sábado, 18 de fevereiro de 2012

Viagem ao Benfica





Passei muitos Fevereiros da minha vida a ver o Benfica a demasiados pontos da liderança. Tive azar no ano de nascimento, azar nas pessoas que vi tomarem conta do clube, azar no momento, azar na História. Tivesse eu nascido nas décadas anteriores e todo o meu crescimento e entrada na vida adulta - embora não esteja ainda certo de que algum dia algum ser humano o faz - teriam sido momentos à Benfica. Momentos de vitórias e felicidades umas atrás das outras.

Como nasci em 1981, o máximo e mais feliz que posso dizer de mim é que como ser benfiquista - e o benfiquismo é de longe mais importante do que a cidadania ou até, se queremos ir ao fundo da questão, da existência - vivi uma infância feliz, pontuada, ainda que ao de leve e já na entrada para a adolescência, por uma suspeita que nascia no meu pequeno coração de adepto: a chusma tinha invadido o futebol português.

Lembro-me do momento preciso em que perdi a virgindade do amor puro ao futebol: estávamos no início de 90´s, o Estádio da Luz a transbordar 120.000 almas, vermelho, branco, loucura e desvario, sol sobre nós, um clássico contra o Porto e um árbitro.

É importante que se fale na forma como eu via os árbitros: uma gente estranha que não podia tocar na bola, que se vestia de modo peculiar, que não era de nenhuma equipa e que, por alguma razão que me transcendia, tinha o direito a pisar aquele viçoso relvado que parecia ser acessível apenas a artistas - epíteto que não podia ser atribuído a tais personagens já que uma vez, a meio do aquecimento, vi um deles tentar dar toques numa bola, não passando dos quatro e, para ser delicado, uns quatro muito mal amanhados. Virei-me para o meu Pai, incrédulo: "O que faz ali aquela pessoa?" e ele deve ter dito qualquer coisa muito pedagógica e educativa que ainda me fez mais confusão uma vez que eu estava habituado a vê-lo atirar caralhadas ao excelentíssimo senhor jogos, meses e anos a fio.

Para mim, o árbitro estava ali porque não tinha outro síto para onde ir. Talvez não tivesse casa, fosse pobre, não tivesse família ou gente que o recebesse para uma almoçarada. Talvez tivesse ganho o bilhete no 123 e o Carlos Cruz o tivesse avisado: "olhe, você vai ao estádio mas, como está cheio, tem de ir ver o jogo no relvado". Alguma razão tinha de existir para aquela pobre alma andar feita louca varrida em correrias atrás dos meus jogadores e até dos outros. Uma razão que, devido ao meu cérebro mirrado, atribuí a factores além-futebol, nunca me passando pela cabeça que aquele gordo careca tinha uma relação sensorial com o jogo.

E foi então que percebi: ele estava ali para mandar. Não sei porquê nem quem lhe tinha dado esses direitos mas apercebi-me de tal ignomínia quando, sentado ao lado do meu Pai e de um amigo portista (que, neste dia, sob aquele sol imenso e de frente para um coliseu vibrante de encarnado, terá ponderado mudar de clube - o que acabou por não fazer e ainda hoje sente remorsos de tal facto), o filho da puta do árbitro (estou a citar o estádio) fez uma daquelas exibições que ficarão para os anais - literal e não literalmente. Não me recordo totalmente de todo o manancial de palhaçadas que o excelso executou, mas sei que saí daquele jogo pronto a contar na escola a novidade: já não era virgem.

Tive azar na década. Pude, no entanto, experimentar Benfica durante 12, 13 anos e esses levo colados ao peito, orgulhoso, com aquela saudade triste das coisas que sabemos que não podem voltar. Gostava de dá-las de presente a quem nasceu 10 anos depois de mim, entre abraços: "Tiveste ainda mais azar do que eu, toma, fica com isto: é o Benfica".

Pior do que ter visto o Benfica desaparecer num lodaçal de equívocos só o nunca ter visto de forma nenhuma. Por isso me merecem tanto respeito os jovens de 20 anos que trazem o Benfica com tanta força agarrado ao coração - como se, por osmose, entre pais, primos, tios, amigos, conhecidos, estranhos, o benfiquismo tivesse conseguido verter para dentro deles. Por isso quero tanto, por eles e por mim, que o Benfica regresse.

Passei muitos Fevereiros da minha vida a ver o Benfica a demasiados pontos da liderança. Façam-me este favor: dêem-me um Março campeão.

20 comentários:

alexalves76 disse...

