segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Relação com o BES/NB



O Benfica foi informado sexta-feira que os cerca de 8% de acções que o BES detinha na SAD passam automaticamente para o Novo Banco. Apesar de expectável que assim fosse, não deixa de ser uma boa notícia no mar de duvidas em que se encontram as relações com o Novo Banco.

O Benfica encontra-se, conforme expliquei no meu anterior Post relativo ao Relatório e Contas da SAD, bastante dependente da Relação que tem com a Banca, sendo que a tendência continua a ser a de aumento da exposição e não de diminuição.
No entanto, face aos problemas que ocorreram no BES e que levaram à cisão do Banco em duas entidades distintas levantam-se inúmeras questões que neste momento parecem não ter ainda qualquer explicação.

Na entrevista dada recentemente ao Jornal Record, Domingos Soares de Oliveira, referia que existem dois empréstimos obrigacionistas que estão para se vencer entre Outubro e Dezembro, sendo que a meados de Setembro ainda não existiria qualquer conclusão quanto ao que vai acontecer relativamente a estes valores. O Administrador Financeiro da SAD, refere que a renovação depende da conversa com a entidade gestora do fundo.
Quero acreditar que o facto de no final de Setembro ainda não se saber muito bem o que vai acontecer seja apenas uma forma de DSO não querer revelar para já por precaução como estão a correr as negociações com o Banco e não porque não sabe de facto o que se vai passar.
Os empréstimos obrigacionistas ascendam a 85M€ (35M€ e 50M€ respectivamente - ver Nota Empréstimos Obtidos no Anexo ao Balanço e Demonstração dos Resultados).
Como é óbvio parece-me que nunca existirá forma do Benfica regularizar estes empréstimos na data prevista, pelo menos os dois, pelo que terá sempre que passar por um acordo ou pela emissão de nova divida para pagar a que se vence, algo que começa a ser prática comum.

Infelizmente nem com a constante destruição do plantel o passivo e o passivo bancário inverte a sua tendência de aumento anual.

Penso ainda que em relação a este ponto não podemos estar minimamente descansados, tanto quanto sei as relações com o Novo Banco estão muito complicadas para qualquer entidade, principalmente pela própria falta de liquidez do Banco, pelo que uma possível tentativa de redução de posição (ou mesmo de travagem no financiamento) por parte do banco teria consequências nefastas para o Benfica. O NB participa na esmagadora maioria dos empréstimos da Benfica Sad, que ultrapassam os 325M€ (teve este ano um aumento de 38M€ face ao exercício anterior).

Para piorar a situação, o Benfica tem, para além dos já referidos 85M€, uma conta de curto prazo com o NB que ascende a 90M€, sendo que esta conta é renovável a cada 3 meses, podendo por isso o NB a qualquer altura exigir o pagamento da mesma.
Atenção, Não acredito que o vá fazer, mas situações de dependência tornam-se sempre desconfortáveis mais tarde ou mais cedo, principalmente quando estamos totalmente agarrados a uma instituição em situação altamente delicada, sem liquidez e que pelo que me tem sido dado a perceber, não continua a financiar as empresas com quem trabalha com a mesma "facilidade" com que fazia antes (sendo que no caso do Benfica detém 8% de participação, o que também já tem algum peso).

Dado que Outubro já passou podemos pelo menos deduzir que o Benfica conseguiu chegar a acordo relativamente ao empréstimo obrigacionista de 35M€. Isto poderá ser uma boa noticia de curto prazo, sendo que não melhora em nada a imagem de longo prazo que se perspectiva das contas da Benfica SAD.
Não consegui contudo encontrar qualquer noticia sobre este assunto, em qualquer jornal ou televisão, seja ligada ao clube ou não. Talvez isto se deva ao facto do clube agora ser gerido por dentro, como se apregoa, e eu estou sempre a esquecer-me que os sócios estão na parte de fora.

Deixo ainda uma nota para todos aqueles que se apressaram a vir defender que as vendas de metade da equipa este verão foi forçada pelo BES. Abram os olhos e habituem-se, o Benfica continuará a vender e não o fará apenas por força do BES/NB.


  


12 comentários:

João Carvalho disse...

