segunda-feira, 1 de agosto de 2016

O lendário Estádio da Luz desapareceu para todo o sempre

1. Não tenho quaisquer dúvidas de que, à luz do Benfica do século XXI, o termo “pragmático” será seguramente o rótulo mais lisonjeiro com que a actual corrente “encarnada” brindará os vulgos “abutres”, “garotões” ou “vale azevedistas”. Algo que, à luz das respectivas práticas e valores defendidos, orgulha-me particularmente.

2. A volatilidade dos adeptos encontra-se, actualmente, desfocada do seu verdadeiro centro e propósito: ao sabor da bola que entra ou sai, de aquisições ou renovações de produtos comerciais, de uma cegueira e castração seguidistas que redundam num benfiquismo artificial, corporativo, comodista, bacoco: em suma, morto e enterrado. E todas as pré-épocas e títulos do mundo não alterarão esta realidade.

3. O Benfica: de liberdade, espírito crítico, discussão, compromisso, sentimento… já não lá está. Ficou gravemente ferido com a destruição do antigo (e verdadeiro) Estádio da Luz, tendo entretanto perecido a sucessivas estocadas perpetradas sempre pelos mesmos: os seus. Seja na forma de uma direcção que as efectiva, seja na forma de adeptos que não só o permitem, mas inclusive aplaudem-nas.

4. Porque o mal sempre floresceu perante a fraqueza ou apatia do bem. Porque, se não és parte da solução, és parte do problema.

5. Claro que existirão sempre por aí umas quantas ovelhas tresmalhadas. A teimar pensar pela sua própria cabeça. A desconstruir práticas e propaganda. A repor a verdade acerca da verdadeira essência do benfiquismo: porque, essas sim, não têm memória fraca, conhecedoras que são do Benfica em toda a sua gloriosa história (e não somente do seu período mais negro, com o qual os mesmos habilidosos de sempre procuram amedrontar os sócios, única e exclusivamente tendo em vista perpetuarem-se no poder).

6. Gente que teima em recordar e suspirar por tempos cada vez mais idos, cada vez mais apagados da memória e da alma colectiva. Em suma: a pregar aos peixes.

7. Como João Santos, para quem, a ideia de destruir o Estádio da Luz, seria o equivalente a destruir o Partenon de Atenas, o Coliseu de Roma ou as Pirâmides do Egipto. De que nos valeu o testemunho de um ex-presidente cujo currículo conta, entre outros feitos, com 2 finais na Taça dos Campeões Europeus (a verdadeira competição europeia do clube) e um combate incessante e notável à podridão que já então assolava o futebol nacional?

8. De nada. Quem de direito sabia exactamente ao que vinha. E nem sequer foi necessário um passado relevante de benfiquismo, um carisma absorvente ou uma argumentação distinta: bastou dinheiro, as promessas estafadas de sempre, amedrontar os adeptos com o discurso do “ou eu ou o caos” e a dose certa de falta de vergonha que, por norma, os caracteriza.

9. Independentemente das beneficiações que Wembley ou Maracanã mereceram, era agora imperativo nacional destruir o maior património desportivo e sentimental de parte significativa de uma população e país: pertença de um clube, note-se a contradição, supostamente falido e à beira do fim. Empurrou-se tal desígnio pela garganta abaixo até o barro colar à parede e o lendário Estádio da Luz, edificado pelas mãos dos seus e integralmente pago aquando da sua inauguração, desapareceu para todo o sempre.

10. Era então tempo de dar lugar ao crédito, ao endividamento galopante, de avançar desalmadamente (entenda-se, em força e sem alma) para a primeira de muitas obras de cimento e betão: e sem a qual, não tenho dúvidas, LFV nunca sequer teria considerado candidatar-se ao cargo. Exemplo prático da aplicação do princípio do lucro pessoal. Da teia de relações alternativas. Do conluio interpares com vista a eliminar as alternativas que verdadeiramente deveriam interessar, enquanto símbolo de vitalidade e de defesa dos superiores interesses do clube.

