O Senhor Elias enviou-nos um email. Já tínhamos saudades do Senhor Elias - belos tempos em que recebíamos incentivos a meter "like" no facebook do Benfica, iniciativa que tomámos com orgulho nas mãos e lançámos para toda a blogosfera vezes sem conta, fazendo do Benfica um merecedor CAMPEÃO NACIONAL DA INTERNET. A propósito, Senhor Elias, não merecíamos já uma palmadinha nas costas, um ou outro convite para jogos ou, vá - sejamos modestos - uma ida a um camarote, para nos afastarmos da maralha que fede e fala muito alto?
Agradecemos o convite, Senhor Elias. Mas fica para a próxima. Quando o equipamento alternativo for branco, conte connosco, Senhor Elias. Obrigado, Senhor Elias.
O Ricardo deu uma entrevista deliciosa ao blogue Cabelo do Aimar. Como é rapaz modesto, não quis escrever aqui sobre isso. Escrevo eu, porque acho que vale bem a pena ler. E, essencialmente, porque quero ver os Lemos, os Maias e os Pizarros desta vida a destilar ódio na caixa de comentários do Vitto. Franqueza e frontalidade sem filtros.Para ler aqui.
É verdade que somos saudosistas. Não é menos verdade que
damos por nós a pensar em amores de infância que nos surgiram diante dos olhos,
qual aparição do Vergílio Ferreira, sob a forma de belas camisolas da marca
Hummel com publicidade ao Casino do Estoril. Chegámos mesmo a acreditar que o
Shéu era dono de uma gasolineira que patrocinava o Glorioso. Para nós, Fnac será
para sempre apenas e só uma marca de ares condicionados. Temos tentado superar o desgosto do desaparecimento do velhinho Estádio da Luz amantizando-nos
com outra Catedral, mais nova, bela e vistosa mas incapaz de nos preencher por
completo.
Contudo, meus amigos, demos um murro na mesa e concluímos
que é chegada a hora de ultrapassarmos isto. Não podemos viver eternamente
agarrados ao passado, é tempo de olhar em frente e parar de resistir à mudança.
Por isso, mudámos. Agora somos todos moderninhos e a página que criámos no Facebook
é a prova disso. Posto isto, se gostam do Benfica, de minis e bifanas podem clicar
ali no lado direito da página e juntar-se a esta trupe de taberneiros. Neste
momento somos 3 mas até ao final da próxima semana contamos chegar aos 8.
Esta espécie de afialhanço ao qual também nós sucumbimos é a primeira de muitas etapas para um novo
benfiquismo, para um benfiquismo onde todos sofram menos mesmo ganhando menos. Aprendermos
a contentar-nos apenas com a Taça da Liga será a próxima. Que comece a terapia.
Se até Setembro não tivermos na página 300.000 benfiquistas, apresentamos
a nossa demissão e votamos no Vieira. Têm é de ser 300.000 certinhos. Nem mais, nem menos.
Nunca tive Red Pass. Umas vezes por indisponibilidade de ir a todos os jogos, outras por falta de dinheiro e, na última época, por gostar de andar de um lado para o outro, sem lugar definido. Até que um amigo - companheiro de viagens por este país, atrás do glorioso - teve a amabilidade de me explicar que podia tê-lo e ainda assim andar feito cigano pelo estádio, consoante os humores. Prometi pensar no assunto e resolver-me.
Lá para Abril, resolvi-me. Ia comprar um Red Pass pela primeira vez. Ia ser um redpassiano. Podia finalmente beber as minhas cervejas sossegadinho sem ouvir as cantilenas dos meus amigos redpassianos
- Meu, tu tens de ter Red Pass. Sem Red Pass, não és ninguém!
E eu queria muito ser alguém. Até para poder beber as minhas cervejas sossegado. E então perguntava
- E os preços, redpassiano? Achas que vale a pena?
O redpassiano emborcava meio litro de Sagres antes de responder
- Se fores aos jogos todos, como vais, vale a pena. E, se não puderes, dás a outro benfiquista que queira ser alguém.
Aqui eu resignei-me. Melhor do que ser alguém, só mesmo poder fazer de alguém, alguém. Preocupava-me apenas a minha condição de peregrino penas enseadas da Luz
- Mas eu quero poder ir para o Piso 0 num Domingo e quinze dias depois subir a montanha até ao Piso 3. Posso?
- Claro que podes - informa-me o redpassiano. Até podes ver o jogo em cima dos arcos da Luz. Tens é de ter Red Pass.
