domingo, 29 de dezembro de 2013

Sintonias



Há quem diga que a língua portuguesa é uma das mais complexas do mundo, sendo composta por palavras com significados múltiplos e por múltiplas palavras com o mesmo significado. E não há tempos que melhor o confirmem que os últimos.

Depois da história do irrevogável, que a afinal não significa bem o que parece, temos as pessoas do Benfica a reinventarem a língua de Camões.

Já sabemos que hegemonia não significa bem o que até aqui pensávamos que significava, sabemos também que o conceito de aposta na formação assumiu todo um novo significado com as mentes que dirigem o nosso clube, ou sabemos ainda que o conceito de vitória é muito mais alargado que o 1º lugar de cada competição.

A última reinvenção de Vieira e Jesus é o conceito da palavra “sintonia”. Há uma semana vimos o nosso presidente a falar em cultura de exigência e a pedir que os adeptos exigissem da equipa, quase a incitar a recepções ao plantel bem ao jeito do que se faz no Dragão, mas sem que ele esteja presente, ou fazer corresponder um pedido de apoio à equipa por parte dos sócios com uma viagem para longe do plantel em dia de jogo, ficando nós a conhecer uma nova forma de sintonizar as palavras com os actos. Também há uma semana, lemos o presidente a afirmar que a eliminação da liga dos campeões constitui uma desilusão para uma semana depois ouvirmos o nosso treinador afirmar que afinal “fizemos uma boa liga dos campeões”, atribuindo assim um novo significado à sintonia entre pessoas.

É óbvio que Jorge Jesus está em melhor sintonia com a realidade do Benfica, pois de facto fizemos uma boa prova para o treinador que temos, é uma verdade, ainda que tenhamos sido miseráveis com o Olimpiakos em casa, e medíocres na Bélgica frente a um adversário que ali foi goleado pelos restantes 2 emblemas do grupo, mas que importa isso? O que importa é dizer que fomos eliminados com 10 pontos enquanto o Zenit passou com 6, não é? O que importa é que temos um presidente em sintonia com o treinador e um treinador em perfeita sintonia com a ambição dos adeptos e com uma sintonia nunca vista com o plantel.

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Antes que seja tarde

Amigo,
tu que choras uma angústia qualquer
e falas de coisas mansas como o luar
e paradas
como as águas de um lago adormecido,
acorda!
Deixa de vez
as margens do regato solitário
onde te miras
como se fosses a tua namorada.
Abandona o jardim sem flores
desse país inventado
onde tu és o único habitante.
Deixa os desejos sem rumo
de barco ao deus-dará
e esse ar de renúncia
às coisas do mundo.
Acorda, amigo,
liberta-te dessa paz podre de milagre
que existe
apenas na tua imaginação.
Abre os olhos e olha,
abre os braços e luta!
Amigo,
antes da morte vir
nasce de vez para a vida.


Manuel da Fonseca

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Até no Natal

O Natal é tradicionalmente uma época em que nos juntamos aos familiares mais próximos, trocamos presentes, carinhos e conversas sobre as vivências mais recentes e perspectivas mais imediatas. É essencialmente uma época de recato e alheamento de tudo o que extravase as 4 paredes de nossa casa.

Seria suposto e até expectável por parte de quem me é mais próximo, que desligasse um pouco do Benfica, deixasse essa minha paixão um pouco de lado por 2 dias que fosse e fingisse por algumas horas que o Benfica não existe.

Porém, é-me impossível aceder a tais pretensões, seja porque há sempre alguém que me oferece algo com o símbolo do glorioso – e não me lembro de algum Natal em que não me tenha sido oferecido algo relacionado com o Benfica, uma toalha de mesa que seja e eu adoro – seja porque, como este ano, passando o Natal longe da família, o farei entre amigos e namorada, sendo inevitável que em algum momento surja a palavra “Benfica”, seja tão só por fazer questão de passar junto ao Estádio da Luz em pleno dia 25, algo que me leva de volta à minha origem e a algum dos presentes impregnado de Benfica, atenuando assim a falta que os que nos são mais queridos nos fazem.

Mas nem no Natal me esqueço do Benfica também porque o Natal é Benfica, não há outra época do ano em que tanto se fale na paz do nosso branco, não há outra época no ano em que surjam mais bravos e heróis do nosso vermelho, não há outra época do ano em que a nobreza da nossa águia seja tão repetida e não há outra época do ano em que se purgue tanto pelo “E PLURIBUS UNUM” entre os nossos.

Natal é Benfica, e o Benfica é todo o ano!

A todos deixo os meus votos de um feliz e Glorioso Natal.

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

E se fossemos todos como Vieira?



