sexta-feira, 31 de maio de 2013

Habemus Campione



Foi sempre difícil olharmo-nos olhos nos olhos durante aqueles anos. Claro que havia amor e ternura e cumplicidade entre mim e o meu Pai, claro que a vida continuava para lá daquilo que não dizíamos mas aquilo, aqueles anos, foram sempre novas mortes sobre nós. O meu Pai sentia a culpa de ter-me levado sem aviso para um Benfica apaixonante e eterno; eu pedia, sem dizer, desculpa do que o Benfica se tinha tornado. 

 Era quase um confronto de gerações nuns 400 jogos estafetas: ele tinha-me deixado na liderança com o testemunho num ângulo certo e eu - ou o Benfica que também era eu - num passo desconexo, a falhar a chamada e a tropeçar - ou o Benfica por mim - na pista.

 "Vai e mantém-nos no rumo grandioso", pareceu dizer quando, a cada jogo que me levava a ver a Catedral, eu não me dominava no amor por este clube que é tanta coisa e tão grande ao mesmo tempo e nos olhos dele brilhavam as chamas de uma esperança de eternidade. "Faz-nos maiores ainda, tens aqui a tua herança". E abraçámo-nos nos golos do Rui Águas contra o Steaua, beijámo-nos contra o Elvas, amámo-nos na mão do Vata, fui ao colo dele em Benfica Diving contra o Sporting e olhei-o com respeito, admiração e amor nos outros jogos todos que vimos juntos. O cheiro do benfiquismo do meu Pai acalmava-me os nervos ao mesmo tempo que me transbordava de emoção: era um lugar de conforto e êxtase. De vida. 




 É natural que tenhamos sentido remorsos e tristeza não um do outro mas do Benfica naqueles 11 anos que passaram entre estarmos numa tarde gloriosa na Luz a guardar pedaços de relva e a dar beijos ao Toni e a ver gente em cima das balizas a agradecer aos deuses e aquela tarde no Bessa, em 2005. Foram dias e semanas e anos em que eu e o meu Pai continuávamos a ir ao Estádio com esperança mas com o coração mais pequeno e frágil: como quando vamos ao velório um do outro; nunca sabemos a razão de alguma coisa ou pessoa ter morrido dentro de nós. Só temos pena e choramos. 

 Não sei dizer, portanto, a verdadeira loucura que se passou naquela casa quando vimos o Simão marcar o penálti contra o Boavista. Houve planetas desalinhados, vidas trocadas, pesadelos metamorfoseados em sonhos, coisas estranhas, copos no chão, gente aos gritos, cães em sobressalto, amor sincero e outro reinventado. Houve Benfica. As plantas do pátio cresceram mais rápidas e velozes, o horizonte de serras abriu-se em estátuas de sorrisos e bandeiras, o Tejo correu com mais água, os carros de repente tornaram-se buzinas com gente dentro e o povo saiu à rua dentro de nós. Abraçámo-nos num abraço tão grande que os Josés Águas e Eusébios e Colunas e Torres e Cavens e Josés Augustos e Simões e Costas Pereiras e Cruzes e Germanos e Artures Santos e Humbertos e Tonis e Nenés e Joões Alves e Vítores Baptistas e Vítores Martins e Bentos e Shéus e Josés Henriques e Álvaros e Bastos Lopes e Chalanas dele fluíram para dentro dos meus Paneiras e Isaías e Joões Pintos e Velosos e Valdos e Ruis Costas e Magnussons e Therns e Vatas e Césares Britos e Kulkovs e Mozers e Silvinos e Ricardos Gomes e Aldaires e Stefans e tornaram-se - todos e ao mesmo tempo - um corpo inteiro sem distinção nem diferença: um abraço que juntou todos os jogos que vimos, todos os golos festejados, todos os quilómetros que fizemos em busca do Benfica. 



 A 10 minutos do fim do jogo no Bessa, eu estava sentado sem unhas para roer e garrafas de cerveja na frente que ia colocando em diagonal, depois em quadrado, no fim em pirâmide, e o meu Pai dançava com a minha irmã pela sala numa dança sem possível definição - eram uns passos estranhos de uma felicidade insuspeita, abraçavam-se, dançavam, beijavam-se, amavam-se e os jogadores do Benfica iam fazendo coisas no relvado que nós não víamos porque não podíamos ver nem perceber, só queríamos o Álvaro dentro de campo de cuecas ou o Trapattoni virado para o céu. Mas aquele tempo, aqueles 7 minutos que faltavam agora, tanta coisa que podia correr mal, um asteróide cair e estragar a festa, um colectivo apagar das estrelas todas, o árbitro inventar 50000 penalites, foderem-nos o golo, matarem-nos a dança, acabarem-nos com o sonho. 

 Quando o jogo acabou, eu não sei onde estava exactamente, se na carpete da sala num abraço colectivo ou se em cima da mesa aos pontapés às garrafas a atirar golos para dentro da lareira; está tudo nublado à espera de razões que não vêm. Sei que olhei o meu Pai na confusão dos sentidos e voltámos a segurar o mesmo testemunho.

Código Luís Filipe

A 26 de Junho de 2009 - 9 anos depois de ter chegado ao Benfica e 6 após ser reeleito pela primeira vez, já com a "consolidação financeira" executada -, o líder Vieira falava ao povo, desta vez com o foco no sucesso desportivo: 

 «Falta-nos conquistar títulos. Posso garantir que este mandato será para fazer obra nisso. Temos serenidade para investir no nosso ‘core business’ e ganhar não um, mas dois ou três campeonatos seguidos». 

 Vieira prometeu "dois ou três campeonatos seguidos", mas de facto só ganhou mesmo um. Não dois ou três seguidos, um. Mas nessa noite em Vila Nova de Gaia, enquanto prometia coisas - afinal, a sua grande especialidade - Vieira não esqueceu a sua grande mais-valia, o atacar a "oposição" (seja lá o que isso for no Benfica): 

 «A inveja faz o mal de muita gente, especialmente dos incompetentes, dos que não conseguem fazer». Repare-se na lógica: «a inveja». As pessoas que criticavam Vieira e a sua visceral incompetência eram «invejosos». Mas... invejosos de quê? Não sabemos. O palpite, no entanto, tem de ir para uma coisa muito lógica: as pessoas tinham inveja de que Vieira na altura já tivesse ganho, em 9 anos - 6 como Presidente -, muita coisa. Assim do tipo... 1 Campeonato. Faz todo o sentido. Malandros dos invejosos, pá. 

 E o que diz Vieira, 4 anos e 3 campeonatos perdidos depois? 

 «Esta não foi uma época de sonho, mas foi uma época que nos fez sonhar como há mais de 20 anos não o fazíamos». Não foi de sonho, mas foi uma época «que nos fez sonhar». É bonito e romântico. Sonhámos, valha-nos isso! E mais, grande líder? 

 «É evidente que quando não se ganha temos a tendência suicida de colocar tudo em causa. A verdade é que se tivéssemos ganho haveria coisas que teríamos de corrigir, mas também é verdade que o facto de não termos ganho não significa que tudo está mal». Cá está: quando não ganhamos, temos a tendência suicida de colocar tudo em causa. É bem verdade. Abutres, são todos uns abutres. É que querem ganhar esquecendo esse pormenor que diferencia os heróis dos outros: «também é verdade que o facto de não termos ganho não significa que tudo está mal». Não, está tudo óptimo. Só falta ganhar. De resto, estamos maravilhosos, lindos, elegantes. Estamos como queremos. Obrigado, grande líder. Só tenho uma pergunta: mudamos alguma coisa? 

 «Vamos mudar aquilo que tivermos de mudar mas com ponderação, para não estragar tudo o que de bom conseguimos nos últimos anos. Não devemos ter medo das nossas convicções». Excelente. Não tenhamos medo das nossas convicções como aquelas que há 4 anos diziam que, e cito o nosso grande Presidente: «Posso garantir que este mandato será para fazer obra nisso. Temos serenidade para investir no nosso ‘core business’ e ganhar não um, mas dois ou três campeonatos seguidos». Grande líder, não mude nada, nem sequer «com ponderação», o caminho tem de ser este, não «tenhamos medo das nossas convicções», enorme Presidente. E pode deixar-nos alguma coisa (vá, aos políticos da Assembleia mas estamos por tudo)? 

 «O que vos posso aqui deixar é que vamos manter o rumo e continuar a trabalhar com a mesma seriedade, o mesmo rigor e a mesma paixão que nos trouxe até aqui». Lindíssimo. Podemos não ganhar nada, mas, caramba, temos um poeta como Presidente.



Balanço 2012-13 parte 3


Se ontem não publiquei qualquer texto relativamente ao balanço da época que agora findou, foi porque chegaram ao meu conhecimento alguns factos que me fizeram reflectir profundamente. Dado não serem de momento pertinentes, a análise prosseguirá sem que os traga à colação.

No que respeita ao ataque, Jorge Jesus viu satisfeitos os seus pedidos por parte da Administração da SAD, saindo Saviola, Jara, Nelson Oliveira, Rodrigo Mora, não tendo sido apenas encontrada colocação para Kardec. Adicionalmente, Lima, pedido de Jesus chegou ao Benfica.

Altura de novo acto de contrição, não percebi a contratação e achei-a desajustada. Mais uma vez se revelou uma boa contratação, visto ter sido Lima um dos melhores do ano, apesar das falhas em jogos cruciais, como o caso do jogo com o Estoril, com o Chelsea, ou mesmo com o Guimarães. A minha dúvida é se essas falhas foram devido a acusar a pressão, ou se foram devido ao excessivo desgaste que a temporada teve.