- Aqueles arcos por onde - ideia de João Duarte, aqui no blogue - passasse cerveja directamente até cada lugar do estádio? Esses arcos, maravilhosos arcos de refrigeração destilada?
- Esses mesmos! Os arcos que transmitem a vibração e a bebida entregues directamente a cada red passiano com capacete à Homer Simpson!
- E não podemos criar um arco mais pequeno, que leve gin tónico?
- Podemos, companheiro! Mas para isso tens de ter Red Pass.
E assim me convenceram os redpassianos da minha vida.
Até que vi ontem os preços que o meu querido clube, ou as pessoas nefastas que o dirigem, tem para mim. Fiquei desconvencido. Não há gin tónico que possa pagar tamanhas estupidez e burrice.
Ali, onde agora vive um senhor mamarracho de nome Colombo, era um baldio de terras aos solavancos, couves, armaduras de príncipes antigos e casas da idade do Fernando Pessoa. Ali, onde a esta hora senhoras elegantes e meninas petulantes encontram mais uma fantástica bugiganga para encher a vaidade dos quartos e salas de estar, foi, um dia, um parque arcaico de estacionamento, um caminho tortuoso até à catedral e uma enorme sala de repasto benfiquista. Ao ar livre, como tinha de ser.
O carro estacionava-se a 2 quilómetros do Estádio e a partir daí punham-se galochas e enfrentava-se o lamaçal. Antes de chegarmos ao repasto, deliciava-nos todo aquele benfiquismo em forma de gente: grupos de 10, 15 pessoas faziam círculos imperfeitos em volta de uma fogueira, de um fogareiro e de uma panelona digna de reis que no seu interior aquecia e amparava um bruto cozido à portuguesa ou, para os mais sensíveis às vicissitudes das transformações gástricas, um belo de um caldo verde, recheadinho com chouriço do melhor que podia haver; para beber, tinto, que era a cor e bebida naturais de quem, por dentro, levava acesa a chama imensa.
Normalmente, eram homens, pais e filhos, poucas mulheres e ainda menos filhas. No entanto, a equipa feminina de cada família tinha também o seu ofício, visto que vinham das mãos delas os repastos que tanto aconchegavam o estômago e o coração dos seus mais-que-tudo. A fome e a sede, ali, naquele sítio onde hoje ardem galinhas de Kentucky e carnes do Sr. MacDonald, não eram mais do que a medida certa para o impulso de noites de glória. Começava com o ritual de comer e beber; acabava em goles de golos.
Para quem não levava metade da casa atrás, esta era uma visão que aproximava e apaixonava e servia de entrada ao que viria a ser a refeição, sentados que ficávamos em banquinhos corridos de madeira rodeando as casas de repasto, quase sempre entregues a famílias inteiras. O ritual era simples: fazia-se um rectângulo de balcões, em volta bancos para os benfiquistas não comerem de pé e lá dentro era uma festa de cerveja, vinho e cheiros de carnes com muita gordura. Para os meninos, trina de laranja, para os pais, vinho em barda, que a noite era uma criança. Nos entretantos, enquanto se trinchavam pedaços de entremeada, febras e as sopas iam ao lume, e regados, bem regados, a cerveja, a tinto, a branco e, para os mais friorentos, a abafadinho, discutiam-se onzes, dizia-se mal do treinador (sim, já na altura acontecia) e ansiava-se pela hora da visão gloriosa de um relvado iluminado por 4 focos de luz.
Os pais faziam a sua pedagogia, perguntando aos filhos o nome dos 11 heróis que iriam entrar em campo, os filhos acertavam em 3 ou 4 jogadores mais conhecidos e de tempos a tempos até aparecia um que falava no nome de um jogador de um rival nacional. O pai não gostava, batia com o copo com força na madeira e gritava: "esse é lagarto, filho!" e o filho, que nunca se tinha apercebido de que os homens tinham a capacidade de se metamorfosear em répteis, bebia mais um gole de trina enquanto dizia para dentro que nunca mais abria a boca para dizer o nome daquele jogador.
E o mais bonito de tudo era quando, na mesma mesa, se juntavam avô, pai e filho. E todos eles, ali sentados em redor de um objectivo, apesar das idades, a sentirem o mesmo: a pulsação acelerada, a ansiedade, o nervosismo, a paixão. Todos eles com o coração da mesma idade.
