sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Não viajes, Benfica.

A forma como eu entendo o Benfica passa por sentir que o clube deve estar no futebol sempre de uma forma ambiciosa - em Portugal e nas competições europeias. Foi assim que fui ensinado: noites contra equipas estrangeiras, noites gloriosas, antes e depois em confraternização com os adeptos das equipas que vinham à Luz, a experiência partilhada, o Benfica maior que o país. 

A História deste clube revela-nos isso: transcendência, dentro e além-fronteiras. Quando, no final dos anos 50, houve quem pensasse o clube não apenas para uma hegemonia nacional mas para o elevar o Benfica a uma potência europeia e mundial. Sem medos, temores, traumas, preconceitos, mesquinhas formas de portugalidade reprimida. Esses homens viram largo, não se remeteram a objectivos pequeninos nem a estados de espírito coerentes com o que a miséria política do país perpetuava. O Benfica elevou-se porque teve gente com horizontes distantes e teve, claro, porque a ambição em si mesma não se resolve, gente de muito valor. Houve, portanto, dois principais factores para a consolidação do Benfica na Europa como melhor clube europeu da década de 60: sonho e competência. Um sem a outra, é utopia; a última sem o primeiro, incapacidade de transcendência, limites curtos.

Para mim, o Benfica deve estar programado para, em todas as épocas, lutar pelas provas nacionais e esperar grandes prestações europeias: a final como objectivo, mas se ela for inalcançável, ao menos conseguir chegar aos quartos ou meias-finais das provas. É assim que o Benfica se perpetua e consagra a sua própria História, não há segunda opção. Antes até das questões financeiras - que hoje são quase fins em si mesmos e não, como seria lógico, apenas meios - o que importa, ou devia importar, é o lado desportivo, a questão da competitividade e assumpção de grandeza. O Benfica deve impor-se sempre na Europa porque é essa a sua matriz fundamental e histórica - ao contrário, por exemplo, do Sporting, que sempre foi um clube com pouca capacidade para as disputas europeias; e até do Porto, que só a partir dos anos 80 assumiu objectivos europeus, embora para isso muito tenham contribuído as várias passadeiras vermelhas estendidas nas competições nacionais, que os libertavam para mais facilitadas disputas na Europa.

É, por isso, com muita pena minha que admito a nossa incapacidade actual para enfrentar os últimos quatro meses da época com possibilidades de sucesso em todas as provas. Custa-me que o Benfica não possa olhar para o futuro e pensar seriamente em ser Campeão Nacional e vencedor da Liga Europa. Custa-me, porque se houvesse competência em quem dirige o clube esta realidade poderia ser substancialmente diferente. Bastaria, para isso, que no Benfica se pensasse que os objectivos financeiros devem sempre estar atrelados ao que realmente importa: os objectivos desportivos. E que as pessoas percebessem que quanto mais troféus o Benfica ganhar (cá e no estrangeiro), mais dinheiro entrará nos cofres do clube - não são só as receitas vindas da UEFA, esse é apenas um pormenor; são as receitas advindas da satisfação generalizada dos adeptos. 

O que as pessoas que governam o Benfica ainda não compreenderam (nem compreenderão, visto que muitas delas nem do Benfica são) é que o adepto e sócio do Benfica, se vê o clube vencer consecutivamente, dá tudo e mais alguma coisa. Compra camisolas, vai aos jogos, paga cartões de sócio aos amigos e à família, chama outros para o estádio, dá presentes relacionados com o clube, promove a ida aos espaços comerciais do estádio, empolga-se, compra red pass. Esta valorização do «activo» adepto benfiquista é desprezada por uma lógica de "clientela" e ainda por cima uma lógica incompetente, mal-educada, absurda, desfasada, desconhecedora do que é o benfiquismo e de como ele pode ser potenciado. Até para as questões financeiras, esta gente é incompetente. Por um simples motivo: falta-lhes o lado emocional. Paradoxo? Não, uma evidência. Um clube, por mais que nos vendam a ideia, não é uma empresa. Pode ser gerida com profissionalismo - deve, aliás, ser gerida com profissionalismo -, mas um profissionalismo apaixonado. Um gestor deve saber de contas e do clube. Um dirigente deve conhecer a fundo o que faz mover os benfiquistas pela simples razão de que ele deve ser... um deles, e não um adepto de outro clube (que é moda na nossa Direcção). 