O Benfica foi obrigado a vender metade da equipa? Gostava que me elucidassem quais foram os jogadores, meia equipa, que o Benfica se viu obrigado a vender, aparentemente segundo as intenções do escritor do post, por imposição dos bancos. Obrigado.

VC disse...

É tal a falta de liquidez do NB que está a oferecer 2.5% brutos de juros à cabeça para valores =>15 mil euros (90 dias). A concorrência paga +-1.9% brutos para este tipo de depósitos.

Confesso que não percebo como é possível gente "experiente" e "profissional" deixa chegar o Benfica e este estado. A estratégia não pode ser outra senão a seguida (porque não é possível outra): todos os anos o Benfica tem que realizar receitas extraordinárias na ordem dos 25 M€ só para juros. Isto é um estrangulamento brutal para a gestão. Ao que podemos somar alguns défices. Aliás o Benfica não é muito diferente do país que está estrangulado pela divida e pelos juros.
Bom Post. Gosto da clareza com que escreve.

Campaniço disse...

Caro João,
Enganou-se na minha intenção, alias até já falámos sobre isso no meu anterior Post sobre a analise financeira, eu não acho que tenhamos vendido jogadores por imposição do Banco, eu acho que vendemos jogadores por necessidade. Temos que pagar Juros de 20M€ e temos resultados Operacionais antes da venda de jogadores de cerca de 5M€ negativos.
Mas já discutimos isto antes e sei que o João não concorda comigo.

Campaniço disse...

Caro VC
Concordo consigo, a questão dos juros que o NB está a pagar é bem demonstrativo disso.
E se ao contrário tentar negociar com eles um empréstimo, verá que a "facilidade" com que eles antes apoiavam uma empresa já não existe.

Quanto aos 25M€ é o que já falei no meu anterior Post, é o estrangulamento total, que pelo menos não pode continuar a crescer.
Obrigado

João Carvalho disse...

Caro Campaniço, 20M de juros é sempre muito dinheiro, no entanto em relação aos proveitos tem vindo a diminuir ano após ano. Um número só por si não vale nada, tem de ser colocado em relação a outro ou outros.

O Benfica é um exemplo de "a work in progress", ainda está no estádio de investimentos enquanto os proveitos continuam a aumentar, tornando os juros e passivo relativamente mais pequenos. A EDP tem um passivo muito maior do que o Benfica e paga mais juros no entanto ninguém se queixa disso.
Importante é gerar e libertar meios suficientes para pagar os investimentos. E o Benfica tem libertado meios todos os anos mais do que suficientes para pagar os juros e os investimentos que lhe tem permitido crescer.

A formação é um centro de proveitos. A venda de jogadores, cuja mais valia e mais valor é criada dentro do clube, pertence e é inerente ao negócio do futebol, é um bom exemplo do que se deve fazer. A mais valia da BTV é mais um exemplo de outro centro de proveitos recentemente criado.

O Passivo da Benfica SAD é elevado, mas já tem Estádio, Centro de Estágio, Museu e empréstimo ao clube de 45M€, assim como 110M líquidos em jogadores (fortemente sub-avaliados).

A Benfica SAD investiu 248M€ de activos tangíveis (terrenos, estádio, galeria comercial, centro de estágio, museu, etc).
 Além disso investiu mais 195M€ em activos intangíveis (jogadores 169M€, utilização da marca 16M€, direitos televisivos 10M€)

. Foram mais de 440M€ de investimentos, que originou o tal aumento de passivo (financiamento).




No mínimo, as infraestruturas e os jogadores, marca, etc valem actualmente o valor de custo ou até mais do que isso.
Bastava uma reavaliação dos investimentos para ficarmos com um capital próprio a rondar os 170M€.



Quanto à política de investimentos nas infraestruturas, cerca de 250M€ foi muito dinheiro, mas a realidade é que permitiram aumentos consideráveis de receitas.
 Após esse investimento, era dificil de entender que o Benfica investisse 250M€ em infraestruturas e no plantel só investisse 50M€. Que adianta ter uma boa sala de espetáculos se depois os intervenientes fossem de pouca qualidade?

Como alguém já referiu:

A arte e o engenho não está na venda, mas sim na correcta substituição por novos craques. E é aqui que a prospecção de Rui Costa e a potenciação de Jorge Jesus nos tem deixado descansado quanto a esse aspecto.
 