11. Quando os padrões tidos para concorrer e desempenhar um cargo desta natureza e dimensão atingem tal grau de perversidade; quando os “notáveis” (quais “D. Sebastiões”), ao invés de combatê-la, integram-na; quando uma instituição se transforma numa massa seguidista que segue acriticamente ao som do medo ou da “promessa da semana”… deixo à consideração de cada um o verdadeiro grau de grandeza e de futuro dessa mesma instituição.

12. Uns verão nessa realidade um sinal inequívoco: não de apoio a um qualquer boneco da praça, mas de estabilidade, coesão, força – enquanto sinal mais óbvio da mais significativa das vitórias após tão conturbado período. Pessoalmente, apenas vislumbro estagnação, favorecimentos mútuos, desonestidade intelectual – toda uma mixórdia de conjugações que constituem prova cabal do inexorável definhamento dos mais elementares princípios que sempre nortearam o clube e os seus.

13. Foi assim que o Benfica entrou no século XXI. Foi desta forma que o actual paradigma teve o seu início: da ideia habilidosa de progresso à sua crescente e palpável desumanização. Quantidades intermináveis de tijolo, cimento e betão construídos sobre o cemitério de princípios e valores no qual outrora assentaram os alicerces do que verdadeiramente conta: a essência da alma benfiquisma.

14. Aqui e ali, ainda vou acompanhando o Benfica. Satisfeito por saber que ainda vai aportando alegria a tantos dela necessitados. Contudo, acabo por fazê-lo invariavelmente com indisfarçável desencanto: como o da óptica de um progenitor que viu um dos seus transformar-se em algo que estaria longe das suas intenções iniciais, não lhe suscitando particular orgulho. De quem sabe que, entre o que foi e o aquilo em que se tornou, muito de bom foi perdido.

15. Ciente que estou de que somente um significativo (e inevitável) trambolhão o fará acertar o passo. Uma válida aprendizagem somente passível de ser adquirida na adversidade: mãe do conhecimento da vida. Nos presentes termos, quiçá passível de ser administrada por terceiros, por aqueles que lhe querem pior – tal a sobranceria, cegueira e conspurcação que assola todos quantos dele deveriam cuidar.

16. Ou talvez seja somente necessário dar tempo ao tempo, aplicando-lhe a mesma lógica de leis como a da gravidade. Onde tudo o que sobe, tem de descer. De que é exemplo um passivo gigantesco, histórico e irresponsável. De que é exemplo a curiosidade factual em como, com vista a alcançar os mesmos saldos maquilhados e tangencialmente positivos de sempre, vai sendo necessário, a cada ano que passa, cada vez mais, mais, mais… Mesmo contando com toda a parafernália de acordos, transferências e lucros tão propagandeados.

17. Mais, mais, mais… Como aquele que, não sendo hábil nadador, vai dando aos braços o melhor que pode e sabe… mas que, invariavelmente, não sai praticamente do mesmo sítio. O tempo vai passando. As suas reservas vão diminuindo. Sem o devido auxílio, irá invariavelmente afundar-se.

18. Ano após ano: oportunidades irremediavelmente perdidas. Essas, já não voltam mais. E quando o filão se esgotar? O que restará para proteger? Quem ficará para apanhar os cacos e fazer deles o que seja? Que será de todos aqueles que acreditaram? Que depositaram as respectivas carreiras, o destino das famílias, o seu dinheiro suado e a boa-fé inerente a um coração que se abriu à crença na decência humana?

19. Um dia, muitos compreenderão, em toda a sua extensão, a distância que separa o genuíno sacrifício pessoal do mais puro egoísmo. Do bacoco culto de personalidade. Da lucrativa desonestidade intelectual. Da irresponsável e inenarrável política “agregadora”. Do atestado estatutário de ignorância passado àqueles que, ano após ano, os louvam.

20. Até lá, venha mais um canal propagandístico directivo: desta feita, na forma de rádio. Venham mais jogadores e transacções milionárias. Mais betão e cimento onde houver pinga de solo virgem. Mais acordos com nações desrespeitadoras dos mais elementares direitos humanos. Mais bajuladores. Mais vendidos. Mais robôs. Mais copinhos de leite. Mais banha da cobra. Mais areia para os olhos. Mais, mais, mais… que é disso que este povo gosta.