O que é certo é que Lima acrescentou muito ao Benfica nas suas movimentações atacantes e também com golos. É um jogador que se mostra, que dá linhas de passe, que arrasta defesas e também é um concretizador nato, sendo uma boa alternativa a Cardozo caso o Benfica jogue só com um avançado ou o complemento ideal para ele quando o Benfica joga com dois avançados. De Lima o momento que retenho como o mais brilhante foi a concretização com um remate de primeira no golo ao Sporting depois do brilhante trabalho de Gaitán. Para mim o golo do campeonato, porque mais do que um trabalho individual, mostrou um trabalho colectivo perfeito servido pela excelência das execuções individuais.

Com a fulgurante época de Lima notou-se o desaparecimento de Rodrigo que uma após outra desperdiçou oportunidades mostrando uma estagnação em termos evolutivos. Cardozo foi mais do mesmo, golos, penalties e uma capacidade excepcional para jogar como referência, seja pelo chão, seja pelo ar.

Com esta descrição, sim eu sei que não falei nos múltiplos frangos do Artur que custaram maus resultados em momentos decisivos, em especial no desastroso final de época e não falei porque não houve qualquer trabalho neste campo relevante, visto a saída de Eduardo ser perfeitamente normal, como também o foi a contratação de Paulo Lopes, pretendi acima de tudo mostrar como a construção do plantel teve influência decisiva nos resultados finais. Mas não foi só a elaboração de um plantel desequilibrado.

No Jamor tivémos mais do que já se tinha passado na Alemanha na pré-época, uma equipa em auto-gestão, com um treinador ausente e alguns jogadores a terem atitudes pouco admissíveis numa equipa profissional. Se na Alemanha, envergonhámos a imagem do Benfica a nível internacional, no Jamor fizémos o mesmo a nível nacional. E nisso o grande responsável, mesmo mais que Jesus, foi o Director do Futebol, ou que raio de cargo ele ocupa, o homem de nome Carraça.

Carraça não é benfiquista, não conhece os valores da casa, mas podia ao menos ser um profissional competente. Não o é. Já havia sido demitido do Benfica há uns anos por causa dessa mesma falta de competência e esta época voltou a mostrar que não pode ocupar aquele cargo. Era ele o chefe de comitiva na Alemanha que permitiu aquele abardinamento colectivo. Pior que isso, não teve capacidade de resolução do problema no imediato, deixando que para a imprensa internacional o Benfica passasse uma imagem de equipa violenta e sem qualquer respeito pelos árbitros.

A consequência desse comportamento incompetente ? O capitão apanhou uma suspensão de dois meses e os árbitros durante as competições europeias na dúvida decidiram sempre contra o Benfica. Não que isso tenha tido influência no desempenho desportivo quer na Champions quer na Europa League, mas que condicionou certos jogos isso foi uma realidade.

O episódio no Jamor então foi aviltante. Desrespeitou-se o Presidente da República, o Guimarães e o próprio público, mostrando uma falta de fair-play que envergonharia os fundadores do clube e só não envergonha o presidente e o treinador, porque nenhum deles sabe o que isso é. Se algum soubesse, teria dado dois berros e posto aquela tropa fandanga em sentido. Não bastou perder-se um jogo estupidamente, um jogador no final do jogo andar de dedo em riste ao treinador acusando-o de culpado, isto depois de outro já o ter feito anteriormente, ainda se assistiu à debandada dos jogadores antes da consagração do Guimarães. Mas o que esperar duma estrutura que na hora da derrota apaga as luzes e liga os sprinklers ?

A pergunta que fica é o que faz lá este senhor senão impõe respeito à comitiva ? Sim porque em termos funcionais faz muito pouco, além de se incompatibilizar com jogadores vindos das camadas jovens ou com os adeptos que seguem a equipa e que já sofrem pelo Benfica há muitos anos, ainda antes dele prejudicar o Benfica nos seus tempos de presidente do sindicato dos jogadores. Uma fraca figura aceite por Jesus por ser mesmo isso, alguém que não o contradiz, não lhe impõe regras, mas antes funciona segundo as regras do treinador. O mundo ao contrário, diriam os Xutos.

Jesus para mim falhou e falhou redondamente. Deixou de fazer a rotação dos jogadores quando se aproximou no fim da época, mostrando efectivamente em quem confiava, mais uma vez um restrito lote de jogadores. Depois, quando os jogadores em quem confiava não podiam mais ou eram castigados, lançava às feras jogadores sem ritmo, na expectativa que eles resolvessem o que os desgastados não o fizeram. Por isso é fácil de apontar o dedo a Aimar, Carlos Martins, Jardel, por desempenhos menos conseguidos ou erros individuais.

Mas pior que isso, Jesus falhou no jogo Taça porque perante um equipa muito mais fraca, em que os jogadores não tinham grande experiência de jogos decisivos e de primeira divisão, quis controlar o jogo, quando vencia por 1-0. E assim perdeu tudo na época. Além disso, Jesus mostrou-se ser demasiado emocional, pois não é aceitável que um líder se ajoelhe perante o infortúnio ou que comece a chorar. Que exemplo passa ele para os jogadores ? Falhou ainda quando permite que os jogadores contestem as decisões dele. O jogo da segunda mão das meias finais da Taça já deve ter sido esquecido por todos, mas foi aí que começou a ver-se a rotura entre ele e alguns dos jogadores.

Posto isto o que fazer ? Jesus deveria sair. LFV que disse ser Jesus o seu treinador, deveria sair com ele e nem sequer se candidatar a novas eleições, pois já são muitos os anos e os erros somados sem qualquer demonstração de correcção do caminho. Hoje aposta-se nisto, não dá, amanhã aposta-se naquilo. Se não der, a seguir aposta-se noutra coisa qualquer. E o Porto soma campeonatos, 8 em 10 anos, e taças e conquistas europeias. E o Benfica ? Em 10 anos, 2 campeonatos, 1 Taça de Portugal, 1 Supertaça e 4 Taças da Liga.

Sim, hoje em dia o Benfica a nível europeu tem um desempenho que não tinha antes de Jesus. Mas qual foi o treinador que teve 4 anos no Benfica, com o maior nível de investimento da história ? Hoje já não vamos comprar jogadores com um saco de caramelos e se alguns perdemos para o Porto é porque negocialmente continuamos a falhar, mas não é de admirar quando temos na nossa prospecção senhores para quem o Porto é uma religião.

O que vai acontecer ? Jorge Jesus vai ficar, Carraça deve sair (já vai tarde) e Vieira continuará no seu rumo. Atacando quem o critica, mas não resolvendo certos problemas. Pelo contrário, o Benfica hoje depende de Jesus como poucos clubes dependem dum treinador. Não, o problema não é a questão de Jesus ser um Manager como Alex Ferguson, o problema é Jesus ser muito mais que isso, no que ao futebol profissional diz respeito, Jesus é o Benfica e o Benfica é Jesus. Só falta Jesus ter mais poder que DSO, que felizmente ainda pode impôr aqui ou ali , algumas restrições e limitações aos desvarios.

Essa é a forma de Vieira resolver os problemas, deita dinheiro para cima deles e delega as competências quase exclusivamente numa pessoa. E depois ? Como não há estrutura, não há responsabilização. A responsabilização só chega quando a pessoa é despedida e isso só acontece depois de muitos insucessos. Sim, mesmo que Jesus não continue a ganhar, vai continuar como treinador, visto que já tentam criar o paralelo com Ferguson. Jesus valoriza jogadores, o futebol é atractivo, o desempenho nas competições europeias é muito bom, mas títulos que é bom, tá quieto.

O Porto está a iniciar um novo ciclo. Saíram 2 jogadores nucleares do centro do terreno, a zona nevrálgica do modelo de jogo do Porto, e fala-se que poderá sair um terceiro e Lucho está cada vez com menos rotação para o modelo de jogo existente. Tentando precaver essa situação, o Porto foi buscar jogadores com potencial. Mas há sempre o risco de não se adaptarem, ou mesmo que o façam, dificilmente atingirão os níveis de desempenho dos que saíram. Se o Porto teve dificuldades em ser campeão e só o foi por demérito exclusivo do Benfica, para o próximo ano, as hipóteses do Benfica ser campeão aumentaram exponencialmente.

Cabe a quem decide, resolver as questões de transferências antecipadamente, de preferência nos primeiros dias de Julho, para que a pré-época seja prepara com a maioria dos jogadores que disputarão o campeonato. Situações como as do ano passado limitarão significativamente as nossas possibilidades e servirão de desculpa para mais um início titubeante. As principais contratações do Benfica já estarão acertadas. Mais uma vez Jesus preocupou-se essencialmente com avançados e médios ofensivos. Esperemos para ver se as lacunas há muito identificadas não obrigarão Jesus a "inventar" jogadores como ele disse que não o quereria fazer.

quinta-feira, 30 de maio de 2013

O meu Valdo Cândido de Oliveira Filho

 Camisola vermelha comprada numa feira, um "1" e um "0" feitos à mão e cosidos pelo meu Pai nas costas, uns calções brancos, curtos, e umas chuteiras simples. Faltou-me a Afro para ser o Valdo. De resto, estava tudo lá: a indumentária e eu, em imaginação. Quando corria, fazia aquele compasso de espera, fintava uma pinha, deixava-a cair, voltava a rodopiar, levantava a cabeça. Um pinheiro pedia-me a bola, isolado. Fingia que passava, metia para dentro, corria, olhos no chão, olhos na bola, olhos em frente. Peito feito sobre o ar vespertino, a bola chegando-me aos joelhos. Pai, posso ser o Valdo? 