Fabuloso.... exactamente como me sinto.

Hugo disse...

Fantástico...

Excelentes memórias, excelente texto!

Aquele Benfica-Guimarães em 1994, com 120.000 espectadores (mais uns quantos, como eu, presos nas grades) é a grande memória do meu (nosso) Benfica...

E os 6-3 em Alvalidl...Xiiii!!!

Só por curiosidade, nesse ano, no Benfica - Porto, o boi preto nem esteve mal. Expulsou o Couto depois de agredir o nosso grande Carlos Mozer...

Saudações Benfiquistas...

antónio disse...

nasci em 89 e lembro-me muito vagamente da festa de campeão de 94. a partir daí a única coisa que me recordava a grandiosidade do clube era a cassete do eusébio (que devo ter visto mais de 100 vezes), as histórias do meu pai e o estádio.

um gajo viver todas as desgraças possíveis até aos 15 anos é lixado, ainda por cima porque na altura andava numa escola onde a esmagadora maioria dos alunos era lagarta. levei com todos os enxovalhos possíveis, só ganhas a preto e branco, o joão pinto é nosso, levas 7 em vigo, o teu clube faz operações coração. caralho, a maior alegria que vivi plenamente até 2005 foi o golo do sabry em alvalade - mas na semana seguinte até me arderam as orelhas de todas as bocas que levei.

com todo o respeito, agradeço a oferta dos bons anos que viveste até teres 13, mas tenho de (gentilmente) recusar... se entrei no antigo estádio às moscas, se não ganhámos nada para amostra, se continuei a desprezar os andrades e os lagartos, e mesmo assim continuei a acreditar na nossa inalcançável superioridade é porque devo ser mesmo benfiquista.

o meu pai viveu a época de ouro do clube, tu apanhaste uns restos, eu apanhei migalhas. mas somos os maiores. não vi nada do que nos fez assim, mas acredito cegamente, e tenho sempre a cassete do eusébio para me relembrar...

Miguel disse...

Meu carissimo Ricardo, eu sou nascido em 1992... É exactamente como me sinto. A pré-epoca torna-se sempre algo de belo e mágico "é este ano que o benfica embala para 30 campeonatos seguidos" sendo que la por Janeiro ja se pede para que os do costume percam pontos para que ainda possamos sonhar. Foram demasiados anos em que o Benfica foi expoliado, roubado, vilpendiado, enfim, gatunado como se não existisse amanha!
Deixa-me que aqui neste teu espaço conte uma coisa.. Nao sei exactamente porquê mas alguem me disse para apoiar o Sporting em 2000 porque assim o Porto não seria campeão. Não sei porquê e atirei um "Sporting" para o ar, mas havia ali algo que nao batia certo, aquele nome nao era bonito, ate para mim que nunca tinha ligado ao futebol. Casa de benfiquistas e tudo andava desanimado.. nao havia Benfica. Ate que um dia dei por mim sozinho em casa (creio que em 2001/2002) num jogo Benfica-Maritimo para a Taça (antes disso ja tinha ido ao Estadio ver um amigavel na época do Van Hoijdonk contra o Marselha) e dei por mim a chorar, a berrar contra a televisao porque aqueles rapazes de vermelho, de quem eu nao sabia o nome, dos jogadores leia-se, estava a perder. Ate que (e nao sei bem precisar) acho que o Joao Manuel Pinto marcou um golo e levou o jogo para prolongamento, foi uma explosao de alegria, aqueles rapazes tinham feito o golo, e como eles o mereciam naquele dia. Acabariamos por ficar 1-1 no prolongamento e na ida aos Barreiros perdemos, mas ate ja nem fiquei muito triste. Naquele dia senti-me benfiquista. Lembro-me tambem de celebrar um golo do Chano com uma alegria enorme (talvez tenha sido antes, mas aquele jogo com o Maritimo é que o confirmou). A partir desses dias nunca mais disse nem Sporting nem Porto na tentativa de que aquilo soasse bem.
Lembro-me de quando fomos campeões em 2005 um senhor me perguntar no meio da confusao encarnada "meu menino quantos anos tens? uns 12? nunca viste o Benfica ganhar nada pois nao?", ele sabia que nao, e nesse dia eu tinha chorado ainda mais, nesse dia senti o Benfica a pulsar na garganta enquanto empurrava o Simão a meter a bola no Bessa e a pensar, "é isto, já está!". Continuei a viver o Benfica com a paixão com que vivo hoje, e tal como tu (desculpa que te trate por tu mas és Benfiquista e essa coisa de tratar pessoas nao tao mais velhas que eu por voce é coisa de lagarto) tenho pena de nao ter visto o Benfica que o meu avô e o meu Pai me contam. Mas foi este Benfica que me ensinou a sofrer e a ser exigente e querer sempre mais e mais! Lembro-me do Sr. Eusébio na época do Quique "Sr. Treinador eu acredito em si, faça o Benfica campeão!" Isto em Fevereiro, este ano é igual, façam-me sonhar e não pensar em tudo o resto durante 90 minutos porque se me tiram o Benfica tiram-me o legado de uma identidade estupenda, brilhante, lutadora e de gente sacrificada! Viva o Benfica!
P.S- Desculpa o abuso de texto que para aqui ficou!