* texto com 3 ou 4 anos recuperado porque bateu uma saudade louca do meu Estádio da Luz. Do verdadeiro, do meu, do nosso. Agora é outra coisa.
Menezes é só mais um episódio da novela que é a gestão de contratações no Benfica. Uma extensa lista de emprestados que, ano após ano, engorda com novos jogadores-promessa que invariavelmente acabam emprestados, após terem ocupado no plantel o lugar que devia servir para os nossos jovens. Menezes foi comprado por um milhão de euros, jogou pouco, foi emprestado por um ano. Como no Benfica a relação com os clubes brasileiros é de dádiva e gratidão - não se sabe bem a quê, porquê ou para quê -, não foi vendido a ninguém. Emprestaram-no por mais um ano.
Entretanto, contrata-se um guarda-redes de 34 anos para ocupar o lugar dos nossos jovens e talentosos guarda-redes e para preencher a listagem a ser entregue na UEFA com jogadores formados no clube. David Simão, Miguel Rosa e outros não foram formados no clube, pelos vistos. Venham mais uns médios contratados no Brasil para serem emprestados já esta época ou então para ficarem no plantel um ano e depois passarem os restantes 4 anos do contrato em clubes brasileiros.
«Tivemos o título na mão, com cinco pontos de vantagem para o FC Porto, mas estávamos jogando quatro competições ao mesmo tempo, enquanto eles disputavam apenas uma. Isso gerou um desgaste maior na nossa equipa, que acabou por não conseguir manter a vantagem que tinha. Mas é importante destacar que chegámos aos quartos de final da Liga dos Campeões ficando em primeiro lugar de um grupo que tinha o Manchester United. Por isso, penso que o saldo da temporada foi positivo», disse Bruno César, em declarações prestadas ao site brasileiro Trivela.
Quando um jogador ao fim de um ano de Benfica acha que a temporada foi positiva apesar de não ter sido campeão, como poderemos ambicionar ser campeões ?
É certo que o treinador Jorge Jesus só percebeu isso ao fim de 3 anos à frente do Benfica, mas pelos vistos ou ainda não transmitiu isso para os atletas, em especial para aqueles que não conhecem o historial do clube, ou o que transmitiu durante a época é o revelado por Bruno César.
O problema do futebol do Benfica é este, falta de cultura de vitória e esse aspecto, por mais que se fale de factores externos, é algo que nos separa dos tripeiros. Sem perceber que qualquer época no Benfica será negativa sem a conquista do campeonato (excepto caso se vença a Liga dos Campeões), nunca os nossos atletas darão 110 % quando devem dar.
- Há, nas análises que se fazem a esta selecção, uma ideia generalizada de que a Espanha joga como o Barcelona. Não joga. Tem pormenores que se assemelham, muito por culpa do trio de meio-campo (Busquets, Xavi e Iniesta) - que privilegia o passe curto, a constante troca de bola em busca de espaços, a dinâmica posicional, aversão ao passe longo -, mas, como tem no seu seio jogadores com características totalmente diferentes do jogo do Barça - Xabi Alonso é o exemplo claro de um jogador que, apesar de ter qualidades, estraga o que podia ser esta Espanha; Arbeloa não compreende os movimentos dos médios; Alba, que tem potencial, não sabe compensar a subida da equipa; Torres não entende o que procuram os médios atrás de si - a equipa não raras vezes acaba partida e sem soluções. Claro que um colectivo que usufrui da dinâmica entre os jogadores do Barcelona e da qualidade dos outros, é sempre perigosíssima. Mas não se confundam conceitos. Esta equipa não é nem joga como os catalães.
- Pode parecer um paradoxo, mas uma das zonas mais interessantes para serem exploradas por Portugal é precisamente o meio-campo. Não nos espaços mais ofensivos dos espanhóis, mas no terreno pisado por Busquets e Xabi Alonso. Isto porque desta dupla resulta uma constante confusão de conceitos e estratégias a executar. Busquets está habituado a jogar sozinho, tem os movimentos típicos de quem domina toda a área em frente à defesa e procura envolver-se na troca de bola dos restantes médios; Xabi Alonso é um jogador posicional, prefere o passe longo, não está confortável com bola nos pés - disto resulta uma sobreposição de funções e muitas vezes um desequilíbrio posicional, fruto da confusão que um e outro sentem com o jogar do colega. Em situação defensiva, colocar Nelson Oliveira entre os dois, com um dos médios (Meireles ou Moutinho) pronto a entrar naquele espaço, na recuperação de bola, pode servir para gerar um distúrbio posicional de toda a equipa espanhola e posteriormente soltar os nossos homens da frente.
