clube Grande e futebol português - onde não corresponde às expectativas e exigências do clube.
Estamos a falar de um campeonato onde normalmente os defesas estão bem posicionados nos jogos com os Grandes. Estamos a falar de uma equipa com jogadores de qualidade técnica desaproveitada em prol da sua capacidade física.
Daí a constatação que o treinador Rui Vitória coloca as suas equipas a praticar um futebol de clube não-grande.

Qualquer Modelo Táctico e  Ideia de Jogo nascem e crescem no Treino.

Para mim é nesta vertente que encontramos a pior face deste treinador.
Há uma táctica, há uma ideia de jogo, há uma preferência pelas características dos jogadores, mas não existe um trabalho que faça tudo encaixar e fluir.

O treino tem a sua vertente física, táctica e técnica.
Sim, os jogadores do Benfica são fisicamente capazes. Sim, os jogadores do Benfica sabem os seus lugares no terreno de jogo. Não, os jogadores do Benfica não estão integrados num processo de jogo.

O jogo é o reflexo dos treinos, resulta do trabalho diário da equipa.

Para a análise irei dividir os momentos do jogo em 4: Com bola em fase defensiva; Com bola em fase ofensiva; Sem bola em fase defensiva; Sem bola em fase ofensiva.

Em todos estes momentos notamos carência de treino.

No momentos defensivos é recorrente o recurso ao "alivio". Muitas vezes mais por necessidade do que por convicção.
Esta necessidade aparece da ausência de linhas de passe. Não há movimentos dos médios que proporcionem soluções de passe ao defesa com a bola. O centro do terreno é constantemente um vazio de atletas de encarnado.
Daí advém não só o bombardeamento de bolas para o avançado como também a constante lateralização de jogo.

Também no momento ofensivo existe esta carência de linhas de passe na zona central. Lateralização e cruzamentos.
Há um fosso no centro do terreno que não é explorado. Só Jonas vai contrariando esta tendência e sem progressão pelo centro, os desequilíbrios ficam dependentes da criatividade e velocidade individual pela linha - Rafa e Salvio.

Contudo, desde o primeiro jogo oficial de Rui Vitória no Benfica, é o desempenho sem bola que mais me preocupa.

Na reacção à perda de bola temos a pressão do avançado e da velocidade dos alas. Só que assim que o adversário contorna esse primeiro momento a equipa entra imediatamente em contenção. É neste momento que entra a minha maior critica ao trabalho do treinador Rui Vitória.
O mesmo vazio central que existe com bola mantém-se quando a equipa se encontra sem ela. É nesse espaço que os adversários encontram tempo para receberem a bola, furarem as nossas linhas, pensarem e executarem já de frente para para a nossa linha mais defensiva.

Por isso com este treinador apesar de defendermos com muitos defendemos muito mal.
Os jogadores assumem as suas posições em blocos defensivos lentos e desligados. O bloco de médios aproxima-se da zona da bola, os defesas mantêm o bloco e o fosso entre sectores aumenta.

Após a linha avançada ser batida na pressão inicial, a qual é exercida sem a cumplicidade dos restantes sectores, basta um passe para bater a linha de médios, um passe central para a zona deserta entre estes e os defesas. Sem apoio próximo e sem exercer pressão, o último sector defensivo vai recuando em contenção, aumentando o fosso entre sectores, e permitindo que os avançados adversários se aproximem quase sem oposição da nossa área, imediatamente farejando as zonas de finalização.

Ao defendemos com muitos mas com os blocos tão distantes, em contenção sem pressão e recuando à necessidade de se defender sobrelotando as zonas de finalização, evidencia-se a ausência da intensidade de treino.

O que vamos sabendo e aquilo que observamos nos relvados em dia de jogo, mostra-nos uma enorme passividade desta equipa técnica na preparação e condução dos treinos.
Exercícios básicos onde não se explora a capacidade dos jogadores em reagir em espaços curtos, onde não se explora os posicionamentos defensivos e as devidas compensações. O desposicionamento defensivo nas nossas laterais é uma simples consequência de tudo isto.

