Ponto prévio: Gostaria de elogiar e cumprimentar a
postura de Hélder Conduto na condução da entrevista. Revelou um elevado grau de
independência, maior que muitos dos seus colegas de profissão de outros órgãos
de comunicação social, tendo feito as perguntas que se impunham e de forma
clara, levando até a uma irritação e desconforto de Luís Filipe Vieira bem
evidentes. Parabéns.
A primeira parte da entrevista foi dedicada em
exclusivo à situação financeira do clube e às possíveis consequências da
falência do BES na vida do Benfica. Vieira apresentou-se algo esquivo e
generalista, acusando de falsas as notícias que têm vindo a lume, mas nunca
explicando com factos o porquê dessa falsidade. Em momento algum Vieira
respondeu de forma diferente do “até agora fomos uma entidade cumpridora, não
será agora que o deixaremos de ser”. É uma parte do que devia dizer, mas
deveria ter sido mais concludente e concretizador na forma como o Benfica
continuará a ser cumpridor. O único aspecto em que foi inequívoco prende-se com
o noticiado fecho da conta caucionada existente no BES, negando taxativamente
que tal fosse verdade. Quanto ao eventual pagamento dos empréstimos
obrigacionistas que vencem até final do ano, deixou no ar a ideia que o fará
por via da sua renovação.
No aspecto desportivo/económico, ficamos a saber que os
únicos casos em que o Benfica desinvestiu foram em Garay e Cardozo. No primeiro
por incapacidade de manter compromissos salariais tão elevados e no segundo por
se tratar de um jogador que deixou de ser 1ª opção para o treinador, sendo que
o jogador tem estatuto e vencimento de titular, verificando-se ainda uma
vontade expressa do atleta em, perante o estatuto de suplente, abandonar o
clube. Em ambos os casos estamos de acordo. Era por demais conhecido que o
central Argentino possuía um dos salários mais elevados de todo o campeonato e
que Cardozo deixou de fazer sentido numa ideia de jogo assente no ataque rápido
e mobilidade alargada dos seus avançados, tudo características antagónicas do
Paraguaio. Não quer isto dizer que um jogador com aquelas características não
possa vir a ser muito útil em determinados jogos e/ou circunstancias de alguns
jogos, mas não com o estatuto que Cardozo havia alcançado no plantel, por mérito
próprio. Cardozo, na ideia do treinador, não servia para titular e, numa lógica
económica, era demasiado caro para suplente. Nada a opor.
No entanto, Vieira afirma e reafirma que o clube não
desinvestiu no plantel em mais nenhum caso. Perante isto, podemos esperar um
forte investimento do clube nos dias que restam de mercado. Imaginando um clube
organizado, e tendo por boas as afirmações de que Markovic e Oblak não seriam transaccionados
se o não fossem pelas respectivas clausulas, é de supor que o clube tinha um
plano financeiro e desportivo que comportasse a permanência de ambos nesta
época que agora inicia. Ou seja, os valores angariados na venda de ambos os
passes estarão livres para um reinvestimento, para lá do que já seria espectável
numa nova temporada. É assim de esperar um forte ataque ao mercado daqui até 31
de Agosto em busca de colmatar as carências claras do plantel. Se assim não
for, tenho pena, mas Vieira mentiu e, de facto, o Benfica desinvestiu no
futebol.
No plano estritamente desportivo há dois aspectos a
considerar: O actual plantel e a formação.
No que diz respeito ao actual plantel, ficamos a
saber, pela voz do Presidente, que o departamento de scouting do clube é
profundamente desorganizado e incompetente, porque não é possível que um
departamento de scouting de um clube da grandeza do Benfica deixe passar o
final do contrato de um jogador (Eliseu) que já é seguido pelo clube há tantos
anos (basta relembrar que na 3ª época de JJ no clube, o treinador tornou
publico o interesse do clube no jogador). Não é ainda de aceitar que o
departamento de scouting do clube aponte 4 jogadores (Djavan, Candeias, Vítor
Andrade e Luís Filipe) a serem contratados e que não chegam a iniciar a época
por dispensa do treinador. Ambas as situações são inadmissíveis e custam ao
clube a afectação de verbas que podiam e deviam ser canalizadas para jogadores
que realmente importam ao plantel. Têm de ser retiradas ilações e respectivas
consequências destes acontecimentos, até porque a questão da aquisição de
jogadores que não chegam a permanecer no plantel definitivo da época está longe
de ser virgem.
Em relação à formação voltamos à demagogia habitual.
Como podemos acreditar que haverá uma aposta séria e credível nos melhores
jogadores da formação quando João Teixeira faz a pré-época que faz e… é restituído
à equipa B? Como podemos acreditar que haverá jogadores formados no clube a
fazerem parte do plantel principal, quando se acha que Bernardo Silva não está
preparado para o Benfica, mas está no ponto para um clube com o poder
financeiro do Mónaco? Como podemos achar que João Cancelo foi emprestado ao
Valência para adquirir experiencia e “rodagem”, quando o emblema espanhol tem a
posição de lateral direito preenchida por Barragan e João Pereira (ainda que
seja fraco, tem muito mais experiencia e conhecimento que o jovem do Benfica)?
Sim, se calhar os campos que anda a fazer no seixal sejam para alguém pastar…
ainda que não seja gado bovino nem se alimente de erva!
Como não poderia deixar de ser numa entrevista de Luís
Filipe Vieira, voltamos ao discurso do “não podemos deixar que estes miúdos (novo
termo para designar abutres e garotões) tenham memória curta”, “há 14 anos não tínhamos
nada”, “há 14 anos nem mística existia”, “o Benfica é uma empresa”, etc. Sr.
Presidente, faça um favor a si próprio: Não incite a visita ao museu. Porque
quem lá for e perceber o que significa o seu conteúdo, vai manda-lo embora.
2 comentários:
É sem dúvida uma bela apreciação à entrevista do LFV mas, na minha opinião, com base na entrevista poderia ter feito uma profundíssima análise à situação do Benfica.
De qualquer modo parabéns.
"Atlético Madrid nega ter oferecido Oblak às águias", Record
Eu não sei se isto é verdade ou não, e até pode ser mentira... mas que raios!
O nome Benfica anda demasiado enxovalhado.
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