«Nada como uma derrota para alertar as consciências que nem tudo vai bem.
O Futebol Português é hoje por hoje uma mentira.
Não, não me interessa falar de arbitragens, deixo isso para os arautos do benfiquismo militante.
A mim interessa-me algo mais estruturante e do qual depende o futuro do futebol.
A
norte o êxito desportivo mascara o total desgoverno
económico-financeiro. Não, não falo da questão de terem apresentado
cerca de 9 milhões de euros de prejuízo no 1.º semestre, isso é a
consequência, do verdadeiro problema. Para terem uma noção correcta do
desvario, dos 40.000.000 euros do Falcão, para a SAD apenas sobrou
metade, sendo que do apêndice Micael que dizem ter custado cerca de
5.000.000 euros (dado não confirmado), não houve influxo relevante,
basicamente saíu por cerca de 500.000 euros.
Aliás é admitida pela própria SAD que a actividade é
permanentemente deficitária e como tal só a venda de jogadores pode
colmatar a gestão desportiva. O desplante é tal que admitem que no fim
do ano estavam com cerca de 6.500.000 euros de remunerações e prémios em
atraso. A dívida ao Standard Liége só pode ser paga após a venda de 1/3
dos passes do Defour e do Mangala a um fundo por um valor inferior ao
preço de custo. Mas chega de falar do que se passa a norte, pois
continuam a ter vitórias, mesmo com gravatas a treinador.
A norte da 2.ª Circular vive uma SAD completamente
ligada à máquina. Se os sócios do clube tivessem uma ideia do descalabro
que se passa na SAD, haveria concerteza uma revolução. Que a SAD está
em falência técnica, já todos sabem, pois essa condição foi assumida
pelos dirigentes. Mas pior que isso, este semestre, fruto dum
investimento sem paralelo na equipa desportiva, os resultados foram
colossalmente maus, cerca de 19 milhões de euros de prejuízo.
Ao contrário da sociedade do norte, esta sociedade acha que tem que
equilibrar o resultado operacional excluindo a transacção de jogadores,
o que é um bom princípio, porém a exiguidade de receitas, o facto de
essas receitas servirem essencialmente como garantia dos empréstimos
bancários (situação razoavelmente comum ás sociedades desportivas), a
cedência dos atletas a fundos a preços iguais, ligeiramente superiores
ou até mesmo inferiores aos preços de custo, leva a valorização dos
atletas pouco valor venha no futuro acrescentar à sociedade. Em resumo,
falidos e sem resultados desportivos, a menos que exista um grande
influxo de um qualquer investidor que compre os passivos bancários, por
muito que sigam uma terapêutica correcta, no momento actual de crise do
país e sem uma onda mobilizadora, a tendência será para ver o
descalabro.
Falemos então do que nos interessa, a Benfica SAD. é
bom não ter dúvidas que o domínio do futebol português, mais do que por
jogadas manhosas, vai ser conseguido pela sociedade que consiga ter
maior capacidade financeira e não da que continuar a apostar em
maningâncias. Portanto é essencial perceber se aquilo que é normalmente
reconhecido a LFV e seus pares é verdade ou não, isto é, se o Benfica
está em boas condições financeiras.
A verdade é que não.
A
SAD do Benfica está com capitais próprios muito baixos. é verdade que
já não estamos na situação miserável que nos encontrávamos a 30/06/2011,
virtualmente à beira da falência técnica.
Imaginem que abriam uma empresa com 11.500 euros e depois de vários
anos já só tinham 800 euros, isto depois de terem tido 1.500 euros a
30-9 e 250 euros a 30-6. é essa a situação do Benfica se multiplicarem
10.000.
O nível de capitais próprios é ainda muito baixo e resulta
essencialmente do lucro de 8 milhões de euros no 1.º semestre, no
entanto se fôr comparado com o lucro de 15 milhões que a sociedade teve
no 1.º trimestre, rapidamente chegamos à conclusão que houve um prejuízo
de 7 milhões no 2.º trimestre.
