quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Análise Financeira Benfica SAD


Hoje o Benfica aparenta estar dividido naquilo onde é mais forte, nos sócios e adeptos. Nunca como hoje me recordo de ver ataques, por vezes pessoais, entre associados, apenas pelas diferentes ideias ou diferentes visões para o futuro do clube.
Eu não sou Vieirista ou anti-Viera, não sou taliban e não sou abutre. Sou Benfiquista (e isso me envaidece) e como tal o meu objectivo tem que ser apenas e só um, o superior interesse do Sport Lisboa e Benfica.
O Benfica tem que ser mais do que uma pessoa. Tem que ser mais do que o grupo de pessoas que o dirige a determinado momento. O Benfica tem que ter Orgulho no seu passado, tem que ser forte no seu presente e tem que ter visão na construção do seu futuro.
E é esse que me preocupa hoje, o Futuro do Benfica.
Segundo palavras do Presidente do Benfica, o clube é hoje gerido como uma empresa. Quer se goste ou não dessa expressão e dessa visão para o nosso clube, há uma coisa que eu tenho a certeza, o Benfica não está a ser gerido como uma empresa, ou pelo menos, não como uma boa empresa.
Uma boa empresa é sustentável operacionalmente, sem necessitar de proveitos extraordinários, neste caso vendas de jogadores, para conseguir honrar os seus compromissos. Uma boa empresa não tem o seu Capital Próprio Negativo. Uma boa empresa não deixa que o seu Passivo Financeiro aumente todos os anos da última década, sem que consiga colocar travão a essa dependência.
Mas analisemos os factos mais gerais que me causam desconforto em relação às contas da Benfica SAD que o Benfica disponibilizou na ultima sexta-feira aos sócios (Deixarei para futuros Posts analises mais particulares como a Benfica Tv, a Relação com o BES/NB e outros...):

1) Resultados Operacionais e sustentabilidade operacional

Explicando de forma simplificada, os resultados relativos a um ano de um clube dividem-se nas seguintes grandes rubricas:
- Resultados Operacionais – Os proveitos (Direitos Televisivos, Bilheteira, Loja...) e custos (Salários, Água, Luz, Manutenção...) que decorrem da operação normal de um clube.
- Resultados com atletas
- Juros da dívida: Juros gerados pelas dívidas bancárias

Ou seja, qualquer leigo consegue facilmente perceber que para que um clube não seja dependente da constante venda de jogadores e da consequente reconstrução de um plantel, os seus resultados operacionais têm que ser suficientes para pagar os Juros gerados pelos seus empréstimos e o seu serviço da divida caso se vença algum empréstimo.
O grande problema é que os resultados operacionais do Benfica são constantemente negativos ou insuficientes para pagar os juros da divida. Este ano o resultado operacional da Benfica Sad, sem vendas de jogadores, ascendeu a cerca de 4M€ negativos, algo que torna impossível a sua sustentabilidade.
Dado esse recorrente deficit operacional, o Benfica depende de duas coisas para suportar o pagamento dos juros ou do serviço da divida à banca:
      1)      Vender jogadores e delapidar constantemente o plantel que vai construindo;
      2)      Endividar-se mais para conseguir pagar o serviço que já tem de divida e o seu passivo financeiro continua a aumentar regularmente.

Assim sendo o Benfica tem que suportar numa base anual quer os seus juros, que este ano ascenderam a 19,6M€, quer os seus resultados operacionais negativos (este ano de 4M€), com os resultados de vendas de jogadores (Vendas - Compras) em valores pelo menos superiores a estes (e isto se não se vencerem empréstimos).
Os números não deixam margem para uma segunda interpretação e se o Benfica fosse de facto gerido como uma empresa isto já teria sido explicado anteriormente aos sócios e adeptos, para que os mesmos fossem de facto chamados para decidir o futuro que querem para o nosso Clube.
Este modelo não é único em Portugal, aliás, nenhum dos clubes grandes é de facto sustentável operacionalmente para aguentar não vender jogadores sempre que há uma proposta elevada. O que choca mais no caso do Benfica, é que também sabemos que somos os únicos que temos dimensão e capacidade de gerar proveitos para não estarmos tão dependentes das transacções de jogadores.
Assim, quando a direcção do clube vos disser que os resultados operacionais do clube são 34M€ positivos, vamos todos lembrar-nos que estão a considerar os resultados com transacções de jogadores no valor de 38M€.  
Mais preocupante são as declarações do nosso Presidente há cerca de um ano, quando referiu que seria o último ano em que o Benfica precisaria vender jogadores por questões financeiras, o que me deixa com as seguintes interrogações:
    -          O Presidente do Benfica mentiu aos sócios e adeptos do clube?
    -          O Presidente do Benfica desconhece os números do próprio clube?
    -          O Presidente do Benfica equivocou-se?
    -          Será que o presidente do Benfica consegue hoje fazer mais alguma afirmação deste género?

Queria deixar apenas uma referência à entrevista de Domingos Soares de Oliveira que referiu que os gastos com salários do Benfica, por termos chegado longe em todas as competições ajudaram a piorar os resultados. Será que o Benfica chegará a um ponto em que terá que perder para ser sustentável?