 O carro estava estacionado numa clareira, entre o pinhal. Portas abertas, todas, bagageira para cima, com bolos, pão, vinho, rissóis e panos feitos numa máquina Singer que a minha avó rodava nas mãos e nos pés feita malabarista no escuro em frente a uma parede com fotografias de gente muito velha a preto e branco. Jazem aqui flores e nomes e cães iguais aos que há agora mas a cinzento e há tanto tempo mortos. Quantos cães tem uma vida? 

 Há uma voz que ressoa por entre os ramos. Anunciam golos de tarde desportiva, emissões de Portimão a Coimbra, vão para Braga, voltam a Lisboa, dirigem-se a Leiria, ficam em Chaves. Rudez Thiomir marca golo. E os cestos de verga abanam no gooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooolo de Rudez, golo do Chaves, lance que se iniciou na intermediária, a bola rodou sobre um adversário, avançou pelo miolo, chegou à linha, foi cruzada, um impasse, o mundo todo parado observando o croata, a indecisão, quase remate, remate, bola nas redes. Alguém vem e pergunta: foi golo do Benfica? 

 A minha camisola tem um "1" milimetricamente na diagonal - não se vê a um metro de distância, mas está lá, não foi trabalho de fábrica, houve mão de amador, aquele que ama. Na frente, há pescoço porque há decote em v, o vermelho é um vermelho mais escuro e não se vende no Media Markt, porque o Media Markt não existe e porque há coisas que o Media Markt não pode vender. Mas há um Valdo a correr nos pinheiros. E vários golos porque o golo tanto pode entrar entre árvores como entre pedras - o jogador decide, no calor do momento. A distância entre o Valdo e o carro depende dos gritos que ecoam. Claro que os pés não sabem por que razão avançam para os pastéis de bacalhau quando há grito de golo mas o coração não tem dúvidas: vai à espera do Benfica. É agora? Foi golo do Benfica? 

 E aquele som contínuo, não no "g" que demora pouco, mas no "o" - quantos ós e desesperantes - e toda a gente parada, eu, o meu Pai, as rodas do carro, as folhas, o gesto das febras na grelha, o céu e as nuvens que deixam de construir imagens - tudo parado. É golo, mas de quem? Goooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooolo. E antes do "l" e muito antes do "o" que o continua olhos não no rádio mas uns nos outros, eu olho o meu Pai que me olha a mim que o olho a ele. O "1" cosido nas costas a olhar o "0" cosido nas costas, pedaços de terra saltam e ficam no ar à espera. Diz Benfica, diz Benfica, diz Benfica, o coração aos pulos, diz Benfica, diz Benfica, diz Benfica, as pernas flectidas, joelhos em silêncio, quase dor muita dor, braços à espera, mãos curvas, ouves o som do público? 

 É indefinível, gritam todos e muitos, não sabemos quem nem por quem nem onde. Há som e ruído, imaginamos bandeiras sob o sol, cachecóis no vento, abraços, gente aos gritos, garrafões tombados. Mas é Benfica ou não? E o "oooooooooooooooooooooooooooooooooooo" continua, o homem tem fôlego, não se cala, mantém a surpresa na garganta, a bola junto a uma das rodas do carro, esquecida e adormecida, esperando o movimento. Não há movimento, só um grito que não acaba, e o golo, o golo é de quem? Há uns sons metálicos de assobio enquanto o rádio canta. Ondas de silvos no meio dos óculos da avó que retira pratos e garfos e facas de plástico do interior de um saco. 

O carvão todo junto, negro, colante, uma imagem de um sol sobre a estrada de terra e uma menina que corre, indiferente ao golo, pelos cogumelos e musgo. De quem é o golo? O vestido às rosinhas não sabe, prefere dançar oblíquo sem rota nem bandeira. O golo, que é de alguém, não chama aquela corrida atrás de uma borboleta que faz desenhos no ar e depois desaparece. ... doooooooooooooooooooooooo Beeeeenfiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiica e os meus olhos abraçam os ombros do meu Pai e depois continuam para o espaço atrás dele com os olhos dele para o espaço atrás de mim e os olhos em chama, ombros em chama, a bola é pontapeada contra uma pedra grande que faz ricochete, sobe no ar que o Valdo recebe, com aquele pé de veludo, tenso o tempo suficiente para haver contacto e logo mole, macio, para ela ficar ali aninhada. Os Domingos sabiam tanto a Benfica.

Sinais de aviso

Os sinais são preocupantes, sobretudo os dos adeptos: não são poucos os casos de pessoas que vejo no facebook a dizer que vão deixar de ir ver o Benfica. Uns enquanto Jesus lá estiver; outros enquanto Vieira se mantiver a Presidente; outros que simplesmente estão fartos de tanta incompetência. 

 Deixemos os juízos de valor de lado - eu não concordo com a atitude, acho que devemos continuar a ir ver o Benfica, porque há um princípio básico pelo qual me oriento: não confundo o meu clube com nenhuma personagem. Discordo da atitude, mas reflicto sobre ela. Quando um número tão grande de gente - e gente que ajuda a encher o estádio da Luz e os outros, ao longo da época - pensa em "desistir", só não percebe os sinais quem não quiser.

quarta-feira, 29 de maio de 2013

A cantiga do bandido em loop

«Orgulhoso. Assim estava Rui Costa, director desportivo do Benfica, na apresentação de Miguel Rosa, David Simão, Nélson Oliveira e Rúben Pinto. Quatro jogadores provenientes dos escalões de formação dos encarnados e que vão integrar, à excepção de Nélson Oliveira, o estágio de pré-época às ordens de Jorge Jesus. 

«É um prazer especial, uma honra muito grande apresentar estes quatro jogadores oriundos da formação. Representa a aposta do clube, um dos projectos que o Benfica tem para o futuro, e é um prémio que cada um recebe pelas óptimas prestações que têm vindo a ter», disse Rui Costa, na conferência de imprensa. » 


 Isto foi há dois anos. O futuro está sempre para lá de Bagdade. E a ideologia muda ao sabor do vento. Por aqui, depois por ali, vamos agora por este caminho, perdemos, vamos por aquele ali, perdemos, agora é que é, perdemos, cuidado com o Vale e Azevedo, perdemos, o Benfica estava em ruínas quando o encontrámos, perdemos, temos um projecto, perdemos, agora é que temos um projecto, perdemos, para o ano é que vamos ter um projecto, perdemos, lembrem-se do Vale e Azevedo, perdemos, já encontrámos a solução, perdemos, no futuro seremos enormes, perdemos, agora vai ser o nosso ano, perdemos, em dois anos seremos maiores que o Real Madrid, perdemos, vamos ganhar 3 ou 4 campeonatos consecutivos, perdemos, este é o mandato desportivo, perdemos, não afinal não era este é o próximo, perdemos, cuidado com o Vale e Azevedo, perdemos, a minha família diz para eu sair mas eu fico porque tenho uma missão, perdemos, a culpa é dos árbitros, perdemos, os árbitros que nós apoiamos inequivocamente, perdemos, quando chegámos eram só as pedras da calçada, perdemos, sabemos o que estamos a fazer, perdemos, afinal não sabíamos bem o ano passado nem nos últimos dez anos mas neste já sabemos, perdemos, se calhar não devíamos ter sido campeões, perdemos, andámos a festejar demasiado tempo e depois perdemos, perdemos, querem um novo Vale e Azevedo?, perdemos, o Benfica não está para abutres e papagaios, perdemos, temos um projecto financeiro fabuloso, perdemos, é o milagre económico, perdemos, não precisamos de vender jogadores para equilibrarmos as contas, perdemos, afinal não era bem assim afinal precisamos de vender jogadores para equilibrarmos as contas, perdemos, pedimos empréstimos para pagarem outros empréstimos que pagam outros empréstimos, perdemos, estamos com grande saúde financeira, perdemos, antecipamos eleições para não termos concorrência, perdemos, não vamos a debates que isso é coisa de democratas tontos, perdemos, mandamos para o caralho os benfiquistas que não votam em nós, perdemos, cuidado com o Vale e Azevedo, perdemos, devem querer voltar aos anos 90, perdemos, só nos comparamos com a pior década da História do Benfica porque é a única forma de podermos dizer que tivemos mais sucesso desportivo, perdemos, pensámos nos erros e na próxima época ganharemos tudo, perdemos, querem voltar à era Vale e Azevedo?, perdemos, apoiamos inequivocamente os corruptos, perdemos, a culpa de perdermos é dos corruptos que nós apoiamos inequivocamente, perdemos. 

 Perdemos, perdemos, perdemos. Um dia, meu amor, a malta acorda. Espera só mais um bocadinho, meu querido Benfica.


A maior revelação da época, Licá, assinou pelo Porto, diz o "A BOLA". A ser verdade, é uma má notícia. Excelente jogador.

terça-feira, 28 de maio de 2013

Não sei se vá, se fique. Não sei se fique, se vá. Se vou lá, não fico aqui. Se fico aqui, não vou lá.