Para nós seguirmos uma política como a defendida no seu post, significaria que o nosso orçamento baixava de 160M€/Ano para 90M€/Ano. Ou seja, poupávamos 10M€ em juros, 30M€ em investimento anual em jogadores, 30M€ em salários anuais. Assim não precisávamos de vender jogadores. 

O problema é que apenas teríamos 10M€/Ano para contratações e 20M€/Ano para salários. Teríamos uma política à Sporting, com um plantel banal, e com os resultados que se têm verificado nesse clube nos últimos 10 anos.

Saudações


Anónimo disse...

Um banco sem liquidez?
Nao tem €€€ para emprestar, é isso?
Julgo q um banco para emprestar €€€ nao precisa de liquidez. O q precisa é de garantias

Campaniço disse...

Caro João
Agora que escreveu um Post mais completo com as suas ideias até há coisas em que concordo consigo, até agora pensei que nunca poderiamos concordar acerca de nada :)

No entanto, continuamos a discordar no essemcial, que é em relação a esta sua frase essencial:"E o Benfica tem libertado meios todos os anos mais do que suficientes para pagar os juros e os investimentos que lhe tem permitido crescer."
Esta sua frase tem um problema fundamental, que é ser Totalmente Falsa. Se o Benfica libertasse todos os anos Cash suficiente não teria que se endividar todos os anos mais ou não é verdade?
O João já repetiu isto diversas vezes, mas não é por repetir muitas vezes que passa a ser verdade. O problema do Benfica não é apenas ser enorme, é ser enorme para os valores que o Benfica tem gerado e continuar a aumentar todos os anos.
Como disse um anterior comentador aqui, o problema do Benfica é o problema do País, que é não pensar que o investimento só pode ser feito se as receitas futuras conseguirem pagar o crédito que utilizei para esse investimento, e até agora o Benfica ainda não conseguiu um único ano em que parasse de aumentar o seu passivo.
Este deveria ser um ano de ciclo de desinvestimento em que o Benfica vendeu mais do que comprou, mas ainda assim não conseguiu evitar o aumento do Passivo. Mas pronto, o João pode sempre continuar a rezar pelo aumento da receita para valores suficientes para pagar tudo isto.

E não, eu não defendo uma politica à Sporting, mas defendo que o Benfica tem que fazer uma aposta clara na formação, complementada com aquisições de qualidade. Senão o investimento na formação de pouco valerá.

E João, "a Work in Progress"??? De 11 anos??? João eu tenho muito medo que este trabalho fique completo, é que o Benfica não é o Alverca.

Cumprimentos

Unknown disse...

Vendas
2013/14
Melgarejo (quase sempre titular) e Mora (raras vezes jogava) no início da época
Matic (jogador nuclear, mas cuja saída pouco impacto desportivo teve) a meio - não me parece que se possa qualificar como constante destruição do plantel
2012/13
Saviola (já raramente jogava), Nolito (não era titular), Emerson (infelizmente titular toda a época anterior) e Capdevilla (época anterior no banco/bancada) no início da época
Witsel e Garcia (ambos titulares nucleares) no fim do período de transferências de Agosto
Bruno César (foi perdendo o lugar de titular) a meio da época
Aimar (infelizmente já quase que não jogava)
Apesar da saída de 2 jogadores muito influentes não me parece que seja uma destruição do plantel, pois o outro titular era fraco e os 2 jogadores que não sendo titulares absolutos foram perdendo influência nas escolhas e consequentemente saíram
2011/12
Coentrão (titular nuclear), Salvio (depois de um início no banco foi-se tornando titular até à lesão, mas estava emprestado e o patético exigiu a sua volta devido a não ter sido exercida a cláusula) e Roberto (infelizmente titular na época anterior) saíram no início da época -mais uma vez também não me parece ser uma destruição de plantel
Os outros que saíram, em especial os brasileiros, pouco relevantes foram na época anterior, brilhando num ou noutro jogo mas sem continuidade
2010/11
No início da época - Di Maria e Ramires (titulares nucleares)
Quim (titular)
A meio da época - David Luiz (também nuclear)
Esta foi a época que mais impacto tiveram as saídas, em especial devido à saída de vários titulares à semelhança do que se passou no fim da época passado início desta.