Frank disse...

Adorei este texto e respectivas respostas destes jovens Benfiquistas que me comoveu este amor pelo nosso Glorioso clube, um dia irao viver e sentir aquilo que vivi e senti quando jovem como voces,sim tive a sorte de ter nascido nessa epoca assisti a duas taças dos Campeoes Europeus ganhas pelo nosso clube era um jovem como voces o sao agora vivi muitas finais perdidas ingloriamente gritei muitos golos do Eusebio,Jose Aguas,Torres e tantos outros,vivi muitos campeonatos ganhos,e taças vivi momentos de pura loucura com o nosso Benfica,e como vivi tudo isso com uma felicidade imensa,tabem vivi os ultimos 30 anos com pesadelos dois senhores monstruosos que poluiram o nosso futebol e minaram as nossas conquistas com todas as trapalhadas que voces bem conhecem caso apito dourado,um desses senhores ja nao e do vosso tempo comecou com o falecido Jose Maria Pedroto que transbordava odio pelo Benfica por todos os poros e continuou com o senhor Pinto da Costa ate que levaram o Benfica ao tapete mas este levantou-se deu luta e os vai vencer por KO,voces jovens ainda vao ver o Benfica c Benfica Campeao europeu tal e qual como eu vi na minha meninice,ja nao vai ser para mim porque existem dois colossos de nivel Mundial Barcelona e Real Madrid o Benfica actualmente nao pode ombrear com eles,mas atençao o gigante despertou e nao vai demorar muitos anos que o Benfica la chegue e voçes iram viver aqueles momentos magicos que eu ja vivi com o nosso Benfica ah se eu nao istiver por ca nessa altura viverei com voces la do alto dos Ceus toda a vossa felicidade viva o Benfica.

lawrence disse...

Perdi a virgindade, com 12 anos, no Benfica-sapos do 2-4!
No meio de 4 velhos lagartóides que, pensando que eu ainda podia ser "modificado" me levaram com eles. (meu patrão, encarregado, chefe de escritório etc).
Perceberam que não quando no meio deles, sózinho, puto, festejei o primeiro do Glorioso!
Esse golo valeu-me um calduço e a promessa de não ir mais vez nenhuma com eles!
Que grande favor me fizeram naquele dia!
Com isto também quero dizer que ainda apanhei o período de ouro do Glorioso, desci aos infernos e estou novamente a começar a saborear (e a lutar para que se mantenha) mais o sabor das vitórias e menos os das derrotas!
Já os meus dois filhos (33 e 27 anos) apenas conheceram os escafundós do inferno mas estão agora, como tu, a começar a sentir o ar fresco da Glória!
E PLURIBUS UNUM!!

Marciano disse...

No meu tempo de juventude quase que não havia festejos quando ganhávamos mais um campeonato! ganhávamos tantos que nem valia a pena festejar, era um hábito ganhar! agora aguentem!

jzz disse...

Excelente texto, parabéns!

Eu, como nasci em 75, ainda vivi no estádio os 20 minutos à benfica de Eriksson a Mortimore, nos anos 80 fomos muito grandes.

Pena foi que um putanheiro de boné, um chulo pugilista e um ex seminarista de óculos amarelos paulatinamente conseguiram os seus objectivos, com a preciosa ajuda do atrasado mental do Damásio e outros que tais...

David Duarte disse...

Seria interessante fazer-se uma sondagem sobre o benfiquismo, sobre o que é o Benfica a partir das idades de cada um. Eu também sou de 81 e tenho a mesma imagem que tu do Benfica.

