terça-feira, 15 de novembro de 2011

O astronauta Vieira

É importante dar as boas-vindas a Luís Filipe Vieira, neste seu regresso ao planeta Terra após dez longos e extenuantes anos pelo espaço sideral. Desejar-lhe um bom resto de mandato e, se possível, que seja campeão já em andamento para a reforma do Benfica, porque certamente tem mulher, filhos, cães, papagaios, abutres e dinossauros à espera no alpendre de sua casa. 

Como é sabido, entre asteróides, planetas anões, estrelas, cometas e buracos negros, o cérebro tem tendência a mirrar de espanto perante tamanha grandiosidade universal; não raras vezes - pelos relatos a que temos tido acesso -, acaba mesmo por explodir, devido à compressão do ar, o que o faz, primeiro, expandir-se dentro do crânio, depois soltar-se aos jorros de sangue e, por fim, já em plena comunhão com o espaço, gravitar em milhares de pedacinhos para todo o sempre. 

Ao de Vieira, valha-nos nossa senhora!, esta tragédia não ocorreu mas, pelas declarações feitas ao sair da nave, penso ser da mais elementar evidência afirmarmos que se encontra num estado quase fetal - um cérebro ao nível de um rebento em gestação com duas semanas de vida umbilical.

Por outro lado, tenhamos a decência de dar um contributo positivo a tudo isto: haja compreensão. O que se terá passado - relatará a agência "LUSA" nos próximos dias - terá sido aquilo a que os especialistas consideram como um "salto no tempo", dimensão já por todos sabida ser de grande volatilidade aquando de uma massa cinzenta sem chão gravitacional. Vieira e o seu cérebro mirrado encontram-se hoje, em 2011, num loop que advém de terem parado há 10 anos atrás na vida terrestre, altura em que, vestido a preceito, subiu as escadas da nave enfiado numa máscara de carnaval muito parecida ao boneco Michelin com um penico na cabeça e esvaiu-se verticalmente num peido astrológico, furando, criando mazelas e destruindo a fina camada que protege o planeta do obscuro mundo infinito que o rodeia. 

Importa, portanto, nesta altura do campeonato, relativizar. O que pensa e, sobretudo, o que diz. Importa, numa primeira instância, ensinar-lhe a doença que tem - que é uma junção de amnésia com nescidade - e depois, já ciente da labareda que o afronta, pedir-lhe que feche os lábios muito devagarinho e que assim os mantenha até ao fim dos seus dias. 

Conceitos como "credibilidade", "competitividade", "estabilidade", são ideias muito interessantes para o ano 2000. Fazem sentido, imperam num Benfica destroçado por uma conjugação de factores, tractores e detractores e são obrigatórios para que o futuro comece a ser construído. O problema - para Vieira e, em consequência, para nós - é que o ano não é o de 2000, mas o de 2011, com novos desafios, novas metas e, acima de tudo, novas e astronómicas (não astrológicas) dívidas. Enquanto Vieira, da distância sideral, falava aos terráqueos benfiquistas durante estes 11 anos, o clube - pasmemo-nos todos! - existiu e foi transportado para ínvios caminhos alicerçado nos discursos e acções do nosso astronauta moribundo.  

Agora é, talvez, tarde para tão meritório discurso. Os avisos de alguns, ao longo desta longa caminhada no deserto - pontuada com breves momentos de chuva, que logo terminavam em seca profunda -, nunca chegaram devidamente catapultados pela força da tecnologia aos ouvidos - largos - do viajante do espaço e, gradualmente, enquanto a doença crepitava silenciosa por entre os pneus intergalácticos, adormeceram e extinguiram-se. 

Alguns dos que aqui permaneceram, poucos, foram avisando para o perigo de serem comandados do espaço por um líder eufórico - não de alegria, mas pelos ares opiáceos da grande mancha infinita. Levantaram-se problemáticas, indicaram-se novos caminhos, houve medo, preocupação, angústia. A tudo, o astronauta respondeu com a sabedoria dos pouco sábios: não ouviu. Imerso na alucinante janela da velocidade astral, o astronauta afundou o clube e afundou os que patrocinaram a sua epopeia além-planeta. Hoje, como ontem, o que permanece, o que verdadeiramente sobrevive aos actos grotescos de quem nunca amou o Benfica - porque nunca o chorou - é a capacidade regenerativa que nos faz, terrestres sem bilhetes de ida, preservar o nosso mundo. 
 
Ao astronauta enfermo, resta-nos reservar-lhe a nossa profunda e sentida mágoa, quase piedade. E enchermos o peito de ar, semearmos na terra um novo horizonte e esperar. Devagar, sem pressas, esperar. Pode ser que um dia acabemos por gostar de nós.



12 comentários:

Constantino disse...