2) Análise de Balanço (Activo, Passivo e Capital Próprio)

A análise do Passivo é a mais exaustiva em todos os jornais e televisões, levando muitas vezes a análises incorrectas e até disparatadas.
As comparações entre clubes sucedem-se mesmo quando os critérios apresentados são diferentes e parecem olhar exclusivamente para esta rubrica como se uma empresa (ou clube) enorme devesse ter o mesmo passivo que a mercearia da esquina da rua.
Neste ponto estou portanto de acordo com o Domingos Soares de Oliveira, que referiu que toda a gente olha para o Passivo, deixando de parte o activo.
O único senão é que o Benfica não tem hoje activos liquidos suficientes para pagar o seu passivo.
Alguém tem que lembrar o Dr. DSO que a Autonomia Financeira do Benfica (Rácio que mede a Solvabilidade Financeira, ou seja, a capacidade de uma entidade fazer face aos seus compromissos) é Negativa. O Capital do Sport Lisboa e Benfica Sad Consolidado é Negativo!!!
Mas vamos por partes, o Passivo do Benfica são hoje 449M€. (sim, infelizmente leram bem, não digitei números a mais)
Do activo do Benfica a curto prazo temos apenas cerca de 108M€. Ou seja, recebendo a totalidade desses activos restam cerca de 340M€ de passivo para pagar. Se considerarmos que o Benfica não vai vender o estádio nem os seus activos fixos, resta que o plantel do Benfica seja suficiente para pagar esta barbaridade de passivo (mais uma vez, dependência total das vendas).
A tudo isto há a acrescentar que o Benfica é , como expliquei no ponto anterior, anualmente deficitário, pelo que o seu passivo vai continuar a aumentar.
Para verificarem que o que eu estou a dizer é factual e baseado em numeros e não demagogia, a Benfica Sad consolidada tem hoje um passivo de 449M€, quando em 2013 era de 440M€... e em 2012 eram de 426M€... e em 2011 era de 380M€.... e em 2006 eram de 151M€...
Eu sei o que me vão dizer, “que incoerência, a dizer que não se podem comparar passivos e vai comparar com uma altura (2006) em que as contas ainda não consolidavam com a Benfica estádio e a Benfica Tv”. Pois, é verdade, mas não nos esqueçamos que no relatório e contas de 2013 o Benfica revelava que o passivo da Benfica Estádio e da Benfica Tv em conjunto rondavam os 119M€. E o resto do aumento como se explica?
Benfiquistas é hora de acordar por favor, eu não estou a falar de Obras, de construir Estádios e centros de estágio. Nessa área eu até reconheço alguma competência, mas é fácil fazer obra se for a crédito e se for apenas aumentado crédito para repagar o anterior. Eu estou a falar de operação, o Benfica não é sustentável e é por isso que o passivo não pára nem parará de aumentar se continuarmos neste caminho de destruição.

Atenção que todos estes valores se referem à SAD, e que nas contas consolidadas da SAD o Benfica não apresenta a situação de todo o grupo Benfica, faltando as contas do Clube e da Benfica SGPS. Este facto é logo um factor gerador de desconfiança e que não se quer num clube que luta pela transparência do futebol Português.
Mais grave se torna por sabermos que o Benfica clube individual apresenta também ele um Passivo desastroso. 



Conclusões e desabafos

As contas da Benfica SAD são assustadoras para qualquer pessoa que as entenda, ou que minimamente as queira entender.
O Presidente do Benfica tem dito constantemente que o Benfica é gerido como uma empresa, no entanto qualquer empresa numa situação deste género deixaria de ser apoiada pelos bancos e seria apresentada à insolvência imediatamente.
Os resultados operacionais são negativos, os juros muito elevados. O Passivo é monstruoso e não para de crescer e o Benfica vive na dependência de ter que vender jogadores e pedir novos empréstimos. O seu Capital e autonomia financeira são negativos.
Enquanto isso assistimos a negociatas estranhas e que ficam por explicar, à utilização dos meios de comunicação do clube para desinformar e não para informar e a um constante refundir da situação financeira que o clube atravessa e com contas não totalmente consolidadas com todo o grupo (Falarei destas questões em futuros Posts).

E mesmo com tudo isto a acontecer vivemos a maior crise de democracia de que me recordo no Sport Lisboa e Benfica, onde adeptos que questionem são insultados e tidos como “abutres” ou “talibans”, como se a defesa do Benfica se fizesse pela unanimidade constante.

Ó Benfica, hoje és nevoeiro... É a Hora!

20 comentários:

João Carvalho disse...

O post é um panfleto de propaganda e percebe-se isso com a ultima frase, "É a hora!"
Também se percebe que é um post de alguém que não percebe grande coisa de gestão de empresas. Afirmações como, "Uma boa empresa é sustentável operacionalmente, sem necessitar de proveitos extraordinários, neste caso vendas de jogadores, para conseguir honrar os seus compromissos" só pode ter sido feita por alguém que nunca geriu uma empresa nem faz ideia do que é gerir.

Eu digo apenas isto: o EBITDA foi de 74 Milhões de euros. Só este facto deita tudo, mas mesmo todo o palavreado falso e sem valor por terra.

Pedro Vasconcelos disse...

e impressao minha ou tivemos 14 milhoes de lucros ? É que o resultado de 2013/2014 nem se quer apareceu neste artigo !!!!