A explicação é lógica, no 1.º trimestre houve a venda do passe de Fábio Coentrão, no 2.º não houve nenhuma transacção.
Perguntam-se
vocês como é possível perder tanto dinheiro em apenas 3 meses ? Ainda
por cima, quando ouvimos falar que o Resultado Operacional excluindo
transacções de passes de atletas foi positivo no 1.º semestre, mas não é
só excluindo transacções, é Resultado operacional excluindo transacções
e depreciações de passes de atletas (ROETD).
Portanto se estes forem os resultados analisados temos que:
1.º Trim. - ROETD + 5,2 milhões de euros
2.º Trim. - ROETD + 2,2 milhões de euros
No entanto, este negócio implica que sejam contabilizadas as depreciações de passes de atletas.
Vamos imaginar que um atleta é contratado por 6 milhões de euros com um contrato de 5 anos.
Imaginemos por exemplo que um jogador cumpre os 5 anos de contrato e sai sem qualquer compensação para a SAD.
Então, temos um activo que no momento da compra vale 6 milhões mas
que durante 5 anos se vai depreciando até chegar a 0, ou seja tem que se
dividir os 6 milhões por 5 anos, o que dá 1,2 milhões de euros por ano,
ou seja, 100.000 euros por mês ou 300.000 euros por trimestre (0,3
milhões euros).
Ou seja se tivermos um plantel avaliado em 96 milhões de euros, com
um tempo médio de contrato de 4 anos, podemos esperar 6 milhões de
euros de amortizações por trimestre.
Quando temos o Resultado Operacional incluindo transacções e depreciações temos que:
1.º Trim. - RO + 18,6 milhões de euros
2.º Trim. - RO - 2,6 milhões de euros
Depois ainda temos os Resultados Financeiros
1.º Trim. - RF - 3,6 milhões de euros
2.º Trim. - RF - 4,1 milhões de euros
E o IRC
1.º Trim. - IRC - 0,025 milhões de euros
2.º Trim. - IRC - 0,063 milhões de euros
Como
nenhum clube, ou sociedade desportiva neste caso, gosta de ver partir
os seus atletas a custo zero, ou abaixo dos valores pagos por eles, em
princípio ao fim de um exercício (12 meses), o valor das transacções
será igual ou superior às depreciações. Convém dizer que pode haver um
ano ou outro que isso não aconteça, mas numa sociedade bem gerida, este
valor vai no mínimo equivaler se olharmos para um período de 5 anos.
Daqui sai, que o equilíbrio financeiro deve vir da actividade
operacional e não das transacções de jogadores, ao contrário do advogado
a norte. É verdade que os custos de financiamento são cada vez maiores,
por isso, além da actividade operacional, o negócio dos jogadores deve
pelo menos compensar os resultados financeiros cronicamente negativos.
Mas afinal de contas, o que é o Resultado Operacional excluindo transacções e depreciações de passes de jogadores ?
Em primeiro lugar temos os Proveitos Operacionais, isto é, as receitas da actividade geral.
Vamos olhar para os grandes grupos para entender mais
facilmente adoptando a terminologia da Delloite, mas com uma diferença,
separando a componente do desempenho desportivo das restantes receitas
de televisão, isto é os prémios das competições da UEFA.
Matchday - inclui todas as receitas de bilheteira sejam elas de
jogos individuais ou de carácter anual, independentemente de dizerem
respeito a cativos individuais ou empresariais, aluguer de espaço e
quotização
Comerciais - Patrocínios, publicidade e merchandising
Televisão - Receitas das transmissões televisivas das ligas nacionais e de particulares
Prémios de competições - prémios da UEFA e cachets de particulares
No 1.º semestre o Benfica teve cerca de 50 M€
repartidos 42% nas receitas de Matchday, 21% de Comercial, 9 % de
Televisão e 28 % de Prémios de competições.
Quanto
aos rivais do norte o valor deles foi de 35 M€ enquanto da 2.ª Circular
os nossos vizinhos apresentaram um valor de 20 M€.