Com Rui Vitória percebemos um treino descontraído, onde os jogadores formam duas equipas que disputam um jogo-treino sem rigor táctico, sem exigência, sem aquelas constantes interrupções e correcções. Sem intensidade técnica.

E quando o treino colectivo tem estas lacunas o treino individual não tem como ser muito diferente. Se os jogadores não são levados ao limite, não são moldados. Não são pressionados a evoluir.

Nestes quase 3 anos e meio de Benfica é raro o jogador no qual vemos o dedo de Rui Vitória.
Há o lançamento de vários jogadores da Formação do clube mas pouca evolução. Os miúdos crescem aquilo que os minutos de jogos os obrigam, melhoram mas não se desenvolvem. No que respeita às dezenas de jogadores contratados em nenhum vimos o seu potencial ser aproveitado e exponenciado. Os jogadores não evoluem nas suas capacidades nem se afirmam para voos superiores.

Em mais de 3 anos só conto 4 jogadores a contrariar este desperdício: Ederson, Semedo, Lindelof e Guedes.
Ainda assim só o Semedo me parece ter evoluído no treino deste treinador.

É muito muito pouco. 
Temos um poço de talento desejoso de ser lapidado para o estrelato mas correntemente estagnado no tempo.

Por fim temos a questão da escolha dos jogadores - Convocatória, titulares e substituições.

Um treinador deve optar pelos jogadores consoante uma conjugação da sua ideia de jogo com os desempenhos destes.

Esta não será uma análise segundo às minhas preferências. Assim não irei abordar a qualidade das escolhas mas sim a sua incoerências.

Rui Vitória fomenta um inexplicável carrossel da titularidade à bancada.
Tem sido frequente ver um jogador ser aposta e imediatamente deixar de o ser. Entra, não brilha e fica fora das próximas opções. Isto evidencia uma aposta não sustentada nas características do jogador nem naquilo que o treinador idealiza para a equipa.
E enquanto temos jogadores que não têm a oportunidade da continuidade, temos outros que se mantém na titularidade indiferentes às suas prestações. A uns exige-se o brilho no curto período que lhes é concedido, a outro exige-se que estejam simplesmente presentes.

É de louvar o lançamento de miúdos da formação. E nos primeiros tempos era de elogiar o modo como gerias as suas exibições e afirmações. Não poucas vezes vimos um suplente ser chamado, corresponder e manter a confiança do treinador mesmo depois do anterior titular ter recuperado. Aqui fomentava um espirito de grupo muito forte com um grande sentido de competitividade entre os jogadores. Qualquer membro do plantel sabia que dependeria só de si fazer futuras oportunidades valerem a pena. Uma equipa onde imprescindíveis eram aqueles que rendiam. Outros tempos.

Neste contexto de convocatórias considero que o mais criticável em Rui Vitória é quando notamos que as suas indecisões de escolha variam com os resultados e não com as características dos jogadores. A escolha do 11 não é muitas vezes desconexa daquilo que pede aos jogadores. Que estilo de avançado é mais favorável ao treinador? E de médios? E de guarda-redes? Com Rui Vitória a resposta parece sempre depender dos nomes presentes em momentos de vitória. 

E nada muda quando abordamos o seu papel no momento das substituições. Mais uma vez roçamos o termo "banalidade".

O que esperamos de um técnico no decorrer de uma partida? Alguém que leia o jogo e que mexa neste consoante aquilo que deseja a cada momento da sua progressão.
O treinador Rui Vitória parece abdicar do rasgo técnico-táctico, da iluminação, da abordagem e reacção a um momento especifico do jogo. Não o vemos agarrar o jogo e modificá-lo à sua vontade, contrariando ou reforçando a sua tendência.

O que vemos? Um conjunto de soluções previamente concebidas nos minutos previamente definidos.
Se a equipa tem de marcar faz substituições linearmente ofensivas. Se a equipa tem de defender então faz substituições linearmente defensivas. Se for para manter a toada então faz a chamada troca "jogador por jogador".
Com resultados negativos é aberrante a forma como perde o controlo do jogo por decidir encher o relvado de avançados.

Esta é a minha análise geral ao trabalho do Rui Vitória. E é nela que entendo o que constantemente vemos em campo. Muito além da escolha do 11 titular e da entrega e determinação dos jogadores.