- Jordi Alba. Ofensivamente, de grande qualidade, mesmo que ainda não entenda totalmente os movimentos de Iniesta. Defensivamente, bastante limitado. Nem entende a linha defensiva espanhola nem se preocupa com as compensações ao meio. Tanto Nani como um dos médios podem ocupar o espaço entre o lateral e o central e assim ganhar vantagem e espaço para um passe de ruptura, remate ou situação de desequilíbrio. Por outro lado, João Pereira deve fazer o que sabe bem: aparecer para a vantagem numérica ou apenas para criar um falso isco.
- Do nosso lado, e sabendo que jogaremos mais em contenção à espera de um momento certo para lançar as transições rápidas (estratégia com a qual não concordo, mas que parece evidente vir a ser a adoptada por Paulo Bento), não percebo a opção por Almeida. Faria mais sentido jogar com Nelson Oliveira - que é, pelas características que tem, muito mais apto a sair rápido e dar apoios aos extremos e médios que apareçam no meio-campo espanhol. Almeida garantirá um apoio frontal, mas só isso e nem sempre bem, visto que muitas vezes perde as bolas. Nelson sabe receber, guardar a bola, apoiar, dar atrás ou abrir na ala. Sabe criar espaços em transição. É mais rápido, mais forte nas bolas divididas. Tem um problema: nem sempre decide bem em situação de definição, perto da área adversária. Mas isso também Almeida.
- Ronaldo não pode ter tanta liberdade para não apoiar defensivamente. Um Ronaldo autista do processo defensivo como temos tido é suicídio. Não é necessário recuar sempre, mas tem de estar atento aos movimentos de subida do Arbeloa e tem de saber compreender a movimentação dos espanhóis quando - e vão fazê-lo - quiserem criar situações de vantagem numérica no lado esquerdo da nossa defesa. Mesmo com o apoio do médio, convém que Ronaldo apoie. Até porque, recuando, sobe Arbeloa com mais frequência e isso pode gerar momentos de recuperação de bola propícios aos nossos movimentos de transição e criação de desequilíbrios.
- Miguel Veloso é a peça que mais me preocupa. Tem feito um bom Europeu mas ainda não foi verdadeiramente testado contra um meio-campo que saiba explorar as suas debilidades. A principal a sua falta de agressividade no momento de estancar um passe de ruptura (que, nos espanhóis, são usuais). Não pode dar tanto espaço em contenção. Basta que para isso ajuste a forma como acompanha o jogador que cai no seu espaço - mais do que ficar a 3 metros à espera do que o adversário possa fazer, convém que consiga, primeiro, estar mais perto do jogador e, depois, ler a movimentação do adversário e do que se está a passar à sua volta. Não me espantaria se Bento optasse por Pepe para a posição.
- Moutinho. Passa muito por Moutinho a possibilidade de uma vitória. Se mantiver o nível a que tem jogado, podemos estar descansados. A forma como pressiona, condicionando o espaço e as opções do portador da bola, a qualidade na posse - seja em passe curto, longo -, ocupação de espaços e o entendimento que tem do movimento dos extremos a que pode recorrer fazem-no o nosso falso 10. Defensivamente, contamos com ele - mais do que com Meireles - para evitar os passes desconcertantes de Xavi e Iniesta. E, sabendo que não é forte no momento do remate, talvez hoje seja o dia para aplicar um das seus raras bombas certeiras.
- Nani terá um papel fundamental. Com Ronaldo entregue a uma marcação, individual e colectiva, fortíssima (como Del Bosque já admitiu), é ao jogador do Manchester que se pede que desequilibre a defensiva espanhola. Até porque terá à sua frente o defesa menos apto dos 4 da Espanha. Aproveitar o espaço atrás de Alba e criar diagonais para o espaço entre Alba e o central terão de ser movimentos estudados em Nani. O resto ele fará, porque tem qualidade mais que suficiente para isso. Remate, rasgo, visão, qualidade no passe, desmarcação, passe de ruptura - tudo isto Nani tem. E, se começar a ser, logo de início, uma constante afronta ao jogar espanhol, condicioná-los-á e até poderá soltar Ronaldo da marcação fortíssima a que estará sujeito. Ah e convém que seja mais inteligente se acontecer lance genial de Ronaldo. Como este:
O mar devia ser vermelho. Nascia a meio do Atlântico, vindo de dentro das lamas da crosta terrestre, em jorros de groselha e espraiava-se até à costa em ondas de sangria. Quando tocava a areia, era vinho tinto.