21. Que enquanto a chibata vai e vem, folgam as costas. Pelo menos, até ao dia em que a factura chegue – não a que é para ir sendo gerida, mas a que terá irremediavelmente de ser paga (assim o cinto aperte verdadeiramente e esta bandalheira complacente cesse de uma vez por todas). E tudo aquilo em que se empanturraram não sirva senão para lhes provocar uma indigestão. Não será como a que teve início na segunda metade dos anos 90. Será pior: muito pior. E a troco de quê verdadeiramente?

22. O Benfica está a perder: não para o FCP ou para o SCP, mas contra si mesmo. Está a perder para o egoísmo pessoal. Para o culto da personalidade. Para a mediocridade: por deixar-se manietar por tão pouco e, assim, recusar aspirar ao melhor de si mesmo. O Benfica está a perder… e por muitos. Resta saber se ainda tem o que é preciso para dar a volta ao resultado.

RedMist

18 comentários:

António Zeferino disse...

Concordo em grande parte com o que dizes, mas vamos por partes, infelizmente o antigo Estádio da Luz não tinha condições para os tempos que correm principalmente ao nível da segurança, o projecto do Vale tudo seria uma solução, mas seria sempre uma solução extraordinariamente difícil de realizar e que possivelmente ficaria mais cara, mas seria a única solução para inovar o que já estava feito. Logo sobre o endividamento, estamos conversados, seria ela por ela. Quanto ao passivo também concordo, no entanto, só poderemos tirar conclusões a mais longo prazo, pois muito desse passivo deve-se ao investimento feito na formação e em infraestruturas.

Quanto à artificialidade, existe, mas não há um clube grande no mundo que se salve disso, por isso pode-se dizer que é um mal geral da sociedade capitalista em que vivemos e do futebol em particular. Existem casos bonitos como o United of Manchester que vão tentando ir ao mais genuíno que há no desporto e no futebol, mas para os "adeptos de plástico" isso pouco ou nada lhes diz.

Olhando para o tema do artificial filosoficamente, verifica-se que é um mal geral a toda a sociedade, desde a "União" Europeia, até ao dinheiro, até às hipervalorizações das empresas tecnológicas americanas, ao tratamento de uma simples dor de cabeça, passando pelo desporto (equipas compradas por multimilionários que necessitam de lavar dinheiro, casos de doping onde vale tudo) e até à própria alimentação. Acho que o mal aí não é propriamente do Benfica nem das pessoas que o lideram.

Isaías disse...

Caro Ricardo,

Absolutamente notável este texto do RedMist.
Tiro-lhe o chapéu (que não uso).

Cumprimentos,
Isaías

Adamastásio disse...

Clap clap clap clap clap clap clap.

Sportinguista não cota disse...

Vais ser bombardeado.

Anónimo disse...

Grande texto, grandes verdades!

Rui Pinheiro

rosario negrao disse...

Por tudo aquilo que foi escrito neste artigo penso que o seu autor entende que tudo
o que esta a ser feito no SLB nos ultimos anos está mal, esta a destruir o clube e os seus valores....
Só dizer mal, criticar não resolve!!!!
Penso que se trata de alguem que de alguma maneira ja esteve ligado ao SLB... então o repto que eu sempre deixo a quem critica é apresentar alternativas e aproveitar o momento para
...APRESENTAR-SE COMO CANDIDATO A PRESIDENTE DO GLORIOSO SLB NAS PROXIMAS ELEIÇÕES!!!!
Mas p.f. identifique-se com o seu verdadeiro nome e apresente um programa serio aos socios e eles terão a possibilidade de escolher livremente e em consciencia.
obg.

bio disse...

Rosário,

"Há para lá umas cláusulas" que o devem impedir de concorrer.

Cortesia de... exacto

Grande texto

Águia Preocupada disse...