é que o que li foi so o negativo do R&C se calhar nao lemos o mesmo R&C porque eu vi muitos topicos positivos, muitas melhorias.

Este R&C meu caro nao teve 40M de prejuizos, mas sim 14 Milhoes de lucro. Quem o leu como eu parece que está a assistir a um filme de terror, até parece que o SL Benfica não vai durar até 2015...

luis disse...

Totonegócios, planos dos mateus, sádica mente se não for com humor ainda me ponho para aqui a chorar por causa da sangria do triplete...
Era uma vez um Fernando Chalana que partia. Partia os rins aos "outros"...e depois partiu ao que constou para construir algo que já nem existe...como é óbvio, chorei e foram desaparecendo os anéis... Naquele momento e depois !!
Depois, saltando uma década, partiu o Maestro sem grande poder de escolha por causa da aflição e ainda havia anéis,mas foi parar a Florença. Já não chorei. Fui lá pisar o gramado do artemio franchi logo na 1ª pré época... Bem, se saltar para as décadas seguintes as lágrimas transformam-se em oceanos e rios de correntes fortes :
" Dado esse recorrente deficit operacional, o Benfica depende de duas coisas para suportar o pagamento dos juros ou do serviço da divida à banca:
1) Vender jogadores e delapidar constantemente o plantel que vai construindo;
2) Endividar-se mais para conseguir pagar o serviço que já tem de divida e o seu passivo financeiro continua a aumentar regularmente."

nota: Mas se o passivo é só de 449 Milhões de milhafres, ainda estamos aquém do real madrid ;)

Sócios...Realmente, adorava a Catedral dos nossos Avós sem palas. O Sol aquecia melhor as cabeças naquelas tardes À Benfica !! Bem , os primeiros vinte minutos...

Benfica Todos Tempos

Campaniço disse...

Caro João, obviamente não me conhece e por isso não sabe que sou um profissional da area Financeira, mas compreendo que seja sempre mais fácil partir para a ofensa.
Como deve saber dado que sabe gerir empresas, seja em clubes ou empresas sobre-endividadas não se pode ficar pelo EBITDA. Já passou o tempo em que as compras de empresas se faziam por múltiplos de EBITDA e se esquecia tudo o resto abaixo.
No entanto deixe-me explicar-lhe como, em minha opinião, deve analisar as contas de um clube: Se excluir do seu EBITDA as vendas de jogadores, fica com um EBITDA negativo. Como infelizmente o nosso clube se encontra sobre-endividado isso leva a que tenha que pagar também 20M€ de Juros/Ano. Ou seja, o que acontece é que tem que ter sempre a certeza que a diferença entre as vendas e as compras de jogadores são pelo menos a soma de ambos (cerca de 25M€) ou o seu Cash Flow é negativo. Este ano foram, mas para isso como se viu vendemos metade da equipa.
E corrija-me se estiver errado, mas o nosso passivo mesmo com todas as vendas (e com esse EBITDA fantástico que é tudo o que interessa para quem sabe gerir uma empresa) voltou a aumentar novamente... Raios, lá estão os factos sempre a meterem-se no seu caminho...

E já agora o "É a hora" não é propaganda, é apenas a junção de dois amores... Benfica e Fernando Pessoa. Peço desculpa, não volta a acontecer.

Campaniço disse...

Caro Pedro, a sua critica já considero ser uma critica mais positiva, dada a minha inexperiencia na parte de escrever Posts, prometo que nos próximos colocarei também alguns pontos positivos para adoçar a mensagem.
Eu sei que não me foquei no resultado liquido, mas porque o mesmo foi, como sabe, feito à conta da venda de metade da nossa equipa.
Com toda a certeza vai ler imensos artigos no Jornal do Benfica a relembra-lo que o resultado liquido foi de 14M€, mas prefiro que as pessoas entendam o que neste momento está a acontecer para além do resultado. Temos um problema de sustentabilidade que faz com que o nosso passivo continue a aumentar sem que se consiga colocar cobro a isto (mesmo com o tal resultado de 14M€).
Mas se quiser alguns pontos positivos, conseguimos efectuar uma grande entrada de Cash com a venda de jogadores e felizmente temos conseguido adquirir jogadores baratos que neste momento são muito pretendidos, o que nos possibilita no futuro fazer o mesmo, apesar do risco que isso acarreta sempre.

Quanto à sua última frase, o Benfica é Eterno caro Pedro, eu só discordo do rumo, mas o nosso ponto de chegada é sempre a Glória.

Campaniço disse...

Caro Luís, muito obrigado por conseguir escrever um comentário com humor e conteúdo ao mesmo tempo.
De facto começo a pensar que tem razão na sua teoria, o problema deve ser das palas (do estádio claro está). O Sol tem muitas vitaminas, e as vitaminas são muito importantes para conseguirmos pensar, e deixar os outros pensar, de forma critica.

João Carvalho disse...

Eu tenho 10 anos de estudos nas áreas de gestão e finanças, 2 cursos universitários tirados no estrangeiro e 15 anos de experiência em gestão de empresas. Não sou nenhum teórico que anda enfronhado em livros. Tenho uma base teórica sólida e a sua aplicação na prática o que provavelmente deve ser algo que desconhece.

