segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

A formação



A pretérita semana ficou marcada pela discussão generalizada sobre a formação do Benfica, iniciada pelas declarações pouco felizes, que não tenho por mal-intencionadas, de Jorge Jesus com a frase “tinham de nascer 10 vezes” como mote.

As promessas da actual direcção numa aposta futura, clara e inequívoca nos “produtos” que vão saindo do Centro de Formação do Seixal têm sido muitas, desde a constante referência aos títulos que a juventude vai ganhando para o clube, passando pela repetida lembrança de que o Benfica é o clube com maior numero de atletas presentes nas selecções nacionais jovens, até às sucessivas afirmações do próprio presidente enunciando sempre que lhe é possível essa intenção, sendo o sound byte “Benfica made in Benfica” o último desses exemplos.

Não obstante, os actos não têm correspondido às intenções anunciadas, nem há perspectiva segura de que algum dia isso possa acontecer. Não aceito o argumento da falta de qualidade, nem sequer o da juventude dos jogadores, pois a qualidade comparativa a muitas outras escolhas é inegavelmente superior e a idade nunca foi problema na hora de apostar, e bem, em jogadores como Di Maria, David Luiz, Rodrigo, Ola John e tantos outros. Haverá, estou certo, outra explicação, mas que não consigo vislumbrar.

Se estão fartos de ouvir sócios e adeptos reclamarem por falta de aposta concreta na nossa formação, é simples, deixem de dizer que o pretendem fazer, deixem de criar falsas expectativas, deixem de anunciar coisas que não pretendem cumprir. Se o fizerem, podemos continuar insatisfeitos mas, ao menos, deixaremos de vos “chatear” confrontando as vossas declarações com os vossos actos.

É legítimo que o clube não tenha por política desportiva a aposta na formação, ainda que seja uma política desportiva que se afaste do passado do clube, mas já não é legítimo que se diga uma coisa, procurando o acalmar das hostes, e fazer outra como se nada fosse. Há por aí tantos clubes que não apostam na formação, o Benfica seria mais um a não faze-lo de forma oficial.

Obviamente que quem pede uma aposta mais segura na formação, não exige que o clube despeça o plantel actual e jogue apenas com jogadores formados internamente, nem o Barcelona, que é o clube que melhor proveito tira da sua formação no mundo, vive exclusivamente à sombra da sua fantástica formação, caso contrário não veríamos Neymar, Alexis, Mascherano, Dani Alves, Adriano e tantos outros a actuarem pelo clube catalão, logo, seria descabido fazer tal pedido ou sequer anunciar tal intenção.

O que se pede é que ano após ano, os melhores jovens sejam integrados, de forma serena e segura, nos sucessivos planteis do clube. Se por ano entrassem para equipa principal 1 ou 2 jogadores da nossa formação, o eventual impacto negativo que poderiam ter na competitividade geral da equipa seria diminuto e os proveitos que poderíamos retirar daí poderiam ser infinitos.

Utilizando casos práticos, se Nelson Oliveira fosse uma aposta declarada do clube como foi, e bem, Rodrigo, hoje já não estaríamos a falar de uma jovem aposta, mas sim, tal como o fazemos com o jovem espanhol, de um jogador que pode gerar receitas através de uma eventual venda, caso tivesse dado certo.

Podemos argumentar que o jovem Português teve oportunidade de jogar nos clubes por onde passou por empréstimo e que nem aí brilhou, é um facto, mas também é um facto que o ambiente ideal para o desenvolvimento de um jovem é o que mais próximo possa ser do clube que quer retirar dele algo. O que se fez com Rodrigo é o correcto, apesar de não ser um jogador da nossa formação.

Considero que um jogador da formação só pode sair do âmbito do clube por uma de duas vias: 1- Houve aposta, o jogador correspondeu e tornou-se numa mais-valia financeira ou 2 – houve aposta, mas o jogador não correspondeu, estagnando o seu desenvolvimento e não é expectável que evolua ao ponto de se tornar numa mais-valia desportiva para o clube. Mas em ambas as hipóteses há uma aposta séria e uma noção muito próxima daquilo que pode ou não valer no clube.

Com isto não estou a dizer que todos os jogadores oriundos da formação têm valor para jogarem no clube ou tão pouco que determinado jogador deve jogar apenas por ser da formação. Apenas digo que há jogadores cuja valia individual justifica uma oportunidade, se é aproveitada ou não, se tem sucesso ou não, depois se verá, mas não pode deixar o clube sem que se tenha a certeza do que vale.

