quarta-feira, 9 de agosto de 2017

O processo e os ilusionistas

Desde sempre, e é uma tendência natural e generalizada, procuramos razões estanques e formulas exatas para determinar as causas e competências do sucesso/insucesso. Procuramos tornar absolutamente previsível o que, por natureza, não é passível de previsão ínfima. Porém essas fórmulas não existem e, mais vezes do que se possa julgar, métodos semelhantes em contextos diferentes dão origem a resultados completamente distintos, pois a realidade não é estanque e a vida é bem mais que um videojogo onde um algoritmo (por mais complexo que seja não deixa de ser exato e, por isso, previsível) determina quem vence e quem perde, escolhendo o que resulta e o que não resulta. 

O mesmo se passa no futebol. A maior discussão recente gera-se em torno de Rui Vitória, estando de um lado quem defenda que o treinador do Benfica, apesar de vencer, não tem um processo de jogo bem trabalhado e definido e, do outro, quem defenda exatamente o contrário, isto é, que não seria possível vencer tanto sem que tivesse ideias claras e muito concretas sobre o jogo e o que quer dele.

Pois bem, para falarmos do Benfica e de Rui Vitória, falemos, por analogia, do Real Madrid e de Zidane: Um dos melhores jogadores da história do jogo, leva menos de 2 anos no comando técnico Merengue e, nesse período de tempo, já arrecadou 2 Ligas dos Campeões, 1 Liga Espanhola, 1 Campeonato do Mundo de Clubes e 2 UEFA Supercup.

Perante isto, fica a pergunta: Zidane tem ou não o tal processo? Não! Não porque não é notória uma ideia de jogo completamente vincada e trabalhada, isto é, uma ideia que ultrapasse os jogadores de que dispõe, uma ideia que se mantenha imutável seja qual for o 11 que escolha para cada partida, uma ideia que permaneça identificável perante todo e qualquer adversário. Isto, para mim, é claro como a água e já nem está no domínio da discussão.

Mas se não tem aquilo tudo, como ganha tanto? Pela qualidade individual que tem ao dispor. Mas não há outros com qualidade semelhante e que não ganham tanto? Há, mas poucos são os que, não tendo o tal processo, têm tamanha qualidade e, sobretudo, com um perfil individual tão aproximado do colega. E, desengane-se quem pensar o contrário, com ou sem processo, quem ganha/perde a esmagadora maioria dos jogos são os jogadores.

De facto, o Real Madrid, hoje em dia, tem uma qualidade suprema ao dispor do seu treinador. Sempre teve, claro, mas talvez nunca como hoje tão bem “casada”, tão complementar quanto esta. Ter ao dispor jogadores como Isco, Kroos, Modric, Benzema, Asensio e Marcelo é mais do que meio caminho andado para se ter qualidade na hora de ganhar jogos e troféus. Estes jogadores, todos juntos, e porque têm um perfil, um ADN futebolístico tão próximo uns dos outros, chegam a fazer parecer que existem coisas onde não as há, fazem acreditar qualquer um que a esmagadora maioria das coisas feitas em campo são fruto da qualidade das ideias do seu treinador, quando na verdade, é exatamente o contrário. Estes jogadores, todos juntos, potenciam o treinador e não o inverso.

Reparem que, por exemplo, se ao 11 tipo do Real retirarmos Isco (eventualmente o elo mais fraco na cadeia alimentar que é o estatuto mediático) e lhe juntarmos Bale, todo o jogar Merengue cai abruptamente, porque Kroos e Modric deixam ter quem os ajude no controlo do jogo através da posse e das boas decisões, porque deixa de existir mais alguém, para além daqueles dois, que compreenda totalmente o futebol de Benzema e porque o número de bolas que cai nos pés de Bale e, por isso, nos pés de quem decide pessimamente, de quem vê o jogo pela correria e não pela inteligência, aumenta consideravelmente, diminuindo assim a capacidade para se assumir um jogo conexo e, aparentemente (apenas), com ideias sólidas e vincadas.