Mais importante do que todos os rácios de desempenho e rentabilidade, RE e RA, etc, que são importantes é para os acionistas, mais importante do que isso é a capacidade de criar riqueza, gerar fluxos de caixa, como se diz neste miserável país, o Benfica tem criado todos os anos cash flow suficiente para ir investindo e mantendo equipas competitivas e cada vez melhores.
Há 5 anos o Benfica estava na cauda das equipas na Europa. Se olharmos de onde veio o Benfica e onde chegou verificamos que a gestão do Benfica tem sido uma gestão controlada, com orçamentos bem feitos e bem geridos, cuja evolução em termos de proveitos, criação de riqueza tem vindo sempre a crescer.
Uma empresa não se limita à contabilidade (essa é a parte menos importante de uma empresa) e às contas, existem outras partes muito mais importantes e mito mais vitais para a sua sobrevivência. Esquece-se que o marketing e a publicidade, para dar apenas 2 exemplos, são cada vez mais importantes, com a parte da imagem a tomar uma parte significativa. A parte intangível que não se pode medir é cada vez mais importante e isso não vem no R&C.
À medida que os proveitos aumentam o clube vai ficando cada vez mais conhecido, os proveitos dessas rubricas terão possibilidade de aumentar à medida que o clube vai conquistando adeptos, mais mercados, por todo o mundo. Porque o Benfica não está limitado a Portugal.
E podia continuar, mas sinceramente não estou com paciência para ensinar "professores" que já percebi de gestão não percebem grande coisa excepto a parte em que estão encafuados nos livros e nos rácios financeiros e nunca começaram nem criaram empresas, postos de trabalho, nem geriram milhares de pessoas.

Para além disso, uma empresa não se pode ver apenas por 1, 2 ou 5 anos, tem de se ver a história da empresa, de onde veio, onde está e para onde vai. Isso não vem escrito nos livros de contabilidade nem de finanças.

O Benfica está a percorrer um caminho, não podemos avaliar o seu desempenho antes de chegarmos ao fim do percurso. Assim como não devemos avaliar o desempenho de um maratonista ao fim de 20 km. Nem uma equipa de futebol ao fim de meia hora. A não ser que se queira criticar e por isso aproveita-se a primeira oportunidade para o fazer, enquanto há tempo.

Campaniço disse...

Caro João, Bom dia. E que bem divertido começou o meu dia depois de ler o seu comentário :D

Como ainda sou novato nestas coisas de escrever Posts em Blogs no seu 1º comentário pensei "Bem aí vem o 1º profissional com quem vou trocar umas ideias e uns números, aprender umas coisas e talvez ensinar algumas". Afinal, bem esqueci-me que na internet cada um é o que quer ser… eu por exemplo sou astronauta e estou neste momento a escrever a partir do campo de treino da Nasa.

O seu post foi de inicio ao fim uma mão cheia de nada, limitou-se a dizer que sou um teórico (infelizmente para si não sou, senão quem sabe talvez me tivesse enganado) e debitou uma série de teorias. Já eu, como demonstram quer o Post, quer os comentários, sou um gestor prático apenas habituado ao dia a dia das empresas.

Mas eu faço-lhe o resumo dos seus dois Comentários só para colocar em perspectiva "Isto é só aldrabices e propaganda, o Ebitda são 74M€ que é a única coisa que interessa", eu respondo que o Ebitda operacional sem venda de jogadores é negativo e que o Benfica tem que vender para aguentar a operação e pagar os juros da divida e mesmo assim tem que se financiar mais (até para aguentar os impactos de WC, para o caso de não saber o que é, estou a referir-me ao Working capital), e você escreve uma resposta fantástica dizendo "Contas? Números? Isso não interessa nada. O que interessa é o Marketing a Imagem porque a cor da camisola alternativa está muito bem pensada. E para além disso não se pode só analisar 1, 2 ou 5 anos (ou 11 para ser mais exacto)"

Quanto à única parte não teórica que escreveu "o Benfica tem criado todos os anos cash flow suficiente para ir investindo", gostei de ver finalmente um comentário prático, se não fosse falso seria uma excelente parte do seu comentário. Mas infelizmente João, quando uma empresa se endivida para investir não se chama Cash Flow, chama-se Alavancagem Financeira.

Mas explique-me só mais uma coisa, "Gestor" João Carvalho, quando vai apresentar contas nas reuniões de accionistas da sua empresa, como eu vou, o que lhes diz? "Caros accionistas, eu aumentei o passivo em mais de 3 vezes e os resultados continuam a ser sofríveis, mas os nossos gestores de Marketing criaram um símbolo lindo…"????

Quanto à acusação de ser um teórico ou um professor, enganou-se, sou mesmo um profissional a sério… mas a sério, a sério… não daqueles que dizem que são e escrevem disparates na internet.

João Carvalho disse...

Para além de confundir conceitos de gestão tem dificuldades em interpretar português já que coloca palavras e conceitos na minha boca que eu nunca afirmei.