Balanço 2012-13 parte 2


Continuemos o balanço da época que terminou tão negativamente no passado Domingo. Se na defesa o plantel foi mal-estruturado e as saídas no final do mercado de Verão, não foram devidamente compensadas, para Janeiro estava preparado mais um golpe nas ambições do Benfica e do próprio Jorge Jesus. Contando com dois jogadores insatisfeitos pela sua menor utilização, o Benfica alienou o passe de Bruno César e emprestou o Nolito ao Bétis de Sevilha. Podem dizer que não se tratavam de jogadores titulares e que não estavam satisfeitos e inclusivamente foi discutido a validade do investimento de quase 20 milhões de euros em dois alas no Verão (onde será que andam os tempos difíceis?) quando o já existiam soluções internamente.

Novamente faço o meu acto de contrição, o Salvio até ao final de Abril foi um jogador decisivo, com um rendimento um pouco como a equipa, um rendimento muito alto onde 3 ou 4 jogos mal conseguidos não disfarçaram a óbvia qualidade e desempenho do mesmo. O problema foi que à semelhança da equipa, o Salvio acabou física e psicologicamente no final de Abril, princípio de Maio, tendo o jogo do Fenerbahçe em Lisboa sido o estretor final. As reservas existentes, gastaram-se definitivamente e o Salvio limitou-se a passear a camisola nos jogos realizados até ao final de época.

Passou pelo fim de Salvio grande parte da responsabilidade na diminuição da eficácia do Benfica. Salvio carregou às costas a equipa durante meses, marcando golos, fazendo assistências e criando desequilíbrios que originaram golos justificando plenamente o investimento efectuado. O fim de Salvio, um pouco à semelhança da sua primeira época no Benfica, dessa vez por lesão, foi uma grande machadada nas ambições do Benfica.

Do outro lado do campo, Ola John também acabou muito antes do final da época. Vindo dum campeonato menos competitivo, Ola John acabou em Março, sendo sofríveis os jogos realizados desde aí. O talento e inteligência de jogo de John, cujo passe está envolvido em negócios pouco transparentes (a Benfica SAD diz ter 50% do passe, mas não diz por quanto vendeu o remanescente, além de ter deixado que se criasse o mito que custou 8 milhões quando o preço real foi superior a 10, enquanto que um fundo parceiro do Benfica afirma ter adquirido 80% do passe), são indesmentíveis. Precisa contudo de ser lapidado para poder ser mais constante e tomar ainda melhores decisões.

Ao adquirir dois elementos para as alas no Verão, onde Gaitán também muitas vezes foi utilizado retirou espaço significativo para os dois jogadores que saíram em Janeiro. E de um excesso, o Benfica ficou com um défice, pois o incorporado Urreta nunca teve a continuidade suficiente para ser uma verdadeira alternativa para Jorge Jesus.

É este o Benfica dos últimos anos, tão depressa tem excesso de jogadores para uma posição o que causa desmotivação no plantel, visto existirem jogadores que pouco ou nenhumas oportunidades têm para jogar, como a seguir tem posições em que a carência de alternativas obriga ao lançamento de jogadores à pazada, e é à pazada pois não é feita uma integração progressiva e são lançados para jogos de dificuldade máxima para resolver problemas que manifestamente não o poderão fazer.

Gaitán, que muitas vezes foi utilizado nas alas, começou progressivamente a ser utilizado no apoio ao(s) ponta(s)-de-lança ou mesmo a jogar a 10, quer porque o Benfica abdicava de um avançado, quer porque não abdicando, Gaitán derivava para o meio, deixando o corredor esquerdo em exclusivo para o lateral. Se com 3 jogadores, seria possível fazer uma rotação interessante e não desgastar excessivamente os jogadores, com o desvio de Gaitán para meio criou-se uma mudança táctica e exigiu-se significativamente mais de quem já pouco tinha para dar. Como os dois elementos descontentes saíram em Janeiro e Urreta não foi opção, mais uma vez o plantel ficou desequilibrado.

No apoio ao ponta-de-lança ou a 10 apareceu Gaitán e os dois maiores mistérios deste Benfica. Com uma primeira metade da época cheios de pseudo-lesões, sim vou repeti-lo, pseudo-lesões, Martins e Aimar nunca foram soluções para Jorge Jesus. Depois duma rocambulesca tentativa de transferência de Aimar para o Médio Oriente, Aimar nunca foi solução para Jorge Jesus, vá-se lá saber porquê, tendo sido lançado às feras na Turquia, onde mostrou que continuava com as características intactas, mas totalmente sem ritmo competitivo. além de ser lançados nalgumas partidas no fim das mesmas. Inacreditável o que foi feito com o Moreirense e no final da Taça a um jogador querido da massa associativa e que sempre foi impecável em termos profissionais.

O Benfica  não merecia e Aimar menos ainda. E esta responsabilidade tem que ser assacada unicamente a Jorge Jesus. Martins passou por uma situação semelhante, mas coube-lhe a ele o papel de bode expiatório das frustrações dos benfiquistas por não ganharmos ao Estoril. Martins vintage, num jogo decisivo, expulsa-se em 9 minutos quando a equipa mais necessitava dele. E com essa atitude ilibou todas as responsabilidades de um treinador que o lançou sem ritmo num jogo decisivo para substituir um jogador utilizado até se ter lesionado nesse mesmo jogo. Ilibou também as responsabilidades de uma direcção que cumprindo os desejos do treinador, foi incapaz de ter a competência futebolística suficiente para perceber os desequilíbrios estruturais do plantel.

O culpado da desgraça estava encontrado - Carlos Martins. Pena que as pessoas não vejam mais além e não percebam que Martins sempre foi instável e que este era um desastre à beira de acontecer numa equipa que se mostrava incapaz de contrariar um Estoril mais forte psicológica e fisicamente e onde cabia a Martins a principal responsabilidade de pautar o jogo do Benfica. Martins não é inocente, mas se se criaram as condições para um Martins vintage, esperavam o quê, milagres ? Não há milagres.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Sobre a atitude deplorável de não acompanhar a entrega da Taça ao Vitória, lembro-me da fórmula Vieira:

Atitudes à Porto, sucesso à Sporting.

Balanço 2012-13 parte I


"Seja qual for o resultado do jogo no sábado, acho que este foi o melhor ano de Jesus, apenas somou até agora 2 maus resultados - a eliminação da Champions para um Celtic de segunda categoria, o que nos permitiu ir à final da Liga Europa, e a derrota em Braga nos penalties. De resto, Jesus trouxe-nos onde devia, às decisões em Maio. Acabaram as quebras em Março/Abril. Chegados a 7 de Maio e ainda podemos ganhar 3 troféus. E podemos porque Jesus fez um grande trabalho. E fez um grande trabalho porque o plantel foi mal-estruturado. Já aqui foi discutido,"

Escrevia eu antes do jogo com o Porto a 7 de Maio de 2013. E é verdade. Mantenho o que foi escrito na altura. Jesus fez um grande trabalho até aquela data. É certo que perdeu na meia-final da taça da liga porque usou e abusou do Roderick e de outros jogadores com muito pouco ritmo. É certo que o desempenho na Liga dos Campeões foi fraco, abaixo do esperado, mas compensou inteiramente com a carreira na Liga Europa.

E sim o plantel foi mal-estruturado para a época. Senão vejamos: no fecho das inscrições vendemos Javi e Witsel deixando o meio-campo defensivo/transição entregue apenas a 2 jogadores, Matic e Enzo. O primeiro com pouco ritmo e conhecimento da posição 6 e o segundo, um extremo que por vezes jogava nas costas do ponta-de-lança, adaptado a médio de transição.

Hora de assumir os erros próprios. Eu nunca acreditei que Matic fosse o jogador que se revelou, nem que Enzo atingisse os desempenhos que conseguiu naquela posição. Por isso, o Jesus é treinador e eu sou apenas um blogger. Ele consegue ver potencial onde poucos o veem e transformar jogadores banais, ou adaptados em jogadores extraordinários. É certo que é preciso terem potencial, porque os Robertos e os Emersons nunca deixarão de ser Robertos e Emersons, por muita cultura táctica que lhes seja transmitida. E esse é um dos pontos maus de Jesus, a sua crença nas suas capacidades leva-o a ignorar muitas vezes o óbvio e repetir os mesmos erros uma e outra vez.

O facto de eu não conseguir perceber que os jogadores tinham qualidade para desempenhar as posições ao nível desejado, não implica que a crítica de serem demasiado poucas opções para aquela zona do terreno deixe de ser válida. Como também é válida a crítica à estrutura por não ter reforçado as laterais, obrigando à adaptação do Melgarejo, que não tendo corrido tão bem como as anteriores mostrou ainda condições para ser um lateral interessante mas mostrando ainda demasiadas lacunas. Do lado direito, Maxi continua a mostrar que as características que o tornavam um lateral interessante, um pulmão que o fazia fazer o corredor todo durante 90 minutos, parece que deixaram de ser válidas e as dificuldades de recuperação foram sempre mais que muitas. Mas mais grave que o abaixamento de forma de Maxi, era a falta de alternativas.

Também no centro da defesa nunca houve grande capacidade de dotar o Benfica das soluções indicadas. Bem sei que virão todos os advogados de defesa do Jardel dizer que ele não comprometeu enquanto o Luisão faltou, mas desde autogolos a falhas de posicionamento, sem contar com o nervosismo patente nos jogos mais decisivos mostrou nunca ser uma verdadeira alternativa de qualidade quando o Benfica mais precisou. A juntar a isto a progressiva falência física de Luisão, é ainda um grande central pela forma como comanda a linha defensiva, mas as dificuldades físicas inerentes a jogar ao mais alto nível durante muitos jogos, e não nos esqueçamos que teve dois meses de folga, bem como a perda de velocidade criam problemas futuros a uma defesa que terá que ser renovada. Não foi por ter Luisão que o Benfica falhou. Foi por não ter uma alternativa de qualidade que permitisse a JJ rodar a defesa sem ter que levar Garay para lá do limiar das suas capacidades físicas.