Sim se nós sócios, adeptos, simpatizantes, fossemos como Vieira como agiríamos? Se todos fossemos sócios tricolores na expectativa de perceber de qual dos três maiores clubes de Portugal conseguiríamos extrair mais benefício? Se fossemos todos adeptos de Benfica, Porto e Sporting em simultâneo, o que seria do Benfica? Se fossemos todos como Vieira, como agiríamos de cada vez que a equipa se desloca ao Dragão? Se fossemos todos como Vieira, onde estaríamos no jogo da época passada frente ao Estoril em casa? Se fossemos todos como Vieira, quem teria ido a Setúbal na passada sexta-feira apoiar a equipa? Se fossemos todos como Vieira, o que sentiríamos ao ver o Porto campeão? Se fossemos todos como Vieira, como reagiríamos à mensagem de natal do querido líder? Se fossemos todos como Vieira, qual seria a nossa “cultura de exigência”?

Mais uma vez, responda quem souber. Na minha humilde opinião, se fossemos todos como Vieira, o Benfica desse mesmo Vieira não teria clientes, quer dizer, otários, ou melhor, adeptos que sustentassem o crescimento financeiro… de alguns.

Oblak, o melhor guarda-redes do mundo...

... pelo menos até sofrer o primeiro golo.

Com Artur de fora por tempo indeterminado, uma vez que a luxação no ombro pode não ser tão grave quanto inicialmente aparentava, Oblak assumiu com naturalidade a baliza do Benfica. Em Setúbal, o jovem esloveno teve muito pouco trabalho mas não tremeu e o Benfica saiu do Sado com os 3 pontos. Está encontrada a solução para os problemas defensivos do Benfica. Ou então estamos perante mais um episódio de histerismo colectivo injustificado por parte dos adeptos. Vou mais pela segunda.

Não entendo o entusiasmo que se gerou em redor da lesão de Artur e da titularidade de Oblak. Fez-se do guarda-redes brasileiro o bode expiatório dos problemas defensivos, atribuíram-se as culpas e, com a lesão, o problema está resolvido. Nada mais errado.

Vamos por partes: é de facto verdade que Artur tem estado menos feliz nos últimos jogos ao serviço do Benfica. Não é chamado a intervir com frequência durante os jogos, algo comum nas partidas das equipas grandes, e quando é chamado à acção não tem "salvado" o Benfica. Muitos dos lances em que é chamado a intervir até são, de facto, lances iminentes de golo, mas a verdade é que Artur não tem safado o Benfica em nenhum. A juntar a isto, as intervenções recentes menos felizes em jogos com o Arouca ou Olhanense não ajudam a que a sua popularidade esteja em alta. Será, portanto, Artur Moraes uma nódoa? Não, não é. Provavelmente até é o guarda-redes mais consistente desde Robert Enke. Quando substituiu Roberto, e até mesmo durante a sua primeira temporada, realizou exibições muito positivas que lhe valeram um estatuto de intocável até mesmo junto dos adeptos mais exigentes. E assim se passa do 80 para o 8. É assim o loop dos guarda-redes no Benfica: são excelentes, muito bons, bons, razoáveis, suficientes, fracos, fraquinhos, medíocres, miseráveis, umas bestas, nem para tratar da relva serviam. O problema não está no guarda-redes. Ou se está, o guarda-redes é uma ínfima parte dos nossos problemas. O modelo defensivo, a forma como a equipa se desorganiza quando perde a bola, a forma como faz as transições e como defende as bolas paradas, isso sim são os verdadeiros problemas. Deixaremos essas questões para outras núpcias.

Nem Oblak é a oitava maravilha deste mundo. Quantos dos que estão a colocar Oblak no patamar de Cech, Neuer ou Buffon é que já viram mais de 5 ou 10 jogos do esloveno? Como sabemos, hoje, 23 de Dezembro, Oblak é o melhor guarda-redes do mundo. Quando sofrer o primeiro golo, quando der o primeiro frango, entrará para a grelha da Luz, pedir-se-á a sua cabeça e iremos clamar por um novo herói, um sucessor de Zé Gato, Bento ou Preud'homme.

Não estou com isto a diminuir ou a colocar em causa as capacidades de Oblak. Do pouco que vi, e com a idade que tem, Oblak tem tudo para ser um bom guarda-redes, capaz de assumir a titularidade do Benfica a curto/médio prazo. E se corresponder nestes próximos jogos, merece ficar com a titularidade quando Artur regressar da lesão. Mas não embandeiremos em arco: nem Artur é tão mau como se tem pintado por aí, nem provavelmente Oblak é tão bom quanto gostaríamos que fosse. Até porque, com apenas 20 anos, precisa de crescer. De crescer e de que alguém aposte nele.