Grande texto! Resume na perfeição no que se tornou o SLBenfica!
É verdade que os tempos são outros, as exigências são maiores e há que evoluir e modernizar! Pena é que esta evolução e modernização tenha sido feita totalmente à base do endividamento do clube e do enriquecimento de quem gere estas alterações!
Um clube como o Benfica, poderia e devia evoluir e modernizar-se e mesmo ganhar muito mais sem ter de aumentar desmesuradamente o passivo como está a acontecer!
Sim! Seria possível, se o Benfica não estivesse impestado de sanguessugas que usam o clube em seu proveito próprio! E assim se vai delapidando o património que existe, mas que lguém vai ter um dia que pagar!

P.S. Rosário! Porque acha que alguém para se candidatar tem que apresentar um programa sério aos sócios? Porque não exige o mesmo a quem nunca, repito NUNCA! apresentou qualquer programa nas várias eleições em que participou? Terá o salvador algum estatuto especial que o ilibe de apresentar programa?!

Chama que Anima disse...

Ainda bem que podemos opinar, discutir e comentar a vida do nosso Clube, nomeadamente neste blogue.

Neste caso, tenho uma visão exactamente oposta à apresentada e, garanto, não há em mim qualquer tendência para seguidismo ou pinga de artificialidade no meu benfiquismo.

Apesar de viver a mais de 100kms de Lisboa tive a oportunidade de assistir a dezenas e dezenas de jogos na Velha Catedral. Aliás, ainda cheguei a ver jogos na Luz antes do fecho do Terceiro Anel (em 85 ou 86, creio). Tive a sorte e a honra de estar presente nas duas maiores enchentes de sempre: Benfica-Steua de Bucareste em 88 e Portugal-Brasil em júniores em 91, ambos com 130 mil pessoas, segundo as informações de então. O antigo Estádio da Luz a abarrotar era qualquer coisa de impressionante! Chegava a meter medo, quando começávamos todos a bater com os pés. É algo irrepetível.

Mas, convenhamos, nos últimos anos era desolador. Com médias de assistências inferiores a 30 mil, o gigante de betão não só já não assustava os adversários como não servia para galvanizar a nossa equipa. Com vinte e tal mil pessoas era um deserto. E a tendência era para piorar, tornando-se cada vez menos atractivo e mais anacrónico.
Confesso que não fui um dos primeiros entusiastas da sua destruição e construção do novo estádio, mas as minhas razões eram essencialmente sentimentais, saudosistas.

Tenho como absolutamente certo que a construção da nova Luz foi um factor de recuperação e crescimento do nosso Clube. Temos um Estádio moderno, bonito e multi-funcional que é em si mesmo uma fonte de receitas. Não foi por acaso que foi palco de uma Final da Liga dos Campeões (não que isto seja o mais importante).

Quanto ao resto...o Benfica dos finais do séc.XX era um gigante com pés de barro. Um Clube falido, desorganizado, sem "rei nem roque". O prestígio de outrora desaparecera mergulhado em clamorosos falhanços desportivos, gestão danosa e humilhações públicas.

O Benfica de hoje está no limiar de uma das suas Eras mais Gloriosas! Nunca como agora fomos tão fortes em tantas Modalidades ao mesmo tempo. Ou fornecemos tantos jogadores para as diversas Selecções Nacionais. Ou fomos um Clube tão atractivo para jogadores estrangeiros. Ou tivemos a capacidade de gerar receitas tão elevadas, seja em transferências de jogadores, "merchandising" ou direitos televisivos.

O passivo é muito alto e também me preocupa. Compreendo que, em larga medida, resulta de grandes investimentos necessários para modernizar o Clube e dotá-lo das ferramentas necessárias para subirmos aos patamares em que pretendemos estar. Nomeadamente, o investimento no Centro de Formação do Seixal, peça fulcral da estratégia e, talvez, a obra mais estruturante na história do Benfica. Temos também um Museu e uma Televisão que muito nos(me) orgulham.
Penso que é chegada a hora de rentabilizar desportiva e financeiramente os investimentos dos últimos anos, pois a base de valor desportivo é hoje muito elevada e o ritmo (valor) de novos investimentos poderá diminuir. Espero que a diminuição e o controlo do passivo seja uma prioridade no novo mandato, por forma a sermos cada vez mais independentes e mais fortes.