As pessoas não se sentariam no areal à espera do sol. Deitar-se-iam todas de barriga para baixo, junto ao mar e abriam a boca. Isto exemplar e metodicamente executado, dia após dia, antes de irem trabalhar. Cada um entrando no ofício com os seus 2 a 3 litros de vinho tragados, preparados já para o laborioso construir do mundo.
Especialistas teceriam teorias altamente elaboradas sobre as vantagens do mar alcoólico - que harmonizava o ambiente de trabalho; que protegia o corpo das impurezas; que melhorava o desempenho sexual; que libertava a mente para uma viagem em que a fé e o espírito se encontram na comunhão dos sentidos; que isto, que aquilo, que.
No emprego, um estagiário dar-nos-ia cigarros à entrada.
- Quer com ou sem filtro? Junto-lhe pólen ou prefere Jack Herer?
As pessoas seriam mais pessoas e menos fiscais de vidança. Cada uma no seu cogumelo, pululando pelo escritório em círculos, cheiros, fumos, derivações e delírios. O Chefe estaria sentado no centro de tudo, tentaculando um narguilé aos seus trabalhadores:
- Antunes, não quer fumar? Deixe lá esses relatórios e venha repousar o corpo nestas almofadas sírias que acabei de comprar no Ebay.
Ninguém comeria legumes. Aqui e ali um nabiça ou um alho porro, para quando se fizessem festas para clientes muito chatos entregues ao fastidioso labor da mudança de mundo. No resto, troncos de carne mal passada, peixe fresco, montanhas de pão e queijo da serra derretendo ao sol. Presuntos largando gordura no canto das redacções e em baixo dois ou três estagiários amparando delicadamente o suco, desviando-o para um grande funil de onde sairia uma mangueira que transportasse o néctar até aos inválidos - os que não se podiam mexer por razões terapêuticas e os outros, os que já não tinham condições para mexer um dedo.
Entrava-se às 4 da tarde no trabalho e às 5 as portas abriam para o fechar de turno. Entravam outros. E cada um que saía, dirigia-se ao mar para beber ou vinho ou sangria ou groselha, consoante a potência do veleiro que tivesse. Os mais pobres, agachados sobre a areia, tinto carrascão; o de classe baixa, porque tinha barco a remos, vinho de eleição; a classe média, com aquela mota de água comprada a crédito, afastava-se da costa 300 metros e sorvia a sangria mais aprazível sob um sol feito morango; classe alta, quase só groselha. Aos milionários, de tempos a tempos, era facultada a experiência de descerem até às restingas do mundo nas quais se banhavam loucamente, acreditando estarem perante a fórmula mais secreta de eternidade.
No fim, todos morriam, como morrem hoje. Mas evitava-se esta coisa chata de fumar à porta dos restaurantes, no frio e humidade que cortam ossos; as preocupações com o colesterol que originam mais colesterol; as frases exemplares de gente muito saudável
- olha que isso faz-te mal.
Podia até chegar o ponto de se promover o tabaco nas escolas. Digo nas escolas mas penso nos infantários. Ou nas maternidades. "Fume, que faz bem, e dê ao seu bebé uma passa". Morria gente, naturalmente. De cancro, doenças pulmonares, sífilis, gangrena, sida, tuberculose, alcoolismo primário. Ninguém sobrevivia. Como hoje. Mas não tínhamos os ouvidos cheios de frases exemplares de gente exemplar que quer dos outros fazer exemplares exemplos.
Os jogadores de futebol fumariam os seus cigarros depois das refeições. E os adeptos fumariam os seus cigarros depois das refeições. No computador, amantes de futebol teriam vídeos dos jogadores a fumar depois das refeições os seus cigarros da marca do clube. Marca Benfica: "um cigarro estudado especialmente para os desportistas"; "Forte e suave, o cigarro dos campeões".
E o youtube tornar-se-ia viral, com os ídolos fumando Marca Benfica. Penso em Artur e Cruz, exemplos do mais puro e degradado humanismo. Degenerados do mundo, certamente merecedores de punição exemplar por parte dos defensores do tofu mais apetitoso e do pulmão mais brilhante. Párias da sociedade, entregues a um cigarro que os matará - oh se matará! - e provavelmente após um repasto sem qualquer tipo de composto vegetal transformado por químicos.