É a vertente técnica do técnico Rui Vitória que me faz tremer sempre que marcamos um golo. Ao longo de 3 anos e meio já é habitual vermos um Benfica a entrar em força nos jogos, para cima do adversário, a tentar cheio de moral chegar ao golo. Mas isto aparenta surgir sempre da superior qualidade dos jogadores e da força da camisola que envergam.

Um "Vamos para cima deles" que se vai esvaziando com os minutos. E logo vemos os adversários assentar o seu jogo colocando em cheque todas as nossas fragilidades.
É recorrente vermos esse esforço inicial esvaziar-se assim que conseguimos um golo. O alivio da vantagem expõe-nos ao adversário como um reflexo de um modelo de jogo muito pautado pela emoção.

Rui Vitória é um treinador que não evolui e não faz evoluir. É um treinador que não acrescenta à voz do benfiquismo. É um treinador de fracas ideias e metodologias.

Para os voos que o clube ambiciona, para a exigência de um futebol dominador, elegante e criativo que tem de existir neste nosso Benfica, é claramente um treinador insuficiente.

Um treinador Insuficiente. 


Quando tudo o resto falha, Jonizzi não.


domingo, 11 de novembro de 2018

CARTA ABERTA A JOSÉ MANUEL ANTUNES, O VICE-PRESIDENTE DE VALE E AZEVEDO




"Mas que, de facto, não é um acto de benfiquismo, não é. (...) nunca me passou pela cabeça vir para aqui com lenços brancos à espera de que o Benfica não ganhe. Essas pessoas estiveram frustradas à espera que o Benfica falhasse aquele golo. Quer dizer, ficaram felizes quando o Benfica não marcou aquele golo. E isso... não são benfiquistas, são sei lá o quê. Quase agentes dos inimigos do crime infiltrado aqui na nossa casa e eu vou combatê-los um a um."

Caro José Manuel Antunes, VICE-PRESIDENTE DE VALE E AZEVEDO, antes de seguir directamente para a triste figura que fez em directo na BTV, permita-me que lhe diga o seguinte: em 33 anos de Estádio da Luz nunca assobiei um jogador do Benfica nem acenei com lenços, lençóis, papelinhos brancos a nenhum treinador do Benfica. Não o fiz porque, independentemente de gostar ou não do Presidente ou treinador (e confie em mim: luto há mais de uma década contra o único Presidente ilegítimo da História do Benfica), não vejo qualquer vantagem nisso. Os meus lenços brancos ao treinador têm sido, durante estes três anos e meio, expor, em texto e vídeos, o seu futebol medíocre, que envergonha os benfiquistas e os faz não querer voltar à Luz. Porque é isso que este treinador está a fazer aos benfiquistas: está a matar-lhes o gozo e a alegria de ver o Benfica ao vivo. Com um plantel recheado de craques - o melhor plantel do Campeonato -, Rui Vitória consegue o feito notável de os colocar a jogar pior do que quase todas as outras equipas. De facto, se fosse fácil não seria para ele.

Mas, José Manuel Antunes, VICE-PRESIDENTE DE VALE E AZEVEDO, repare agora na seguinte frase: por eu não assobiar jogadores nem acenar lenços brancos aos treinadores não significa que eu não compreenda quem os faz. Basta sair de mim e tentar ver o outro; basta usar o cérebro e o coração - dois órgãos que dentro de si, José Manuel Antunes, VICE-PRESIDENTE DE VALE E AZEVEDO, parecem ter graves problemas de funcionamento. Sigamos então directamente para as suas frases acéfalas e desprovidas de amor benfiquista porque tremendamente insultuosas e boçais:


"Mas que, de facto, não é um acto de benfiquismo, não é. (...) nunca me passou pela cabeça vir para aqui com lenços brancos à espera de que o Benfica não ganhe"

Aqui, o José Manuel Antunes, VICE-PRESIDENTE DE VALE E AZEVEDO, consegue o pleno da falta de educação, da ausência de civilidade benfiquista e do atraso cognitivo:

1) põe em causa o benfiquismo dos benfiquistas que vão ao Estádio, pagam quotas, fazem milhares de quilómetros, sofrem pelo Benfica, pagam a BTV para verem o José Manuel Antunes, VICE-PRESIDENTE DE VALE E AZEVEDO, insultá-los e dizer-lhes em directo na BTV que eles não são benfiquistas;

2) como nunca "passou pela cabeça" do José Manuel Antunes, VICE-PRESIDENTE DE VALE E AZEVEDO, fazer uma coisa, o José Manuel Antunes, VICE-PRESIDENTE DE VALE E AZEVEDO, sente que tem o direito de insultar quem queira fazer essa mesma coisa. É como se, sei lá, por nunca ter passado pela cabeça aos benfiquistas insultados em directo na BTV por José Manuel Antunes, VICE-PRESIDENTE DE VALE E AZEVEDO, apoiarem e serem VICE-PRESIDENTES DE VALE E AZEVEDO, os benfiquistas insultados em directo na BTV por José Manuel Antunes, VICE-PRESIDENTE DE VALE E AZEVEDO, achassem que tinham direito a ir à BTV insultar José Manuel Antunes, VICE-PRESIDENTE DE VALE E AZEVEDO. É como se, imagine, eu lhe dissesse que, por ter apoiado e sido VICE-PRESIDENTE DE VALE E AZEVEDO, o José Manuel Antunes não é benfiquista e é um dos piores inimigos do Benfica de toda a História Gloriosa. Imagino que esta também ainda "não passou pela cabeça" do José Manuel Antunes, VICE-PRESIDENTE DE VALE E AZEVEDO.

3) o José Manuel Antunes, VICE-PRESIDENTE DE VALE E AZEVEDO, faz uma relação directa entre "vir para aqui com lenços brancos" e "à espera de que o Benfica não ganhe". Tal grunhice só pode advir de má-fé ou de extrema oligofrenia: como é evidente, um benfiquista vai para o Estádio da Luz para ver a sua equipa ganhar; não ganhando, e tendo o benfiquista razões de sobra para protestar contra o futebol-chouriço de Rui Vitória, digno do pior INATEL que se possa imaginar, o benfiquista saca do lencinho branco porque, apesar do que quer o José Manuel Antunes, VICE-PRESIDENTE DE VALE E AZEVEDO, o benfiquista ainda tem direito a ter opinião sobre o que se passa no clube. Nesta lógica bronca do José Manuel Antunes, VICE-PRESIDENTE DE VALE E AZEVEDO, diríamos que o José Manuel Antunes, VICE-PRESIDENTE DE VALE E AZEVEDO, “veio para aqui” há 20 anos apoiar e ser VICE-PRESIDENTE DE VALE E AZEVEDO “à espera de quê o Benfica não ganhe”.

“Essas pessoas estiveram frustradas à espera que o Benfica falhasse aquele golo. Quer dizer, ficaram felizes quando o Benfica não marcou aquele golo. E isso... não são benfiquistas, são sei lá o quê.”

Não satisfeito com os insultos grunhos com que presenteou todos os benfiquistas que mostraram lenços brancos ao treinador – e não, não foram “meia dúzia”, foram milhares de benfiquistas espalhados por todos os sectores do Estádio – o José Manuel Antunes, VICE-PRESIDENTE DE VALE E AZEVEDO, decidiu reforçar a ofensa, passando de “estavam à espera que o Benfica falhasse” para “frustrados e felizes quando o Benfica não marcou aquele golo”. Achar que houve um benfiquista no Estádio feliz com o golo falhado é mau; achar que milhares de benfiquistas no Estádio ficaram felizes com o golo falhado é péssimo; dizer em directo na BTV que estes milhares de benfiquistas querem mal ao Benfica e que ficam felizes com o insucesso do Benfica é um acto tão absolutamente sacana que só tem paralelo com o acto de apoiar e ser VICE-PRESIDENTE DE VALE E AZEVEDO.