Já o escrevi algumas vezes, o exemplo melhor para compreendermos o actual pensador das questões financeiras do Benfica é este: em vez de pensar em ter 50.000 adeptos por 10 euros no estádio, não se importa de ter 10.000 adeptos por 50 euros. Esta fórmula define completamente a diferença entre ser-se gestor e benfiquista e ser-se apenas gestor. Para DSO, não interessa se o estádio está quase cheio ou quase vazio. Interessa saber, no final do jogo, que entraram 500.000 nas contas do clube. Não percebe, porque não sente o clube, que se estiverem 50.000 pessoas no estádio, a equipa mais provavelmente ganhará o jogo. Não percebe, porque não sente o clube, que se estiverem 50.000 pessoas no estádio, no próximo jogo muitas delas virão outra vez. Não percebe, porque não sente o clube, que se estiverem 50.000 pessoas no estádio, esses vão falar do jogo para casa e para o café e para a empresa e para o banco e para o autocarro e vão, a curto, médio e longo prazo, trazer mais gente para dentro do estádio. Não percebe, porque não sente o clube, que se estiverem 50.000 pessoas no estádio, o benfiquismo propaga-se e evolui. Não percebe porque não é do Benfica. E isso é algo de profundamente absurdo, que nenhuma teoria de "profissionalização" me consegue convencer. A menos que me digam que num universo de milhões de adeptos do clube não há nenhum gestor BENFIQUISTA com capacidade para fazer melhor do que o trabalho incompetente de um lagarto. 

O mais bizarro ainda é o facto de nem em termos financeiros este gestor conseguir compreender as dinâmicas do clube. Podia ignorar a importância desportiva que um estádio cheio potencia, mas compreender ao menos as mais-valias financeiras de tê-lo sempre composto com pelo menos 50.000 adeptos. Podia ignorar o que é a confraternização em dia de jogo, mas pensar a possibilidade de receitas superiores em merchandising e quotização por ter o estádio com pelo menos 50.000 adeptos. Podia desconhecer o valor intrínseco da alegria que os emigrantes têm em ver na televisão um estádio pintado a vermelho, mas potenciar a venda de cartões de sócio e camisolas junto das comunidades no estrangeiro. Nada disto Domingos Soares Oliveira compreende e muito menos sente. E é por isso que o Benfica nada ganha em termos desportivos e corre dramaticamente para um fosso financeiro de onde só muito dificilmente sairá se não se inverterem as estratégias - desportivas e financeiras.

De modo que, com muita pena minha, teremos de desprezar a nossa História no futebol europeu. Com um plantel absurdamente desequilibrado (que nem em Janeiro souberam dotar de soluções para as evidentes lacunas que ele tem), a única hipótese, já por si muito remota, de sermos campeões passa inexoravelmente por... sermos já eliminados contra o Leverkusen. 

Lá estarei no Estádio a apoiar, porque não consigo querer uma derrota do Benfica. Lembrar-me-ei do golo do Isaías que festejei com o meu Pai já com meio-estádio a descer as escadas do terceiro anel, pensarei no Ulrich Haberland e nos seus mágicos 4-4, sonharei com a vitória. Mas, lá no fundinho, no pragmático que há em mim, se no final do jogo na Luz tivermos sido eliminados, ao menos terei a certeza de que pelo menos ainda haverá uma pequena esperança de sermos campeões.

15 comentários:

Anónimo disse...

Isto.
Fernando Tavares falou disto antes das eleições. Várias vezes. Normal, porque ele é do BENFICA.

Quando compreenderem isto, o Benfica dará um passo em frente, em tudo.

RedSpecial disse...