No entanto é preciso ter consciência que tirando o valor da Liga
dos Campeões, isto é se porventura estivéssemos na Liga Europa, teríamos
cerca de 10 M€ a menos de receitas. Quer isto dizer, que além de
garantir o acesso à Liga dos Campeões, é fundamental assegurar a
passagem aos quartos de final, caso contrário a nossa receita diminui
cerca de 5 a 7 M€.
Hoje em dia, a receita da Olivedesportos representa cerca de 10 % das nossas receitas.
No Porto esse valor sobe para 17 % enquanto que no Sporting quase que chega aos 30 %.
Aliás
segundo o estudo da Católica para o Liga Portuguesa, o peso das
receitas de televisão excluindo as transferências representa cerca de 32
%.
Em França esse valor representa cerca de 66 %, em Itália 60%, em Inglaterra 51%, em Espanha 45 % e na Alemanha 36 %.
Connvém
referir que os valores destes mercados são muito superiores aos da Liga
Portuguesa, pois o mercado de televisão da Alemanha, o mais reduzido
dos mercados em causa, é 9,5 vezes maior que o Português.
Voltando à nossa realidade, os contratos anuais de Porto e Sporting
com a PPTV, atingem cerca de 11 Milhões de Euros, por contrapartida com
o nosso que apenas chega aos 7,5 Milhões de Euros. Qualquer novo
contrato apenas terá validade para a época desportiva 2013/2014 e não
para a 2012/13, onde o contrato em vigor implicará 7,5 Milhões de Euros.
Tendo em conta a nossa dimensão, qualquer contrato abaixo dos 25
Milhões de Euros é claramente um valor insuficiente, mas a realidade da
sporttv, com o número de assinantes em queda e com a proibição por parte
da AdC de cobrar um valor fixo aos pequenos operadores para poderem
retransmitir os conteúdos premium, irá contribuir para o abaixamento das
receitas. Ao contrário do muitas vezes propalado, não acredito na
teoria dos 200 Milhões de Euros de facturação, duvidando inclusivé que
essa cifra ultrapasse os 120 Milhões de Euros, pelo que duvido que o
valor a oferecer o Benfica ultrapasse os 15 Milhões de Euros.
Em segundo lugar, devemos então olhar aos Custos Operacionais.
Olhemos então às grandes Rubricas que compõem os custos operacionais:
-Fornecimentos
e Serviços Externos - as despesas inerentes aos
serviços/produtos prestados/fornecidos por entidades externas às
sociedades para levar a cabo as actividades, nomeadamente despesas de
organização de jogos, manuttenção de infra-estruturas, scouting,
deslocações e estadas, limpeza, segurança, água e electricidade,
publicidade, etc.
-Custos com o Pessoal - ordenados, prémios de desempenho e de
assinatura, encargos com segurança social e seguros de jogadores,
técnicos e dirigentes
-Amortizações excluindo depreciações de
passes - normalmente associadas aos equipamentos e no caso do Benfica,
há uma significativa diferença entre o valor consolidado e o valor
individual, pois as amortizações do Estádio, dos Pavilhões, Piscinas,
Galeria Comercial e do Centro de Estágios têm um peso grande ao invés do
que se passa nos nossos rivais
-Provisões e Imparidades excluindo passes de atletas - valores
associados a disputas judiciais, cobranças duvidosas ou perdas de valor
que não as dos passes dos jogadores
-Outros Custos
Operacionais - o que não está incluído nos anteriores, e este valor
varia de sociedade para sociedade, pois se no caso Benfica diz
essencialmente respeito a impostos indirectos e indemnizações acordadas
no decurso de processos judiciais, no caso Sporting inclui despesas de
prospecção e no caso do Porto perdas com a recompra do passe do
Moutinho, enfim é um saco onde cabe aquilo que não queremos contabilizar
noutras rubricas
Analisemos o caso do Benfica para o 1.º Semestre da época 2011/12:
-FSE 11,9 Milhões de Euros
-Pessoal 25,6 Milhões de Euros
-Amortizações 4,4 Milhões de Euros
-Provisões -0,4 Milhões de Euros
-Outros Custos 1,1 Milhões de Euros
Total 42,7 Milhões de Euros (diferenças explicadas pelos arredondamentos)
Ou seja, dos Proveitos Operacionais, cerca de 50 % são gastos em
Custos com o Pessoal para pagar a 2 Administradores (DSO e RC que
recebem cerca de 20.000 euros por mês cada um), 67 atletas (não inclui o
Djaló), 14 técnicos, 10 funcionários de apoio técnico e 78
administrativos.