Ao contrário de José Manuel Antunes, VICE-PRESIDENTE DE VALE E AZEVEDO, estes benfiquistas, insultados em directo na BTV por José Manuel Antunes, VICE-PRESIDENTE DE VALE E AZEVEDO, não têm direito a aparecer na BTV a falar no clube, não têm direito a ver o jogo na Bancada Presidencial, não têm direito a promover a sua empresa de viagens em programas da BTV. Ao contrário de José Manuel Antunes, VICE-PRESIDENTE DE VALE E AZEVEDO, quando o jogo acaba, estes benfiquistas não saem do Estádio por zonas privilegiadas nem podem comer canapés e beber conhaque em camarotes repletos de adeptos de outros clubes, alguns verdadeiramente inimigos do Benfica.

Os benfiquistas insultados em directo na BTV por José Manuel Antunes, VICE-PRESIDENTE DE VALE E AZEVEDO, quando o jogo acaba, geralmente têm de ir a correr à chuva para os autocarros que os levarão durante horas e centenas de quilómetros até às suas casas no Algarve, no Alentejo, no Minho, em Trás – os – Montes,  nas Beiras, para chegarem já de madrugada e pouco depois acordarem para mais um dia de trabalho. Estes benfiquistas gastam o que têm e o que não têm para apoiar o Benfica, para verem o Benfica ao vivo, para poderem festejar golos do Benfica. Estes benfiquistas não ficam felizes com o insucesso do Benfica e o mínimo que se exige a quem tem o privilégio de aparecer na televisão do clube é que os respeitem e não, como fez José Manuel Antunes, VICE-PRESIDENTE DE VALE E AZEVEDO, os insultem nem lhes digam que eles não são benfiquistas. É que, ao contrário de José Manuel Antunes, VICE-PRESIDENTE DE VALE E AZEVEDO, estes benfiquistas não são responsáveis pelos negros anos 90 em que um Glorioso Clube foi afundado quase até à extinção por uma corja de aldrabões, incompetentes e lambe-cus da qual fez parte José Manuel Antunes, VICE-PRESIDENTE DE VALE E AZEVEDO.

“Quase agentes dos inimigos do crime infiltrado aqui na nossa casa e eu vou combatê-los um a um."

“Agentes dos inimigos do crime infiltrado” são todos aqueles que Vieira colocou dentro da estrutura do clube – portistas, sportinguistas, boavisteiros; são todos os que, como José Manuel Antunes, VICE-PRESIDENTE DE VALE E AZEVEDO, apoiam um Presidente  ex-amigo de Pinto da Costa, um Presidente que apoiou inequivocamente duas vezes Fernando “Facturas do Apito Dourado” Gomes para a Liga e para a Federação, um Presidente que mantém uma relação promíscua com  Joaquim Oliveira, um Presidente que vê as contas chumbadas em 2012 e, contra os estatutos do Benfica, nem sequer agenda uma Segunda Assembleia, um Presidente que insulta os benfiquistas nas Assembleias-Gerais, um Presidente que descaradamente mente aos benfiquistas em todas as entrevistas, um Presidente que promove uma perseguição aos benfiquistas na televisão e no jornal do clube, um Presidente que só se rodeia de croqueteiros, sem-espinha, lambe-cus, que vão para a BTV dizer que os adeptos e sócios do Benfica fica  felizes quando um jogador do Benfica falha um golo no último minuto.

Caro José Manuel Antunes, VICE-PRESIDENTE DE VALE E AZEVEDO e um dos principais responsáveis pela quase extinção do Glorioso Sport Lisboa e Benfica, eu e todos os que fazem parte deste blogue que há mais de 10 anos defende o clube do charco em que puseram o Benfica, aqui lhe garantimos que vos vamos combater, um a um, croquete a croquete, lambe-cus a lambe-cus, invertebrado a invertebrado, até não restar um que se ache no ignominioso direito de insultar outros benfiquistas na televisão do clube.