Quanto à Era Gloriosa que preconizo, poderá ganhar contornos mais definidos na eventualidade de conquistarmos o Inédito Tetra! Assim seja!

Miguel Costa

Anónimo disse...

a) Um dia, Berti Vogts decidiu abraçar o desafio de seleccionador da Escócia. Azar: os Escoceses pura e simplesmente não iam à bola consigo. Daí à sua saída do cargo: um pequeno passo (e não: não foi à 1.ª jornada de uma qualquer competição). Aquando do momento da sua saída, terá dito que, independentemente do sucesso que pudesse ter alcançado, os Escoceses nunca lhe teriam dado descanso. Para esse efeito, utilizou uma referência particularmente engraçada:

b) “Se os Escoceses me vissem a caminhar sobre água, diriam: Olhem, ali vai Berti Vogts! Nem sequer sabe nadar…”.

c) Não sou de “fulanizar”, de críticas gratuitas, de perseguições pessoais. Nada me daria mais prazer do que ter um presidente do SL Benfica que, tendo o que é preciso, permanecesse no cargo por muitos e bons anos. Não por medo do desconhecido ou mero conformismo: mas por mérito, enquanto melhor opção disponível. LFV e companhia não têm o que é preciso. E existem 15 longos anos de incontáveis exemplos disso mesmo. Por mim… chega.

d) Se é o melhor candidato ao cargo? Não. Nem ele, nem quem o ladeia. Note-se: mesmo após ali estar durante 15 anos (e preparar-se para passear, no mínimo, até aos 18), LFV nunca conseguiu despertar nos benfiquistas a admiração e sentimento de orgulho que os feitos que tanto propagandeiam deveriam suscitar. E qualquer um que tenha os respectivos níveis de imparcialidade e interpretação minimamente intactos, chegará invariavelmente a esta conclusão.

e) E não: o facto de LFV ser o previsível único candidato às próximas eleições não faz dele a melhor opção: é sim a mais triste manifestação de um clube mortiço. Que vai andando. Sem chama. Comprado. E todos os vídeos promocionais do mundo não alteram em um milímetro que seja esta triste e incontornável realidade. O Benfica do século XXI não passa de uma pálida imagem de si próprio.

f) O Benfica precisa de sangue novo: facto! E os adeptos sabem-no. Sentem-no. Desejam-no. Apenas sem correr riscos desnecessários, que as memórias de um passado não muito distante (sempre devidamente enfatizadas por quem mais lhe interessa que assim seja) ainda estão demasiado frescas. Como se, no histórico de todas as direcções do clube, Vale e Azevedo (VA) tivesse sido a regra, e não a excepção. Como se, quando aquele pegou no clube, o mesmo já não estivesse já assolado por seríssimos problemas.

g) Era relativamente novo na altura mas, tanto quanto me recordo, não foi ele quem, perante problemas de tesouraria que desaguariam no famigerado “Verão Quente”, decidiu que a solução passaria por contratar Paulo Futre. Ou quem desmantelou e desbaratou uma equipa campeã nacional dando, dentro e fora de campo, o flanco ao que muitos de nós, dolorosamente, tivemos de suportar por longos anos. Não: quando chegou, já encontrou PC a presidir a Liga, enquanto o respectivo advogado pessoal, presidindo ao respectivo Conselho, subia e descia árbitros consoante os desejos do clube do regime desportivo: o FCP.

h) Para perceber VA, há que perceber o contexto em que surge. O pré VA. Como e porque é eleito. A margem da sua vitória e as manifestações de alívio e alegria que, compreensivelmente, despertou. VA foi um terramoto nos interesses instalados. Rasgou contratos que, factualmente, não só não serviam os melhores interesses do clube, mas inclusive eram uma manifestação de desconsideração, afronta e aproveitamento do seu real valor. Contratos que não foi ele quem os assinou. Mas que fez questão de rasgar: por exemplo, em directo, na SIC, em horário nobre, em frente ao presidente da Liga com mais cargos acumulados da história e uma das faces mais visíveis do então tão badalado “sistema”.