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

A cultura de exigência segundo Vieira



Numa mensagem de Natal publicada no site oficial do clube, e que pretende ser de balanço do ano civil que brevemente finda, Luís Filipe Vieira vem reiterar o caminho que decidiu trilhar desde o inicio de época, ou seja, tentar explicar a todos que deu todas as condições ao treinador da equipa de futebol para triunfar e que se isso não acontecer a culpa será exclusivamente sua.

A pressão que Vieira exerce sobre Jorge Jesus é legítima e compreensível, sendo apenas de lamentar que seja tardia. É a pressão de quem, supostamente, lidera e quer ganhar, mas essencialmente é a pressão de quem se quer ver ilibado de eventuais responsabilidades de um possível insucesso.

O presidente fala numa cultura de exigência que deve estar sempre presente no Benfica, algo que concordo e reafirmo. No entanto, isto leva-me a perguntar: Onde estava essa cultura de exigência na hora da renovação de contrato com Jorge Jesus? Qual foi o critério de exigência que motivou Vieira a manter as condições salariais absurdas de quem tão pouco ganha? Em que lugar se escondeu a exigência na hora em que se reforçou os poderes a um treinador que perde sistematicamente em momentos decisivos? Em que gaveta ficou a exigência quando se deixou ser chantageado por Jorge Jesus com um eventual interesse nos seus serviços por parte do FC Porto? Em que parte do espirito de Vieira se encontra a exigência de não deixar que os sócios lhe exijam outros resultados de forma livre e descomprometida? Que cultura de exigência tem de si próprio, um homem que teme o confronto politico? Qual é a cultura de exigência que preside a 13 anos e 2 títulos de campeão nacional de futebol? Que exigência tem um estádio despido de entusiasmo e adeptos? Que cultura de exigência se transmite por telefone? No fundo, que cultura de exigência é essa que leva um clube a ver-se expropriado dos seus valores mais elementares?

Responda quem souber.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

BENFICA É O 35º CLUBE EUROPEU COM MAIS TÍTULOS NOS ÚLTIMOS 10 ANOS!



Oh, os imortais rankings, os imortais rankings. Os números que enganam os mais incautos, as estatísticas que, bem orientadas, papagueadas e adulteradas, fizeram do Benfica um clube no qual já é normal ter um Presidente há 10 anos e praticamente não ganhar nada. O mais curioso disto é que este "15º plantel mais valioso do mundo", esta extraordinária notícia que alegrou o adepto do café, o benfiquista que acha Vieira o salvador não sabemos bem do quê, acaba por ser uma notícia que só espelha a incompetência de quem está no Benfica. Isto se o adepto quiser pensar. O que demonstra, isto? Demonstra que Vieira endivida brutal e criminosamente o clube e que Jesus, com os plantéis mais caros de sempre (além do seu próprio pornográfico ordenado), não ganha quase nada. 

Mas eu gosto de estatísticas. Acho graça a elas, sobretudo quando são usadas por gente que, de tanto querer defender o indefensável - acabando por ofender o Benfica -, as usa de forma caótica, procurando na subjectividade a razão de uma desculpa. Mas eu gosto de estatísticas, a sério que gosto. E é por isso que eu agora também vou fazer um estudo. A única diferença deste meu estudo para os estudos encomendados pela máquina propagandística - que, concedo, trabalha bem, embora não seja muito difícil enganar papalvos - é que ele tem uma vertente espectacular: analisa o que realmente importa: títulos. É uma estatística, de facto, de factos. É factual e é sobre o que interessa. Disto não vemos nós no teu jornal, Ó Zé Manel Delgado. Se comeres menos croquetes na Catedral da Cerveja, talvez te dê para exerceres essa coisa tão absurda que é o, digamos, jornalismo. 

Vou inovar: Estudo sobre os títulos conquistados pelas principais equipas europeias dos principais campeonatos europeus nos últimos 10 anos, que são os gloriosos anos nos quais temos sido brilhantemente geridos pelo grande Presidente Luís Filipe Vieira. Títulos nacionais (excluo a Taça da Liga porque não existe em todos os campeonatos) e internacionais. Chamo ainda a atenção para o facto de o estudo estar incompleto, visto que só pesquisei as equipas de que me lembrei e nem sequer explorei todos os campeonatos europeus. Digamos que é um favorzinho que eu faço ao nosso grande líder só porque não gosto de pontapear quem já vive na lama.