Não, não me esqueci dos Andrés. Os Andrés começaram a época no Benfica B. Tendo em conta a má actuação da estrutura do Benfica no fecho do mercado, os Andrés viram-se promovidos à equipa principal um pouco a martelo.

Se de Almeida pouco se esperava e se via nele um potencial substituto de Matic e um eventual remedeio para o lugar de Maxi, a verdade é que com a sua vontade e capacidade de aprendizagem  em termos de posicionamento, Almeida mostrou ser um Veloso dos tempos modernos, tapando os buracos necessários. É uma solução de recurso, um jogador útil, mas nunca poderá ser um titular absoluto quer na direita, quer na esquerda. Porque tem limitações técnicas evidentes. E foi muito útil ao Benfica, mas quando foi necessário, não chegou. Não chegou ele como não chegaram outros. A experiência poderá transformá-lo num Veloso dos tempos modernos. A questão é saber se um jogador como Veloso hoje seria titular, tendo em conta o modelo de jogo que o Benfica utiliza.

Quanto ao Gomes mostrou ter talento, mas falta-lhe uma melhor capacidade de decisão, o que prejudicou o seu desempenho nos jogos de maior grau de dificuldade. Infelizmente, para o treinador, o André Gomes deixou de ser uma opção válida nos momentos decisivos da temporada, visto que após o jogo na Turquia nunca mais jogou, tendo inclusivamente sido preterido por Carlos Martins no fatídico jogo que começou a precipitar a nossa queda.


Arranjemos culpados, à boa maneira da caça às bruxas.

Sondagem fresquinha ali ao lado. Para fazer um luto decente e depois não mais pensarmos nesta tragédia.

Não merecias terminar assim, Pablito.



Obrigado por tudo.

domingo, 26 de maio de 2013

Um beijinho a todos os benfiquistas.

Diferença de mentalidades


Já o disse várias vezes a quem o quis ouvir, a diferença entre o Porto e o Benfica, hoje em dia, mais do que qualquer outra coisa, é uma diferença de mentalidade. O grave é que isto passa para os adeptos e para a maneira como eles olham para as coisas. Falo disto a propósito do Jesus e da sua continuidade ou não.

Eis o que pensa um portista sobre o vitinho:

"Medo da mudança Há quem ache que é demasiado arriscado trocar de treinador. Porque nada nos garante que o próximo fará melhor. É verdade que manter Vítor Pereira é a opção mais segura. Mas não foi a jogar pelo seguro que o Porto foi Campeão Europeu e venceu a Liga Europa. O próprio Vítor Pereira, sendo uma solução de continuidade, foi uma aposta de risco, pois não tinha nenhuma prova dada, quando assumiu o comando do Porto. Além disso, não foi por escolher mal alguns treinadores que o Porto perdeu o rumo. Na verdade, foi depois de uma das piores escolhas de sempre (Octávio) que chegou um dos melhores treinadores da história do clube (Mourinho). E é por isso que, seja qual for a decisão dos dirigentes do Porto, eu estou tranquilo. Percebo se a opção for de continuidade. Não me entusiasma, mas percebo e custar-me-á menos a aceitá-la do que na época passada. E também não tenho medo da mudança."

Já sei que vão encher a caixa de comentários com as questões da arbitragem. Eu já não dou para esse peditório. Não porque não ache que não existam árbitros que não cometam erros e que não sejam condicionados a cometê-los. Mas porque considero que é uma desculpa de quem perde, como eles usaram os túneis, o Sporting utilizou a pseudo-falta sobre o Labreca, ou como usavam o Capela para prevenir um insucesso, condicionar os outros árbitros ou justificar uma derrota. Em Portugal, os derrotados têm sempre desculpas.

Vem isto a propósito da final da Champions. É inacreditável que num país onde não havia nada em jogo, as pessoas se preocupem mais com a arbitragem do que quem efectivamente perdeu. As análises focam os jogadores que deveriam ter sido expulsos do Bayern. Mas será que é esse o discurso do treinador e dos jogadores do Dortmund ? Claro que não.

No dia em que exigirmos mais de nós mesmos e menos dos outros, será o dia em que estamos mais próximos de ter sucesso. Até lá temos que continuar a ouvir o Pinto da Costa a dizer que enquanto os outros andarem com desculpas de árbitros é sinal que o Porto ganha, ou que o Benfica está melhor porque em 11 anos ganhou 9 campeonatos.

A estabilidade é essencial para o crescimento, mas quando se começa a transformar em estagnação o melhor é mesmo mudar. Renovação a ganhar o mesmo, tendo em conta a falta de títulos parece-me claramente um erro. No entanto, vou dar o benefício da dúvida, porque JJ mostrou evolução face às 3 épocas anteriores. Sim, leram bem, este Benfica foi melhor que o Benfica da primeira época, a diferença é que o Porto nesse ano esteve muito mais fraco.

Veremos se não é preciso continuarmos a "inventar" jogadores (espero que as vendas a acontecerem sejam bem antes de Setembro e que se suprimam duma vez por todas as lacunas mais que evidentes do plantel) e se o treinador mete duma vez por todas na cabeça que a rotação da equipa é essencial em qualquer altura da época, porque não adianta ir jogar com os melhores se os mesmos não tiverem condições para tal (Enzo e Matic contra o Estoril ou Garay contra o Chelsea) bem como lançar jogadores sem ritmo em partidas de elevada exigência (Aimar na Turquia, Martins contra o Estoril e Roderick contra o Porto).

Temos uma Taça para ganhar perante um adversário fraco. Espero que estejamos ao nosso nível e que a prova raínha do calendário nacional volte para casa. Não posso estar presente no Jamor, mas a minha alma estará lá a puxar pela equipa como fez contra o Fenerbahce ou contra o Chelsea.

VIVÓ BENFICA !!!

Como eu vos compreendo.


sábado, 25 de maio de 2013

Encontro bigodal - 16h, à entrada do Estádio




Com a confusão das últimas semanas, infelizmente não deu para preparar decentemente o encontro bigodal que tínhamos - mais o Gordo, o Diego e o Cabelo - pensado. Não houve tempo para bigodes em pdf, não houve tempo para camisolas, enfim, foi um projecto à portuga: "logo se vê" e depois não vimos nada.

Há, no entanto, algo que eu gostava que não passasse ao lado do dia de amanhã: uma foto dos bigodudos, uma foto de família, tudo com os seus bigodes - naturais, postiços, o que for - em homenagem ao nosso Pai Fundador e também aos fabulosos bigodes dos anos 70 e 80. 

Sendo assim, proponho-vos que nos encontremos ali à volta daquela relvita que vêem na foto, ao centro, pelas 16 horas. Chegamos, rimos dos bigodes uns dos outros, posamos, tiram-nos umas fotos jeitosas e fica o momento para a posteridade. O que acham? Digam de vossa justiça sobre a hora e o sítio - se houver melhor proposta, pois melhor ainda.

Tragam bigodes, companheiros.

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Ontem não te vi a ganhar nada.

Momento «vamos acalmar o pito»: Temos uma final para ganhar, não é uma final já ganha. Só naquela de não irmos já outra vez armados em campeões antes de tempo. Vitória, equipa bem orientada, bons jogadores, adeptos do melhorzinho que existe no país. Portanto, é ir com coragem, vontade, confiança, mas sem o que tem feito perder quase tudo nos últimos anos: soberba, arrogância, bazófia. E depois então, se a ganharmos, festejemos que bem merecemos uma alegria.

É só para avisar que vou querer uma foto de família com todos os bigodes que forem ao Jamor. Com tanta esperança e desilusão, não tenho falado do assunto, mas é para pelo menos conseguirmos 40 bigodes para a posteridade.

quinta-feira, 23 de maio de 2013

De Abrantes à Barquinha, com camisolas do Benfica

 Há muitos anos atrás, ainda o chato do José Nicolau de Melo - que no Facebook pede abraços, ainda que mudos - tinha orgasmos em directo com os passes do Bobó para o Ricky Owubokiri, a equipa de infantis do Benfica de Abrantes saiu do famigerado Campo do Bairro Vermelho para aquele que seria um dia épico, provavelmente o mais épico de todos os dias que o clube viveu. 

 Para minha fortuna, eu presenciei este episódio de perto, visto que era um dos 10 putos que ia na carrinha do clube, de estofos rotos, vidro partido, motorista – que era simultaneamente Director-Desportivo, enfermeiro, empregado de limpeza e churrasqueiro - e algumas letras do nome do clube desaparecidas, metamorfoseando-nos nos jogadores do “Sor Arates e enica”. Os outros 8 foram no carro dos pais, recebendo quilómetros a fio os conhecimentos futebolísticos da família – “Zé, tu agarra bem o gajo, não o largues”; “Paulo, quando chegares à zona da grande área, rematas, não passas a bola a ninguém!”; “Ouve o teu Pai, Toninho, não oiças o que o treinador diz, começas a correr, vais à linha e cruzas”, conselhos que o Mister Bragança detestava ouvir durante o jogo, quando os pais dos atletas, propositada e arrogantemente, cantavam, encostados à estrutura de ferro e banco de madeira e que os aprendizes atiravam fora como atiravam a Gorila de Laranja quando começava a azedar. 

