sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

O dia em que Eusébio me elogiou

Uma vez conheci Stefan Zweig, não pela carne e sangue mas por aquilo que escreveu. Apaixonei-me. Ainda hoje mantém o seu fantasma sobre a minha alma, como uma presença que absorve o tempo. No trono dos escritores, Stefan persiste na memória e dela não sai, mesmo num tempo em que o dia anterior pode ter a distância de séculos. Comi desvairadamente os seus livros sem saber mais do que aquilo que escrevia e amei-o assim, sem regras nem melancolias. Anos mais tarde, descobri a sua biografia: homem de ambivalências, entre uma primeira conjugação com um regime nacional-socialista e a posterior desonra de saber a construção pela qual foi também responsável. O que nos deixou como artista vale-me o conhecimento de um homem bom. E isso é-me suficiente.

Outra vez conheci Eusébio da Silva Ferreira, pela carne, pelo sangue e pelo osso. Abracei-o num relvado do Jamor, em dias que vivia o sonho de uma criança que queria ser jogador a tempo inteiro. Num treino específico, cruzavam da direita e nós finalizávamos. Finalizei de pé direito, não directo mas de perna cruzada, atrás do esquerdo para o canto contrário da baliza . Ouvi o Eusébio dizer: "grande golo" e desisti do treino. Fui a correr para ele e pedi-lhe uma fotografia. Ele riu e deu-ma. Ainda hoje a tenho, junto ao panteão das coisas sagradas. Anos mais tarde, ouvi estórias sobre a sua conduta. Que era um bêbado (e...?), que era um noctívago (e...?), que era um delinquente (e...?). Deixou-nos o extraordinário jogador que foi e a mim, pessoalmente, uma imagem que me traz ternura e orgulho. O que foi - ou o que dizem que foi - como homem, pouco me interessa. É e foi um génio. E isso é-me suficiente.

Há um documentário enormíssimo sobre a vida do Chico Buarque. Uns 300 dvd´s. Um deles é sobre a sua relação com o futebol, em que ele, quase enfastiado, responde à polémica que se levantou na altura do Garrincha - que era acusado de "gozar" com os adversários - de uma forma simples e eterna e que eu aqui vou passar de forma absurdamente livre e de memória mas de essência: "mas qual é o problema de gozar com o adversário? Fintá-lo é o objectivo do futebol, gozá-lo, enganá-lo, fazê-lo crer que vamos para um lado e vamos para outro, deixá-lo no chão, promiscuí-lo, o futebol é isso". 

Não é coisa de Nova Gente, é coisa de ir ao Estádio e amar este desporto. É isso que é suficiente. E alimenta-nos.

8 comentários:

Berrante De Encarnado disse...

Um Feliz Natal para si, Ricardo, e para todos os que escrevem neste blogue.

Cumprimentos Benfiquistas

Anónimo disse...

Gostei e continue a deliciar-nos com as suas "crónicas".
Boas Festas.
António

Unknown disse...

pede-se um comentário ao preço dos bilhetes para o zenit, pois o lfv acha que o pessoal deve dar uma de pai natal ao Benfica. Um abraço e continuação de festas felizes, mas sem futebol (estou desesperado para que venha a taça da liga)

Hattori Hanzo disse...

Ricardo o que dizes das novidades? Quanto a mim Ruben terá de sair agora como é óbvio. Mas também me parece óbvio que mesmo que Jesus ganhe campeonato não me parece ter grandes condições para se manter como treinador do clube.

Carlos Alberto disse...

Eu concordo aqui com o Hanzo, aliás acentuo o que ele disse SE O JESUS GANHAR O CAMPEONATO TEM MESMO DE SAIR... ONDE JÁ SE VIU...

O mal de andar a passear pela Gloriosasfera é ler coisas como estas!

Hattori Hanzo disse...

O Carlos Alberto tem toda a razão. Eu de facto também fico mal a ler alguns lambe-botas nos blogs ligados ao Benfica, onde para eles está tudo bem. Claro que depois os lambe-botas quando mudar a corrente irão dizer que nunca concordaram com as acções tomadas e que sempre disseram isso. É que o filme já não é novo infelizmente.

Unknown disse...

Este é o mandato desportivo, portanto deve ser em função dos resultados que LFV e JJ devem ser julgados. A não serem campeões, para mim só se devem manter se ganharem a Liga dos Campeões, porque não é de quases que se faz a história como no ano passado, quase que na final da Taça, quase que na final da Liga Europa, não chega e muito menos compensa as humilhações da época. A ser campeão JJ mostra que é capaz de levar o Benfica a um domínio consistente, caso contrário, só a Liga dos campeões o salva.

Unknown disse...

PS - pessoalmente não acredito no sucesso, mas prefiro estar enganado no fim da época e poder festejar