Considerando o tema espacial do post, e vendo LFV como um astronauta, não posso evitar ver o Vilarinho como a Laika, o primeiro ser vivo a abrir o caminho para o astronauta, mesmo considerando que a cadela russa tinha um aspecto muito menos etilizado que o Grande Vilas. Tal como no caso dos russos, tambem alguem agarrou num ser vivo e o enviou para o espaço com a ordem "escuta, vai la ver se dá para sobreviver ali naquele astro". A resposta veio celere "ground control...this is major tom...aqui sobrevive-se à grande... o astro está com a luz meio apagada, mas é como Angola... é só minério". Desde então, a relaçao do astronauta com o astro tem sido reciproca, num dar e receber de fazer inveja ao Antonio Variações mas que pelos vistos não tem resultado da mesma forma para o 2 lados da barricada. parece que o astro esta outra vez a perder luz. Agora o astronauta tem é que pensar o que fazer: continuar lá instalado, explorando um pouco menos ou regressar à santa terrinha e o próximo que se oriente.

Abraço.

Unknown disse...

Já estou a ver a nave espacial de insultos que se aproxima do blog a toda a velocidade

Hattori Hanzo disse...

É de mim ou já está arranjada a desculpa para o pessoal engolir a renovação com a Olivedesportos? O astronautas sabe-as todas e o pessoal continua a cair nelas...

Ricardo disse...

O Viravinhos foi o primeiro Eusébio, Constantino. Quando abria a boca, atirava verdades bombásticas. A diferença é que eram verdades estúpidas. Horríveis, apocalítpicas, mesmo.

O astronauta que vá para casa rapidamente, são os meus desejos.

Pelos vistos, não, Bcool. É bom sinal. Nunca é tarde para ver a Luz.

Hanzo, não tenhas dúvidas. E essa será só uma de várias medidas impopulares que ele tomará com a desculpa da crise. E o pessoal vai comê-las. É certinho.

Rui disse...

O número de comentários também reflecte a recepção ao post :).

Se querem discutir Olivedesportos na boa, também posso discutir. Faço já a minha manifestação de interesse. Sou sócio correspondente, tal como são a minha esposa e o meu filho (sócio infantil, com tantos anos de sócio como de idade). Sou accionista da SAD. Benfiquista desde pequenino.

No que diz respeito a Olivedesportos, com toda a franqueza, de forem 30 milhões ou mais, se isso resultar de um processo claro de análise e procura de alternativas, que inclua Benfica TV, devidamente documentado e explicados aos sócios, não serei eu a criticar esta Direcção ou outra qualquer que o venha a fazer. Adicionalmente, qualquer contrato não deve ultrapassar o mandato da direcção que o escolher e não deve corresponder a um adiantamento de receitas, para tapar buracos actuais.

p disse...

Mais um texto fabuloso. Estás on fire!

Nem imagino o que o futuro nos reserva. Quando vejo o orelhas com este tipo de discurso temo pelo pior dos piores...

Oh Rui: tu acreditas no que escreves? Há gente que não aprende mesmo...

Rui disse...

p,

Vou precisar, obviamente, do teu iluminado esclarecimento. Assim ele esteja à altura da tua sobranceria.

Ricardo disse...

Rui, claro que reflecte mas, se este texto tivesse sido escrito há um ano, podes ter a certeza que já tinham chovido aqui os defensores do líder - como caíram, várias vezes, ao longo destes três anos. Não terem caído hoje é sinal de alguma coisa. Ou então é a esperança que tenho de que vejam a luz a sobressair.

Rui, concordo quase na íntegra com o teu último parágrafo - mudaria só para 40 milhões, que acho um número perfeitamente ao alcance do que o Benfica merece e dos que lhe podem dar - afinal, andamos há décadas a sustentar esta gente toda.

Mas, Rui... não o direi da forma menos civilizada como o p disse, mas, ainda assim, tenho de fazer o reparo: alguma vez seria possível um cenário desses? Tu sabes quem é o Presidente do Benfica e sua equipa?

"processo claro de análise e procura de alternativas"

"devidamente documentado e explicado aos sócios"

"qualquer contrato não deve ultrapassar o madato da direcção"

"não deve corresponder a um adiantamento de receitas, para tapar buracos actuais"

Rui, isto é tudo o contrário daquilo que tem sido a Direcção de Vieira. Achas que agora - quando, para culminar, nos vêm avisar dos perigos da crise - vão mudar o comportamento - a meses de eleições? Claro que não. Geram o pânico, atraem os benfiquistas para o discurso miserabilista e fazem passar - com aplausos - as medidas que, sem este discurso, seriam altamente criticadas. Porra, isto é dos livros! Qualquer ditadurazeca de meia tijela o fez. Vieira só o faz há 10 anos. Pouca coisa.

Rui disse...

Ricardo,

Se acontecerem as coisas como dizes, contarás comigo aqui no teu blog, que visito com regularidade e onde comento com frequência desde que comecei a visitá-lo, a reconhecer isso mesmo.