1. O Cash Flow são meios que a empresa liberta da sua actividade corrente. São esses meios que irão permitir ou amortizar o passivo ou fazer investimentos. Não me diga que tem outra maneira de ver ou será que acabou de descobrir a pólvora?
2. A alavancagem financeira é a relação entre o passivo e os CP da empresa. A única relação que eu vejo com o cash flow é quando este é insuficiente para os investimentos pretendidos e a empresa vê-se obrigada a financiar-se externamente, isto é, a aumentar o passivo, a alavancar-se.
3. Quem fez a afirmação que as vendas de jogadores não fazem parte da actividade corrente da empresa é o senhor, chamando-lhes receitas extraordinárias. Mas isso é a sua opinião, a opinião de alguém que desconhece o negócio, acho isso extraordinário.
Para sua informação, o negócio do Benfica não é só jogar futebol - na sua lógica os resultados da BTV também são resultados extraordinários - mas também formar jogadores, fazer crescer e valorizar os seus ativos intangíveis.
Não estou a ver como é que a venda desses activos formados e valorizados no clube deixem de fazer parte da actividade corrente da empresa a partir do momento em que são vendidos. O Benfica não é uma padaria que só vende pão e similares.

Não se esqueça de dizer aos seus patrões a quem presta contas que nunca se irá endividar. Se lhe perguntarem a razão porquê é bom ter uma boa desculpa à mão.
Já gastei o meu latim por hoje. Passe bem!

Unknown disse...

Para mim o raciocínio peca num ponto essencial. O ponto que os resultados de operações com jogadores é um resultado extraordinário, quando na verdade, no modelo que os clubes que não são de topo, ou seja clubes que são necessariamente vendedores, esses resultados são uma componente endógena do modelo de gestão e não algo que acontece extraordinariamente.

O Benfica fruto de ter um mercado reduzido, por muito bem explorada que seja a BTV (imaginemos que no próximo ano chegaria aos 35/40 milhões de proveitos), nunca se poderá comparar com os clubes da Premier League, mas não poderá também comparar-se ao nível dos valores que obtém, quer em termos de patrocinadores para a camisola, ou patrocinadores técnicos, isto para já não falar que devido ao fraco poder de compra dos portugueses, os valores de matchday também ficam aquém dos valores obtidos pelos clubes das principais ligas ou que os valores que a UEFA distribuiria por uma vitória na Liga dos Campeões seriam menores do que uma qualquer equipa da Inglaterra, Alemanha, Itália ou Espanha recebe por passar a fase de grupos.

Com estas limitações, como pode o Benfica competir em termos salariais com um qualquer QPR, quanto mais um um Tottenham, um Zenit ou um Manchester City ? Fruto dessa incapacidade de dar aos jogadores que mais se destacam os valores que eles consideram justos, o Benfica será sempre um clube vendedor, caso contrário repetirá ad eternum as asneiras cometidas com Matic e David Luiz.

Assim sendo e visto que o Benfica não tem capacidade de concorrência salarial, só poderá competir com os tubarões como sendo um clube que permite saltos na carreira e que primeiro detecta os bons valores, endogeneizando a valorização de jogadores como uma das suas fontes de criação de valor.

Outra questão que não está muito correcta, é que a dívida relacionada com as infra-estraturas tem vindo a ser paga, ou seja não se está a fazer obra sem pagar, pelo contrário.

O que se deve discutir é se o crescimento competitivo do Benfica justifica o endividamento ou se tal poderia ser obtido de outra forma.

Penso não haver dúvidas que face a 2006-07, época antes da entrada do Quique Flores, quando começou o investimento a sério na equipa de futebol, o nível competitivo cresceu significativamente, tanto interna como externamente. Provavelmente não se aproximou dos melhores da Europa porque estes cada vez mais gastam milhões e milhões com os quais não podemos concorrer, mas se calhar conseguimo-nos afirmar num segundo patamar competitivo. A questão é se será o desejável, ou se deveremos ambicionar mais. Claro que devemos ambicionar mais, mas será que realisticamente temos possibilidades ?

Unknown disse...

Chegado a este ponto poder-se-á pensar que estou a defender o modelo seguido, não estou, estou a explicá-lo sem quaisquer adjectivações.

O passivo disparou porque o Benfica adoptou uma política de investimento que visou tornar a equipa de futebol mais competitiva. Poderia ter sido feito de outra forma ? Talvez no grau, muito possivelmente nas opções de gestão de recursos humanos, mas se calhar falaríamos em 5 anos de 20, 30 ou 40 milhões de euros de diferença. E sim, é uma grande diferença, mas no core business, muito pouco se alteraria.

Com isto quero dizer que o Benfica, à semelhança do Porto incorporam no modelo de gestão que têm que ter proveitos na ordem dos 60 ou 70 milhões de euros nas operações com passes de jogadores para terem contas equilibradas. E sim, são encarados como um proveito operacional e não extraordinário.

A lógica da gestão passará no futuro por fazer crescer os proveitos da BTV e conseguir potenciar ao máximo os jogadores formados no Seixal para que se diminuam as aquisições no estrangeiro. Mas, mal do dia em que o Benfica deixe de olhar para o estrangeiro para detectar bons valores, será o dia em que começará a ficar para trás. Por muito boa que seja a formação, a aposta desmesurada na formação implicará um maior diferença competitiva para os grandes europeus.

Não, neste momento a aposta nos produtos do Seixal não é relevante, quanto mais desmesurada, apesar de termos vários ex-juniores a jogarem em equipas das primeiras ligas nacional e europeias. No final desta época perceberemos até que ponto estas apostas deram frutos.

Quanto ao desequilíbrio de WC, só o veria possível de reduzir com uma sangria ainda maior do plantel. Qualquer jogador ao renovar tem um significativo aumento de ordenado e só a substituição de jogadores que tenham salários elevados por jogadores com salários mais baixos permitirá inverter a situação.

