segunda-feira, 31 de outubro de 2016

A importância das substituições num jogo de futebol



- Mas do que é que este gajo está à espera para meter o Chico Timóteo?

ouve-se no Piso 3 do Estádio da Luz, no primeiro Anel no Dragão, num pelado em Peniche ou num tasco em dia de jogo. Geralmente o Chico Timóteo é um tipo "para jogar lá na frente, a prender os centrais" e que talvez "numa bola alta resolva o jogo". Porque, quando precisamos de um golo, é clarinho que "é preciso meter a carne toda no assador".

Este conceito futebolístico é muito mais importante para aliviar as nervoseiras dos adeptos do que propriamente para melhorar alguma coisa no jogo. As substituições, podendo ter importância em alguns momentos, estão longe de ser uma prioridade para os bons treinadores. Há até quem, cansado de tanta lamúria e só para manter a equipa focada no jogo sem ouvir assobios da bancada, lance um jogador de características semelhantes lá para dentro. Só naquela de "esgotar as substituições", que é outro conceito muito do gosto do povo em delírio.

Na verdade, não há qualquer obrigatoriedade de esgotar substituições só por esgotar substituições. A equipa pode estar a entrar nos últimos 10 minutos do jogo e a precisar de um ou dois golos e não haver necessidade de substituir ninguém - basta que esteja a cumprir as ideias do seu treinador. Não é por se  tirar um jogador e se meter outro no lugar do primeiro que necessariamente a equipa passa a jogar melhor. Até pode acontecer, e acontece várias vezes, um treinador fazer as três substituições e a produção da equipa piorar ou não fazer nenhuma e a equipa, mantendo o seu estilo de jogo, conseguir marcar nos últimos minutos.

Para o treinador, as substituições servem um propósito - se ele não existir, não vale a pena substituir por substituir. Por vezes, faz sentido criar novas dificuldades ao adversário colocando um novo jogador; noutras faz mais sentido continuar a criar dificuldades mantendo em campo os mesmos 11 (há uma razão para terem sido escolhidos para aquele jogo aqueles 11 e não outros). Para o treinador, as substituições podem servir muito mais para outras coisas - como manter uma rotatividade no plantel, fazer descansar os mais utilizados, testar um plano para o próximo jogo, gastar tempo, dar minutos a putos da formação, motivar com aplausos um jogador que tenha feito um grande exibição - do que propriamente para, em todos os jogos, mudar o radicalmente jogo nos últimos minutos à procura de não sei quê.

É evidente que pode haver algo estudado para situações-limite contra equipas de características muito específicas em que se opte por um jogo mais directo (Rui Jorge tem feito alguns testes no fim dos jogos da Selecção que são muito curiosos) mas geralmente a equipa mais facilmente chegará ao golo se continuar a cumprir o plano previsto, ensaiado e desenvolvido ao longo da época do que se, de repente, passar a lançar bolas para a molhada e rezar a Nossa Senhora de Fátima que uma finalmente encontre um momento de fortuna. Se fosse mais fácil marcar golos em constantes morteiros para a área as grandes equipas passariam a jogar assim logo a partir do primeiro minuto ou logo depois do intervalo. O que, naturalmente, também irritaria a populaça, vociferando imediatamente da bancada para o relvado: "tu deves pensar que esta merda é o INATEL!"


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