Convém referir que nem Porto (21,8) nem Sporting (19,3) gastam
tanto em pessoal como o Benfica, o que deveria ser assunto de reflexão.
É
verdade que as renovações implicam sempre subidas de salários, em
especial dos jogadores que têm tido desempenhos desportivos relevantes. É
verdade que em termos de remunerações variáveis, com o acesso à fase de
grupos da Champions e posterior acesso aos 1/8 de final, o Benfica
pagou quase 4 milhões de euros em prémios.
Penso no entanto que acima de tudo será de contestar a permanência de quase 70 atletas sob contrato.
Sob
a capa da criação da equipa B se justifica um elevado número de atletas
sob contrato, e nesse objectivo terão sido investidos cerca de 10
Milhões de Euros no 1.º semestre, no entanto a generalidade desses
atletas não está ainda sob contrato, pelo que se somarão aos actuais 68.
Na verdade a 30/6/2011 eram 70, actualmente serão 68, mas quantos serão no início da próxima época desportiva ?
O
plantel profissional do Benfica é constituído por 25 a 28 jogadores, a
que se somarão um número idêntico para a equipa B (embora considere que
tal não faz sentido se se pretender aproveitar esta equipa para garantir
a transição em competição dos júniores), ou seja no máximo com uma
equipa B se justificariam 50 a 55 atletas mais uns 5 a 10 emprestados
que não joguem na equipa B, ou seja, no máximo 55 a 65 atletas tendo já a
equipa B em funcionamento.
No entanto actualmente e só com uma equipa já temos 68 atletas sob
contrato pelo que se fizermos uma extrapolação para a altura da equipa B
poderemos pensar que o Benfica terá cerca de 90 a 100 atletas sob
contrato.
Em tempos de crise será isto aceitável ? Eu digo que
não, digo que existe uma gestão muito deficiente/ineficiente em termos
de recursos humanos através da qual se compra em palette para tentar
aproveitar 1 ou 2 jogadores por cada 20 que se compram. Para que não
exista o argumento que as aquisições dependem dos treinadores aqui fica
uma lista de emprestados, não estão todos pois no RC só se listam os
principais jogadores do Benfica:
Airton Santos
Alan Kardec
Alípio Brandão
Carlos Martins
David Simão
Daniel Wass
Éder Luís
Elvis
Enzo Perez
Fábio Faria
Felipe Menezes
Filipe Bastos
Franco Jara
Ishmael Yartey
Jan Oblak
Jonathan Urretaviscaya
José Luiz Fernandez
Jose Shaffer
Leandro Pimenta
Leo Kanu
Lionel Carole
Melgarejo
Roderick Miranda
Ruben Amorim
Sidnei
Convém
referir que da lista, a SAD do Benfica recebeu mais de 15 Milhões de
Euros do Benfica Stars Fund. Caso os passes dos jogadores não sejam
alienados pelos valores de referência aos quais foram vendidos ao Fundo,
o Benfica irá suportar as correspondentes perdas, pois o Fundo tem
políticas de risco que o colocam a coberto desses riscos.