Ora, se existisse o tal processo, mesmo que se trocasse Isco por Bale as ideias permaneceriam semelhantes, embora o nível a que eram executadas fosse diferente, para pior, no caso. Mas não é isso que se passa, o que realmente acontece é uma mudança abrupta da forma de jogar de toda a equipa.

Então é Isco a peça-chave de toda a mecânica Madridista? Não. A chave está no número de jogadores com o mesmo perfil, isto é, jogadores associativos, criativos (não são dribladores) e capazes de tomar as melhores decisões na esmagadora maioria das situações.

Voltando à questão do ter ou não ter processo para se vencer, vejamos o jogo de ontem da UEFA Supercup: Man. Utd. x Real Madrid, Mourinho x Zidane, processo x ilusionistas. Quem ganhou? Quem deu um bigode de futebol? Quem pareceu ter mais e melhor processo? Exatamente quem tem menos processo e mais ilusionistas, porque quando a bola salta, um processo mau (Mourinho) frente a jogadores top (Isco, Kroos, Modric, Marcelo e Benzema) tende a correr melhor para quem quer mais alguma coisa do jogo do que só destruir.

Algo de muito semelhante, na minha opinião se tem passado no Benfica de Rui Vitória. Ter Jonas, Pizzi, Fejsa, Lindelof, Semedo, Grimaldo e Ederson é ter um número muito significativo dos tais ilusionistas, é ter um número muito alto de jogadores com o tal perfil idêntico e bem identificado: Associativo, criativo e boas decisões, três pilares base e comuns a todos eles. Um ADN tão comum e bem “casado” que nos faz ter a ilusão de que há o que nunca houve e dificilmente haverá.

É isto um grande problema? Seria se não existisse no clube quem entendesse esta dinâmica e não percebesse que, com Rui Vitória, é fundamental ter uma coisa: um ADN demarcado de jogador. E a melhor prova disso, ainda este ano, são as contratações de Seferovic e Chrien. Dois jogadores que falam o mesmo dialeto futebolístico que os nossos melhores e mais importantes.

Por isso, quando se diz que Rui Vitória não tem processo, entendam isso como uma constatação de facto e não como uma sentença de derrota. Errado não é dizer que Rui Vitória não tem processo, errado é achar que não há vitórias sem processo.

20 comentários:

Anónimo disse...

Como era o processo ofensivo que identificou ontem, no Manchester United? Pode ser mais específico?

José Moreira disse...

O processo de Mourinho resume-se, hoje em dia, ao criar estratégias para anular o adversário, mais do que para o atacar. Esse é o grande processo de Mourinho. Ainda assim, as saídas rápidas através de cavalgadas de Pogba é uma marca visível. Mas tudo na base do individual, pouco no colectivo, na associação de jogadores. Por isso digo no texto que, apesar de existir processo, é mau.

Anónimo disse...

Comparar o "processo" de jogo do Benfica com o do MU de Mourinho é o mesmo que comparar a feira de borba com o olho do c... Sendo o Benfica a feira...

O processo de jogo do Mourinho é comprar os 11 melhores jogadores do mundo em cada posição. Agora quer mais 2 jogadores.
Mesmo nessa situação, tendo os jogadores mais fortes, mais velozes e mais robustos, duvido que se livrasse de bailes do Barcelona, do Real, do City, do Arséenal...

Quanto ao Rui Vitória, e ao Zidane, é evidente que têm um bom processo de jogo ofensivo. Ter bons jogadores é fundamental para se aplicar um processo.
O melhor processo é aquele que aproveita as características dos seus jogadores. Mudando um jogador para outro de características completamente diferentes vai alterar o processo de jogo.

Guardiola é talvez o treinador com um processo de jogo mais característico.
Metam-no a treinar o Aves a ver se implementa o processo de jogo do Barcelona...

José Moreira disse...

Caro Anónimo, duas questões:

1 - Se leu o texto e achou que comparei o processo do Man Utd ao do Benfica, então releia até entender que não.

2 - Nunca duvide que Guardiola tentaria implementar o seu "processo". Conseguiria? Não sei, mas tentaria. Resultado? O Aves continuaria a lutar para não descer, da mesma forma que se o Zé Mota fosse para o City, provavelmente, o City continuaria a lutar pelo titulo.

