Quando, há uma semana e tal, falei na qualidade de Seferovic, fui naturalmente questionado pelos adeptos das estatísticas - que são tão legítimos adeptos como quem, como eu, não quer saber das estatísticas para nada - sobre o passado não muito goleador do avançado suíço. Que "tem números ridículos", que "como é possível comprar um avançado que marca tão poucos golos?", que "o avançado serve para marcar golos".
Bem, comecemos por aí: um avançado não serve para marcar golos. É esse o principal engano de quem analisa um avançado pelos golos que marca. Um avançado, como um defesa, um médio e um guarda-redes, deve ser analisado pela qualidade que tem, independentemente dos golos que marcam, das assistências que fazem, dos desarmes, das segundas bolas, dos cabeceamentos, dos remates, das defesas, dos quilómetros percorridos.
Ou seja, se quiserem falar de bola, então vão à GoalPoint e deixem o cérebro em casa - bastar-vos-á dizer que um avançado com 6.2 é melhor do que outro com 5.4., embora isso signifique zero em termos do que fez em campo. Se quiserem falar de futebol, então vieram ao lugar certo. Discordando ou concordando, aqui a análise é às características dos jogadores, aquilo que eles dão à equipa. Por exemplo, um avançado que marque 0 golos numa época pode ser substancialmente melhor do que outro que marque 20. Se largar o conceito GoalPoint ou outro qualquer site que faça do futebol a arte de um Técnico Oficial de Contas, não é difícil perceber porquê.
Seferovic pode não marcar golo nenhum num campeonato e marcar, como vai marcar este ano, mais de 25 golos numa época. Basta que o contexto mude para um espaço em que as suas melhores características sejam exploradas. Desde logo, que os jogadores ao seu lado tenham mais talento. Que o clube onde joga seja melhor e maior. Que a equipa na qual está inserido tinha ideias de jogo muito mais ofensivas. Que os seus colegas sejam talentos criativos como Zivkovic, Pizzi, Rafa ou Grimaldo. O QI futebolístico sobe, os desequilíbrios ocorrem, as oportunidades são em catadupa, os golos naturalmente aparecem.
Depois, há o elemento extra: Jonas. Seferovic vai jogar este ano ao lado de um génio, algo que nunca lhe tinha acontecido. E o suíço tem a qualidade suficiente para aproveitar o génio do brasileiro a seu favor. Juntos, criarão uma dupla letal que marcará mais de 50 golos na época. Mas poderiam os dois marcar zero golos que continuaram a ser óptimos jogadores de futebol.
O jogo, este jogo, como diria Vinicius sobre a vida, é a arte do encontro embora haja tanto desencontro nessa vida. O jogo, este jogo, depende de tantas variáveis que nunca pode ser encaixotado nuns quadros manhosos com contabilizações decimais sobre acções específicas. O jogo, este jogo, depende sobretudo daquilo que a GoalPoint não pode nunca contabilizar: a movimentação dos jogadores. O bicho SeferoJonas mexe-se bem para caralho.
13 comentários:
Já não são técnicos oficiais de contas, agora são contabilistas certificados.
Técnica apurada, enorme capacidade de trabalho e inteligência nas movimentações - eis Seferovic! Até parece que a ligação com o Jonas não tem poucas semanas, mas muitos meses. É o que acontece quando se junta talento e inteligência em doses tão generosas.
Já estava a gostar bastante do suíço e ainda não sabia que ele tinha pé direito...Saiu melhor que a encomenda!
Sobretudo quando esse avançado jogava numa equipa que terminou em décimo sexto lugar na Bundesliga.
Vai ser bonito de se ver a dupla Jonas-Seferovic a rebentar com o "Tugão".
Venha a arte de Carvalho de Pizzi e de muitos outros, venha a alegria o amor à bola
Se não sair ninguém neste defeso, provavelmente o Benfica terá o melhor conjunto de 4 "avançados" dos últimos "20 anos". Qualquer dupla será arrazadora. Já a defesa...
Algumas perguntas, por que têm os melhores avançados do mundo muitos golos marcados? Por que têm os melhores defesas do mundo grandes eficácia em desarmes, antecipações e posicionamento? e por fim, por que gastam os clubes de topo, como o Benfica, milhões em análise estatística?
A estatística não explica tudo, mas quanto mais cedo conseguires responder às perguntas acima, melhor.
Um dos melhores PL perde em golos para o seu companheiro Ronaldo. Alguns dos melhores DC da história saíam de um jogo com os calções imaculadamente brancos. O golo vale mas tanto mais vale tudo o que o antecede.
A estatística é importante para quantificar algumas coisas que as equipas técnicas necessitam para tomar decisões, mas não substituem a análise feita aqui, nem de perto. Algumas das coisas que falaste em relação aos defesas (antecipação, posicionamento) são muito mal quantificadas pelas estatísticas do Goalpoint. Claro que os clubes têm mais é melhores estatísticas e isso ajuda. Mas se um Jonas não marcasse nem assistisse e continuasse a fazer a toda a equipa aproximar-se do golo mas fossem de outros as assistências e os golos, seria ele um mau jogador?