As estes 25 atletas podemos somar para a próxima época os 5
internacionais sub-17 uruguaios adquiridos aquando da renovação de Maxi
Pereira, mais 3 jogadores que estão a jogar no Leiria - Copetti,
Barkroth e Djanini, e ainda Fidelio que foi contratado ao Huelva para
resolver a questão do pagamento do Carlos Martins, enfim um manancial de
atletas dos quais muitos não têm a qualidade, a mentalidade ou a
capacidade para jogar no Benfica.
Ainda a propósito do Fundo, convém referir que desde 1
de Janeiro de 2012, por obrigação para com o Fundo que o Benfica tem no
mercado os seguintes atletas:
Ishmael Yartey
Jose Shaffer
Leandro Pimenta
Miguel Vítor
Quanto ao Ruben Amorim, só não está nas mesmas condições que estes atletas pois renovou até 2014.
É
certo que há apostas que acabam por não dar certo, mas não é admissível
continuar a contratar sem critério, muito menos a manter emprestados
atletas que custaram vários milhões de euros - Airton, Alan Kardec,
Carlos Martins, Éder Luis, Enzo Perez, Felipe Menezes, Franco Jara e
Sidnei (este conjunto de jogadores implicou um investimento de cerca de
25 milhões de euros!!!).
Se é certo que se pode ser rigoroso na questão dos
fornecimentos e serviços externos, pois representam cerca de 24 % dos
custos operacionais excluindo passes de jogadores, o essencial é ter uma
política/gestão de recursos humanos adequada à nossa realidade e é
através das melhorias nessa área que se garantirá o futuro.
Falando dos mais de 10 milhões de euros investidos na
aquisição de activos para a Equipa B. Para quem perceba menos de
contabilidade, esses 10 milhões não foram um custo. À semelhança de
quando uma empresa adquire uma viatura não é um custo, mas antes a
aquisição dum activo, os custos são suportados com a amortização dos
activos adquiridos.
Para melhor exemplificar, vamos por absurdo admitir que esses atletas assinaram todos um contrato de 5 anos anos.
Então
vamos dividir os 10 milhões por 5 anos e temos que o Benfica terá um
custo anual de 2 milhões com as amortizações dos passes.
Se entretanto um desses jogadores cujo passe custou por exemplo 2
milhões de euros e portanto tem uma amortização anual de 400.000 euros
(200.000 por semestre), é vendido transferido após 2 épocas por 5
milhões, então temos que o Benfica terá um proveito de 5 milhões ao qual
deve ser deduzido o valor do passe neste caso 1,2 milhões de euros (2
milhões menos os 800.000 relativos a 2 amortizações anuais), ou seja tem
um proveito líquido na transacção de 3,8 milhões de euros.
O importante conforme acima ficou salientado é que
todos os anos os clubes têm custos enormes com as amortizações dos
plantéis (os custos serão tanto maiores quanto a valia dos atletas) e
que esses custos deverão ser compensados pelas transacções.
No 1.º Semestre de 2011/2012 o Benfica teve:
Proveitos com a transacção de atletas +23,0 Milhões de Euros
Amortizações e perdas de imparidades -14,4 Milhões de Euros
Resultado com passes dos jogadores +8,6 Milhões de Euros
No caso dos nossos rivais temos que os do norte tiveram
um resultado positivo de 3,7 Milhões de Euros e os rivais da 2.ª
Circular um resultado negativo de 7,3 Milhões de euros.
Para
se perceber da importância desta parcela como factor compensador da
gestão deficitária na época anterior, no final do 1.º semestre os
valores FCP 17,0 e SCP 10,5. No nosso caso não era tão relevante, pois
tivémos um resultado negativo de 0,2, que deriva essencialmente do facto
de apenas ter sido transaccionado o passe do Di Maria nesse período.
Deste modo, e visto que não houve nenhuma transferência em Janeiro,
a menos que tal aconteça antes de 30 de Junho de 2012, é previsível que
no final do exercício o resultado seja negativo em quase 6 Milhões.