Bruno disse...

Varela muito nervoso , é normal , mas falta lhe velocidade a sair e muita indecisão em bolas pelo ar , aquele golo com Ederson nao sofriamos , mas é ingrato comparações e Varela precisa de minutos e crescer! Mas precisamos de outro GR de outro nivel e explico porquê:

Julio César nunca mais vai ser rapido , e estas paragens de agora joga e agora nao joga . nao lhe da competividade nenhuma nem forma , muito menos a um GR com 36 anos, Arriscamos a jogar jogos decisivos com Paulo Lopes na baliza ? se temos so um GR Varela e se ele se lesiona ou ficar castigado, precisamos de um Hradecky.
Depois porque Jardel ainda não está na melhor forma e é compreensivel (quase um ano parado) e a defesa sem velocidade nao sobe tanto , até para proteger o menino Varela.

Precisamos de mais um def central porque jardel é o melhor defesa mas se lesiona até porque tem tido ultimamente um historial de lesões , arriscamos a jogar com lisandro e luisao , gosto de Lisandro , mas se luisao pela idade que tem , é normal as lesões poderem acontecer com mais frequencia , vamos ficar so com os miudos e lisandro?

André Almeida , deixa me descansado e sempre me deixou um dos melhores laterais direitos que vi e não é de agora ,mas o problema é quando os jogos pesarem e as viagens e as lesões . precisamos uma alternativa , não pode jogar os jogos todos , o mesmo para Fejsa e Pizzi.
Fejsa é ENORME , mas com lesões , viagens e castigos , eu preferia e desculpa Samaris!! vender Samaris e Felipe Augusto e comprar um puro 6 que seja uma real alternativa.

Depois vender Carrillo e comprar um 8 , porque Pizzi não entendo como é patinho feio ainda para muitos benfiquistas , quando para mim Pizzi já ultrapassou e muito Rui Costa e Aimar no Benfica , Pizzi é pura classe , nao peçam para ser um Adrien , porque nem Rui Costa e Aimar o eram. Mas idolatram estes dois e bem , mas Pizzi ja os passou e muito.
Ou Krivonovic é o outro 8 que precisamos ou então Pizzi vai , voltar a ser um jogador a ter muitos minutos nas pernas e desgaste , o que é uma pena pois ele precisa descansar e estar a Top na altura decisiva.

Os extremos , Eu preferia apostar em Salvio que já mostra a todos que Rui Vitória fez bem em o manter e ir apostando nele mesmo quando no terceiro anel desesperavam por ele entrar ou jogar , e hoje Sálvio está numa forma fisica invejável , pena é que ele nao queira muitas vezes jogar simples , porque ele sabe , o problema é que ele também sabe que é bom e as vezes prefere meter-se numa cabine telefónica , mas sabe defender e ataca com enorme profundidade e ainda faz diagonais como ninguém , e aparece facilmente na cara do golo.

Cervi nao tenho palavras para este jogador é fantástico a forma como defende e ataca.
por isso eu preferia apostar em Cervi na esquerda , vender Rafa e comprar alguem para alternar com Cervi , e manter a ala direita com Salvio , Zivkovic e ainda Diogo Gonçalves.
Mas admito que nao seja por aqui a prioridade.

Os avançados é classe mundial ,apenas uma referencia para cada um deles:

Mitroglou : o Mortifero
Jimenez : o Incansável
Jonas : a velha raposa
Seferovic : O panzer suiço


E Eliseu a ser Eliseu :).

Anónimo disse...

Se o Guardiola treinasse o Aves...estes davam cartas, não tenham a menor dúvida.

JVP

Benfiquista Primário disse...

Belo post, tema pertinente.

Já subscrevi com mais certezas esta sua tese, hoje tenho mais dúvidas...por exemplo, no nosso Benfica, até que ponto a variabilidade ofensiva não faz parte do processo? Ou essa variabilidade é sintoma de ausência de processo? É uma linha muito fina que separa as duas coisas...