O que me faz pensar que pode ser diferente? Acho que Vieira sabe que se há assuntos que arrebatam a emoção dos Benfiquistas um deles é a questão da Olivedesportos. Uma decisão errada e isso pode custar-lhe caro, muito caro.

Por outro lado, acho que o discurso do pânico não engana ninguém. Se a situação do Benfica puder ser considerada geradora de pânico, Vieira só se pode responsabilizar a ele próprio. A treta da crise, quero crer, não convencerá ninguém, pelo menos não a mim, porque uma liderança capaz teria sempre de perceber que o caminho escolhido podia levar a esta situação. Se Vieira joga com um possível pânico, só pode jogar contra si próprio! O próprio discurso do pânico seria contrantura, depois de tantos auto-elogios à gestão que tem liderado.

Vieira não é estúpido. Quero crer que este será um processo onde cometerá o menor número de erros possível.

Claro, eu vejo isto de uma posição não enquistada. Não sou nem pró, nem anti Vieira. Sou Benfiquista.

Constantino disse...

Vamos la a ver se a gente se entende. Isto do contrato com a olivedesportos parece a historia do papa pitas e do nandinho das facturas. ai ai tão chateados que andam um com o outro, mas olha... dão-se tão bem. Alguem acredita que o SLB não vai renovar com a olivedesportos? Ou o oliveirinha assiste a jogos do SLB na tribuna de honra só porque quando foi à bilheteira já tinham esgotado os bilhetes do topo sul? Querem ver que o homem foi à Gala do SLB no coliseu porque se enganou no dia e pensava que ia ver a Lady Gaga?

A triste verdade é que as alternativas que aparecem ao SLB são tristes:

1. Ficar com os jogos para si e passa-los na BenficaTV é o mesmo que eu construir uma moradia e depois ficar com ela em vez de a vender. Vamos ganhar dinheiro com o quê? Com a publicidade ao intervalo ou quando o SLB marca golos "este golo foi-lhe trazido por Atum Bom Petisco, porque aquela canhota do cardozo é cá um petisco"?

2. vender ao Pais do Amaral que anda a tentar formar um canal, mas ainda não se sabe bem como nem com que dinheiro e já comprou os direitos da La Liga e é um risco do catano andarmos a vender jogos a um canal que ainda não existe.

3. vender os jogos a um canal estrangeiro com a desvalorização decorrente do campeonato portugues interessar tanto la fora como a Grande Corrida da Casa do Pessoal da RTP no Campo Pequeno.

4. vender outra vez ao oliveirinha, com tudo o que isso acarreta, ajudando ainda a encher os bolsos dos corruptos, o que só por si demonstra a isenção da olivedesportos em todo este processo.

Pessoalmente acho que estamos metidos na faixa interior de uma rotunda em hora de ponta e não conseguimos arranjar forma de sair. Se me derem a escolher qual das 4 opçoes prefiro... bolos...

Abraço

Ricardo disse...

Rui, a tua análise faz sentido: pela lógica, Vieira deveria ter cuidado e gerir isto com pinças para não começar a ser odiado. Pela lógica. Só que o que o passado nos prova é que, em situações mais ou menos delicadas para o Presidente do Benfica, ele resolve a coisa de forma simples: anuncia o apocalipse. "Ah se não fizerem isto..."; "cuidado que podemos cair..."; "a minha família pede que volte para casa mas eu fico..."; "não se esqueçam de onde viemos...". As frases de qualquer cartilha, de qualquer manual de bom ditadorzeco.

Ou seja, Vieira nunca deixou de tentar enganar as massas por estar em stiuação fragilizada. E, neste momento, apesar de toda a merda que já fez, tem um trunfo importante (vamos ver até quando): a equipa lidera o campeonato e está com pé e meio nos oitavos da Champions. E a malta quer é bola e resultados.

Mas veremos como será, Rui. Cá estaremos para discutir o assunto.

Uma coisa: Tu és Benfiquista e eu sou Benfiquista. A diferença entre nós é que tu não vês o Vieira como um entrave ao crescimento do Benfica e eu vejo.

Ricardo disse...

Constantino,

Confesso que tive alguma esperança de que o Vieira abdicasse da Olivedesportos - este coração amolecido -, mas após estas declarações fiquei elucidado: não só assinará com o Jaquim Roupão como o fará por valores abaixo do que todos esperado.

A alternativa é vender a outro quer não a Olivedesportos. É bom lembrar que o Porto recebe uma percentagem brutal do que recebermos. Nem penar. A solução, das 4 que apresentas, é logicamente a de vender ao Pais do Amaral. Pelo que já li sobre o assunto, não vejo grande "risco". O canal está bem encaminhado - esta gente não brinca em serviço.

Eu também sou mais bolos. Mas, de preferência, sem sabor a borracha.

Abraço.