Outra solução passa por uma reestruturação financeira à La Sporting, com a transformação de Passivo Bancário em futuro capital e juros consequentemente mais baixos, mas será que os Benfiquistas estão dispostos a perder a maioria na SAD ?

Identificar problemas, é relativamente fácil, complicado é criar soluções. Perante um Porto que investe como investiu este ano, caso tivesse um treinador mais competente, ninguém conseguiria rivalizar com eles, quanto mais discutir o campeonato.

O campeonato é muito longo e os investimentos feitos no fim do mercado, que trouxeram jogadores de salários elevados - Júlio César, Jonas e Eliseu, mostram claramente que a qualidade se paga e se paga bem e veremos se no fim do campeonato, as diferenças não reflectirão a qualidade dos plantéis.

VC disse...

Lidos estes comentários alguém que se orgulha de não pertencer a esta casta de "conhecedores" da área financeira, coisa que não ponho em causa, gostaria de tecer alguns comentários:
1. Como é possível uma empresa ter um passivo de 500 M€ (numa empresa que tem de receitas 100M€/ano) e dizer-se que está no bom caminho ou é uma empresa saudável?
2. Como é possível uma empresa pagar 20 M€/ano (20% da sua receita) e dizer-se que a estratégia está certa e nos dois casos não haver, pelo menos, alguma preocupação.

NOTA: não sou profissional mas também tenho dois cursos superiores (curiosamente nos dois foi mais andei por lá) e agora estou a trabalhar no CERN. Mas estou com um problema que talvez me resolvam: estou farto de andar às voltas e não encontro a saída. Sinto-me perdido. Cheira-me que é como está o Benfica.
1 Xi-coração.

Campaniço disse...

Caro João:

1. Não não tenho outra forma de ver. O Benfica tem tido um Cash Flow negativo, tanto que tem sido obrigado a Aumentar os seu financiamentos. O Cash Flow do Benfica é negativo.

2. Concordo totalmente com a definição. O Benfica tem vindo a financiar-se externamente todos os anos. Repare que todos os anos o passivo financeiro aumentou.

3. Esta questão iriamos poderiamos estar a discuti-la eternamente. Mas não se esqueça que foi o presidente do Benfica que disse que seriamos capazes de não vender jogadores, não eu. Por curiosidade diga-me, acha que isso é verdade, acha que o Benfica consegue gerar suficiente receita para não vender? Eu acho que não e o relatório e contas do Benfica tem mostrado isso todos os anos.

Quanto ao último comentário, obviamente não existem empresas sem endividamento, mas acha mesmo que o Benfica tem uma estrutura de capitais equilibrada? É impossível que pense isso.

Viu como podemos ter uma troca de ideias razoavel mesmo não concordando em muitos aspectos...

Campaniço disse...

BCool muito obrigado pelo seu comentário.
Pelo que percebo, no fundo não temos ideias tão incompatíveis como isso, tanto que dizes que a identificação de problemas é relativamente fácil, é porque os problemas que identifiquei também já os identificou antes.
Tem razão que é relativamente fácil, o que penso é que a maioria dos Benfiquistas não está tão esclarecido como você, algo que tentei fazer explicando de forma simples as demonstrações financeiras para um leigo.
Não me parece que o Benfica se tenha esforçado a explicar aos sócios os riscos do caminho seguido e o estado das coisas.

Mas vamos aos seus comentários:
- Sobre a questão da venda de um jogador ser extraordinária ou não, creio que é uma discussão pouco relevante por si só. No meu entender e penso que de qualquer pessoa, o ideal seria sempre não apostar apenas nisso ou pelo menos não fazer disso uma depêndencia, algo que é no caso do Benfica (e como diz, no caso do Porto também, tal como eu digo no meu post). No entanto o Presidente do Benfica disse há cerca de 1 ano que isso seria possível, que o Benfica não mais seria obrigado a vender depois daquele mercado. Acha que isso alguma vez é verdade? Penso que é indesmentível, e penso que pelo seu comentário está de acordo comigo, que o Benfica tem que vender sempre à volta de 60M por ano para conseguir cumprir os seus compromissos. E se calhar ficaria surpreendido com a quantidade de Benfiquistas que não têm noção disso, tanto que face à venda de jogadores, metade dos sócios se apressou a dizer que o BES estaria a pedir os empréstimos todos de volta.

-Acerca do Benfica não conseguir concorrer em termos de salários com outras equipas. Totalmente de acordo, não me parece que alguma vez isso seja possível. E vamos ter sempre que vender jogadores pela vontade dos mesmos quererem sair para ir ganhar mais. Mas estamos a misturar conceitos. Uma coisa é deixar jogadores saírem por eles forçarem a saída, outra coisa é nós sermos Obrigados a vender, algo que me parece óbvio que é um facto.
Uma coisa é nós aproveitarmos a nossa capacidade de projecção para termos aqui jogadores de alto gabarito enquanto jovens para os ajudarmos a dar o salto, outra coisa é estarmos dependentes de vender, em caso de vitória ou derrota, sob pena de não conseguirmos honrar os nossos compromissos e sem conseguirmos preparar uma equipa estável de uma época para outra.
O que digo no post é, o Benfica tem que vender ou vender e aumentar a divida.
É bom que os Benfiquistas não pensem que num futuro próximo vamos, como nos foi dito, parar de vender.
Penso que eu sei disso, você sabe disso, mas como pode ver por alguns comentários ou por outras pessoas que deve conhecer, nem toda a gente está à espera disso.