Até porque...http://www.lateralesquerdo.com/pt_PT/2017/08/10/nao-e-padronizado-nao-e-processo-o-mau-entendimento-do-jogo-e-o-futebol-do-google/

Não sei...o que sei é que só descanso com o hexa de 2019.

Carregaaaaaa!

José Moreira disse...

Benfiquista Primário

Também li esse post do LE ;)

Eles fazem dois post's sobre o assunto. Num deles não dizem nada diferente do que eu digo ou, pelo menos, tento dizer, isto é: Óbvio que se colocas jogadores diferentes, eles darão coisas diferentes. Não são máquinas, logo, por muito que queiras que façam as mesmas coisas não as farão. É natural. E, eu, não digo nada de diferente disto.

No outro, aí já falam de uma coisa diferente: Como referes, a variabilidade pode ser o processo. Mas eu não concordo. Ou melhor, aceito que a variabilidade pode ser o processo, mas até determinado ponto. Eles dão como exemplo o Kroos. Ou seja, se o Kroos não jogar, se jogar outro, a saída de bola vai ser completamente diferente, certo? Se vai ser completamente diferente, na minha opinião, não é trabalho colectivo, é qualidade individual pura e dura.

Do que falo, ou quero falar, é de posicionamentos: A bola determina o comportamento colectivo da equipa. Em lances semelhantes (localização inicial da bola), posicionamentos semelhantes. Se em lances semelhantes há posicionamentos muito distintos, como acho que há no Real e no Benfica, então não é trabalho colectivo, não é ideia do treinador. Para mim.

Ainda no jogo do Braga: Em dois lances quase consecutivos e semelhantes (bola no corredor esquerdo, junto ao meio-campo), num jonas estava do lado da bola, no outro estava do lado oposto. Ora, isto, para mim, não é processo trabalhado pelo treinador.

Agora, questão diferente disto é se uma coisa é melhor que outra. Daria panos para mangas. Eu gosto mais de coisas claramente trabalhadas e conexas por ideia colectiva, há quem goste de outras coisas. Nada contra ;)

Ricardo Fernandes disse...

Mas no Benfica há processo. Ainda que parte do processo seja precisamente a liberdade dada aos mágicos. E no Benfica de Rui Vitória há um processo extremamente bem definido nas ideias defensivas da equipa. Ou do que fazer sem bola.

Mais que isto é relacionar ao Rui Vitória, formas de jogar diferentes consoante as peças que têm. Ter processo como o próprio disse à pouquíssimo tempo, não será porventura com regra e esquadro. Isso é para Jorge Jesus, onde sai um e independentemente das características o outro tem de fazer o mesmo (com os resultados que se conhece). Em Rui Vitória, há uma ideia de jogo (e não o estou a defender, pois não gosto como o Benfica quebra, entregando inúmeras vezes a posse de bola ao adversário), que passa precisamente por dar a imprevisibilidade necessária para baralhar o adversário. É assim que temos ganho. O ano passado um Benfica com Guedes, outro distinto com Jonas.

Benfiquista Primário disse...

Eu também gosto mais dessas coisas ;) mas já tive mais a certeza que o Benfica de RV, actualmente, não é uma dessas coisas...

Acho que também o grau de 'processo' - ou o grau de controle pré-determinado do processo - pode variar com o momento do jogo. Por exemplo, nós temos claramente um processo em organização defensiva (o que é diferente de estarmos a ser capazes de o implementar bem com os defesas que estão agora a jogar) e, no futebol actual, talvez seja um bocado kamikaze não o ter. Este ano estamos claramente a apostar num modelo de pressão mais alta das duas primeiras linhas e, como ainda por cima a última linha ainda não se sente confortável em posição tão alta como era habitual, temos dado mais espaço entre linha defensiva e linha média. Parece-me que a ideia é apostar mais em recuperações altas e transições rápidas (momento em que estamos cada vez melhor...). Isto implica processo - aliás, implica mudança de processo porque costumávamos defender com as linhas mais juntas e a defesa mais alta...;)

Por outro lado, na fase de criação da organização ofensiva, é natural que os jogadores tenham mais liberdade...ou não se chamasse ela fase de 'criação'! Curiosamente, é a fase do ataque posicional em que somos mais fortes...a fase de construção do ataque posicional é a fase, quanto a mim, em que somos mais pobres, ao ponto de ser legítimo discutir se há processo ou não. Mas mesmo nessa fase, apesar das nossas limitações na execução, parece que temos um processo: pelo menos, temos um modelo de saída para a construção, com descida do 6 para saída a 3, laterais projectados no corredor, extremos interiores...temos um ponto de partida e alguns princípios, pelo menos...