Ora atenta, Pedro Guerra - perdão, Fernando Santos; desculpem, Luís Fialho; não, Luís Lemos; absurdo, Tiago Pinto; calma, Juan; foda-se, Zé Manel Delgado; caramba, Vítor Serpa:


PORTUGAL

Porto - 9 Campeonatos; 5 Taças de Portugal; 8 Supertaças; 1 Champions; 1 Taça Uefa; 1 Liga Europa; 1 Intercontinental (26 títulos)


ESPANHA

Barcelona - 6 Campeonatos; 2 Copas do Rei; 6 Supertaças; 3 Champions; 2 Supertaças europeias; 2 Intercontinentais (23 títulos)

Real Madrid - 4 Campeonatos; 1 Copa do Rei; 3 Supertaças (8 títulos)

Atlético de Madrid - 1 Copa do Rei; 2 Ligas Europa; 2 Supertaças europeias (5 títulos)

Valência - 1 Campeonato; 1 Copa do Rei; 1 Taça Uefa; 1 Supertaça europeia (4 títulos)


FRANÇA

Lyon - 6 Campeonatos; 2 Taças; 6 Supertaças (10 títulos)

PSG - 1 Campeonato; 3 Taças; 1 Supertaça (5 títulos)



ITÁLIA

Inter - 5 Campeonatos; 4 Taças; 4 Supertaças; 1 Champions; 1 Intercontinental (15 títulos)

Milan - 2 Campeonatos; 1 Taça; 2 Supertaças; 2 Champions; 2 Supertaçaseuropeias; 1 Intercontinental (10 títulos)

Juventus - 3 Campeonatos; 3 Supertaças (6 títulos)


INGLATERRA

Manchester United - 6 Campeonatos; 1 Taça; 6 Supertaças; 1 Champions; 1 Intercontinental (15 títulos)

Chelsea - 3 Campeonatos; 4 Taças; 2 Supertaças; 1 Champions; 1 Liga Europa (11 títulos)

Liverpool - 1 Taça de Inglaterra; 1 Supertaça; 1 Champions; 1 Supertaça europeia (4 títulos)

Arsenal - 1 Campeonato; 2 Taças; 1 Supertaça (4 títulos)


ALEMANHA

Bayern - 6 Campeonatos; 6 Taças da Alemanha; 2 Supertaças; 1 Champions; 1 Supertaçaeuropeia (16 títulos)

B. Dortmund - 2 Campeonatos; 1Taça da Alemanha; 2 Supertaças (5 títulos)


ESCÓCIA

Celtic - 6 Campeonatos; 5 Taças (11 títulos)

Glasgow Rangers - 4 Campeonatos; 3 Taças (7 títulos oficiais)


GRÉCIA

Olumpiakos - 9 Campeonatos; 6 Taças; 1 Supertaça (16 títulos)

Panathinaikos - 2 Campeonatos; 2 Taças (4 títulos)


TURQUIA

Galatasaray - 4 Campeonatos; 1 Taça; 3 Supertaças (8 títulos)

Fenerbahçe - 4 Campeonatos; 2 Taças; 1 Supertaça (7 títulos)


BÉLGICA

Anderlecht - 4 Campeonatos; 1 Taça; 3 Supertaças (8 títulos)

Standard Liège- 2 Campeonatos; 1 Taça; 2 Supertaças (5 títulos)


HOLANDA

Ajax - 4 Campeonatos; 3 Taças; 4 Supertaças (11 títulos)

PSV - 5 Campeonatos; 2 Taças; 3 Supertaças (10 títulos)


SUÍÇA

Basileia - 6 Campeonatos; 4 Taças (10 títulos)

FC Zurique - 3 Campeonatos, 1 Taça (4 títulos oficiais)


RÚSSIA

CSKA - 4 Campeonatos; 6 Taças; 5 Supertaças; 1 Taça Uefa (16 títulos)

Zenit - 3 Campeonatos; 1 Taça; 2 Supertaças; 1 Taça Uefa; 1 Supertaça europeia (8 títulos)

Lokomotiv - 1 Campeonato; 1 Taça; 2 Supertaças (4 títulos)

Rubi Kazan - 2 Campeonatos; 2 Supertaças (4 títulos)


UCRÂNIA

Shakhtar - 7 Campeonatos; 5 Taças; 5 Supertaças; 1 Taça Uefa (18 títulos)

Dínamo Kiev - 4 Campeonatos; 4 Taças; 5 Supertaças (13 títulos)


Há mais equipas com mais títulos do que os fabulosos 4 (2 Campeonatos; 1 Taça de Portugal; 1 Supertaça) do Benfica nesta última década, mas deixemos assim, sejamos um pouco Guerrianos e usemos da hipérbole: SOMOS O 35º CLUBE EUROPEU COM MAIS TÍTULOS NOS ÚLTIMOS 10 ANOS!

Marquês?