Ainda vi o grande Benfica, a parte final do grande Benfica. Lembro-me vagamente da final contra o PSV e perfeitamente da final contra o Milan. Foi em casa de um tio meu lagarto, completamente lagarto, mas daqueles lagartos que respeitavam muito o Benfica como os benfiquistas da mesma idade (à volta dos 50 anos) respeitam o Sporting. Viveram outros tempos e outras guerras. Lembro-me perfeitamente de ele abrir a garrafa de champanhe no final do jogo e dizer "Abrimos na mesma o champanhe! Serem a segunda melhor equipa da Europa merece isso".

Os anos em que "perdi a virgindade" foram entre 91 e 94. Nesses anos senti que afinal para se ganhar era preciso mais do que ser melhor em campo. Lembro-me desse sentimento quando o Benfica foi ganhar por 2-0 às Antas num jogo onde tudo foi feito (e tolerado) para que os jogadores do Benfica nem corressem. Lembro-me dos dois anos seguintes, os anos do Carlos Alberto Silva no FC Porto onde os portistas aprenderam que fazer a caça ao arbitro era-lhes permitido fora e, sobretudo, dentro de campo. E lembro-me dessa época magnifica de 93-94, finalmente a época do canto do cisne do grande Benfica.

Falo da sondagem porque não deixo de achar curioso que os benfiquistas mais intolerantes às criticas sejam na sua grande maioria jovens que não conheceram isto. Os mais velhos (da geração do meu pai) são geralmente mais criticos ainda que a gente (tenho grandes dificuldades em ver os jogos na casa do Benfica de Alcobaça quando là estou... é que eles não deixam escapar um erro que seja. Normal! Eles cresceram a ver jogar Colunas e Eusébios).

A nossa geração critica porque ainda viu o que é o Benfica vencedor. Agora os mais jovens não sabem isto. Não sabem que um Benfica vencedor é um Benfica que luta sempre pelos titulos, internos e externos! E não um Benfica que em 10 anos ganha 2 titulos como o do Vieira.

Depois perguntam: então entre 94 e a chegada do Vieira, quantos titulos ganhàmos? Verdade, não ganhàmos nenhum. Mas o que eles, os mais jovens, não compreendem é que o que ganhàmos com o Vieira é pouco, é muito pouco tendo em conta o que é a historia do Benfica. E se é pouco é porque afinal hà muita coisa que internamente não està bem.

Pedro de Almeida disse...

Texto lindo, Ricardo. Nasci em 1982 e revejo-me em muito do que escreveste aqui. É um amor inexplicável. Nasci no Porto e fui criado em Gaia. Da varanda da minha casa via-se o estádio das Antas. Só estive no estádio da Luz uma vez (e foi durante umas férias de verão). Perdi a conta a quantas vezes andei à porrada na escola só porque era do Benfica, durante a idade das trevas do futebol português, a década de 90. Vi adeptos do FCP a festejar derrotas do Benfica como se vitórias do clube deles se tratassem (ai os 7 de Vigo...). Perguntavam-me muitas vezes: "Então nasceste no Porto e és do Benfica?". A minha única resposta resumia-se ao óbvio: "O Benfica é de Portugal, não é de nenhuma cidade qualquer". Assisti a muitas festas do FCP, campeonatos, tetras e taças europeias... e como pano de fundo, o insulto fácil ao nosso Glorioso. Tinha todas as razões para ser adepto do FCP. Mas aquilo nunca me puxou. Não consigo explicar o Benfica, aquelas camisolas vermelhas, lindas, num estádio a vibrar por amor ao clube, um amor genuíno e sincero, a 300km de distância. "A chama imensa", chamam-lhe alguns. Não um amor de circunstância, do saber que já está ganho, baseado num ódio visceral e irracional ao clube rival, do "Pinto da Costa olé" tudo isto mascarado de uma luta de moinhos de vento contra os "mouros da capital". Fica aqui o meu depoimento. Abraços gloriosos.

Anónimo disse...

Fantástico post, parabéns!
Sabe muito bem saber que não fomos os únicos a passar por tempos difíceis. Por outro lado, isso só mostra a nossa força: se conseguimos superar todas as adversidades que se nos opuseram e estamos agora a retomar o nosso caminho natural, isso significa que nada nem ninguém, por muita trafulhice que faça algum dia nos conseguirá aniquilar!
Também sou de 89 e a minha primeira memória futebolística, ainda que muito vaga foi a final da taça de 95. Lembro-me depois de termos passado por momentos terríveis, o 6º lugar, os 7-1, os salários em atraso, os problemas na direcção, enfim. Lembro-me também que mesmo nessas alturas nunca desisti, e acreditava sempre que melhores dias chegariam. A verdade é que eles chegaram e a conquista da taça em 2004 ficará para sempre gravada na minha memória. O campeonato do ano seguinte então é indescritível. Enfim, memórias de um ainda jovem benfiquista, que sempre se alimentou dessas histórias que todos ouvimos do pai, do avô, do primo e do tio.
Resta-me desejar uma continuação do excelente trabalho que têm feito neste blog, para mim um dos melhores da gloriosasfera, e saudações benfiquistas para todos!