Lá estamos nós a falar mal do "refundador", do "pai da família benfiquista"... O que interessa é irmos ao Jamor... de bigode! Como se ir ao Jamor, perante a história do SLB, merecesse tamanho histerismo! Dantes, era uma passagem quase obrigatória! Hoje é transcendência! Assim, como devemos à cabeça renovar já com um técnico que em 3 possíveis nos deu apenas um campeonato! Vamos ter o fantasma de vale e azevedo durante mais, pelo menos, 3 anos!

Pedro Santiago disse...

Ricardo, acompanho o blog e partilho da maioria das opiniões que emites, sendo que esta não é excepção. Esta época, contamos armas. E não são tantas quanto isso. E, por isso mesmo, devemos usá-las sempre, e todas, contra o nosso maior inimigo. E este só será derrotado se a nossa ofensiva for planeada e direccionada para esse objectivo, sem incursões aventureiras e com pouca probabilidade de sucesso.

Ainda assim, um louvor ao JJ, que tem sabido gerir o plantel como não tinha acontecido nas 3 épocas anteriores. E oxalá Aimar e C.Martins consigam ter alguma regularidade até ao final da época; e que o Matic e o Melga não se lesionem. Isto porque, do mal o menos, estamos nesta 2ª metade da temporada com alguns jogadores que podem ser fundamentais (e irão sê-lo, certamente) "frequinhos". Falo de Gaitàn, Luisão e Aimar.

Ainda assim, e voltando ao ponto inicial, o plantel é curto para acudir a todos os fogos, pelo que uma eliminação (anunciada) frente ao B.Leverkusen, sendo evidentemente desagradável, pode acarretar vantagem para a conquista da dobradinha. Afinal, "há males que vêm por bem", e será a isso a que me agarrarei, caso caiamos aos pés dos alemães.

No que toca ao resto do post, apenas digo que está (já estava, em Outubro) na hora de devolver o clube a quem lhe deu o ser, aos adeptos. Àqueles que ao longo da história do clube tiveram a visão, a paixão e a competência para o transportarem para um patamar supremo. Há trabalho feito (não o menosprezemos), há condições de topo, mas tem faltado algo fundamental, e que se chama amor.

Faltam, como bem dizes, BENFIQUISTAS.

Um abraço.

Anónimo disse...

Desejar secretamente a eliminação do Benfica nos 16 avos de final da Liga Europa, repito Liga Europa, para poder almejar lutar pelo título num campeonato como o português...sintomático do que é a vossa "força" e "grandeza"! Basta ler as recentes declarações de Lucho Gonzalez para perceber o porquê da hegemonia de vitórias do Porto...sim eu sei é a fruta, a corrupção e a amarelinha! Não è?

José Soares

Anónimo disse...

concordo plenamente com o benfica deixar cair a liga europa , o benfica nao tem subtituto pra matic por exemplo tem poucas soluçoes no meio campo ou pelo menos soluçoes fiaveis e com a saida do nolito e do bruno cesar a coisa piorou apesar de nehum ser fundamental podiam dar muito geito pra os rodar na liga europa e com prespectivas de sucesso , alme da ida a braga pra taça da liga , só ha uma coisa que me faz confusao e nao é querer alinhar no comentario do jose soares (esse monte de merda) mas tenho de olhar pro reles inimigo e ver que eles jogam com os jogadores fundamentais a epoca toda e eles nao rebentam algo n bate certo , mas voltando ao que interessa o benfica nao tem plantel pra "ir a todas" por isso é focar no que interessa e o que interessa mais neste momento é a nivel nacional e pra que possamos começar a pensar ganhar na europa temos de ganhar com regularidade em portugal por isso começemos pelo inicio e comecemos a ganhar em portugal e deixemos cair a europa este ano e ja nesta ronda .

jose luis cruz

Anónimo disse...

Não sei se vais ao estádio, o que sei é que se fores não vais conseguir ver a bola sentado...
Mas deixa lá isso, com o Proença na Madeira talvez tenhas uma alegria...
...e tu até que avisaste não é?
Decerto não demorarias uma semana a cagar tacos como fizeste a seguir a Braga, era logo a seguir ao jogo...

Unknown disse...