A questão das imparidades tem essencialmente a ver com
lesões ou castigos graves, péssimas temporadas desportivas ou quaisquer
outros factos que nos levem a acreditar que o valor do passe do jogador
descresceu significativamente. A prudência aconselha ainda a
considerar a diminuição do valor do passe ao saber-se por exemplo que um
jogador não está disponível para ser transferido ou renovar o contrato.
Se os Resultados Operacionais são importantes, não nos
podemos esquecer dos Resultados Financeiros que dependem essencialmente
da estrutura de financiamento de uma sociedade. Tendo em conta o enorme
endividamento bancário associado a gestões ruinosas que causaram a
criação de dívidas, bem como dos financiamentos relacionados com a
construção dos Estádios e dos Centros de Estágio.
Essa situação é particularmente mais relevante no caso do Benfica
dada a internalização da Benfica Estádio na Benfica SAD e a assumpção
dos custos que corriam por conta quer do Benfica clube quer da Benfica
Estádio.
Para se ter uma ideia, o Benfica actualmente tem 260
Milhões de Euros de Passivo Oneroso, dos quais se destacam 121,9 Milhões
de Euros em Empréstimos Obrigacionistas / Papel Comercial que se vencem
nos finais de 2012 - 54, 2013 - 43 e 2014 - 25. Tendo em conta, que não
é previsível um desinvestimento na equipa de futebol tão grande que
implique o abatimento desses valores é previsível o lançamento de novos
empréstimos/papel comercial por alturas dos vencimentos dos actuais.
Convém referir que o valor dos empréstimos obrigacionistas (90
Milhões de euros) não é convertível em acções pelo que não implicará
mudança na estrutura da sociedade, ao contrário de outras sociedades.
O
facto de efectuar grande transferências que não são pagas de imediato -
Real Madrid e Chelsea, o Benfica opta por descontar os valores junto da
Banca, pelo que 37,4 Milhões de Euros correspondem a valores avançados
que serão liquidados com o pagamento das referidas entidades, pelo que o
único risco associado é o não pagamento atempado, não correspondendo a
dívidas da sociedade mas antes a dívidas por conta de recebimentos
futuros. Se por um lado não é previsível um grande risco nestes valores,
por outro lado é previsível que futuras vendas de valores elevados
venham a implicar pelo menos a manutenção destes valores para já não
dizer mesmo o seu acréscimo, com o correspondente aumento de encargos.
No 1.º Semestre de 2011/12 o Benfica teve um resultado
financeiro negativo de -7,7 Milhões de Euros inerentes ao aumento dos
spreads e ao aumento do passivo oneroso. Este valor foi muito superior
aos nossos rivais, FCP -3,8 e SCP -1,7. No entanto, tal acontece, à
semelhança das amortizações de imobilizado, devido ao impacto das
infra-estruturas não estar reflectido nas contas dessas SADs e
consequentes financiamentos.
Um factor muito importante na condução das sociedades é
a sua estrutura accionista. Outro é a titularidade das obrigações
bancárias.
No primeiro caso convém referir o seguinte, o Sr.
Joaquim Oliveira é accionista qualificado nas três SADs com as seguintes
participações, SLB 2,66% (valor nominal +- 3 Milhões de Euros), FCP
10,01% (valor nominal +- 7,5 Milhões de Euros), SCP 5,47% (valor nominal
+- 2 Milhões de Euros). Além disso no caso do clube do norte o irmão do
Sr. Joaquim Oliveira, António Oliveira detém 11,01 % (valor nominal
+- 8,25 Milhões de Euros). De referir ainda a participação da Somague
que detém 3,65 % no SLB e 18,79% no FCP. A particularidade da SAD do
Sporting é ter 47,9 Milhões de Euros em VMOC que no momento da sua
conversão assegurarão a maioria do capital na Sociedade caso as mesmas
sejam adquiridas por um investidor único, pois são superiores ao actual
capital social de 39 Milhões de Euros.