- Quanto ao pagamento da Obra, penso que depende muito da forma como olhas para as contas, se os pagamentos dos empréstimos feitos especificamente para as obras diminuiram? Sim. Mas claramente também tens constituido empréstimo atrás de empréstimo para pagar o anterior. Dizer que o investimento foi apenas para apostar na equipa é muitíssimo difícil de concluir dessa forma.

- Quanto ao aumento do investimento na equipa a partir de 2006, tens toda a razão que houve um investimento a partir desse ano. O que penso que não podes esquecer é que o aumento de qualidade não reflecte o brutal aumento da divida. Nem sempre o aumento da qualidade ou capacidade de geração de cash flow futuro do investimento é proporcional ao aumento de dívida, e isto é natural, dado que nem sempre ganhas, nem sempre o jogador se rentabiliza, nem sempre acertas nas apostas que fazes em termos de jogadores... (continua)

Campaniço disse...

(Continuação) - E é principalmente neste ponto que penso que o modelo que temos hoje irá falhar a longo prazo. Sim, acho que temos que aproveitar as vendas e sim acho que os jogadores acabarão por sair por impossibilidade nossa de concorrer em termos salariais. Não, não acho que a longo prazo isto seja sustentável e tenho sério receio que o Benfica esteja neste momento a ultrapassar o limite razoável do investimento. É que o Benfica ainda não conseguiu passar um ano sem aumentar a sua exposição, e tenho sérias duvidas que o consiga num futuro próximo.
- Chegamos ao ponto em que mais estamos de acordo e em que percebi que com mais ou menos diferenças de conceitos, sabe que não dá para fugir muito da realidade, o Benfica tem mesmo que alterar a estratégia. E concordo totalmente que não pode passar por uma loucura de aposta na formação só por si, nenhum clube europeu consegue fazer isso sem perder competitividade. Mas claramente tem que haver uma aposta gradual e uma mescla entre formação e qualidade da prospecção. O Benfica tem que passar a fazer da compra um acto muito mais reflectido e qualitativo e da aposta em alguns jovens da formação algo de relevante.
Concordo que actualmente temos que apostar ao máximo na exploração e internacionalização da Benfica Tv (não adorei a ideia de ínicio por achar que é um investimento fora do nosso Core Business) e da marca Benfica, apostar na necessidade de encher o estádio como fazem diversos clubes alemães apesar de terem menos adeptos que nós (menor preço de bilhetes mas provavelmente maior turnover total, maior venda de merchandising)...

- Quanto ao desequilíbrio de WC, nada a dizer, como reparou o meu post nem o refere, apenas falei no WC numa explicação ao João Carvalho dado que é a mesma explicação que o Benfica dá, e parece-me que bem, para a necessidade de ter que se endividar mais este ano em que teve resultado liquido positivo.

- Quanto à comparação com o Porto, é verdade que investiu esta época, mas tal como considero que o Benfica não vai aguentar esta postura muito tempo, também creio que o Porto não está diferente. Este investimento todo foi um total acto de desespero (All In?!?!?) e em caso de eles não conseguirem ganhar nada este ano, a corda vai apertar um pouco mais o pescoço.

Obrigado pelo seu comentário, gostei bastante da partilha de ideias, vá aparecendo por este ou futuros posts.

Unknown disse...

Caro Campaniço,

A discussão da venda de jogadores ser extraordinária é efectivamente a grande diferença de perspectivas.

Independentemente de discursos mais ou menos voluntaristas da parte do presidente do Benfica, a verdade dos factos é que há clubes que apostam na valorização de activos como forma de criação de riqueza e isso sim, acho que deveria ser assumido claramente.

Se não existir venda de jogadores, nenhum dos grandes poderá ter orçamentos equilibrados. A quantidade do desequilíbrio dependerá de sociedade para sociedade, mas nem todas têm a hipótese de ver os seus custos financeiros "financiados" pela banca por forma a equilibrarem os orçamentos.

Quanto ao desequilíbrio dos 60 milhões, tal deve-se a 2 ou 3 factos: - o péssimo clima económico que tem feito descer as receitas de matchday e limitado o crescimento dos proveitos em termos comerciais
- a escolha de melhores jogadores e a renovação com os melhores, implicou um aumento significativo da massa salarial, sem que as outras receitas o acompanhassem
- o maior valor do plantel, implicou o aumento das amortizações
- a escolha do crescimento pelo endividamento, diga-se que acho ser o único caminho possível, embora não concorde com o grau, originou uma pesada factura em termos de custos financeiros
- uma pobre escolha de jogadores, considero que há demasiadas más escolhas que têm tido custos grandes, desperdiçando recursos preciosos.

O aumento de receitas através do modelo BTV, das receitas de matchday e das receitas comerciais, juntamente com uma política de restrição de custos que não ponham em causa a competitividade desportiva, será o caminho para reduzir esta necessidade de vender.