Acho que estão enganados, as saídas são consequência não de decisões de gestão desta época, mas de decisões de gestão de épocas anteriores.

Caso não tenham percebido, o Benfica foi obrigado a reduzir a dívida e como tal a gestão está amarrada a imposições externas. Pode até vir a endividar-se mais no futuro, mas à semelhança do Porto há uns tempos, fomos obrigados a uma redução drástica do endividamento bancário.

A sustentabilidade do futuro também depende da gestão presente e não se pode estar sempre a condenar o desvario das contas e depois condenar quando se aplica uma política de restrição e contenção de custos.

Mr. Shankly disse...

Concordo em parte com o José Soares. Temos que ser ambiciosos. O nosso ADN, a nossa herança, é ganhar tudo. É reinar em Portugal e ser uma força temível na Europa. Para mim é para tentar ganhar tudo, mesmo que no fim não ganhe nada. Se os adversários forem melhores, seja. Mas perder porque não se quis ganhar é o pior que me podem fazer.

Também concordo com o Bcool, as decisões foram tomadas com base no momento actual (do Benfica, de Portugal e da Europa).

Ricardo disse...

Bcool,

"Acho que estão enganados, as saídas são consequência não de decisões de gestão desta época, mas de decisões de gestão de épocas anteriores."

Claro, ninguém disse isso. Eu, pelo menos, não disse. As saídas são consequência de anos e anos de despesismo, más opções estratégicas e uma ideia absurda de que é preciso investir estupidamente para ter retorno. Não é. É preciso investir bem, errar muito pouco. O que tem acontecido é o contrário: investir mal, errar muito.

"Caso não tenham percebido, o Benfica foi obrigado a reduzir a dívida e como tal a gestão está amarrada a imposições externas. Pode até vir a endividar-se mais no futuro, mas à semelhança do Porto há uns tempos, fomos obrigados a uma redução drástica do endividamento bancário."

Percebi, percebemos todos, e porquê? Porque, quando aqui e noutros lados se chamava a atenção para a quantidade pornográfica de jogadores medíocres (com a consequência lógica nas folhas de pagamento), esta Direcção parecia os portugueses nos anos 90: não pensava no futuro, gastava e voltava a gastar. Se chegámos aqui, não é por questões de "crise", é pela incompetente estratégia financeira e desportiva. Desculpar os problemas que o Benfica tem pela conjuntura é fácil e cai bem numa certa franja de adeptos mais dados à aceitação sem questões de tudo e mais alguma coisa. Estamos na merda? Pois estamos, e a culpa é de quem?

"A sustentabilidade do futuro também depende da gestão presente e não se pode estar sempre a condenar o desvario das contas e depois condenar quando se aplica uma política de restrição e contenção de custos."

A sustentabilidade do futuro está sujeita às boas opções do presente (já que no passado foi o que foi). Condena-se o desvario das contas porque foi e é uma realidade e condeno um mau planeamento de plantel porque ele não está necessariamente ligado a uma política de restrição e contenção de custos. Tu podes ter um plantel equilibrado para uma época inteira sem esbanjares dinheiro. Precisas é que a estrutura esteja organizada de tal forma que, entre departamentos, haja coerência e competência. Uma prospecção de qualidade tem sempre jogadores prontos a suprirem lacunas, seja em Agosto seja em Janeiro. E não necessariamente jogadores caros. Essa ideia de que não podemos ir ao mercado porque não temos dinheiro faz-me muita confusão. Primeiro, porque gastamos dinheiro noutros jogadores e experiências mal amanhadas, subindo a folha salarial para quantos jogadores? 90? Felizmente não temos dinheiro; se tivéssemos, teríamos 200, não?

Depois, porque não precisas de muito dinheiro para contratar um bom jogador. Se fosse assim, se um clube como o Benfica só soubesse descobrir os que já estão descobertos, então toda a gente pode fazer parte da prospecção. Olha para os exemplos de jogadores nacionais de quem se falou que poderiam vir para o clube. São só exemplos, mas chegam bem para perceber que é fácil, se houver alguma competência na análise, trazer gente de qualidade para acrescentar valor ao plantel.