 O caminho levar-nos-ia ao campo pelado do Vila Nova da Barquinha, terreno mítico - já na zona exterior da vila, apenas circundado por um recinto onde se assavam frangos, se bebiam toneladas de vinho e onde as velhas levavam o bigode a molhar os beiços na aguardente medronheira que sempre acompanhava as festarolas de Verão - por ter assistido “in loco” ao homicídio de um árbitro mais avesso às vontades do povo indígena, acabando pendurado por uma corda numa das balizas. Felizmente que esta história só veio à baila muitos anos depois, em conversa no Tonho Paulos – café abrantino onde a democracia junta degenerados, alcoólicos, drogados, pais de família e padres; caso contrário, ter-me-ia dado longos e trágicos pesadelos nas noites anteriores ao jogo. 

 A viagem tinha tudo para correr bem. O motorista surpreendentemente não estava bêbado; o mister, talvez por ter discutido com a mulher no dia anterior, não debitava prelecções sobre o jogo; os jogadores encontravam-se todos de boa saúde, sem lesões, embora o Coutinho aparentasse uma ligeira mazela no joelho esquerdo, provavelmente resultado da queda que dera na noite anterior no pavilhão do Pego e que, por motivos óbvios, não podia revelar, não fosse o Mister abdicar dos seus serviços por comportamento pouco profissional. 

 A este respeito, o Coutinho e outros (não me acuso), tínhamos (acuso-me) uma desculpa quase impossível de contrariar: Chalana, ele próprio, rei dos relvados e rei dos bigodes, fartava-se de jogar em pavilhões sempre que ia a Abrantes passar férias com a família da mulher Anabela, abrantinos de gema. No entanto, o Bragança, que era sportinguista, mostrava-se pouco solidário com as histórias de lendas benfiquistas, recusando comportamentos desviantes à boa prática da modalidade. Fosse o exemplo um Manuel Fernandes ou um Jordão e talvez a sensibilidade do Mister se potenciasse a um ponto de compreensão, mas isso são suposições que, a esta distância nos anos, abdicamos de fazer. 

De modo que, tirando a suposta lesão do Coutinho, o plantel estava de boas saúdes e o ambiente na carrinha corria de feição. É verdade que o sistema de amortecedores da carrinha gemia de velho, e que as conversas eram entrecortadas por rápidos saltos no asfalto, o que até sabia bem porque dava aquela vertigem na barriga. “Vá mais rápido, Senhor Antunes”, gritávamos de trás, na esperança de mais uma lomba. 

 Se fosse possível voltar no tempo para dentro daquela viagem, talvez fosse difícil admitir que aquela gente ia para um jogo de futebol, tais eram os assuntos díspares que percorriam o ar por dentro da carrinha. Desde as invenções de uns em relação a supostos feitos sublimes com mulheres – havia quem jurasse a pés juntos, sem figas, que dois dias antes tinha dado um beijo à Carolina, diva do 5ºB, rapariga de faces rosáceas e aquilo que parecia ser o princípio de mamas, embora ninguém tivesse a certeza – à efabulação de corajosas aventuras, entre as quais, a melhor de todas, a que o Pires contava sobre ter comido, ao mesmo tempo!, amendoins, tremoços e um pastel de nata. Quando esta história foi contada, toda a gente se calou, até o treinador e o motorista. Era, de facto, um feito extraordinário, só ao alcance dos duros e todos os outros (confesso-me) sentiram aquela pontinha de inveja que se nos agarra e da qual não nos conseguimos libertar. Bem que eu queria ter sido o herói desta junção de sabores mas a sinceridade obrigava-me a admitir a mim próprio que o máximo que conseguia fazer era comer 5 carcaças seguidas com manteiga e tulicreme. 

 Se isto fosse um filme, o realizador traria ao público, em plano apertado, a cara do Rocha quando ouviu a história do Pires mas como isto não foi e não é um filme ninguém notou o movimento gástrico que fez o nosso avançado pedir para parar a carrinha 10 minutos depois. Continuámos no fingimento infantil de sermos adultos enquanto na rádio passavam anúncios de ourivesarias, mini-mercados e músicas do José Malhoa. 

 Foi só quando, a 5 quilómetros da Barquinha, o Rocha começou a meter as mãos à cabeça que alguém gritou para o mister: “Shôr Bragança, acho que temos de parar!”. A carrinha, que a esta altura ia a alta velocidade, uns 60 quilómetros/hora, começou a travar, a traseira guinou toda para o meio da outra faixa, e lá embicou para o meio do mato, entre um poste de electricidade e um pinheiro tronchudo. O ponta-de-lança abriu a porta corrida com as duas mãos, começou a correr, fintou dois arbustos e acabou a vomitar numa ponte que dava para uma horta. Escusado será dizer que as folhas dos pimenteiros levaram rega para dois anos. E abstenho-me de contar aqui os impropérios que a velha, dona do terreno, vociferou porque há coisas que devem manter uma certa discrição de palavreado. 

 O mister, responsável pelo jovem imberbe – ainda que goleador nato -, aproximou-se do Rocha, preocupado com a saúde do mesmo (mas também com a possibilidade de perder um activo de grande importância!) e perguntou-lhe: “Ó que caralho, Rocha, mas o que é que tu comeste hoje?”, ao que o avançado-centro, ainda esbranquiçado de cal e temeroso da reacção do treinador, respondeu: “ó shôr Bragança, desculpe-me, comi 3 pratos de feijoada”. Estávamos arruinados. O mesmo é dizer: estávamos fodidos. 

 Sem o nosso abono de família, melhor seria projectar uma táctica que nos permitisse empatar ou, vá – na melhor das hipóteses –, ganhar por um ou dois. “Goleadas, esqueçam”, gritava o mister, já esquecido das quezílias pessoais da noite anterior – em que, diriam os relatos posteriores, teria levado duas chapadas da mulher por ter sido visto no Tiagu´s Bar a apalpar duas venezuelanas com filhos – e totalmente focado nos objectivos da equipa. O Rocha por esta altura mantinha-se calado, entregue aos suspiros, aos ais, aos gemidos semi-surdos, procurando convencer o estômago de que estava bem. Bocejava, e a cada bocejo tínhamos medo de que em vez de pimentos pintasse de feijões os nossos pés. Felizmente que o Rocha tinha gasto a tinta toda na horta da velha e já estávamos a chegar com a nossa carrinha ao terreno de jogo. 

 Parado o veículo, saídos os adultos, saímos todos com a nossa bolsinha das chuteiras debaixo do braço e, para não dar alento aos atletas do Barquinha que nos recebiam com olhares entre o medo e a raiva, metemos o nosso ponta-de-lança no meio de nós, e ninguém chegou a ver o ar de vómito com que ele entrou no balneário. Sentámo-nos nos banquinhos de madeira, pusemos os casacos pendurados em cima de nós e olhámos o mister com ar de preocupação. O Shôr Bragança sacou do seu papelinho das tácticas, cofiou a bigodaça, olhou o motorista (que era também Director-desportivo, empregado de limpeza, enfermeiro e churrasqueiro) e disse: “Ó Antunes, dá uma aspirina ao gajo!”. 

 De repente, levantou-se uma esperança naquele balneário com cheiro a suor, lixívia e roupa encardida: o Rocha afinal ia jogar. O Bragança leu os nomes dos titulares, enquanto ia entregando as belas camisolas vermelhas, uma a uma, e, quando o “9” voou para as mãos do nosso ponta-de-lança com hálito a couves e morcela, sabíamos que o dia estava ganho – a não ser que alguém acabasse com uma corda no pescoço. O Rocha ainda protestou: “mas a minha barriga, Mister…”, só que o técnico, avalizado nestas matérias, ignorou a frase e enviou-o para o terreno de jogo. Os misters sabem o que fazem. Levantámo-nos, abraçámo-nos em jeito solidário e paneleiro, gritámos “Benfica” e fomos para dentro de campo, onde fomos recebidos em apupos pelos bêbados e mães locais e com uns aplausos das famílias abrantinas que tinham levado os filhos. 

 O jogo correu de feição, ganhámos. Quando chegámos ao balneário, ao intervalo, todos bebemos chá verde quente menos o Rocha, que não merecia por ter sido pouco profissional. No fim, com as pernas presas de lama, frio e toneladas de cãibras, ouvimos, desinteressados, o shôr Bragança, que continuava chateado – não sabemos se com a mulher, se com o Rocha. Mas sorriu levemente. Afinal, tínhamos brindado o Barquinha com um 17-0, sem espinhas. 

 O Rocha? Pena ter comido aquela feijoada. Só marcou 14 golos.

Prospecção

Depois de Djuricic, Markovic. O Benfica está, muito bem, a apostar na qualidade histórica dos jogadores dos balcãs. É este o caminho - mais prospecção na Europa e menos contentores de sul-americanos. São, em regra, jogadores de qualidade técnica elevada, bom porte físico, conhecimento sobre o jogo. Duas excelentes contratações para Jesus moldar.

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Hoje de manhã, o discurso de um responsável do Benfica:

"A época foi perfeita, fizemos a emissão obrigacionista de que precisávamos, vendemos como nunca a marca do clube, valorizámos jogadores, vendemos os jogadores necessários sem prejudicar muito a equipa, foi um sucesso. A única coisa que faltou foi mandar o povo para o Marquês!" 

 Não, isto não é ficção. O senhor disse mesmo isto.

