sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Entrevista do Presidente



Ponto prévio: Gostaria de elogiar e cumprimentar a postura de Hélder Conduto na condução da entrevista. Revelou um elevado grau de independência, maior que muitos dos seus colegas de profissão de outros órgãos de comunicação social, tendo feito as perguntas que se impunham e de forma clara, levando até a uma irritação e desconforto de Luís Filipe Vieira bem evidentes. Parabéns.

A primeira parte da entrevista foi dedicada em exclusivo à situação financeira do clube e às possíveis consequências da falência do BES na vida do Benfica. Vieira apresentou-se algo esquivo e generalista, acusando de falsas as notícias que têm vindo a lume, mas nunca explicando com factos o porquê dessa falsidade. Em momento algum Vieira respondeu de forma diferente do “até agora fomos uma entidade cumpridora, não será agora que o deixaremos de ser”. É uma parte do que devia dizer, mas deveria ter sido mais concludente e concretizador na forma como o Benfica continuará a ser cumpridor. O único aspecto em que foi inequívoco prende-se com o noticiado fecho da conta caucionada existente no BES, negando taxativamente que tal fosse verdade. Quanto ao eventual pagamento dos empréstimos obrigacionistas que vencem até final do ano, deixou no ar a ideia que o fará por via da sua renovação.

No aspecto desportivo/económico, ficamos a saber que os únicos casos em que o Benfica desinvestiu foram em Garay e Cardozo. No primeiro por incapacidade de manter compromissos salariais tão elevados e no segundo por se tratar de um jogador que deixou de ser 1ª opção para o treinador, sendo que o jogador tem estatuto e vencimento de titular, verificando-se ainda uma vontade expressa do atleta em, perante o estatuto de suplente, abandonar o clube. Em ambos os casos estamos de acordo. Era por demais conhecido que o central Argentino possuía um dos salários mais elevados de todo o campeonato e que Cardozo deixou de fazer sentido numa ideia de jogo assente no ataque rápido e mobilidade alargada dos seus avançados, tudo características antagónicas do Paraguaio. Não quer isto dizer que um jogador com aquelas características não possa vir a ser muito útil em determinados jogos e/ou circunstancias de alguns jogos, mas não com o estatuto que Cardozo havia alcançado no plantel, por mérito próprio. Cardozo, na ideia do treinador, não servia para titular e, numa lógica económica, era demasiado caro para suplente. Nada a opor.

No entanto, Vieira afirma e reafirma que o clube não desinvestiu no plantel em mais nenhum caso. Perante isto, podemos esperar um forte investimento do clube nos dias que restam de mercado. Imaginando um clube organizado, e tendo por boas as afirmações de que Markovic e Oblak não seriam transaccionados se o não fossem pelas respectivas clausulas, é de supor que o clube tinha um plano financeiro e desportivo que comportasse a permanência de ambos nesta época que agora inicia. Ou seja, os valores angariados na venda de ambos os passes estarão livres para um reinvestimento, para lá do que já seria espectável numa nova temporada. É assim de esperar um forte ataque ao mercado daqui até 31 de Agosto em busca de colmatar as carências claras do plantel. Se assim não for, tenho pena, mas Vieira mentiu e, de facto, o Benfica desinvestiu no futebol.

No plano estritamente desportivo há dois aspectos a considerar: O actual plantel e a formação.

No que diz respeito ao actual plantel, ficamos a saber, pela voz do Presidente, que o departamento de scouting do clube é profundamente desorganizado e incompetente, porque não é possível que um departamento de scouting de um clube da grandeza do Benfica deixe passar o final do contrato de um jogador (Eliseu) que já é seguido pelo clube há tantos anos (basta relembrar que na 3ª época de JJ no clube, o treinador tornou publico o interesse do clube no jogador). Não é ainda de aceitar que o departamento de scouting do clube aponte 4 jogadores (Djavan, Candeias, Vítor Andrade e Luís Filipe) a serem contratados e que não chegam a iniciar a época por dispensa do treinador. Ambas as situações são inadmissíveis e custam ao clube a afectação de verbas que podiam e deviam ser canalizadas para jogadores que realmente importam ao plantel. Têm de ser retiradas ilações e respectivas consequências destes acontecimentos, até porque a questão da aquisição de jogadores que não chegam a permanecer no plantel definitivo da época está longe de ser virgem.

Em relação à formação voltamos à demagogia habitual. Como podemos acreditar que haverá uma aposta séria e credível nos melhores jogadores da formação quando João Teixeira faz a pré-época que faz e… é restituído à equipa B? Como podemos acreditar que haverá jogadores formados no clube a fazerem parte do plantel principal, quando se acha que Bernardo Silva não está preparado para o Benfica, mas está no ponto para um clube com o poder financeiro do Mónaco? Como podemos achar que João Cancelo foi emprestado ao Valência para adquirir experiencia e “rodagem”, quando o emblema espanhol tem a posição de lateral direito preenchida por Barragan e João Pereira (ainda que seja fraco, tem muito mais experiencia e conhecimento que o jovem do Benfica)? Sim, se calhar os campos que anda a fazer no seixal sejam para alguém pastar… ainda que não seja gado bovino nem se alimente de erva!

Como não poderia deixar de ser numa entrevista de Luís Filipe Vieira, voltamos ao discurso do “não podemos deixar que estes miúdos (novo termo para designar abutres e garotões) tenham memória curta”, “há 14 anos não tínhamos nada”, “há 14 anos nem mística existia”, “o Benfica é uma empresa”, etc. Sr. Presidente, faça um favor a si próprio: Não incite a visita ao museu. Porque quem lá for e perceber o que significa o seu conteúdo, vai manda-lo embora.

2 comentários:

VC disse...

É sem dúvida uma bela apreciação à entrevista do LFV mas, na minha opinião, com base na entrevista poderia ter feito uma profundíssima análise à situação do Benfica.
De qualquer modo parabéns.

Valco disse...

"Atlético Madrid nega ter oferecido Oblak às águias", Record

Eu não sei se isto é verdade ou não, e até pode ser mentira... mas que raios!
O nome Benfica anda demasiado enxovalhado.