Agora... depois de um Agosto em que arrasaste o plantel, a equipa consegue responder, juntamente com a capacidade do Jesus, e chega-se a esta altura ainda com boas perspectivas. E o que faz a Direcção? Acha que não é necessário comprar ninguém e ainda vende dois gajos. Isto é ridículo, absurdo, bizarro, o que quiseres. E o próprio Jesus passa o tempo a atirar farpas à direcção. Só não vê quem não quer.

Não é uma questão de necessidade de contenção. É uma questão de necessidade de inteligência. E essa abunda pouco para aqueles lados.

Unknown disse...

Já não me lembro quando, talvez em Agosto, perto do final de mercado quando se previam algumas saídas, mas havia quem jurasse a pés juntos que o Benfica não tinha necessidade que ninguém saísse que eu avisei, temos 90 milhões de euros em empréstimos obrigacionistas a vencerem-se durante a época e ainda mais uns quantos milhões em amortizações de empréstimos programadas.

Obviamente que se vendeu no final de Agosto e que se investiu na compra de um ponta de lança, Lima, que tantas alegrias nos tem dado.

Essa foi uma opção consciente, o investimento numa posição que o Jesus considerava ser necessária reforçar, assim como já tinha existido investimento em reforçar posições onde existiam já alternativas - Salvio e Ola John. Nestes três jogadores o Benfica investiu esta época cerca de 26 milhões de euros.

E o responsável por esse investimento foi o treinador. Foi o treinador que quis esses jogadores e não outros. Se calhar pensava que poderia investir mais 50 milhões em aquisições como o Benfica fez nas últimas épocas, enganou-se.

A questão é que os 50 milhões do empréstimo obrigacionista não foram substituídos por qualquer outra operação.

O BENFICA REDUZIU 50 MILHÕES DE EUROS DE PASSIVO BANCÁRIO EM DEZEMBRO.

Não há liquidez, nem para jogadores baratos e por isso o Benfica tentou vender o Aimar e o Nolito para baixar a folha salarial e fazer entrar dinheiro em caixa. Não conseguiu, então vendeu-se Bruno César e emprestou-se Nolito, cortando mais 2 salários e recuperando parte significativa do investimento efectuado no Picanhas, segundo diz a imprensa.

Mas ainda temos outro empréstimo obrigacionista para reembolsar em Abril no valor de 40 milhões de euros. Não saíu até ao momento nenhuma notícia quanto a ser montada uma operação para fazer o revolving deste empréstimo.

A prioridade é cumprir escrupulosamente com os bancos para não aumentar o perfil de risco e consequentemente os spreads, com os jogadores e com todas as outras entidades.
(cont.)

Unknown disse...

(cont.)

Saímos da Champions, pelo que as receitas a receber serão menores que no ano passado, a bilheteira tem mostrado estar abaixo do ano passado. Não há ainda solução para as questões dos direitos televisivos, da renovação/alteração de patrocínios, do naming do estádio, ou seja, há todo um conjunto de assuntos que sendo resolvidos poderiam dar outra folga à tesouraria.

Sem essa folga, não há alternativas que não sejam os empréstimos de jogadores que tivémos, essa é a nossa dura realidade até ao fim da época, por muito que a gostem de mascarar. Não somos o Porto que faz negociatas estranhas com fundos de investimento como o Quality Fund. Não andamos a contratar jogadores com salários muito elevados para tentar ganhar o campeonato.

Jesus tem uma equipa B. Aproveite os jogadores que tem na equipa B e potencie-os como fez com André Gomes e André Almeida, pois recebe um bom salário para potenciar os jogadores.

E sim, sou favorável a estas decisões que por muito que custem no curto prazo, terão retorno elevado no médio e longo prazo.

Pena e receio tenho eu do que vem aí para o fim da época senão for efectuado o revolving do segundo empréstimo obrigacionista ou se esse valor não for incluído no contrato de financiamento do Estádio, trocando assim dívida de curto prazo com dívida de longo prazo.