Fórmula Matic

O Benfica já contratou duas tias-avós de Matic - Rowena Matic e Jelena Matic - para a limpeza das escadas entre o Piso 0 e o Piso 1, dois primos afastados de Matic - Igor e Milos Matic - como Securitas, um cão da avó de Matic - Loka Matic - para a supervisão de drogas na zona das claques, dois pintassilgos do genro de Matic - Kiki Matic e Popotic Matic - para assobiarem os árbitros durante os jogos em casa, um amigo com influência e reconhecida competência na Sérvia de um amigo de um amigo de outro amigo de Matic - Filip Matic - para Presidente do Benfica e um elefante que a cunhada de Matic tem em casa - Dumbic Matic - para regar, a troco de frutas, os jogadores do Porto quando eles forem campeões na Luz. 

 Ah e também contrataram o irmão de Matic - Uros Matic. Este parece que é para jogar futebol.


terça-feira, 21 de maio de 2013

A amante do Costa Pereira



Não sei a que propósito está um penso higiénico gigante a dividir os adeptos mas aceito tranquilamente que entre Milan e Benfica o sangue de vermelho escarlate inundasse o estádio em transbordos necessitados de medidas drásticas que estancassem aquele rio festivo. Há um manto negro, bordado a dourados, com uma coroa no centro por cima do que parece ser um portão de um palácio e em baixo gente de fato amenamente conversando e cruzando as pernas. 

 Um polícia, ou o que parece ser um polícia, abre os braços tocando ao de leve no nariz de Coluna - nos anos 60 era intensa a luta contra o uso de cocaína, embora ninguém o admitisse. Veladamente, tocavam ao de leve nos artistas e inspeccionavam-lhes as narinas, como se nada fosse. Coluna manteve-se sério e sereno, menosprezando aquele claro desrespeito ao jogo e à sua conduta. Os ares que lhe davam, se os havia, eram de etílico ingerido antes do encontro, coisa pouca, quase nada, um cheirinho (calma!) de moscatel de Setúbal, aqui e ali uma medronheira enquanto se atavam as botas pesadas. Tudo para além disto era boato e coisas lá dos tontos dos ingleses. 

 À esquerda, um poste que nasce no primeiro anel e sobe até ao tecto da estrutura - poste naturalmente britânico, muito visto pelos estádios de Sua Majestade e às vezes em Portugal, embora em Barcelos tenham decidido abdicar das estruturas bamboleantes do antigo estádio, onde uma vez fui ver o Benfica subindo da estrada para as bancadas por umas escadas de madeira com um dos mastros despegado do resto dos toros horizontais, numa clara alusão ao facto do difícil que é apanhar um Galo. 

 Há ali gente - ou havia, não sei bem se estão todos connosco, vamos assumir: não estão - que passará o jogo dando cabeçadas no vizinho do lado, sempre que quiserem ver o Eusébio e o Coluna levarem grandes ceifadas dos italianos catenaccios - dirão: "well, excuse me, mister, won´t you take a look around?" e farão grandes juras de vingança ao amigo que lhes comprou o bilhete para trás do poste. 

 Nota-se, no entanto, à direita uma certa zona desértica, provavelmente fruto dos cheiros que os ultramarinos adeptos do Benfica emanavam e que ao olfacto mais refinado do adepto inglês parecia coisa das áfricas e de memórias nefastas - houve alguns, inclusivamente, que, num vergonhoso gesto de falta de "fair-play", decidiram abandonar o jogo em protesto - se era para se darem com pretos, então tinham ido à casa de putas, que pelo menos ali ninguém os via. Este gesto ainda hoje é falado - embora estranhamente olvidado pelos meios de comunicação mais atentos - nos corredores das conversas entre adeptos e só não mereceu devida punição por parte das instâncias responsáveis porque se estavam a guardar para verter tudo uns anos depois, aquando de um certo jogo, não nos recordamos bem, entre o Liverpool e a Juventus. Coisas estranhas, de facto, podem passar-se em frente a um relvado. Ninguém sabe ao que vai quando se decide a ir observar uma bola laranja ser pontapeada por brancos e pretos - e até mulatos! - a um antro do "soccer". 

 O porquê de estar um homem de kilt com uma bandeirinha caída sobre os pés em frente aos polícias e adeptos com tarjas ainda hoje resiste no silêncio sepulcral do imaginário futebolístico. É possível que, à falta de vestimenta devidamente lavada, engomada e dobrada por parte da esposa, o senhor tenha decidido explorar todas as suas raízes serranas das quais às vezes tinha vergonha, outras sentia orgulho, mas disso, porque caminhamos em terrenos baldios das suposições mais inqualificáveis, pretendemos fugir a sete pés, visto que acabámos de visualizar um número 3 com um homem dentro.

 Desconhece-se a origem do senhor, o nome ou as preferências gastronómicas; o certo é que caminha, entre o fotógrafo e o árbitro, numa diagonal lancinante, virado para o seu lado do campo, cheio de medo do Benfica. Não nos opomos a tal opção, afinal falamos apenas e somente do bicampeão europeu, muito provavelmente tricampeão, se o árbitro e as circunstâncias assim o permitirem. Agora que olhamos com a merecida atenção, reparamos que, na primeira fila, se encontra um homem de azul, dando pequenas dicas, mezinhas, inadmissíveis truques ao "3" italiano, tudo isto nas costas do árbitro que, de uma forma vesga, consegue ler os símbolos dos clubes nas camisolas dos capitães enquanto valida o aperto de mão. 

 Desconfio sempre de gente que leve junto ao coração tão grande insígnia da FIFA. Se a isto adicionarmos a popa ultrajante e um certo ar de enfado, de quem está mortinho para largar aquele sol que mais parece vindo dos calores da Andaluzia, onde passava grandes temporadas de chinelos e meias brancas, camisolas da selecção e canecas de cerveja na mão, começamos a compreender que o destino do Benfica naquela tarde estava dramaticamente pintado a tragédia. Com o indicador da mão direita, coça o colhão direito; com o cotovelo do braço esquerdo, lesiona o cotovelo direito de Coluna. Sobre isto, meus amigos, nuncia vi a Fifa pronunciar-se. 

 É evidente que Mário Coluna teve uma erecção - chega de tanto fantasioso justificar sobre o tema. A explicação é simples: Coluna envergava aquilo que parecia ser uma bandarilha com a qual - julgava ele, o ingénuo! - acabaria com o toiro italiano, fosse aos 3 minutos fosse no fim do jogo. Mário - que já vinha quentinho do balneário; relembre-se todo o tratado sobre hábitos alcoólicos explorado acima - puxa, de forma metódica, o galhardete do Milan para juntos dos dedos, enquanto observa a natureza de Cesare, prepara-se mentalmente para uma faena imperial, sob a coroa britânica, mirando não os olhos mas os gestos, e todo o estratégico plano - fotografado, aliás, pelo homem que, agachado, tira essa imagem memorável das costas do árbitro para a posteridade - foi por água abaixo com uma entrada assassina desse anti-benfiquista, abutre mesmo!, chamado Trapattoni, um homem que teve a veleidade de, anos mais tarde, vir conspurcar o Benfica com um título de campeão nacional, numa altura em que a prioridade seria a valorização de activos. Podemos agora culpar Giovanni pela entrada ríspida que aniquilou o nosso motor do meio-campo, mas acima de tudo devemos responsabilizar o italiano por ter vindo destruir a ideologia actual, vencendo um campeonato em detrimento de dotar a SAD de vendas astronómicas que pagassem juros sobre juros sobre juros que depois não são pagos. Os italianos sempre foram muito malucos. 

 Do que eu não me esqueço é da bola laranja, enfiada num jardim de cal em redondel. Está ali vendo tudo, o couro brilhando sob o sol de Wembley, à espera, desesperada, de um pontapé e depois do golo e do abraço das redes e do regresso à cal e dos voos para as áreas e dos aconchegos das cabeças e das idas e voltas - eterna diáspora -, de um lado para o outro, indecisa, depois segura, indo e vindo, para trás e para a frente, de costas, em contra-mão, aos soluços, aos gemidos, às voltinhas. Vê os pés do Coluna abertos, cheios de vontade; vê os pés do Maldini, fechados, hesitando; vê os pés do árbitro e ignora. 

 A bola laranja fez golo três vezes e nas três aninhou-se nos braços dos guarda-redes. Infelizmente para nós, gostava mais do Costa Pereira.

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Obrigado, pintinho.

Algo para reflectirmos sobre o que se passa neste país: em Lisboa, onde os portistas estão em clara minoria, os adeptos do Porto festejaram tranquilamente o campeonato. No Porto... bem, no Porto vocês sabem o que se passa sempre que os benfiquistas tentam - atenção: tentam! - festejar os seus títulos.

Para quê ver futebol?

Juro que tentei ver o lance do penálti a favor do Porto como um engano natural. Vi e revi o lance, quis descobrir um ângulo pelo qual o árbitro tenha podido ver aquilo como penálti ou o assistente tenha sido enganado pela rapidez do lance. 

Não há. Não existe forma de ver isto como um acidente, um erro humano, uma falhazita que acontece. Foi marcado penálti porque o árbitro quis inventar um penálti - com expulsão e tudo para acabar com as dúvidas. E isto, independentemente de todas as críticas que temos a fazer e fazemos à nossa estrutura ou ao treinador, é inadmissível. 

São 30 anos desta nojeira. Apetece pegar nos trapinhos e desistir de ver futebol. Um campeonato adulterado não serve a paixão dos adeptos. Só mesmo o amor incondicional ao Benfica me faz continuar a ir aos estádios, mas um dia...