Um bom exemplo prático para isto é Oblak que agora brilha na nossa baliza. Por vontade expressa de Jorge Jesus em entrevista no início da época, o jovem esloveno tinha saído do clube para novo empréstimo, no entanto, volvidos 6 meses é titular indiscutível do plantel. Ou seja, caso a vontade do técnico fosse levada avante, hoje continuaríamos com Artur num confrangedor momento de forma e a atravessar uma crise pronunciada de confiança e não com um jovem talento que descansa adeptos, treinador e companheiros da defesa.

Ainda assim, e para finalizar, quando falo em aposta serena e tranquila, não falo no que tem sido feito com André Gomes e os fantásticos 2 jogos que tem para a liga portuguesa deste ano que perfazem cerca de 4 minutos de jogo. Aliás, isto é absolutamente contrário a uma filosofia de aposta e motivação crescente de um jogador de quem, supostamente, se espera muito.

Numa lógica de utilização crescente, depois do que o jovem fez durante a época passada, esta seria a sua época de afirmação no clube, a época do “sim ou sopas” para se perceber com exactidão o que poderia dar ao clube e à equipa. Mais uma vez reforço, isto não quer dizer que o ache melhor que Enzo ou tão pouco que deveria ser mais vezes titular que o argentino só por ser da formação, apenas quer dizer que os 30 segundos que lhe foram dados frente ao Rio Ave e os 3 minutos de ontem, não correspondem a nada parecido com um “Benfica made in Benfica”.

11 comentários:

Anónimo disse...

Bom texto, mas considero que esta equipa técnica tem apostado nos jovens da casa. JJ, só este ano, apostou em A.Almeida, A.Gomes, Oblak, Ivan Cavaleiro e ainda temos no plantel o Paulo Lopes, o Sílvio e o Rúben Amorim. Ora bem, parece-me a mim que há uma aposta na formação... mas ainda há espaço para melhor, só se pede mais cuidado com as críticas, muitas delas injusta e infundadas.

José Moreira disse...

Meu caro trindademind

Vamos conversar a sério? Vamos lá:

André Almeida – Não é da formação.

Oblak – O treinador que agora aposta nele e não tardará a dizer que sempre apostou, foi o mesmo que há 6 meses o queria dispensar, algo que ia levando à saída do jovem.

André Gomes – Acha que dar 30 segundos num jogo e um ou dois meses depois dar-lhe 3 minutos noutro é apostar nele?

Ivan Cavaleiro – Sim, tem sido a aposta mais consistente de JJ, a aposta mais próxima de se poder chamar aposta, mas para onde irá depois da recuperação de Salvio? Não pense nem argumente que eu estou a dizer que ele é melhor que o argentino ou que devia jogar no lugar dele ou de Gaitan e Markovic, apenas lhe peço para que faça esse exercício e me diga quantas vezes acha que jogará.

Paulo Lopes – Jogador da formação, mas que fez toda a carreira fora do clube, tendo voltado apenas por questões de inscrição para a UEFA e para ser um suplente comodo para Artur. Acha mesmo que isto é aposta?

Silvio – Sim tem formação no Benfica, mas onde despontou o jogador? Antes de rumar ao Atlético de Madrid (de quem pertence o passe), brilhou no Rio Ave e Braga e o Benfica… nada!

Ruben Amorim – Caso semelhante a Silvio, acha que apostar na formação é deixa-los ir embora e se um dia demonstrarem qualidade, gastar dinheiro para os trazer de volta, pagando por algo que era do Benfica?
Abraço

Rafael Ortega disse...

Concordando na generalidade com o 2º comentário, não posso deixar de salientar, em relação às apreciações de Sílvio e Ruben Amorim (deixar ir embora e depois gastar dinheiro para os ir buscar), que o Barcelona fez a mesma coisa com Piqué, Fabregas e Jordi Alba e não se deu nada mal.

José Moreira disse...

Não se trata de se terem dado mal com isso, apenas deixar ir para depois comprar é assunção de um erro. É ou não preferivel que isso não aconteça? Eu acho que sim. E também acho que os dirigentes do Barcelona quando viram Piqué a brilhar no Man. Utd e Fabregas no Arsenal, torceram um pouco a orelha... Ou quando olharam para o plantel e não tinha defesa esquerdo e viram que lá para os lados de Valencia havia um tal de Jordi Alba... Não devem ter pulado de contentes.

E isso não é apostar na formação, apostar na formação foi o que fizeram com Xabi, Iniesta, Messi, Pedro ou Valdés e estão a fazer com Batra, Montoya, Sergi Roberto etc etc

RM disse...

Dos poucos Posts que vejo neste blog que gosto e acho que fazem sentido. 5*.


No entanto como o autor diz e bem, a maioria dos nossos jovens não daria para titular no benfica (A.Gomes e I.Cavaleiro), mas a meu ver são bons suplentes e bons para rodar.

Ir busca-los quando começam a despontar é um mal menor, ao menos os valores estão lá, e nessa altura com maior qualidade.

luis disse...

