«De ontem. o fim
O jogo acabou, festa do Benfica, jogadores a agradecer, meu ric’Capel, meu ric’Wolfswinkel sempre o último e a fazer questão de o ser. Fraquezas minhas que me pelo por estas coisas, e a equipa de há dois anos era bem mais antipática nestes cumprimentos. Avancemos, que não é disso que se fala aqui hoje.
Fiquei no lugar, já sabia que teria de esperar para sair. Não me preocupei, estava sentada e tinha o twitter para me entreter. Não estranhei estoiros, nem as primeiras cadeiras a partir ou a arder. Não, não aprovo nem quero dizer “faz parte”, mas faz e eu não estranho. Tanto que embora não aprove, ri-me quando ouvi “e salta bombeiro, e salta bombeiro”, há coisas que comigo funcionarão sempre. No caso é o “bombeiro”, o não haver um nome, é quase uma coisa noddyesca, cartoonesca e infantil “o bombeiro”. Não sei explicar melhor, mas fez-me rir. Nesta altura – do bombeiro e o extintor – já eu estava também de carapuço enfiado e cachecol a tapar a cara, com um ar perigosíssimo, aposto.
Tudo tranquilo até aqui. Sentou-se ao meu lado uma rapariga mais nova que eu, lívida, “ai meu Deus” e tapava a cabeça. Estive para a tranquilizar, mas o namorado apareceu e não me meti. Devia, porque o querido só a soube mandar calar, estava enervadissimo com a figura dela, claramente. Os homens de amanhã, enfim.
Continuava a haver uma cadeira a arder aqui, outra ali. A polícia ou não via quem as ateava ou não tinha ordens para intervir, não sei. Sei que nada fez, mas também não sei o que poderia fazer sem os ânimos se exaltarem. Os bombeiros, pacientes, subiam de extintor, apagavam e voltavam a descer. E eu continuava entre o twitter e o facebook, tranquila.
Minutos depois, novo fogo. Dei por ele antes de o ver porque as pessoas se afastaram para os lados. O espaço não era muito para todos que lá estávamos e foi aqui que começou a minha preocupação. Eu estava à direita dessas cadeiras (de quem está nessa bancada), o espaço entre isso e a parede acrílica não era muito e as pessoas chegaram-se para esse lado, ou seja, ficámos o dobro no espaço de metade.
O “ver a Luz a arder” para mim nunca foi literal, mas tinha miúdos em volta a cantar isso. Peguei num que estava logo ali e disse-lhe “não queremos, não. a esta altura já não queremos, calem-se com isso”. Havia outros que viam o fumo como eu via, o tecto e sei lá mais o que me passou pela cabeça, e começou a falar-se finalmente em descer (nós, a polícia ainda não tinha decidido, pareceu-me). Labaredas enormes, foi o que eu vi e não achei graça nenhuma. Não me interessa sequer saber como ou quem foi, só quis sair dali.
Fomos descendo pelas cadeiras. Deixei-me ficar para trás, por causa das confusões. Tenho horror a multidões em pânico, prefiro ser a última a cair no chão e ser pisada. Fiquei para trás então e fui descendo pelas cadeiras (porque as escadas ainda tinham muita gente) com um grupo de rapazes. Quando vi as escadas mais livres, desisti das cadeiras e mesmo com um polícia a gritar para as escadas que descessemos, saí desse caminho e fui para as escadas. Senti-me fazer um ar amuado, um ar de quem “só quis vir à bola”. A polícia e um rapaz foram-me dizendo “desça, desça com calma. venha por aqui. deixa passar” e cheguei ao corredor de acesso à bancada.
O corredor estava cheio, claro. Andava-se lentamente, mas andava-se. Ouvi miúdas eufóricas com o fogo. Metidas num corredor cheio de gente, num estádio a arder, com polícia por todo o lado, e estavam contentes. Eu sei que há idades para tudo, mas eu felizmente com aquela idade já tinha um cérebro. Passámos por um caixote do lixo a arder e eu em stress. Cada pessoa que passava pelo caixote só queria avançar naturalmente, e começaram os empurrões. Mais uma vez fui acolhida por um rapaz que protegia a namorada e me chamou para junto deles. Estávamos nisto quando o grupo pára e recua. Medo. “é a polícia?” perguntei (sim, não via nada, não tenho propriamente 1,70 que já me ajudaria a ver, e não levei saltos) ao que me respondeu que sim, e nesse momento o grupo abriu em círculo para fugir à polícia. Ficámos assim uns minutos, em círculo e parados. Eu e a outra rapariga mantivemo-nos no lugar e ficámos à frente do nosso lado do bloco. Ele dizia “mantenham-se aqui, fiquem aqui” e eu também achei que só tinhamos a ganhar em ficar ali à frente. Sei lá coisas que se pensam na altura. A polícia tirou um dos miúdos do grupo, nem percebi porquê, e um minutos depois, não mais, estávamos a descer as escadas.
Já cá fora, tive de estar um bocado ainda dentro do recinto em que tinham estado todos à chegada e depois de escoltados para fora das imediações tresmalhei e vim-me embora.