Claro que bons contratos de direitos televisivos, um contrato de naming interessante (espero que não cometam o mesmo erro do Arsenal), uma renovação/alteração dos patrocínios das camisolas e técnico por valores interessantes, a angariação de parceiros de sectores específicos em vários países, podem contribuir para que a tesouraria consiga compensar uma não eventual renovação do empréstimo obrigacionista.

NÃO HÁ DINHEIRO E FELIZMENTE NÃO ESTÃO A SER IRRESPONSÁVEIS, e espero que assim continuem.

Ricardo disse...

Volto a dizer: não estou a pedir que sejam irresponsáveis, era só o que faltava. Se, pela primeira vez, conseguem ter o discernimento de que não podem entrar em loucuras, paremos todos um bocadinho e rezemos porque é um momento histórico. O problema nisto é que as irresponsabilidades já foram todas feitas, chegando agora ao ponto em que têm de avisar os sócios: "meus caros, isto está muito grave, não temos dinheiro para mandar cantar um cego". Pois, não por falta de avisos. As pessoas esquecem-se rapidamente.

Por outro lado, já o disse atrás, desculpar a actual situação com a conjuntura social do país é não querer ver os erros que podiam ter sido evitados, apesar do cenário de crise. Outra estratégia não teria desaguado nesta situação. Isso é bom que fique claro, porque gosto pouco de passar paninhos quentes naquela que tem sido uma direcção maioritariamente de acções incompetentes.

Por fim, já o disse: as soluções que uma equipa de prospecção num clube como o nosso deve encontrar são exactamente as que se exigem em momentos de pouca capacidade financeira. Se me pagarem para passar os dias a criar relatórios sobre jogadores de futebol, podes ter a certeza de que no dia 31 de Dezembro o Jesus tem 30 defesas, 30 médios e 30 avançados para escolher - muitos deles, a custo zero, outros por empréstimo e outros a baixo custo. O problema passa por não termos uma equipa de prospecção de qualidade e do próprio departamento estar entregue a uma anarquia de liderança que faz com que seja o Vieira a escolher jogadores ou a perguntar a uns dirigentes quem é que devemos contratar. No máximo, acontece ouvirem gente que sabe do assunto e lá vão encontrando soluções - a alto custo, normalmente, porque, lá está, não há organização. É absurdo que o Benfica ainda esteja num patamar de completo amadorismo nesta matéria e as novelas sul-americanas que derivam na entrada do Porto nas negociações reflectem isso mesmo: gente que está no clube a passar informação para os lá de cima.

Nem precisamos de recuar 10 meses atrás, basta pensarmos nas opções desde Junho até agora. O que podia ter sido feito e não foi; o que foi feito e não deveria ter acontecido. Basta isso para percebermos que houve dinheiro (o tal que dizem não existir para suprir lacunas em Janeiro) mal gasto e acima de tudo gasto sem qualquer método nem orientação futura. E ainda assim, com toda esta desorganização, seria tão mas tão fácil recrutar um ou dois médios portugueses ao nosso campeonato para dotarmos o plantel daquilo que ele precisa: gente de qualidade, experiente, que preencha as posições 6 e 8.

A situação financeira não explica tudo. O que explica é a falta de inteligência e, pior, a casmurrice de criança de 3 anos dos dirigentes do Benfica de acharem que, como vamos na liderança e estamos nas quatro frentes, não necessitamos de dotar o plantel de equilíbrio para encarar os próximos 4 meses da temporada. No fundo, deixámos isto ao acaso: pode correr bem ou mal. Quando podíamos ter, pelo menos, aumentado as probabilidades de sucesso.

Unknown disse...

Eu provavelmente como muito queijo, mas diz-me quem de baixo valor, tenha entrado no Benfica com rendimento imediato (o Nolito não vale pois tivémos que esperar pelo fim de contrato) e em Janeiro.

Quanto aos jogadores que escolhemos, a direcção deu ao treinador o que ele pediu. Volto a recordar que se sabia uma semana antes do fim de Agosto da proposta pelo Javi e a opção foi por contratar um avançado (independentemente do muito que ele já deu e já justificou a sua aquisição), a verdade é que os 3 jogadores de maior nomeada foram pedidos expressos do treinador, que preferiu alocar os recursos para essas 3 posições do que a preencher outras.