A incorporação de mais atletas provenientes do Seixal, diminuindo a aquisição de jogadores, diminuirá o valor de balanço do plantel e consequentemente o valor das amortizações, bem como os custos de intermediação nas compras e os valores de investimento, mas isso é algo que só será possível com maior qualidade da formação.

Um último aspecto só para comentar a questão que a valorização do aumento competitivo versus o custo que teve esse aumento, é algo que não é linear, nem fácil de qualificar.

Campaniço disse...

Caro Vc
Por vezes é mesmo necessário um "não conhecedor" para sintetizar e focar no essencial :)
Tem toda a razão e eu estou preocupado.

Muito obrigado pelo seu contributo, vá aparecendo e ajudando à discussão

Campaniço disse...

Caro Bcool,

De acordo com a quase totalidade da sua análise.

Falta uma coisa, que se assuma isso. Que a direcção se chegue à frente e diga "carros sócios, dado o desequilibro actual das contas, assumimos que parte do nosso core tem que ser obrigatoriamente vender 60M€ por ano". E os sócios quando votarem decidem se gostam desse caminho ou não.

É claro que não adiantam demagogias, mesmo que os sócios hoje não queiram esse caminho, não há nada a fazer neste momento, não dá para equilibrar as contas sem essas vendas anuais, nisso estamos de acordo. Aliás, esse é o principal ponto que tento chamar aqui a atenção, considere-as operacionais ou extraordinárias tanto faz, somos obrigados a vender dê por onde der. E muito provavelmente, por mais vendas que sejam feitas, vamos continuar a endividarmos.

Quanto ao tal Deficit anual que falo no post e que o Bcool comenta também, terá certamente muitas razões, mas da que enumerou obviamente que considero que o grau de endividamento é aquele para o qual chamo mais a atenção no meu post. Obviamente uma empresa tem que se endividar para conseguir gerar mais riqueza e ser competitiva, mas ambos sabemos que o desequilibro dos capitais é fatal.
O desequilibrio entre o capital próprio e alheio é tão elevado que se torna muito dificil travar a escalada do financiamento.
É o que eu chamo meio a brincar o Ciclo da Pobreza: Maiores necessidades geram mais divida, que gera maiores necessidades, que gera mais divida…

Quanto ao resto, concordo e é mais ou menos o que escrevi antes, aposta no desenvolvimento das receitas televisivas, aposta nas vendas de bilhetes (para mim seria necessária uma maior aposta clara nos redpass), aposta na formação, que penso já ter qualidade para merecer dois ou três jogadores na equipa (e depois ir deixando cada vez entrar mais gradualmente) e muito mas muito rigor na escolha de jogadores.

Unknown disse...

Atenção que eu não digo que são obrigatórios 60 milhões, ou 50 ou 70.

Digo que estimo em cerca de 60 milhões esta época, mas estará sempre dependente de como as outras receitas e as despesas evoluírem e do valor de balanço dos jogadores cujos passes têm que ser alienados.

Na verdade, nesta época já saíram Cardozo, Markovic e Oblak, o que chega a cerca de 32,5 milhões, pelo que em princípio bastará a venda de Pérez ou Gaitán (eventualmente Salvio) por um valor entre os 30 e os 35 milhões para não ser necessário qualquer venda adicional.

Isto quer dizer, que em princípio, a equipa para a próxima época (2015/16) será muito próxima da actual, pois apenas bastará a alienação de um jogador nuclear.

Com isto, pretendo que seja entendível que há ciclos de investimento e ciclos de desinvestimento, o Porto também o faz, pois não é possível manter as fichas sempre todas em cima da mesa, mas também não é necessário todos os anos proceder a revoluções.

Sim, eu preferiria que o Benfica vendesse dois jogadores nucleares e que com esse excedente, amortizasse parte do passivo, mas isso estará sempre dependente de bons negócios quer em termos de vendas, quer em termos de compras. Não estamos assim tão desequilibrados que todos os anos precisemos vender meia equipa, embora será muito difícil, ainda para mais com o FPF que se repita a aposta feita na época passada. Resta-nos apostar na competência técnica para permitir manter a competitividade, mesmo que surjam situações extraordinárias, como a saída de 5/6 titulares.

Campaniço disse...

Obviamente a análise que se pode fazer é à data de hoje.

Mas de acordo com os resultados operacionais deste ano, o Benfica precisa de cerca de 25M€ de diferença entre o seu fluxo de transferencias (Vendas - Compras) para se manter estável (5M€ para os resultados operacionais negativos + 20M€ para os Juros). Neste caso são os cerca de 60M€.

Para que os valores mudem, obviamente terão que ser alterados os montantes em causa, aquele cliché básico de aumentar proveitos ou baixar custos.

O grande problema para mim não são os ciclos de investimento e desinvestimento, é o fazer a coisa certa em cada ciclo. Se não amortizarmos divida nos ciclos de desinvestimento, então dificilmente o vamos fazer e vamos ter um desfasamento entre o investimento e o aumentar do passivo.

Este ano mesmo com as tais vendas de bastantes jogadores a valores consideráveis, o passivo financeiro aumentou em cerca de 38M€.

Hoje estamos desequilibrados, mas se continuarmos sem fazer a coisa certa a cada ciclo vamos chegar a um ponto em que estaremos muitíssimo desequilibrados.
Não podemos, nem nenhum clube pode, aumentar o passivo em qualquer dos ciclos.