O futebol, enquanto desporto colectivo, é composto por jogadores com características muito diferentes. Há craques, matadores, caceteiros, jogadores de equipa, úteis polivalentes, vertiginosos, aceleras, patrões, enfim um sem-número de adjectivos. Pese embora a qualidade de jogadores como Simão, Di Maria, Gaitán e tantos outros cujos nomes ocupariam quase uma página inteira, ao longo dos últimos 25 anos lembro-me de ver apenas três jogadores que aliavam a toda a sua qualidade um toque de futebol refinado e de classe que os tornaram diferentes e especiais. Não se trata dos que mais deram o Benfica, dos que mais conquistaram, dos melhores nem sequer dos que mais gostei de ver jogar. São apenas os três que me lembro de ver que tinham um toque de bola, uma leitura de jogo e um brilho, enfim, uma classe que os colocou noutro patamar. João Pinto, Pablo Aimar e Jonas foram os três semi-deuses que envergaram a camisola do Benfica nos últimos 25 anos.
João Pinto chegou menino e viveu os melhores anos da sua carreira no período mais negro da História do Benfica. No pós-94, viu-se ano após ano rodeado por um elenco que não lhe permitiu brilhar em todo o seu esplendor de águia ao peito. Ainda assim, pelo repentismo, pelos argumentos técnicos que não se limitavam ao toque de bola e aos slaloms geniais (foi dele o melhor golo que não chegou a ser, contra a Alemanha), pelos voos de cabeça imortais, marcou uma geração de benfiquistas e fez com que muitos dos nascidos no final da década de 80 e início da década de 90 se tornassem benfiquistas por sua culpa, apesar da escassez de títulos. João Vieira Pinto, um imortal da História do Benfica.
Pablo Aimar chegou já um jogador feito. Envolto num clima de desconfiança pelo fraco rendimento desportivo nos anos que antecederam a sua chegada, além das lesões e tempos de paragem prolongados, após a libertação do futebol enfadonho de Quique Flores foi com Jorge Jesus que mais brilhou ao longo de três das épocas que passou na Luz. O que mais impressionava em Aimar, além da visão e da facilidade e simplicidade com que encarava o jogo, era a forma como orquestrava e dirigia uma equipa recheada de estrelas. Entre Di Maria, Ramires, Saviola, Cardozo, Witsel, Javi, Gaitán e Salvio, era ele que coordenava e corria o espectáculo. Provavelmente a melhor definição de classe que passou pela Luz nestes 25 anos.
Jonas. Custa crer que um dia venceu o prémio de pior avançado do mundo. Custa acreditar que foi dispensado pelo Valencia com apenas 30 anos depois de 48 golos em três temporadas em Espanha. Jonas foi absolutamente decisivo na História recente do Benfica ao ser o grande responsável pela conquista de dois campeonatos que, sem ele, muito provavelmente teriam ido para outras paragens. Técnica de remate muito acima do normal, descongestiona jogo com passes longos de primeira ao alcance de poucos e tem ainda uma qualidade que muito aprecio: tem uma vontade de ganhar muito superior à da maioria dos colegas de profissão.