Vieira disse em Almada após a venda do Witsel que os tempos eram outros e a verdade é que isso se tem visto.

E não, não estou a dizer que a culpa não é de Vieira e seus pares que geriram à tripa forra nos últimos anos perfeitamente alheados da realidade social e económica do país.

Quanto a jogadores baratos na América do Sul, ou os apanhas muito novos e aí ou podem dar ou não, ou não mais serão muito baratos.

Ricardo disse...

"Eu provavelmente como muito queijo, mas diz-me quem de baixo valor, tenha entrado no Benfica com rendimento imediato (o Nolito não vale pois tivémos que esperar pelo fim de contrato) e em Janeiro."

Não disse que entraram a baixo custo, disse que, com uma prospecção decente, esse cenário - baixo custo e qualidade - tem de ser normal. Assim, como estamos, é completamente anormal, porque não há prospecção organizada.

"Quanto aos jogadores que escolhemos, a direcção deu ao treinador o que ele pediu. Volto a recordar que se sabia uma semana antes do fim de Agosto da proposta pelo Javi e a opção foi por contratar um avançado (independentemente do muito que ele já deu e já justificou a sua aquisição), a verdade é que os 3 jogadores de maior nomeada foram pedidos expressos do treinador, que preferiu alocar os recursos para essas 3 posições do que a preencher outras."

Sem dúvida, nesse aspecto Jesus teve o que quis. Depois retiraram-lhe dois médios fundamentais no último dia e disso ele já não teve culpa. Esperou por Janeiro a ver se lhe equilibravam o plantel. Não equilibraram. E agora Jesus passa as conferências de imprensa a atirar recados à direcção. E tem razão: é gente sem um pingo de visão e noção do que o Benfica precisa para os próximos quatro meses.

"Quanto a jogadores baratos na América do Sul, ou os apanhas muito novos e aí ou podem dar ou não, ou não mais serão muito baratos."

Falei da América do Sul para dizer que o facto de o Porto saber dos negócios que fazemos não é inocente. Há gente dentro do clube a passar informação, especificamente um senhor que trabalha directamente nessa zona do globo.

Quanto aos miúdos, tens razão em parte: há muito foco sobre os sul-americanos, já desde muito novos. O que podes fazer é descobrir talento nos que, até aos 19/20, ainda ninguém detectou de forma clara. Principalmente em médios defensivos e defesas, menos espampanantes aos olhos da generalidade, podes descobrir muita coisa. Mas sim, não é o mercado mais interessante para comprar a baixo custo com qualidade. Olhem para África. Há ali muita coisa boa e não só de putos de 20 anos.

Unknown disse...

Então diz-me quem é que entrou no Porto bom e barato em Janeiro ? Espero que não digas o manco.

A América do Sul é mais complicada do que parece. As pessoas por dinheiro fazem tudo e o Porto tem uma rede de empresários e pessoas ligadas ao futebol que os avisam sempre que o Benfica anda por lá, o que não quer dizer que o Benfica não consiga fazer o mesmo, o problema é o lixo que normalmente vem associado aos bons jogadores.

Não aceito essa treta do tiraram-lhe 2 médios no último dia. Tiraram o Witsel de surpresa, mas o Javi foi com o conhecimento prévio (1 semana) do Jesus e ele optou pelo Lima em vez de outro qualquer médio.

Quanto aos que saíram em Janeiro, por muito que goste do Nolito, acho que tanto ele como o Picanhas estavam muito insatisfeitos com a sua condição de suplentes, pelo que apenas afecta a profundidade do plantel.

Mas aí as culpas também são do Jesus, pois se os tivesse feito jogar mais, provavelmente teria mais força para impedir a sua saída. O problema é que quando não precisa de rodar, o Jesus gosta pouco de rodar o plantel e vai-os desgastando. Com a volta de Aimar aos disponíveis, permite libertar o Gaitán para suprir qualquer falta dos extremos titulares.