Formação...um , dois... esquerdo e direito...
Pois é temos defesas esquerdo e direito emprestados;)
Com este orçamento de sonho, controlado pelo dso do bes o esforço é tão grande que só vou mencionar uma segunda linha para meia dúzia de exemplos,
Guarda redes - O José Sá era...o Mika foi um Milhão para o bandido do leiria...
Def. dr.- zerinhos do João Pereira
Centrais - quiseram por o Miranda a médio...o Miguel Victor a zerinhos...~
Def. esq.- cortez é lembrar o Luis Martins ou será necessário ir a um de 2001, o Doutor Diogo Luis e não vinha o sorin ;)
Médios-... dos zeros do Danilo Pereira, à recompra do Amorim, ás saídas do Vilela ou David Simão...Rosas a mais para a argumentação...
Avançados- A inevitável aposta no jogador do mendes, Nelson Oliveira. Ou o Yartney daquela equipe júnior do treinador João Alves A falta de aposta num Manuel Curto. Sim, este Manel ou um Adu não era bem a mesma coisa. Assim como foi logo a venda dum João Tomás para bétis mal teve a pasta na mão naquele inicio de 2001 e a fuga do Maniche para o seu amigo pinto corrupto de confiança...

Quem em 2003, perde a vergonha e como 33º presimente entra com o beiga ou um gomes... a "estrutura" quer lá saber da formação do Jogador Português da formação.

O jogador Português é tratado aos trambolhões e o estrangeiro da mesma idade, lá vem com Milhões...

Ola 9 Milhões ou será 12;)... vamos lá ver o caminho germânico ... estamos em primeiro, mas a pré época se tivesse começado em junho de 2013 a gestão era coisa para 6 ou 8 pontinhos à frequência nos campeões... e os sérvios não apanhavam táxis nem agora estávamos a mercê dos comilões ;)

Benfica Todos Tempos.

andré da silveira disse...

Concordando em parte, principalmente no que à gestão das expectativas dos adeptos e sócios diz respeito, penso poder fazer dois reparos que estão interligados.

Veja-se o caso de Oblak.

Não dou como tão certo quanto isso a exigência da saída do esloveno para empréstimo. Habituei-me a desconfiar dos jornais quando se trata contratações, empréstimos e discordâncias ou concordâncias internas de outra índole.

Mas o caso do Oblak serve-me aqui como exemplo para outros pontos.

Por um lado, e dada a idade com que foi comprado, apesar de oficialmente não contar como formado no clube, a verdade é que foi o benfica que geriu a sua entrada no futebol profissional. Como tal, consideraria este como um caso de sucesso. São-lhe dados minutos na primeira liga como titular, o que é fundamental para o seu desenvolvimento como jogador.

Mas a permanência de Oblak põe em causa a do Mika. E, seguindo o mesmo raciocínio, parece-me que às duas hipóteses avançadas pelo José Moreira de gestão da formação, devíamos incluir o empréstimo, se este implicar muitos minutos de jogo, contribuindo para a experiência do jogador. No mesmo fôlego, torna-se possível manter um nível alto no plantel principal do benfica quando se dá a inclusão do jogador, sem pôr em causa o aproveitamento da formação.

Razões para um empréstimo? Haverá várias, das quais adianto apenas as mais óbvias: existirem mais jogadores para a mesma posição, onde se aplica o caso do Mika; perceber-se que o jogador pode já atingir patamares aceitáveis na primeira liga, deixando o benfica b, mas ainda não estará pronto para lutar por um lugar ou ser alternativa aceitável no plantel principal.

Concluindo, penso que esta entrada dos jogadores da formação na equipa principal terá que obedecer a uma ideia geral - a aposta na formação como forma de vincar uma identidade do clube, mas também de gestão de mais-valias - mas a análise terá sempre que ser feita caso a caso. O Nelson Olveira é, neste ponto, paradigmático: sendo que os avançados eram cardozo, lima e rodrigo e o oliveira seria sempre 4ª escolha, o empréstimo parece-me a melhor saída, de forma a não impedir a evolução do jogador, principalmente quando pela idade do cardozo e do lima, a sua entrada no plantel se adivinha mais para cedo do que tarde.

E a comparação com a aposta em Markovic ou Djuricic, a meu ver, não colhe. São jogadores substancialmente diferentes do N. Oliveira. O primeiro é uma pérola e ganharia sempre um lugar no 11 a curto prazo, o segundo não joga nas mesmas zonas. E Funes Mori? Prefiro tê-lo a ele como 4ª opção com o Oliveira a titular no campeonato francês.

Um abraço

aalto disse...