Caro José Manuel Antunes, VICE-PRESIDENTE DE VALE E AZEVEDO, quando o Benfica voltar finalmente a ser um clube livre, democrático e universal, nenhum benfiquista, nem o José Manuel Antunes, VICE-PRESIDENTE DE VALE E AZEVEDO, alguma vez voltará a ser insultado, humilhado e desprezado na BTV. Do alto do 4°Anel, Cosme Damião viu este vídeo e chorou de vergonha.



sábado, 10 de novembro de 2018

O meu melhor 11 de sempre (que vi jogar)


Michel
Veloso, Mozer, Ricardo, Schwarz
Paulo Sousa
Paneira, Rui Costa, Chalana
João Pinto, Jonas

terça-feira, 6 de novembro de 2018

O Túnel da Luz


Não sei o que é, ao certo; se o crescendo

"Sou dooooo Beeenfiiiiica"

se é o orgulho que aquela voz transporta, como que carregando nas sílabas todos os momentos gloriosos que este clube viveu

"e iiiiiiiiiiisso m´envaideeeece"

ou talvez a voz radiofónica dos grandes tenores do século passado misturada com as acentuações perfeitas em português-veludo das personagens dos filmes a preto e branco de filmes de Leitão de Barros, Perdigão Queiroga ou Arthur Duarte

"tenho aaaaaaaaaaa geniiiiica que a qualquer engrandeeeeeeeeeeeece"

parece que vejo a casa da minha avó, a sala ampla, portadas para a luz branca-transparente das paredes solares do Alentejo, na mesa um bordado minucioso, fotografias gastas, um terço, um rosário e o barbudo-mártir ao lado dos pratinhos de pássaros, de mãos e braços abertos para a eternidade. As asas de anjinhos de loiça querendo voar sobre os livros e algo ou alguém, de dentro das histórias fechadas em lombadas a couro vermelho e letras a ouro, que sai e anuncia

"Sooooou de um cluuuuube lutadoooooooooooooooor"

e parece que vejo a sala, depois a casa toda, a rua, a vila e todas as salas, ruas e vilas encostadas de ouvidos à escuta junto à telefonia, enquanto Artur Agostinho canta "É goooooooooooooolo do Benfica, é gooooooooooooolo de Eusébio" e os pássaros dos pratos aterram nos ombros de famílias inteiras em silêncio, escutando golos e passes e defesas, imaginando os lances, criando novos movimentos, inventando as cores que não vêem nos botões do aparelho que lhes sopra que o Benfica está a voar sobre o Real Madrid, que é Cavém, Coluna, de novo para Cavém, abre para Águas, levanta de primeira para a área, Eusébio amortece, remate de Cavém, golo

"que na luuuuta com fervoooooooooooooooooooooooooor nuuuuuuuuuuuunca encontrou rrrrrrrivaaaaaaaaaaaaaaaaaaaal"

e o país explode vindo de um soturno silêncio de damas-de-companhia, medos, fomes, gabardinas e chapéus nos balcões dos cafés, para um grito que faz levantar as saias da donzela tímida que esperava o seu prometido no banco de jardim, que faz ouvir a voz daquele velho sisudo que não dava palavras ao mundo, faz abrir de alegria a cara do pai-de-família que, todo metido no ar, prometeu bebidas, comidas e o que se quisesse a metade do povo que se abraçava, se beijava, se aleijava, se atirava contra as amarguras do tempo enquanto as portas se partiam, mesas eram mergulhadas na intempérie de pernas, braços, cabeças, gente aos pulos, gente aos gritos, gente aos beijos, o padeiro a agarrar na jarra de flores e a levantá-la no ar, em gesto de vitória: "é nossa", e as crianças, espantadas, aos gritos histéricos, a mãe "cuidado com o deus-menino" e o deus-menino estatelado no soalho, embebido em aguardente e ferido de morte pelas vidraças da garrafa, dos copos, das loiças, pés atrás de pés, espezinhado o filho de Nosso Senhor e, na parede, o barbudo parecendo rir de sangue

"neeeeeeste nooooooooooooooosso Poooooooooooooooooooortugaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaal"

não posso dizer, não sei dizer, o que é, que me faz levantar no Estádio, emocionar-me, ter amor desta maneira por uma ideia que não tem corpo nem precisa de ter, por um ideal, um voo, um sentimento, uma dor e uma alegria tamanhas sempre que oiço