Quanto mais cedo perceberes o que este post fala mais rápido vais entender o que é futebol.
Miguel
Infelizmente não respondeste, porque não há resposta possível. Os melhores PL da história são aqueles que marcam golos e que têm os dados estatísticos mais impressionantes. E por isso se paga muito dinheiro por eles. E claro que não valem só por golos, valem por muitas outras coisas, também estatisticamente documentadas.
Aliás falas do Jonas e pareces ignorar os seus imbatíveis dados estatísticos (quer a atacar, quer a defender).
Para mim, e sem querer ofender, teus comentários de que as estatísticas valem nada, são do futebol do século passado onde o scouting se fazia por youtube. Outra coisa é não saber lê-las...
E respondendo à tua pergunta do Jonas, sim, seria claramente um jogador inferior sem golos nem assistências (e poderia ser também pior numa primeira fase de construção, onde ao dia de hoje é o melhor em Portugal, porque parte dos seus golos e assistências advêm da excepcional leitura de jogo que ele tem).
Depois esta frase: "Claro que os clubes têm mais é melhores estatísticas e isso ajuda." contradiz te totalmente quando dizes que as estatísticas não valem nada. Noto alguma evolução;)
Porque tenho manifestas dificuldades em falar de futebol sem falar do “irreal social”, a ver se isto me sai em termos que não despertem no “lápis vermelho” o ímpeto de procurar estragar mais uma vida.
1. Os “GoalPoints”, como os “Video Árbitros”, são meros instrumentos de análise: que devem auxiliar na interpretação humana, jamais substituí-la. A verdadeira diferença não está no lado de lá (no do instrumento), mas no de cá (no de quem interpreta). Não me choca que, quem com eles lucra, procure fazer crer de que são a última batata do pacote. Já me provoca mais urticária que, quem interpreta e decide, justifique as suas falhas com base nos resultados que aqueles apresentam. Porque não há estatísticas, calculadoras nem “focus group” que substituam a alma: seja de um jogo, seja de um povo.
2. O “Vídeo Árbitro”, em tese, é mais um passo em direcção à desumanização do futebol. Em qualquer país do 1.º mundo, a extensão da sua discussão nunca passaria de um qualquer blog obscuro e alienado: inserido entre um post de Bacalhau à Zé do Pipi e a exaltação da vergonha que, à luz do actual “progressismo”, nos deverá a todos assolar por termos nascido (ler em voz baixinha…) Portugueses. Blog esse que, por cá, seria necessariamente um espaço de reverência, ditando (e a palavra aqui é mesmo ditar) modas, a maneira oficial de fazer a cópula, de como gerir os sentimentos da sua catatua.
3. E porque estamos “por cá”, o “Vídeo-Árbitro”, como qualquer outra patranha que substitua a decência, a exigência e a honestidade intelectual, é, a fim de (literalmente) salvar este futebol… uma necessidade imperiosa. Adeptos (como eu) podem até não querê-lo, mas, para que “isto” (o que quer que “isto” seja) continue… não podem passar sem ele. Porque mais do que se julgar encontrarmo-nos no céu entre os anjos, convém abrir a pestana e perceber o quanto antes que, ao invés, encontramo-nos na terra… entre homens de letra minúscula.
4. É óbvio que Seferovic é bom jogador. Que vai ser o 9 do Benfica. Que, juntamente com Jonas, vai espalhar o caos nas defesas adversárias. E que, muito provavelmente, vai ser o goleador-mor da Liga. Mesmo com Bas Dost por cá: o que permite, desde logo, encerrar o assunto relativamente quer às suas qualidades, quer ao contexto muito favorável no qual foi, em boa hora, inserido. Se há alturas na vida para pestanejar, não será certamente no momento em que a bola entre no “pentágono invertido”: Pizzi, Salvio/Rafa, Rafa/Cervi, Jonas e Seferovic.
5. Seferovic aporta valor acrescido à equipa, ou seja, é superior a quem vem substituir. Um oásis numa equipa que, de ano para ano, vem sendo depauperada a custo de prazos, cláusulas, ambições e borlas junto de clubes que, assim querendo, poderiam perfeitamente cá chegar e comprar o próprio clube: haverá ali, como por aí, verdadeiramente algo que não esteja à venda ou o tenha já sido?
6. Até vos digo mais: o Benfica ainda irá ao mercado contratar mais um avançado. É chegada a hora da partida de Raúl: um “tique de novo-riquismo” tão típico dos pobres materiais e, sobretudo, de espírito. Por sua vez, Mitro não é rapazinho com estatuto ou personalidade para fazer bom balneário a partir de uma posição de mero espectador. Ou seja: se não for para jogar, Raúl e Mitro devem sair. Só assim evitaremos as tristes figuras a que se assistirá no relvado situado por acima do Lidl de Alvalade - ao caso, com Doumbia. Pode até não ter vindo para passar férias. Mas pouco mais fará que isso.