Este assunto pare ser discutido em absoluto, deve ser equacionado com a gestão da totalidade do plantel.
Creio que estamos todos de acordo (ou talvez não!...) que no futebol contemporâneo de linha 2 (sim porque linha 1 são os 12/14 habitués dos oitavos de final da champions e o SLB não está aí), nem a verdade absoluta está na formação, nem obviamente na prospecção de "compra tudo o que mexe"...

Creio que o clube que melhor ilustra o paradigma que o SLB devia seguir é o Borussia de Dortmund, e não o Barcelona ou outras tonterias que para aqui vejo invocar.
O Benfica pode (e deve) ter uma prospecção eficaz (é sempre um risco) nos mercados de 2ª linha, e que no nosso caso incluem a Argentina e o Brasil seguramente...como para o BD é o leste da europa, ou mesmo a Turquia por outro tipo de afinidades.
A equipe de Klopp gasta um décimo do BM, e no entanto tem ombreado com o colosso bávaro, mesmo depois de vir de um auntêntico pesadelo financeiro, e fá-lo cruzando indiscutíveis da selecção alemã (Hummels) com gente que traz da prospecção próxima e acessível (Subotic); cruzando jogadores que de caras entram no onze (e é preciso pagar...ponto) Reus, com apostas sustentadas em jogadores que nunca serão estrelas, mas fazem excelente cobertura do plantel (Schmelzer, Grosskreutz...) depois vem as tais opções preferenciais de mercado (não há mal nenhum disso) Polónia (Lewandowski, Piszczek, Błaszczykowski, Badowski...) e o mix com jogadores da formação, quer gente que está a começar (hofman, duksch...) quer outros que mesmo tendo perdendo a influência na primeira equipa, estão lá para ensinar as regras da casa (Sebastian Kehl).

Bastava que LFV ou a SAD não fossem um entreposto de negócios, com uma equipa de futebol como acessório...

José Moreira disse...

André, não referi os empréstimos para não alongar ainda mais o posto e porque no Benfica, emprestar significa dispensar e abandonar, sendo Oblak uma honrosa excepção.

Aalto, como (quase) sempre, de acordo. ressalvo apenas que dei o exemplo do Barcelona,não por exigir algo semelhante (demoraria uns 20 anos), antes por estar no extremo oposto do Benfica e assim facilitar uma linha média entre os dois onde, considero, está o Borussia, Man. Utd por exemplo.

abraço a ambos

aalto disse...

José
quando disse que invocar o Barcelona "no escuro" era uma tonteria, não me estava a referir ao teu post, que como (quase) sempre estou de acordo.

não gosto é de ouvir invocar o Barcelona como a vaca sagrada da formação (que não é) esquecendo por exemplo que o Barcelona enfia 20 milhões em coisas tipo...Keirrison, e vive muito para além de La Masia.
Mais, o Barça não só é agressivo a comprar, como é agressivo a comprar...PARA A FORMAÇÃO! Foi o caso de Messi, ou dos irmãos dos Santos, ou até...o Cá e o Ié, que vieram buscar ao sporting!
Mais ainda, a prospecção do Barça é naturalmente miserável: basta recordar o panfleto que tem sido acertar num central, rios de dinheiro: Cáceres, Chigrinsky, Henrique...para jogar com um trinco adaptado (Mascherano) um eterno velho (Puyol) um que nunca devia ter de lá saído (Piqué)...e as vezes Adriano!

Mais ainda (uma pequena nota histórica) só com a chegada de Florentino Perez ao RM (1º mandato) é que se inverteram os papéis em Espanha com as politicas de compras para a capital (Galáticos, Zidanes e Pavones...) até aí era o Barcelona que comprava agressivamente.

José Moreira disse...

Nos casos de Cáceres e Henrique, nunca entendi muito bem onde tinham visto valor suficiente para jogarem no Barça.

Quanto a Chigrinsky, e do que ia vendo na LC, foi o caso que mais me intrigou... Quase parecia outro depois de entrar na Catalunha.

Mas também, caso queiram mesmo gastar dinheiro a sério e sem grandes riscos, quase nem precisam de prospeção... Hummels esta a demorar demasiado tempo para ser contratado pelo Barça. Isto se querem mesmo um central a sério e para já.

Quanto à agressividade no mercado, e porque a mesclam com uma aposta forte na formação de qualidade, não acho que seja um problema, pelo contrário, compram com qualidade inegável (salvo a excepção dos centrais)o que não conseguem extrair da formação.

Sobre a agressividade nas camadas jovens, não vejo o caso de Messi como os casos de Ie ou Cá (que pena terem tido tanta pressa em sair ou o Sporting em vender). Um vou comprado/aliciado/adquirido, como quisermos, ainda muito novo. O talento que tinha foi todo potenciado em La Masia. Os outros sairam daqui já com boa parte da evolução feita, sendo o objectivo refinar o potencial que tinham... embora tema que ambos tenham dado um tiro no pé.