"Seeeeeeeer Beeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeenfiquista"

e transporto dentro de mim todas as memórias misturadas numa só, passado, futuro, presente tudo numa amálgama de tempo em que vejo slides difusos, pequenos momentos, grandes momentos, vêm-me à alma aqueles instantes e o Estádio, aquele ecoar do golo que parecia que começava por debaixo da relva e ia espraiando a voz, subindo lentamente pelas escadas e pelos corpos das pessoas, era um língua de som que, quando a bola tocava as redes, nos afundava como onda, goooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooolo e nós morríamos uns nos outros, engalfinhávamo-nos uns nos outros, já sem saber se as pernas e os braços eram nossos ou dos outros, uma massa compacta de gente e cachecóis, bandeiras, chapéus, camisolas, sapatos, fumo, papelinhos e o ritmo que subia, pulsava, o chão tremia, o ar vibrava e começava a dança

"é ter na aaaaalma a chama imensa, que nos conquiiiiiiiiista e leva a palma à luz inteeeeeeensa"

e o Sol vinha mesmo, risonho, beijar-nos, em tardes que pareciam infinitas, tardes que amoleciam o betão e se prolongavam para lá do possível

"com orgulho muito seeeeeeeeu, as camisolas berrantes, que nos campos a vibraaaaaaaaaaaaaaaaaaar"

e os velhos lembravam-se de ter erguido com as mãos as vitórias e o Estádio, os novos ouviam e queriam fazer parte, os Pais levantavam os filhos, mostravam-lhes o que era aquilo, queriam-nos ali para toda a vida, e os filhos mostravam orgulho e gratidão por poderem vibrar, e pais, filhos, avôs, netos, estranhos, conhecidos, amigos, amantes, namorados olhavam-se dentro do golo e cantavam

"são papooooooilas saaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaltitanteeeeees"

e então calava-se tudo um instante, um pequeno instante em que 120.000 pessoas não faziam um único ruído, jogadores e adeptos numa espécie de comunhão do silêncio, os holofotes como templos antigos, os placards electrónicos gigantes anunciavam 00:00, cheirava a relva e a terra molhadas, a fumos inebriantes, sentia-se um pulsar que era a própria respiração do Estádio, tum tum tum tum tum tum, e era de dentro dele, por osmose do betão para os pés, depois pelo corpo, até ao céu, que se iniciava o estrondo da batucada

"Benfica, Benfica, Benfica, Benfica, Benfica, Benfica, Benfica, Benfica, Benfica, Benfica, Benfica, Benfica, Benfica, Benfica, Benfica!"


domingo, 4 de novembro de 2018

A dita Estrutura



Foi mais ou menos há 3 anos e meio que a palavra "Estrutura" entrou no léxico benfiquista.
Nunca entendi muito bem a sua essência.

Na altura pareceu ser o resultado de uma luta de egos entre treinador e Direcção. 
A um era atribuído todo o mérito de um bi-campeonato enquanto os outros também queriam propaganda.

"Não é o treinador que ganha títulos, é a estrutura."

O mundo do Futebol é um mundo de extremos - ou estamos no topo ou na miséria.

E o ciclo de Jorge Jesus no Benfica também viveu desses extremos. O Benfica de Jorge Jesus era isso mesmo, era dele. Tudo rodava consoante as suas vontades. O Benfica era o mundo louco do Jorge Jesus. Ganhava pela sua tenacidade e pela sua loucura. Perdia pela sua teimosia e pela sua loucura.

Os jogadores entravam e saíam consoante os seus humores.
Tudo era decidido pelo próprio. Foi-lhe dada carta branca e total liberdade.

Jorge Jesus tinha a sua própria comunicação. Jorge Jesus tinha os seus próprios comportamentos. Era tudo dele. Ou pelo menos era segundo esta premissa que ele agia.

Mas sabemos o quanto o actual presidente do Benfica precisa alimentar a sua epopeia enquanto salvador do Benfica.

E assim nasceu a disputa pelo protagonismo – Treinador vs Estrutura.

Sou totalmente a favor de uma metodologia à inglesa do treinador enquanto Manager.
O treinador cria, alimenta e alimenta-se da estrutura. Está envolvido como líder em cada processo do dia a dia do clube. E porquê? Porque este é cérebro futebolístico da estrutura, do clube.