Player importante é o BES que detém 7,97% (valor
nominal +- 9 Milhões de Euros) da Benfica SAD sendo ainda credora de
financiamentos no valor de 30,8 milhões de euros, bem como membro do
sindicato bancário responsável pelo project finance do estádio cujos
empréstimos atingiam os 72,5 milhões de euros. Convém realçar que uma
das garantias do project finance é o contrato entre a SLB SAD e a
Olivedesportos assinado em 2003, razão pela qual não é previsível uma
não-renovação do contrato. No SCP o BES tem financiamentos de 10,8
milhões de euros, bem como e, em sindicato com o o BCP 47,8 Milhões de
Euros. No caso do FCP não revelam quem concedeu os créditos, mas tendo
em conta que também envergam os patrocínios do BES é perfeitamente
natural assumir que sejam credores bancários significativos.
Em conclusão, o Benfica dos 3 grandes de Portugal dada a
sua grande base social de apoio tem que garantir bom resultados
desportivos para que estes sejam a base do equilíbrio financeiro,
nomeadamente através do acesso à Liga dos Campeões e mobilização dos
adeptos no apoio à equipa no Estádio e comprando o merchandising.
O aumento das receitas de televisão, a partir da época
de 2013/2014 é imperioso e garantirá uma maior folga financeira que
permita ir abatendo o passivo oneroso e reforçar a equipa. Desse modo e
visto que esse contrato é garantia de um dos empréstimos do project
finance, não é crível que a Btv seja uma alternativa à Olivedesportos,
pois não me parece que BES ou BCP estejam interessados em perder 7,5
Milhões Anuais por troca de um projectoque comporta riscos elevados e
que no curto prazo não terá cash-flows positivos dessa dimensão. Para a
Btv ser alternativa à Olivedesportos, muito provavelmente o Benfica
teria que dar passes de jogadores como garantias em substituição da
manutenção do contrato com o referido operador.
Porém, muito do reforço financeiro, poderia ser
alcançado caso existisse uma gestão de recursos humanos muito mais
criteriosa do que a existente actualmente com a consequente diminuição
dos atletas sob contrato.
Mais do que contratar bem, deveria o Benfica procurar vender bem a
maioria dos jogadores que estão emprestados, ou pelo menos menorizar as
perdas nas vendas, pois a continuação de negócios tipo Makukula
ou Yebda, Airton, Alan Kardec ou Éder Luis, Jara ou Pérez, são
altamente danosos e com um impacto significativo ao nível dos resultados
económico-financeiros. O mesmo se aplica a jogadores como Schafer ou
José Luis Fernandez, Leo Kanu ou Elvis, que não correspondendo a
investimento muito elevados não têm capacidade para jogar no Benfica. Um
terceiro caso são os negócios tipo Elkeson ou Halliche que apesar de
terem sido bem sucedidos, representam apenas o ter dinheiro investido em
jogadores que nunca vão jogar no Benfica, ou seja investimentos
financeiros e numa altura de crise de crédito não me parece ser prudente
efectuar esse tipo de investimentos.
Em termos estratégicos, a internacionalização da Marca
Benfica é fundamental, numa primeira fase junto das comunidades
emigrantes na Europa, na América e em África e numa segunda fase junto
dos mercados emergentes é o passo a seguir pois tal implica
necessariamente a expansão do mercado televisivo e consequente aumento
das receitas, o aumento das vendas do merchandising, bem como o acesso a
patrocinadores com maior capacidade financeira que aumentassem as
nossas receitas comerciais.
Mas a Marca Benfica só se consegue internacionalizar
individualmente se a equipa conseguir grandes desempenhos nas
competições europeias (acesso a finais e meias-finais) numa base
regular. Caso contrário, a aposta passará pela internacionalização da
Liga Portuguesa e nomeadamente dos jogos clássicos, sendo que para tal é
fundamental assegurar uma estratégia conjunta em especial com os
rivais mas também com os demais clubes da Liga. As movimentações do
actual presidente dizendo querer pôr em causa o monopólio da
Olivedesportos é algo a seguir com atenção, se bem que o historial
passado leva a crer que essas ideias não serão levadas à prática.»
Bcool