7. À “política de contratações do Benfica” (assim por mim apelidado a título perversamente jocoso), vai-lhe valendo quer o pó e buracos no fundo dos bolsos de uns, quer o novo-riquismo de outros que, vendo-se com dinheiro alheio, procuram com ele camuflar os sérios problemas e a gritante incompetência que, em consequência do exotismo vigente, 90% dos seus aplaudiu de pé, com confettis, afectos, sorrisos e linguados. E, como eu, ainda pedirão “encore”. Acreditem.
8. Mesmo com todos estes astros (dolorosamente terrenos) (des)alinhados no horizonte, convirá ao Benfica não forçar muito a barra. Porque soaria a zombaria. E porque convém passar a ideia de que alcançou o “Penta” assente no seu próprio mérito: ao invés de num desconcertante demérito alheio, o qual faz parecer a pesquisa por praias de nudismo no Árctico algo de notavelmente lógico. Até vai dando para lançar Varela, Hermes, Buta, Pereira (só este menino foram €13M, mas não se preocupem, ninguém será responsabilizado pelo desfalque), Augusto, Horta, Carvalho, Arango…
9. Todos eles, reconheça-se, com níveis de produtividade e profissionalismo bem acima dos revelados por Carrillo. Mas aqui, reconheça-se igualmente, há que ser firme e intransigente na defesa do jogador: na medida em que, no caso de todos os acima descritos, estamos perante jogadores profissionais de futebol. Ser mero “jogador da bola”, para Carrillo, não mais é que uma partida de mau gosto ditada por um qualquer cruel destino que ali o colocou. Para mal de Carrillo (e dos benfiquistas), esse “destino” ainda se permite gerir o futebol moderno com base em tricas presidenciais.
10. Ah: e o Taarabt diz que quer voltar. Se a maré ajudar e os ventos soprarem de feição, a ver se ainda chega no cacilheiro das 16H00. Mesmo a tempo do lanche da tarde, portanto. Diz que é rojões. E diz que vem com o Ola. Parece que já estou a vê-los a gozar com o Jonas: o qual, aos 33 anos, sonha com uma grande época no Benfica, a fim de poder voltar a representar a sua pátria. Quem suportar ver um meínho desta gente com a camisola do Benfica vestida pode ficar descansado: já nada nesta vida lhe dará volta ao estômago.
Nunca se disse que as estatísticas não valem nada e a pergunta era se Jonas seria mau jogador. E ainda a frase que me citas serviu para explicar que se as estatísticas do Goalpoint que servem o comum adepto são muito enganadoras mesmo toda a estatística produzida pelos clubes têm uma função importante mas longe de ser a preponderante na análise do jogo e dos jogadores, para isso é preciso analisar outras coisas onde as estatísticas falham.
Não vou pegar no que dizes e distorcê-lo para tentar mostrar que tenho razão. Antes prefiro explicar melhor o que quero dizer. Estou à procura de um diálogo, não de confronto sem razão.
Embora as estatísticas possam ser úteis em várias coisas e estar ao serviço dos clubes para tomar certas decisões, nunca vão poder substituir a observação do jogo porque não o conseguem traduzir, podem até deturpá-lo. Elas mostravam que Seferovic marcava poucos golos, não mostrava que inserido noutro contexto a sua qualidade mudaria isso e os golos apareceriam. O Goalpoint mostra que Lisandro é o DC com mais desarmes do Benfica por média de jogo, não mostra que foram erros no seu posicionamento e movimento que provocaram o perigo e que levaram ao desarme in extremis. Mais, não foram preciso estatísticas para levarem Messi para o Barcelona ou Ronaldo para o Manchester. O Maradona não precisou de marcar uma barbaridade de golos para ainda hoje ser por muitos o melhor de sempre. E há tantos mais exemplos. E tu sabes disso mas podes continuar a contrariar só porque sim. O jogo não é traduzível em estatísticas.
Por acaso até disseste no post inicial que as estatísticas na tua opinião não servem para nada. Mas o ponto não é esse. As estatísticas têm muita importância no futebol mas não explicam tudo. Por isso aparecem casos como o do Seferovic (até ver). Mas este caso não é a regra. Ver castaignos, André, Diegos (etc..). Até tens o caso do Jardel que marcava milhares de golos mas nunca jogou num campeonato de topo ("só" fazia uma ou duas coisas bem).
Aliás todos os grandes jogadores têm excelentes dados estatísticos, porque são realmente bons no que fazem. Não porque as estatísticas os ponham a jogar futebol.
Por isso continuo a afirmar que as estatísticas têm muita importância no futebol, mas mal de quem tente perceber futebol a ler dados.
Sobre o Lisandro,como todos os jogadores, um só dado não explica tudo. Como é rápido muitas vezes resolve essa falha, mas o 2o golo de ontem explica que nem sempre é assim. Depois perde bolas, falha intercepções, etc.
Lê...
http://www.lateralesquerdo.com/pt_PT/2017/07/30/a-estatistica-que-tenta-explicar-o-jogo-lisandro/
Miguel
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