Vejo Jorge Jesus com competências para ser um Manager? Claro que não. É um bicho do treino que não consegue ser limitado às ideias e decisões de outros mas não tem competências além treino.

No pós Jorge Jesus o Futebol passou a ser liderado e conduzido por uma Estrutura já implementada e na qual um treinador estaria limitado ao seu papel integrado nesta.

Passou assim a ser a estrutura, aquele Ser que está 10 anos à frente de qualquer rival, que iria gerir todo o futebol do clube.

O treinador não passaria de um mero funcionário, sem voz e com directrizes a seguir.
Passa a ser somente responsável por treinar e gerir os jogos. Tem de respeitar a rota traçada pela dita Estrutura. Há jogadores que tem de lançar. Há jogadores nos quais tem de insistir. Há jogadores que tem de encostar. Há uma Comunicação que tem e seguir. Há uma gestão de compras e vendas que tem de respeitar.

Tudo funciona sem o seu input. Porque há uma Estrutura que já definiu tudo e que toma todas as decisões.
Os sucessos são da dita Estrutura. Os insucessos... a Estrutura não está estruturada para responder por estes.

Que treinador aceita trabalhar nestas condições? Que treinador aceita ser só uma figura dentro de uma enorme Estrutura?
Aqueles que têm consciência que estão a competir em um nível muito superior à sua capacidade. Ou então aqueles que não têm estofo para se imporem.

Reflito sobre como esta Estrutura surgiu e como pretende funcionar mas continuo sem a entender num contexto futebolístico. Só vejo cimento, departamento de comunicação, scouting e dirigismo. E conhecimento do jogo jogado?

A dita Estrutura não deveria ser gerida por gente do Futebol? Não deveria haver um core futebolístico à volta do qual toda a Estrutura funcionasse?

É isso que não percebo na dita Estrutura.

Já que nos é vendida a sua existência como algo que guia o clube 10 anos à frente de qualquer outro, o que eu gostaria de lá ver era alguém capaz de olhar além do óbvio.
Qualquer adepto, qualquer Calado e qualquer Rui Santos, é capaz de dizer que um treinador é insuficiente quando a equipa se encontra a perder.

A equipa ganha então está tudo bem. A equipa perde então está tudo mal.

O que queria ver no Benfica era alguém capaz de ver as insuficiências de um treinador em pleno treino. Alguém capaz de ver a qualidade do treinador numa maré de derrotas. Alguém capaz de perceber a incompetência de um treinador mesmo numa sequência de vitórias.

Tem de existir na Estrutura tenha Visão para o jogo. Quem reaja, com 6 meses de antecedência, como os adeptos reagiram após o jogo com o Moreirense.

Um treinador não passa de óptimo a péssimo de um jogo para outro. Há um caminho que é percorrido jornada após jornada, treino após treino.E este caminho, este trabalho, não parece ser criticamente acompanhado e avaliado pela dita Estrutura.

Olhamos para o nosso Benfica. Todos conhecemos o nosso clube e como este é gerido. Há anos que o observamos. Há anos que o vivemos.

Se o Rui Vitória tem um papel menor na Estrutura, se o Nuno Gomes foi corrido, se o Rui Costa é pouco mais que uma mascote do presidente paga a peso de ouro, quem é que ali analisa o trabalho diário da equipa principal? Quem é que ali analisa o que de 3 em 3 dias se desenvolve nos relvados nacionais e internacionais?

É o Vieira? Um presidente que nunca percebeu nada de bola?
É o Domingos Soares de Oliveira?
É o José Eduardo Moniz?
É o Nuno Gaioso?
É o Silvio Cervan?
É o Paulo Gonçalves?
O Jorge Mendes?
O Luís Bernardo?
O Tiago Tacho Pinto?
Os cartilheiros Guerras, Boaventuras, Marinhos e afins?

Alguém que por favor me explique esta Estrutura. Por mais voltas que dê não vejo nela mais que uma ideologia forçada em resposta à omnipotência do anterior treinador.

Nela não vejo mais que uma forma enviesada dos méritos serem conduzidos à imagem do presidente.

Porque de futebol ali dentro? Estamos demasiado carentes.