Anónimo disse...

i) Os adeptos sentiam, pela 1.ª vez desde há muito, que podiam ter ali alguém de quem sentissem orgulho. Que os fizesse recuperar uma auto-estima tão fragilizada. O trunfo que iria mudar o rumo dos acontecimentos. Recordo-me perfeitamente: o homem era absorvente, hipnotizante, sedutor. Tinha a rara habilidade de, com incisão penetrante e uma comicidade desarmante, dizer o que tinha de ser dito, saindo sempre por cima. Um carisma magnético, um vendedor nato.

j) Sem Centro de Estágio/Formação (que não havia dinheiro nem para o gasóleo do autocarro e o BES ainda não tinha aberto a torneira), deu o mote a que muita gente jovem fosse lançada: tentando assim a criação da tal “espinha dorsal” da Selecção Nacional. Pelo caminho, ainda trouxe Mourinho, Poborsky, Gamarra ou Van Hooijdonk. Qual cereja em cima do bolo: presenciou, em Alvalade, o Benfica a espetar 4 no SCP, tendo assistido ao jogo… no meio dos adeptos. Impagável…

k) Teve dois problemas: não possuía os instrumentos necessários para dar a volta à situação (nem se soube fazer acompanhar de quem deles fosse possuidor)… e era, manifestamente, um doente do foro psicológico. Um psicopata. Com o apoio de Eusébio a Vilarinho e a promessa eleitoral deste acerca da vinda de Jardel (só não disse foi qual…) para o Benfica a completarem o ramalhete do seu afastamento.

l) O que VA fez é indesculpável. Vilarinho disse um dia que, roubar o Benfica, é pior que roubar a própria família. De facto, não se rouba o Benfica (ou quem seja). E VA, manifestamente, fê-lo. Com a atenuante acima descrita: doença mental. Pois quem é são e benfiquista, não faz o que este fez. Jamais. Pecado capital.

m) Mas pergunto: desde então, terá sido o único? À luz da práticas tidas como comuns actualmente, em toda a história do futebol nacional (e, necessariamente, do Benfica) terá aquele sido o único a apropriar-se ilegitimamente de verbas que não lhe seriam destinadas? Numa “indústria” que movimenta tantos milhões, será esta ideia verosímil?

n) Resistirá impreterivelmente o agente desportivo à tentação? Terá sido este quem mais lucrou com a sua passagem pelo clube? Será ainda actual (ou sequer verdadeira) a ideia de um Presidente “Messias”, que não apenas se nega a auferir qualquer vencimento, mas inclusive injecta dinheiro próprio no clube?

o) Pessoalmente, tudo isto soa-me a uma tremenda hipocrisia. E eu sou dos que gosta pouco que o tentem instrumentalizar.

p) E isto, infelizmente, é o que anda a ser feito aos benfiquistas de há muito tempo a esta parte. Os exemplos são incontáveis e estão por aí: basta pesquisarem em espaços com a qualidade como a do presente blog para perceberem que, ao final do dia, aquilo que nos separa de outros tantos a quem, com desconcertante autoridade moral, apontamos o dedo… não será assim tanto quando julgamos ou desejaríamos.

q) Perceba-se, por exemplo, com quem LVF “estagiou” antes de propor-se “salvar” o SL Benfica.

r) Que o tivesse feito com o intuito de munir-se de todos os instrumentos necessários a poder verdadeiramente conhecer o futebol nacional por dentro e por fora e, assim, estar melhor habilitado a fazer ruir a perversidade que nele estava/está instalado: absolutamente compreensível. Achar que é possível combater uma perversidade de tal monta e complexidade só com base no amor e nas abelhinhas não é optimismo: é estupidez.