;)

José Moreira disse...

Ricardo

Por exemplo: Quando somos pressionados, quando o contrário quer jogar tanto quanto o nós? Que faz a equipa? Consegue sair da pressão? Tenta, sequer, impor o seu jogo ao outro? Tenta mostrar as suas ideias? Ou "apenas" tenta ligar directo, qdo tem bola e, qdo n tem, recolhe-se no meio-campo num bloco curto (defensivamente acho que há processo)?
Quanto a mim, uma equipa com ideias claras e bem trabalhadas, tenderá sempre a fazer o que está trabalhado, o que está no seu ADN. Se é impor-se em ataque posicional, tenta faze-lo. Se é sair em transições, recolhe-se. Mas não. Na minha opinião, o Benfica joga mais o que o adversário deixa jogar ou quer deixar jogar do que aquilo que tenta a todo o momento jogar.


Benfiquista Primário

Como digo na resposta ao Ricardo, para mim, o maior sintoma da falta de processo e de uma ideia clara do que se quer do jogo é exatamente a saída de bola, ou seja, o primeiro momento do jogo em que mostras o que queres dele.
A criação é o nosso ponto forte? Concordo, é aí que entram os jogadores capazes de sair fora da caixa.

Por exemplo: Se temos processo, e se ele é o que preveligia aquela criação assente em jogadas associativas e combinativas, qual o sentido da constante titularidade de Sálvio em vez de Zivkcovic? Ou de Cervi em vez de Carrillo ou Rafa?

Benfiquista Primário disse...

A única coisa que faz menos sentido que deixar Zivkovic no banco para jogar Dom Salvio é eleger um neofascista alaranjado com 6 anos de idade mental para presidir aos EUA! ;) isto é quanto odeio o Red Pass Relvado de Dom Salvio...

Pode haver um processo, que inclua a variabilidade/imprevisibilidade, que não vá de encontro às nossas preferências pessoais - não deixa de ser um processo por isso. Eu também não gosto, preferia um modelo de extremos 'falsos' com Ziv à direita e Rafa à esquerda. Mas RV prefere um modelo de extremos puros, deixando o corredor central para os Mestres Jonas e Pizzi. Talvez porque a tal variabilidade implica alternar jogo exterior com jogo interior e ele acha que só os laterais não chegam para o jogo de corredores e para abrir as defesas em largura, dando mais espaço aos ases do corredor central. Não sei, isto sou eu a fazer de advogado do Diabo porque como disse acima, as minhas preferências pessoais vão de encontro às tuas! Não acho é que um processo de que não gosto por aí além seja menos processo por isso ;)

José Moreira disse...

Mas referi essa questão não por uma questão de gosto pessoal. Quer dizer, óbvio que prefiro o Zivkovic ao Salvio, aliás, prefiro todos ao Sálvio (não gosto mesmo), mas a questão não é essa. A questão é a do perfil de jogador. Se o seu processo é de combinações e mobilidade, não faz sentido ter Sálvio que nem tem um nem outro. Cervi ainda dou de barato, embora tb não ache que faça sentido.

Para mim, das duas uma, ou estamos na presença de um génio, ou não há processo :D E como acho que um génio conseguiria pôr a equipa a sair com bola controlada desde trás, mesmo quando o adversário não deixa, fico-me pela segunda :D

Mais a sério, não é uma exclusão de partes, acho demasiados sinais juntos para que tudo pareça o que não é.

Benfiquista Primário disse...

'Para mim, das duas uma, ou estamos na presença de um génio, ou não há processo'😂 Como te percebo!