Fiquei no lugar, já sabia que teria de esperar para sair. Não me preocupei, estava sentada e tinha o twitter para me entreter. Não estranhei estoiros, nem as primeiras cadeiras a partir ou a arder. Não, não aprovo nem quero dizer “faz parte”, mas faz e eu não estranho. Tanto que embora não aprove, ri-me quando ouvi “e salta bombeiro, e salta bombeiro”, há coisas que comigo funcionarão sempre. No caso é o “bombeiro”, o não haver um nome, é quase uma coisa noddyesca, cartoonesca e infantil “o bombeiro”. Não sei explicar melhor, mas fez-me rir. Nesta altura – do bombeiro e o extintor – já eu estava também de carapuço enfiado e cachecol a tapar a cara, com um ar perigosíssimo, aposto.
Tudo tranquilo até aqui. Sentou-se ao meu lado uma rapariga mais nova que eu, lívida, “ai meu Deus” e tapava a cabeça. Estive para a tranquilizar, mas o namorado apareceu e não me meti. Devia, porque o querido só a soube mandar calar, estava enervadissimo com a figura dela, claramente. Os homens de amanhã, enfim.
Continuava a haver uma cadeira a arder aqui, outra ali. A polícia ou não via quem as ateava ou não tinha ordens para intervir, não sei. Sei que nada fez, mas também não sei o que poderia fazer sem os ânimos se exaltarem. Os bombeiros, pacientes, subiam de extintor, apagavam e voltavam a descer. E eu continuava entre o twitter e o facebook, tranquila.
Minutos depois, novo fogo. Dei por ele antes de o ver porque as pessoas se afastaram para os lados. O espaço não era muito para todos que lá estávamos e foi aqui que começou a minha preocupação. Eu estava à direita dessas cadeiras (de quem está nessa bancada), o espaço entre isso e a parede acrílica não era muito e as pessoas chegaram-se para esse lado, ou seja, ficámos o dobro no espaço de metade.
O “ver a Luz a arder” para mim nunca foi literal, mas tinha miúdos em volta a cantar isso. Peguei num que estava logo ali e disse-lhe “não queremos, não. a esta altura já não queremos, calem-se com isso”. Havia outros que viam o fumo como eu via, o tecto e sei lá mais o que me passou pela cabeça, e começou a falar-se finalmente em descer (nós, a polícia ainda não tinha decidido, pareceu-me). Labaredas enormes, foi o que eu vi e não achei graça nenhuma. Não me interessa sequer saber como ou quem foi, só quis sair dali.
Fomos descendo pelas cadeiras. Deixei-me ficar para trás, por causa das confusões. Tenho horror a multidões em pânico, prefiro ser a última a cair no chão e ser pisada. Fiquei para trás então e fui descendo pelas cadeiras (porque as escadas ainda tinham muita gente) com um grupo de rapazes. Quando vi as escadas mais livres, desisti das cadeiras e mesmo com um polícia a gritar para as escadas que descessemos, saí desse caminho e fui para as escadas. Senti-me fazer um ar amuado, um ar de quem “só quis vir à bola”. A polícia e um rapaz foram-me dizendo “desça, desça com calma. venha por aqui. deixa passar” e cheguei ao corredor de acesso à bancada.
O corredor estava cheio, claro. Andava-se lentamente, mas andava-se. Ouvi miúdas eufóricas com o fogo. Metidas num corredor cheio de gente, num estádio a arder, com polícia por todo o lado, e estavam contentes. Eu sei que há idades para tudo, mas eu felizmente com aquela idade já tinha um cérebro. Passámos por um caixote do lixo a arder e eu em stress. Cada pessoa que passava pelo caixote só queria avançar naturalmente, e começaram os empurrões. Mais uma vez fui acolhida por um rapaz que protegia a namorada e me chamou para junto deles. Estávamos nisto quando o grupo pára e recua. Medo. “é a polícia?” perguntei (sim, não via nada, não tenho propriamente 1,70 que já me ajudaria a ver, e não levei saltos) ao que me respondeu que sim, e nesse momento o grupo abriu em círculo para fugir à polícia. Ficámos assim uns minutos, em círculo e parados. Eu e a outra rapariga mantivemo-nos no lugar e ficámos à frente do nosso lado do bloco. Ele dizia “mantenham-se aqui, fiquem aqui” e eu também achei que só tinhamos a ganhar em ficar ali à frente. Sei lá coisas que se pensam na altura. A polícia tirou um dos miúdos do grupo, nem percebi porquê, e um minutos depois, não mais, estávamos a descer as escadas.
Já cá fora, tive de estar um bocado ainda dentro do recinto em que tinham estado todos à chegada e depois de escoltados para fora das imediações tresmalhei e vim-me embora.
Nunca tive medo de ir ao futebol e ontem assustei-me. Morro de medo de multidões em pânico. Mas isto não são Sportings nem Benficas. São pessoas que não pensam vs pessoas que gostavam de ir ver o seu clube, na bancada dos seus semelhantes, sem correr perigo. São pessoas inconsequentes que me farão dar razão a quem uma próxima vez me disser “Mas vais? Não é perigoso?” e eu tiver de responder “pois, tens razão” em vez de “não, já fui e correu sempre bem. E isso não tem graça nenhuma. Sempre houve inconsequentes, bem sei, mas antes havia quem pusesse mão nisto, havia os que a certa altura diriam “Já chega” agora os inconsequentes parecem-me em maior número. Ou não, não vi nada, não vi quem fez o quê ou como, nem me interessa.
Isto fica aqui para me lembrar uma próxima vez que os miúdos estão loucos e eu já não tenho idade para isto. Quando quiser ver o meu clube fora, penso melhor no lugar que escolho. Há quinze anos rosnava a quem me dissesse que eu faria tal coisa. Parece que cresci mais um bocadinho.»
Marta