Pedro Rocha disse...

Posso dizer que sou um assiduo leitor deste blog, mas só hoje e agora me senti obrigado a comentar.
Sou da geração de 94 e orgulho-me de ser benfiquista. E mesmo a crescer paralelamente com a razia de titulos do Benfica sentia-me orgulhosamente benfiquista. A viver no Norte e a viver rodeado de portistas. Mesmo assim nunca olhei para quem dizia que estava na altura de mudar de clube, para quem dizia que o Benfica nao dava alegria.
Tudo isso mentira, porque embora pudesse nao dar alegrias nessa altura eu sabia que o momento ia chegar. O momento do Benfica. O meu momento por que tanto esperei.
Bem haja Benfiquistas.

Constantino disse...

Ricardo,

Uma modalidade desportiva estar nas mão de um árbitro é contra natura. Estamos a falar de algo que vive da paixão e do fanatismo doentio que no final fica nas mãos de um gajo imparcial... é como ter um primeiro ministro apátrida... não é lógico. Estamos a falar de gente que vive a vida segundo o lema "não vale a pena dramatizar"... como não dramatizar? Como não estar de estomago apertado em dias de jogos? Como não dormir mal quando a nossa equipa não ganha? Que gente é esta que dirige os nossos jogos e que não tem sistema nervoso nem emotividade? Serão eles acéfalos? Saberão eles a importancia do jogo que dirigem e que podem decidir? Certamente não o sabem. Estamos a falar de gente (e aqui parto do principio que não são máquinas... ou então se o são de certeza que os seus sistemas operativos são Windows Millenium que aquilo é com cada bug...) para os quais o resultado é indiferente, o que conta é despachar aquela 1h30 e ir para casa ter com a familia... Que adepto vai ao estadio à espera que acabem rapidamente os 90 minutos porque deixou o lombo de porco no forno? Para mim... os árbitros não são gente do desporto... são... cenas... tipo... coisas...

PS - a minha virgindade (nos entido de perda da inocência) perdi-a quando vi o kiki, o bandeirinha,demol, pingo, abilio, caetano etc ficar em 1º num campeonato disputado contra o vice-campeão europeu... e sejamos realistas, naqueles tempos do Grande Milan (quem diz ossanas do barça actual certamente não viu o Milan de Sacchi), vice campeão europeu era o mesmo que "melhor da Europa sem contar com os extra terrestres".

Abraço

Paulinho disse...

Meu amigo, permita que assim o trate pois alguém que assim ama o Benfica tem forçosamente de ser meu amigo, seja de forma for.
Antes demais, Parabéns! Este é, para mim e a larga distância dos demais, o melhor blog afecto ao Benfica. Digo-o com todo o respeito que me merecem os restantes.
Queria aqui escrever que me sinto perfeitamente identificado com esta postagem, mais, eu consigo ver-me nela, como parte integrante. Não queria também deixar de referir que, na minha humilde opinião, o meu amigo escreve de forma tão agradável e fluída que chega a "pôr para um canto" ( expressão tipicamente minhota) os que agora são tidos como grandes romancistas portugueses. Tenho dito!

Aceite um grande abraço deste Benfiquista do Berço de Portugal.

Ricardo disse...

Estes depoimentos são comoventes. Nem sei por onde começar. Quando tiver mais tempo, virei aqui acomodar cada um de vós neste leito.

Permitam-me: Obrigado. Isto é Benfica!

Unknown disse...