Eu quando falei de preferências pessoais, nem me referia a escolhas individuais de jogadores, mas ao próprio do processo! O facto de não gostarmos do processo de construção não quer, necessariamente, dizer que ele não existe. Não achas estranho que uma equipa tenha processo em todos os outros momentos do jogo, excepto na fase de construção do ataque posicional?

José Moreira disse...

Acho, claro, por isso é que acho que esse é mais um sintoma da falta de prcesso. Quem tem ideias claras e concretas suficientes para o tal processo, tem-no para todos os momentos do jogo. Este é um deles em que não vejo essas ideias.

Ricardo Fernandes disse...

Eu percebo o que queres dizer José, porém acho mesmo que o processo passa pelas unidades que estão em campo. As formas de jogar diferentes assim o ditam. E isso é ter processo.

Conforme dispomos de peças e consoante a sua capacidade ou não temos formas de trabalhar diferentes. A construção a partir de trás este ano não existirá, pois Lindelof era o único que saia com a bola controlada. Nem Luisão, nem Jardel tem essa capacidade de quebrar linhas até ao meio campo adversário e isso vai desgastar mais Pizzi.

Salvio irá sempre jogar porque de todos os teus extremos, é o que está sempre mais perto do golo (sendo que nos jogos grandes molha sempre a sopa). Para RV (penso eu) ter um extremo que aporta golos é mais importante do que ter um extremo que leva a equipa mais perto do golo mais vezes (não sei se foi confuso). Para JJ era igual, não abdicava do Salvio, mesmo tendo outros. Cervi é só um momento de rotação. Depois jogarão outros tal como foi o ano passado.

No fundo o que quero transmitir é que não há falta de processo. Há uma variação na imprevisibilidade atacante. Mesmo na reta final do ano passado, quando Jimenez passou a titular, jogámos de forma diferente. E Jimenez passou a fazer a mesma pressão que fazia Guedes. Se um anarca como Jimenez soube ter algum sentido posicional é porque há processo, ainda que tu não o identifiques de cabeça como em outros jogos.

O cederes ao adversário que sai com bola controlada, acho que faz parte do processo do Rui Vitória. A equipa nunca parte e isso foi uma novidade com ele.

José Moreira disse...

Ricardo, desde já, desculpa na demora ;)

Continuo sem concordar. Claro que se os jogadores são diferentes, darão coisas diferentes, disso nem há dúvida, claro. Mas haverá sempre um traço comum entre eles, para mim, claro. E outra, se temos essa ideia tão segura de jogo, como é que nos jogos frente a equipas semelhantes, abdicamos de tudo o que fazemos nos outros? Algo não bate certo. E é normal que não tenhamos a mesma capacidade para sair com bola que tínhamos com Lindelof, a questão é que não vejo sequer nada que seja comum aos tempos em que o Sueco fazia parte da equipa.

Agora, se me dizes que, pela imprevisibilidade que tem, não ter um processo padronizado e identificável será mais vantajoso? O melhor processo é não ter processo? Aí, acho que podemos discutir, embora eu não concorde.

Ricardo Fernandes disse...

De verdade, contra equipas de igual calibre não tivemos todos os jogos mal. No primeiro ano, jogámos praticamente todos mal, mas o ano passado, foram todos equilibrados à excepção do jogo nas antas com o Porto. Nem JJ, joga esses jogos de forma igual. E isto não quer de todo dizer que não há processo. Aliás, as palavras do próprio Vitória no pós Belenenses são sintomáticas daquilo que tentei aqui exprimir.

E quanto ao Lindelof, para quê ter o mesmo processo se não tens ninguém que o consiga executar? Seria o mesmo que pedir ao Eliseu que flectisse para o meio em slalom. Não consegue. Não vale a pena explorar um processo idêntico se as capacidades não são as mesmas que as de Grimaldo.

José Moreira disse...

Curioso, do que entendo dessas declarações de RV é exactamente que, para ele, é preferível não ter nada absolutamente padronizado em termos ofensivos, deixando, por isso, entregue ao talento e qualidade individual :D

Ricardo Fernandes disse...

No fim de contas... Semântica! Rumo ao Penta! ;)