Ontem vi-te no Estádio da Luz



Ontem estive no Estádio da Luz e vi mais de 50.000 almas, umas mais crentes outras menos crentes mas todas a apoiar e a sofrer pelo Benfica. No próximo Domingo não sei se os vou ver no Jamor.

Sei que vi muitos benfiquistas em Amesterdão a cantar e a empurrar a equipa para aquilo que não conseguiu atingir. E cada vez que os vejo no exterior fico a pensar porque é no Estádio da Luz é impossível replicar esses ambientes fantásticos.

A ver se percebemos, o Benfica perdeu o campeonato porque foi incompetente. Quem perde um campeonato entrando nas últimas 3 jornadas com 4 pontos de avanço e 2 jogos em casa, é incompetente. O Benfica foi muito competente em campo durante a maioria da época. No entanto este mês de Maio tem sido dramático.

Os erros da estrutura foram aqui já apontados ene vezes ... Mas não houve só erros de estrutura. Houve erros de jogadores e treinadores que originaram as derrotas. Mas a época ainda não acabou.

Algo está mal no Benfica. Se estamos melhor que há 10 anos, é verdade. Mas será que é com o pior Benfica de sempre que queremos estar a compararmo-nos. E não Jesus, não faz história quem está nas decisões, faz história quem ganha. Para ganhar é preciso estar nas decisões e Jesus tem mérito de nos fazer aí chegar, mas não chega.

Enquanto a equipa não entrar com a mentalidade que tem que ganhar em todos os jogos, não facilitando em certos jogos nunca quebraremos o domínio do Porto. Para quem não percebe que é uma questão de cultura, vejam o que se passou no Andebol e no Hóquei em Patins.

A Taça de Portugal é a prova raínha do calendário nacional. Não vamos ao Jamor há 8 anos e não ganhamos a Taça há 9. Por muito que tenha sido importante chegar às decisões, é inadmissível perder o jogo do próximo Domingo.


PS - podem mas é meter os petardos no cu e rebentá-los. Quando será que percebem que o Benfica farta-se de pagar multas por causa dessa merda ? Este ano o Benfica teve que pagar mais de 100.000 euros de multas por causa dos petardos. Ontem até a águia assustaram por rebentarem petardos quando ela voava.

domingo, 19 de maio de 2013

CARLOS ABREU AMORIM, político do PSD - mas podia ser de outro partido qualquer, dá igual -, escreveu esta nojeira no seu mural. A tromba deste homem tem de ser bem conhecida: ninguém, muito menos uma figura pública que "nos" governa, tem direito a ser tão imbecil. Fixem bem o nome. E a tromba do bicho. Os magrebinos cuidam de ti, CARLOS ABREU AMORIM.




Bis


Para que fique escrito antes de sabermos do desfecho do campeonato:

devemos renovar com Jorge Jesus. Após duas épocas a cometer erros - mais do que básicos, erros estranhos - o que Jesus fez este ano com o plantel desequilibrado que tinha na mão é de uma qualidade inegável. 

O campeonato está próximo da perfeição - um erro crasso, é certo, contra o Estoril, que provavelmente custou-nos o título, mas porque o Porto tem feito outro fabuloso campeonato -, na Champions falhou, mas recuperou na Liga Europa onde chegou à final com todo o mérito e a perdeu com muito, muito, muito azar - o que eu vi em Amesterdão ao vivo, aquele jogo da nossa equipa contra uma equipa forte apesar de mal orientada, não é obra do acaso: há trabalho de qualidade de Jorge Jesus; provavelmente, o melhor jogo do Benfica em toda a época. E ainda o Jamor, onde provavelmente levará a Taça para o museu do Benfica. 

Nunca posso considerar "brilhante" uma época em que o Benfica "só" vença a Taça de Portugal, mas posso deixar de olhar apenas para os resultados e analisar o caminho até às decisões. Jesus inventou, criou, desenvolveu novas soluções num plantel parco de alternativas credíveis para certas zonas do campo - laterais, centrais, médios 6 e 8. Não será brilhante, mas será muito boa uma época em que ganhemos Campeonato e Taça e boa se apenas ganharmos a última, tendo em conta a presença na final de uma competição europeia e um campeonato disputado até à última jornada. 

Jesus tem defeitos? Tem e continuará a tê-los enquanto não estiver sustentado por uma estrutura que, nas alturas cruciais, saiba calar-se quando deve e falar quando não deve estar calada - no Benfica, é ao contrário: a possibilidade de sucesso fez com que a cagança voltasse a surgir e a partir desse momento foi o descalabro. Mas o maior erro da estrutura esteve antes, muito antes: quando não deu ao seu treinador o que era evidente que ele tinha de ter: pelo menos mais um médio que servisse de opção a Matic e Enzo, um central de qualidade superior ao fraco Jardel e um lateral-esquerdo que não estivesse em aprendizagem dentro da competição. Não lhos deram, Jesus fez o que pôde. Mas não pôde tudo, como era expectável. E, assim, nos momentos decisivos, o Benfica falhou.

Não se perguntem se Jesus deve ou não renovar - deve; perguntem-se antes se devemos renovar com estes dirigentes - não devemos. Enquanto Vieira se mantiver no Benfica, nunca teremos sucesso continuado - tenham lá o Mourinho ou o Guardiola ou o Jesus. Porque o homem ainda antes de poder ganhar alguma coisa já demonstra não saber ganhar coisa nenhuma. E por isso perde. E perderá. E perderemos mais vezes do que as que ganharemos. Mesmo que, de tempos a tempos, apareça um título esporádico. Que, rezemos todos à espera do milagre, pode ser já hoje.

Peregrinação

Está feita a promessa: se formos campeões, vou a pé até Paços de Ferreira. Se há uns malucos que fazem milhares de quilómetros por uma coisa inexistente, parece-me que pelo Benfica faz um bocadinho mais sentido.

sábado, 18 de maio de 2013

Kentucky Fried Entremeada

Ali, onde agora vive um senhor mamarracho de nome Colombo, era um baldio de terras aos solavancos, couves, armaduras de príncipes antigos e casas da idade do Fernando Pessoa. Ali, onde a esta hora senhoras elegantes e meninas petulantes encontram mais uma fantástica bugiganga para encher a vaidade dos quartos e salas de estar, foi, um dia, um parque arcaico de estacionamento, um caminho tortuoso até à catedral e uma enorme sala de repasto benfiquista. Ao ar livre, como tinha de ser. 

 O carro estacionava-se a 2 quilómetros do Estádio e a partir daí punham-se galochas e enfrentava-se o lamaçal. Antes de chegarmos ao repasto, deliciava-nos todo aquele benfiquismo em forma de gente: grupos de 10, 15 pessoas faziam círculos imperfeitos em volta de uma fogueira, de um fogareiro e de uma panelona digna de reis que no seu interior aquecia e amparava um bruto cozido à portuguesa ou, para os mais sensíveis às vicissitudes das transformações gástricas, um belo de um caldo verde, recheadinho com chouriço do melhor que podia haver; para beber, tinto, que era a cor e bebida naturais de quem, por dentro, levava acesa a chama imensa. 

 Normalmente, eram homens, pais e filhos, poucas mulheres e ainda menos filhas. No entanto, a equipa feminina de cada família tinha também o seu ofício, visto que vinham das mãos delas os repastos que tanto aconchegavam o estômago e o coração dos seus mais-que-tudo. A fome e a sede, ali, naquele sítio onde hoje ardem galinhas de Kentucky e carnes do Sr. MacDonald, não eram mais do que a medida certa para o impulso de noites de glória. Começava com o ritual de comer e beber; acabava em goles de golos. 

Para quem não levava metade da casa atrás, esta era uma visão que aproximava e apaixonava e servia de entrada ao que viria a ser a refeição, sentados que ficávamos em banquinhos corridos de madeira rodeando as casas de repasto, quase sempre entregues a famílias inteiras. O ritual era simples: fazia-se um rectângulo de balcões, em volta bancos para os benfiquistas não comerem de pé e lá dentro era uma festa de cerveja, vinho e cheiros de carnes com muita gordura. Para os meninos, trina de laranja, para os pais, vinho em barda, que a noite era uma criança. Nos entretantos, enquanto se trinchavam pedaços de entremeada, febras e as sopas iam ao lume, e regados, bem regados, a cerveja, a tinto, a branco e, para os mais friorentos, a abafadinho, discutiam-se onzes, dizia-se mal do treinador (sim, já na altura acontecia) e ansiava-se pela hora da visão gloriosa de um relvado iluminado por 4 focos de luz. 

 Os pais faziam a sua pedagogia, perguntando aos filhos o nome dos 11 heróis que iriam entrar em campo, os filhos acertavam em 3 ou 4 jogadores mais conhecidos e de tempos a tempos até aparecia um que falava no nome de um jogador de um rival nacional. O pai não gostava, batia com o copo com força na madeira e gritava: "esse é lagarto, filho!" e o filho, que nunca se tinha apercebido de que os homens tinham a capacidade de se metamorfosear em répteis, bebia mais um gole de trina enquanto dizia para dentro que nunca mais abria a boca para dizer o nome daquele jogador. 

E o mais bonito de tudo era quando, na mesma mesa, se juntavam avô, pai e filho. E todos eles, ali sentados em redor de um objectivo, apesar das idades, a sentirem o mesmo: a pulsação acelerada, a ansiedade, o nervosismo, a paixão. Todos eles com o coração da mesma idade.