Como já o disse num dos textos, aprendi a ser benfiquista com o meu pai que me contava os feitos do Benfica, nasci em 73 mas lembro-me se ser do Benfica na época de 79/80, de chatear o meu pai para me comprar o subbuteo para jogar com os meus ídolos, com o meu vizinho que me trazia as notícias diariamente do estádio ou da sede, lembro de muitas vitórias e de estar colado ao rádio a ouvir as grandes noites europeias.
Não viveram um dos dias mais tristes, os 7-1 em alvalade, onde alguns miseráveis, esses sim maus benfiquistas, queimaram bandeiras, cachecóis e cartões.
Indignado por tal ignomínia, no dia seguinte fui pagar 1 ano de quotas e apesar de massacrado pelos meus colegas lagartos, sempre lhes respondi que à frente do campeonato continuávamos nós e no fim da época ganhámos com 15 pontos de avanço em relação aos lagartos e a taça de portugal onde lhes afriambrámos 5 secos.
Pior foi ver a vergonha de vigo e a grande vergonha da conferência de imprensa do nosso capitão a pedir desculpas, quando se percebia que era um problema da estrutura.
O 6.º lugar do Toni depois de ter estado a 1 ponto da liderança foi outro dos pontos negros, mas nunca deixei de ser sócio, nunca deixei de acreditar em todos os anos e em 2003 com o Camacho começámos a ser recompensados pela espera desde 96.
O título 11 anos depois foi tão festejado como o de 94, pois também esse tinha acontecido contra todas as expectativas depois do verão quente de 93.
Sinceramente, 2 títulos e 2 taças em 17 anos, 10 dos quais no consulado Vieira (2+1 taça), comparam-se com aquilo que eu me lembro de 79 a 94, em 15 anos o Benfica tinha ganho 7 títulos e 7 taças.
Aqueles que criticam a nossa exigência não se lembram de vencer regularmente, como eu me lembro desde miúdo. Devo dizer que me sinto impressionado pelos escritos de putos que mesmo tendo crescido em tão difíceis circunstâncias sejam tão benfiquistas, mas lembrem-se sempre que sem exigência não voltaremos ao topo.

M disse...

sou de 75, percebo muito bem o que escreves...presumo que o SLB-FCP que falas foi 2-3, com aquele penalty sobre o Rui Filipe, não sei quantos metros fora da area, que eu, lá do meio do 3ºanel, até espumei de raiva ao ver ser assinalado...terá sido o Fortunado Azevedo? gajo de nariz enorme, nunca mais me esqueço do cabrão, acabei o jogo e fui a correr para casa para ver o gajo na tv e chamar-lhe todos os nomes possíveis..

foi começo de anos negros, feios e porcos.....

..agora que escrevo e relembro algumas coisas, que saudade imensa me atinge ao lembrar-me de nosso estádio da Luz, que saudade..que horas, que jogos, que histórias, que viagens e romarias, que amigos em conversa, torrar ao sol, ensopado à chuva, que namoradas levadas a ver a bola, as últimas vezes que fui ver futebol com meu pai..

vou estar a suspirar Benfica o resto do dia até à hora do jogo....

abraço!

João Duarte disse...

Grandes malhas malta!

Parabens em particular ao Miguel. Belo texto.

Eu sou de 77 e tenho algumas memórias do que era o Benfica vencedor.

Como aguentei os anos negros (ja acabaram. Ainda há tiques, mas ja acabaram)? No hoquei!

É verdade, o velhinho pavilhão da Luz foi onde alimentei o meu Benfiquismo. Ir ao estádio era miseravel de mais.

Here Comes The Rain disse...

Sou de 80, revejo-me em muito do que escreveste. Sofri muito com os lagartos, mas nunca deixei de me sentir Benfiquista.

A minha família é toda lagarta, avós, tios, pais, primos e irmão incluídos. Como explicar eu ser do Benfica? Nem eu sei, mas passava horas com o meu avó materno a contar-me histórias do Benfica e do Sporting, sempre com muita admiração e respeito pelo Benfica. Era o único que não me chateava para ser do Sporting, mas até eu na altura sabia a equipa titular do Sporting da década de 40.

Não me lembro do ano em que fui a primeira vez à Luz. Mas sei que foi um Benfica vs Gil Vicente, fomos a perder para o intervalo e na segunda parte entra o Pacheco que nos deu a vitória com 2 golos. Claro que só fui eu e o meu avó, não festejou mas ficou contente por mim.

Não sendo de Lisboa torna-se mais complicado ir ver os jogos, mas para compensar tive os lagartos a pagarem-me as cotas de sócio desde os meus 10/11anos quando nem eles eram sócios. Os avós são do caralho.

JC disse...

A minha surpresa nem foi o texto do Ricardo, que é sublime. Mas a isso já ele nos habituou. Agora abrir a caixa de comentários e ler o que vocês escreveram, meus amigos, é de me pôr o coração a mil à hora.

Parabéns a todos por tornarem este post tão perfeito com as vossas contribuições.
Abraços.

(o comentário do antónio quase me fez ir às lágrimas, juro.)