Anónimo disse...

s) O problema é que a sua acção foi muito mais além: injectou essas mesmas práticas (e pessoas) no clube. No seu ADN. Numa alma que ainda hoje anda à procura da tal “mística”. Nunca a encontrarão. Não assim. Não com aquela gente. Porque a essência do clube, como em qualquer outra instituição, não assenta em estádios, campos de treino, televisões ou pastelarias: mas nos seus. Na sua gente. Um clube sem a sua gente, é um clube morto.

t) E um clube com 150 pessoas numa Assembleia-Geral é sinónimo disso mesmo. Manifestação premente quer de (mais uma) desconsideração de uma direcção para com os seus (e precisamente eleita por esses mesmos seus), quer de uma apatia e sentimento generalizado de não ser merecedor sair do conforto do lar para levar com buzinas aos 3 minutos ou sentir o calor humano de cinturões negros de uma qualquer arte marcial. Mais do que toda a propaganda e títulos do mundo, foi a isto que verdadeiramente chegámos…

u) Um Red Pass revela um consumidor. Ali, pode estar qualquer coisa: desde o próximo prémio Nobel, ao típico “adepto de plástico”. Até um observador rival. Já adeptos que, independentemente dos meios tidos para o efeito (AG, blogs, conversas de café…), partilham ideias sobre a vida do clube… estes constituem o seu genuíno pulsar. A sua mais bela manifestação. E por muitas visões catastrofistas que tentem impingir, um clube assim não acaba. Não enquanto houver quem verdadeiramente o pense, debata, defenda, ame. Muito pelo contrário: um clube assim, está “condenado” a evoluir.

v) Chamam à destruição do Estádio da Luz… evolução. Um sinal dos tempos. Como pode alguém verdadeiramente entendê-lo enquanto tal? Terão esses conhecimento de todo o sacrifício que esteve subjacente à sua edificação? Toda a história desportiva absolutamente ímpar e irrepetível ali tida? Todo o espectro de emoções que aquele espaço despertava nos seus?

w) A aura de reverência, espanto e pertença que despertava? Da sua capacidade única para fazer esquecer as vicissitudes do momento e, assim, transportar-nos no tempo? Para, mais do que mero estádio, vislumbrá-lo e entendê-lo enquanto monumento desportivo nacional? Enquanto local de peregrinação? Alguém tem conhecimento de que a Igreja Católica tenha, em algum momento da sua história, proposto a destruição de Fátima ou do Vaticano para ali edificar um arranha-céus de última geração?

x) A evolução pode e deve existir. Mas palavras como “evolução” ou “liberdade” são tremendamente perigosas: quer pelo grau de atracção que exercem, quer pelo grau de perversidade e degeneração que, nas mãos erradas e sem o devido controlo, poderão propiciar. A evolução, tal como a entendo, significa ter um olho no futuro… e outro no passado. Preservando-o. Partindo daí. Jamais o apagando, reescrevendo ou fazendo-o cair por terra.

y) Saliento-o enquanto exemplo (porventura o mais grotesco) da sua actuação: face ao significado do acto em si, da leveza e propósito da obstinação com que o levou a cabo, da respectiva irreversibilidade. Um espelho elucidativo do que esta direcção fez, faz e perpetuará ao longo do tempo enquanto o permitirem: quer por acção (votando na mesma), quer por omissão (inexistindo outras candidaturas ou não indo sequer votar em branco, enquanto voto de protesto).

z) A propósito das prestações da Selecção Nacional no Euro2016, Manuel José referiu que, se aquilo é que era jogar futebol, então ele preferia ver Portugal a jogar à bola. Aproveitando a tirada daquele que, verdadeiramente, deveria ser o nosso Seleccionador Nacional, entendo que, se é tudo isto que a dita evolução aporta, então permitam-me voltar atrás no tempo. Para junto do “velhinho” Estádio da Luz. E lá ficar.

RedMist

Miguel Costa disse...

A construção do antigo Estádio da Luz é uma das páginas mais bonitas da história do Benfica. É o benfiquismo na sua essência mais prática, mais Clube dos Sócios. Mas até que ponto estaríamos dispostos a tapar o sol com a peneira? Em última análise, o que era melhor para o Benfica?
Centrando a minha opinião na construção ou não do novo estádio - e faz sempre sentido termos esta discussão, mesmo 13 anos depois - considero que ganhámos mais do que perdemos. Ganhámos a proximidade dos adeptos à equipa, ganhámos um ambiente espectacular que dá mais força aos nossos jogadores para ganhar.

