Antes de se sentarem confortavelmente a ler o próximo comunicado ou notícia encomendada pelo hábil departamento de comunicação gerido e pensado por homens como Luís Bernardo e com a colaboração de José Marinho, antes mesmo de se submeterem a essa tentativa de lavagem cerebral, gostaria de propor a seguinte reflexão.
Nenhuma equipa ganha sempre. Nem que faça tudo sistematicamente bem, com o maior rigor, seriedade e profissionalismo possível. Não é o caso do Benfica. Naquilo que parece ser o epílogo do tetracampeonato, o Benfica não parece ter sido, nas várias esferas do clube, suficientemente competente a preparar a época de ataque ao penta.
As saídas de Ederson, Semedo e Lindelof não parecem ter sido devidamente colmatadas. A direcção não acautelou devidamente as saídas que já se adivinhavam desde Janeiro e acumulou um sem-número de erros na gestão dos reforços para essas posições. Se compararmos individualmente os jogadores que compõem a linha mais recuada dos três grandes, fica a clara sensação de que o Benfica está uns bons furos abaixo de FC Porto e Sporting. Cento e vinte milhões de euros feitos na pré-época e apresentar jogadores como Varela, Almeida, Luisão (a caminho dos 37 anos) e Lisandro na defesa é um insulto à inteligência dos adeptos. Parece que a estrutura que proclama estar dez anos à frente das restantes não percebeu que no futebol, além de meio-campo e ataque, também são precisos defesas.
E quando há uma clara diminuição da qualidade individual, a qualidade colectiva ressente-se. O Benfica é hoje, enquanto colectivo, muito menos equipa que o que era há cinco meses. Se perante a inépcia do treinador as individualidades ainda resolviam, quando se diminui o número de individualidades capazes de desequilibrar não se pode esperar muito. Mais: os poucos jogadores de qualidade acima da média que têm representado o Benfica nesta temporada precisam de colegas à sua altura. No meio de um colectivo recheado de estrelas, todos brilham. No meio de um colectivo onde há demasiados jogadores banais, até os melhores passam por medíocres.
Ma não podemos atirar as culpas exclusivamente para as individualidades que a estrutura nos deixou. Os processos e a ideia de jogo do Benfica de Rui Vitória são confragedores. Paupérrimos. Acredito que não se pode exigir mundos e fundos a um plantel desta qualidade, mas também não podemos apresentar um futebol tão desprovido de rasgo, tão estático, tão desligado entre sectores. A condição física não ajuda, é um facto. E não falo só da preparação física dos jogadores lesionados (14 desde o início da temporada). Já se perguntaram por que é que Pizzi e Jonas, ontem, pareciam esgotados como se estivessem no final de uma época com 60 jogos nas pernas?