domingo, 24 de agosto de 2014

O outro nome do Benfica é amor

O benfiquismo desafia a morte. É uma ideia tão suprema, tão superlativa, tão cheia de sentimentos dentro que não é passível de explicação evidente. O benfiquismo existe como a água existe, como existem os grandes oceanos, as ondas do mar, as areias, as montanhas, o amor. 

O benfiquista é tão benfiquista que se chateia com outros benfiquistas - no Benfica não há formas nem fórmulas nem verdades universais. Há muitos benfiquistas e há muitos benfiquismos, nenhum deles o mais certo porque ainda não foi encontrado o molde que represente o que é o Benfica. Como dar nomes, outros nomes, àquela onda que nasce do vento e das forças interiores do mar que vem desaguar, mansinha, junto ao nossos pés? Como explicar a formação de uma montanha que tem milénios de lambidelas de Sol, ar, tempestades, chuvas, nuvens e movimentos de peixes?

No Benfica tudo é difícil porque é fácil ser do Benfica. Uns porque foram levados pelos pais, outros porque se apaixonaram pela cor das camisolas, uns ouviram dizer, outros falaram no Benfica. Cada um, todos, à espera de mais uma jogada, a seguir de um golo, no fim de uma vitória que nunca se fecha numa vitória porque logo a seguir há que vencer outra vez. E outra vez. E outra vez. E depois vencer mais um jogo. E ainda outro. E sempre ganhar. Amanhã é para ganhar. E depois de amanhã também.

Nós não somos do Benfica por decreto divino ou escolha evolutiva essencial. Somos do Benfica porque é fácil e é difícil ser do Benfica. Somos do Benfica porque não há outra forma de existência. Ninguém nos mandou ser do Benfica; fomos lançados para ser do Benfica e somo-lo com todo o orgulho e amor do mundo. Porque o Benfica é vermelho. O Benfica é vermelho e branco. Porque isso nos envaidece. E porque somos um clube lutador. Somos do Benfica antes de sermos do Benfica. Já éramos do Benfica e ainda nem sequer sabíamos que éramos do Benfica. Somos do Benfica porque é bom dizer Benfica e festejar um golo do Benfica e ver, de olhos em lágrimas aquela jogada que promete um golo do Benfica. Vem o fim do jogo, o apito final soa do relvado para as bancadas, e então somos do Benfica aos abraços e aos beijos, uns para os outros, uns com os outros, uns nos outros, todos. 

O Benfica - e que bem que fica! - é este universo que junta planetas, astros, nuvens de cor, dunas infinitas, lugares de ternura. Encontramos Benfica no deserto de Atacama, nas praias australianas, no frio da Sibéria, nos glaciares da Patagónia, em cima dos Campos Elísios, nos canais de Amesterdão, naquela lareira que fuma enchidos, dá fermento ao pão, que aquece pimentos. Que bem que fica o Benfica quando as bandeiras e os cachecóis voam nas mãos dos benfiquistas e pelo céu vermelho ecoa o Hino do Benfica. Ben-fi-ca, Ben-fi-ca, Ben-fi-ca, as goelas de línguas vermelhas soltam os gritos milenares do assombro de uma paixão que não é explicável, não tem teor científico, não apresenta prova corroborada além daquela que os corações aos saltos, os corpos em desvario, as mãos no ar, os pés voando vão soltando pelo Estádio, pelos cafés, pelas casas, pelas ruas, pelo espaço. 

O Benfica não é Benfica porque é universal - e é universal; o Benfica é Benfica porque nos aparece no sítio mais estranho, no lugar impensável, no último segundo do mundo, no respirar de um rio ou no salto de uma nuvem. O Benfica é Benfica porque junta o recém-nascido com o quase-morto numa espiral de tempo que encontra velhos, novos e semi-novos todos de mão no peito à espera do golo. E o golo existe. O golo vai ser golo. O golo já foi golo e volta a ser golo porque depois de um golo há outro e ainda mais um golo e no fim o golo de mais uma vitória. Uma vitória à Benfica. Uma vida à Benfica.

Quando morre um benfiquista o Benfica leva uma cicatriz no peito e uma papoila na orelha direita para lançar rumo ao Quarto Anel onde aterra em cheiro, som e glória para se despedaçar em pétalas que cobrem o relvado na hora do golo do Benfica.


7 comentários:

Unknown disse...

Quão bom é ler o benfiquismo ...

PEDRO ÀLVARES CABRAL disse...

Nao sei se ma vais censurar, uma vez mais, mas hoje, com este texto e pelo menos, ganhaste o direito a faze-lo, porque eu nao resisto a agradecer-te, a felicitar-te e confessar que esta emocao que sinto parece provar que, afinal, eu tambem sou teu Companheiro.

Quem Ama o Clube como tu o fizeste com este texto, so' pode ser Benfiquista e eu, humildemente, tenho de admitir que estive errado quando nao o admiti.

Viva o Benfica!
(Jose' Albuquerque)

NauBenfica disse...

Um texto muito belo e comovente. Gostei muito. Parabéns, Ricardo, e continua.
VIVA O BENFICA!

mitul disse...

Que épico. Eu, tu, o Aimar, o Eusébio, o Coluna, o próprio Cosme Damião, nascemos todos no mesmo dia: 28 de Fevereiro de 1904.

benfica 365 disse...

Lindo recital!

Anónimo disse...

Eu rival me confesso ... mas gostei do texto... aliás gosto de todas as hipérboles do mais melhor do mundo :) cumprimentos des.portistas

Ricardo disse...

José Albuquerque, os únicos comentários que sofrem censura neste blogue são os insultuosos (entenda-se como insultuosos não só os que são ordinários mas todos aqueles que colocam em causa o benfiquismo dos autores dos textos). Se foi censurado alguma vez neste blogue terá sido por vindo insultar os escribas e nunca por discordar das nossas ideias, isso lhe garanto. VIVÓ BENFICA!

Um abraço benfiquista e desportista a todos vós.