E ganhar é o desígnio do Benfica. O Benfica nasceu para ganhar. Com respeito pelas regras e com ética desportiva, como quiseram os fundadores e nos demonstraram as nossas maiores referências.

Então, se foi preciso construir um estádio novo para ficarmos mais fortes e voltarmos a vencer, ainda bem que o fizemos. Nós aqui temos jogado futebol e temos jogado muito à bola. E temos ganho. A nova Catedral também já tem mística. E tem vida e uma força própria. Daqui a alguns anos, garotos de hoje terão orgulho em relatar momentos aqui vividos. É a evolução...

Anónimo disse...

Caro Ricardo,

É muito importante manteres este espaço livre de opinião. Aberto e sem censura. Bem hajas.

O RedMist escreve bem, talvez seja mesmo escritor; é saudosista, talvez tenha estado 'do outro lado da trincheira', dentro do Benfica; é taxativo, talvez tenha tido algum problema com esta direcção; é azedo, talvez esteja mesmo a afastar-se do clube.

RedMist, eu sou benfiquista, tenho RedPass, levo a descendência comigo a todos os jogos, gosto de algumas coisas, doutras nem tanto. Mas...caramba, tanta tristeza, quando o Benfica só nos dá alegrias?

Abraço
Pedro B.

R.B. NorTør disse...

Caramba RedMist, só não dizes quem era o presidente do Alverca aquando do negócio Ovchinikov. Ou o director para o futebol que anuiu no despedimento do Mourinho. ;)

Ricardo disse...

Pedro B., tivéssemos uma maioria de adeptos como o Red Mist e o Benfica já seria campeão europeu.

Isaías disse...

Caro Pedro B,

O RedMist não é saudosista. É clarividente.

Aliás, se nos afastarmos do assunto Benfica e até do desporto, veremos que na sociedade o movimento é o mesmo: ora se na vida civil e política tens certos comportamentos e métodos premiados, terás, por consequência, o mesmo na vida desportiva.
Uma, maior, é reflexo da outra.

No entanto, é uma questão complexa. Há que responsabilizar os Benfiquistas e ao mesmo tempo há que compreender que eles não têm culpa.

Muitos dos novos não conheceram o anterior Benfica, antes da queda. Para esses, este é melhor que o dos 90's e logo o melhor de sempre (como se ouve/lê por aí).

Outros, de várias gerações, apenas consideram um clube desportivo como um meio para apaziguar a sua necessidade de pertença ao clã vencedor. Para esses, ganhar ao vizinho, ao familiar ao companheiro de café, é tudo. Este Benfica tri-campeão serve perfeitamente, quando, relembremos, antes da fase JJ andava já muita contestação no ar de muitos dos mesmos que agora são fervorosos apoiantes de LFV.

O conjunto de ambos fazem uma maioria que é ajudada pela absorção inteligente e perspicaz que LFV tem feito dos seus opositores. Pessoas que agitam as águas e comem do tacho para deixar de se opor e até "construir um Benfica mais forte"... com o mesmo homem no leme, claro.

Reafirmo que o RedMist é visionário e clarividente - mas só o futuro o poderá confirmar.

Ninguém é profeta no seu próprio tempo.

Cumprimentos,
Isaías

Anónimo disse...

Caro Ricardo,

Gosto das tuas hipérboles, o Benfica já seria campeão europeu, com muitos RedMists como adeptos. Eu também fui hiperbólico contigo, com um jogador que nem aprecias sobremaneira, futebolisticamente: afirmei que, com Renato, serias campeão da Europa em selecções. Não falhei. Na tua hipérbole, continuando a discussão, não vislumbro a conexão entre uma Champions e um batalhão de RedMists. Com todo o respeito.

Caro Isaías,

Não o considero clarividente, nada disso. Ponho apenas uma questão: manter o velho Estádio da Luz, como seria fazê-lo, hoje. Alerto para duas situações: chorei em vários jogos, ao aquela cratera na bancada, e, mais importante que esses romantismos, estamos no ano de 2016, não em 1990, com Vitor Paneira a mandar naquilo tudo.

Abraço
Pedro B.