Na verdade, as saídas são mais motivadas pelo desempenho desportivo (conquista de campeonatos e valorização dos jogadores) do que por outro motivo. Sim, é necessário que os jogadores saiam para equilibrar as contas, mas só quando se destacam é que o Benfica sofre um maior assédio.

Portanto acho que essa premissa da constante destruição do plantel é errada.

Duma vez por todas convém assumir que as vendas não são receitas extraordinárias (seria extraordinário que todos os anos existissem receitas extraordinárias) mas operacionais, fazem parte do modelo da sociedade.

Todas as épocas haverá a venda de 1, 2 ou 3 jogadores relevantes, esta época excedeu esse patamar, porque é necessário equilibrar as contas, mas também porque o Benfica não consegue competir salarialmente com os tubarões europeus e os jogadores quando assinam com o Benfica é com a expectativa de se valorizarem e darem o salto.

Acredito que não seja necessário vender em Janeiro, se o Benfica conseguiu renegociar com o NB a questão dos EO's. Isso não quer dizer que não saiam 1 ou 2 jogadores nucleares, porque todos sabemos que os exemplos Matic e David Luiz deram maus resultados e o desempenho tanto de Enzo como de Gaitán têm sido abaixo do ano transacto (a saída doutros jogadores importantes também tem tido impacto no desempenho deles) e caso existam ofertas pelos valores das cláusulas ou próximos, em que as ofertas salariais são tão tentadoras que os jogadores expressam a sua vontade de sair no imediato, é provável que exista(m) mesmo essa(s) saída(s).

No entanto, senão existirem vendas em Janeiro, pelo menos uma delas terá que ocorrer em Junho, para equilibrar as contas dos ano face à exigência dos FFP.

E apesar de tudo, o Benfica, com excepção da época de 2010/11 onde rapidamente perdeu tudo (ou quase, pois conquistou a Taça da Liga e foi às meias-finais da Liga Europa), tem conseguido manter-se desportivamente competitivo, em Portugal, apesar da falada constante destruição do plantel.

Unknown disse...

Dito isto, acho que seria importante fazer a reflexão se essa competitividade interna basta. Se as longas carreiras na Liga Europa que tanto satisfazem os adoradores de rankings, são o que estrategicamente mais interessa ao Benfica em termos de projecção da marca.

A fragilidade patenteada na Liga dos Campeões, época após época, em parte devido à perda competitiva do futebol português, mas noutra parte devido à necessidade de reconstruir as dinâmicas da nossa equipa para que possa competir contra equipas muito mais dotadas a nível de valores individuais, é para mim um ponto fraco em termos estratégicos.

Seria útil abrir a reflexão ao que é mais importante para os Benfiquistas, o domínio do futebol nacional ou a expansão internacional, pois apesar de complementares, se calhar são dois objectivos conflituantes.

Campaniço disse...

Caro Bcool

Tem que se decidir. Ou bem que a questão da destruição do plantel não é verdadeira ou bem que a venda de jogadores faz parte do modelo de negócio.

A mim tanto me faz a forma como vê as coisas, se é Operacional ou Extraordinário, se o Benfica tem antes da venda de jogadores resultados negativos e Juros de 20M€ por pagar, tem que vender jogadores.

Seja porque faz parte do modelo de negócio (e acredito que a Gestão do Benfica assuma isso) ou seja extraordinário, há algo inegável, o Benfica tem que vender, mesmo que não fosse por uma questão de cobiça dos tubarões.

Campaniço disse...

Alias, deixe-me ainda acrescentar Bcool, é precisamente por alguns desses anos não ter vendido tudo o que precisava que o seu passivo Financeiro Aumentou.
Não é obrigado a vender, mas se não vende aumenta o passivo, isto é apenas matemático, contabilistico ou factual

Unknown disse...

O facto de ter que vender, que para mim é uma componente endógena do modelo e portanto para mim a crítica é mesmo a não assumpção deste facto, não implica uma destruição do plantel. Se as vendas forem enquadradas numa estratégia e precavidas com a aquisição atempada de potenciais substitutos que possam perceber o modelo da equipa, fará com a que o peso das saídas se torne menos importante, ou seja que se sinta menos em termos desportivos.