Sociedade demencial, essa do passado, em que até permitiam gente a fumar em cinemas, grandes postas mirandesas, cozidos, feijoadas, loucas panelas de couves tronchudas decoradas a farinheiras, morcelas, doidos chouriços. Nos restaurantes, fumava-se depois da refeição - a ignomínia! -, nos cinemas, bebia-se - a afronta! -, nas casas, fazia-se sexo - o pecado! -, na rua, havia quem não corresse de calções e ténis com ar de canguru saudável - o desprezo! -, e talvez houvesse mesmo quem não achasse graça nenhuma aos penetrantes activistas que, à falta de amor ao desporto, o relacionam com tudo o que de mal ocorre no planeta. Talvez.
Mantenho-me sentado na mesa. Comi bem, não quero levantar-me. Agora vai um conhaque para molhar os alimentos e um cigarro Benfica para encher o restaurante de fumo e vozearia. Cruz, dá aí lume:
e podia escolher 3 vídeos de cada época, nas últimas 10, de igual teor em que Pedro, o Proença-o-velho, de lances evidentes faz más escolhas. "Curiosamente", sempre contra o Benfica. Curiosamente.
No estrangeiro, Pedro, o Proença-o-novo, faz grandes exibições, em lances evidentes raramente falha um, arbitra uma final da Champions e provavelmente será o árbitro da final do Euro-2012.
Como é que isto se explica? Como é possível? Explica-se porque o grande mal do futebol português não passa pela incompetência, que existe, de alguns árbitros. O grande mal está nos que são bons, e são alguns, mas obedecem a quem manda - e já lá vão mais de 30 anos do mesmo.
Como é que isto se combate? É um processo moroso. Mas fica uma dica: não se combate apoiando inequivocamente uma das figuras principais do sistema - figura essa apanhada nas escutas a tratar do pagamento aos Proenças - e antigo dirigente do clube ao qual todos os Proenças - novos e velhos - cegamente obedecem.
Como é que se combate quem, dentro do nosso clube, cega e inequivocamente apoia esta gente? Votando noutro. A menos que ainda alguém acredite que, passados 10 anos de Vieira, o homem apoie inequivocamente estas alimárias por... ingenuidade e boa-fé. Nesse caso, peço perdão: é vosso o reino dos céus.
Que o jornal "A BOLA" queira vender a ideia de que esta foi a mais produtiva época de sempre nas modalidades do Benfica, é apenas normal - a incompetência é muita e de há muito tempo a esta parte. Por outro lado, faz sentido: há um sector dentro do jornal que está bem controlado e com ligação directa ao nosso clube. Isto para aqueles que acham que os jornais estão todos contra nós. Para a próxima, olhem melhor, vejam melhor, pensem melhor.
O que não pode é passar em claro um sistema de propaganda que pretende exacerbar feitos do clube (que foram bons, claro que sim) até ao limite do absurdo e da mentira. Menos ainda quando o futebol nada ou quase nada ganhou e as modalidades, de repente, ganharam um interesse para os benfiquistas que, na maior parte do tempo, não têm.
A época das amadoras foi muito boa. Não foi excelente, não foi má, não foi boa, foi muito boa - esteve perto de ser excelente. Por ela todos nos regozijamos e queremos ver continuada nas próximas. Mas é importante que não se esqueça o futebol e mais uma época falhada. Por mais propaganda que exista, por mais jornais que inventem épocas históricas, por mais jornalistas solícitos a largarem bombinhas de sucesso para toldar a visão dos adeptos, há quem não esqueça mais uma época fracassada. E, especialmente, além dos elementos alheios à nossa responsabilidade, quem não esqueça a quantidade pornográfica de erros próprios que, pior do que acontecerem uma vez, se repetem ano após ano, demonstrando que as pessoas que actualmente dirigem o clube não aprenderam, não aprendem e certamente não aprenderão nada no futuro.
Fernando Gomes - que afinal já é amigo de Pinto da Costa (alguma vez deixou de o ser?) - e sua pandilha agradecem tanta generosidade, tanta ignorância, tanta ingenuidade, tanto altruísmo do senhor nosso Presidente.
No Facebook temos um grupo chamado "O Sporting devia ser considerado britcom", lugar de regozijo e chacota. Geralmente nem sequer é preciso inventar piadas, basta-nos passarmos notícias do clube - está lá tudo, o elemento comédia é-lhes intrínseco; a nós, basta-nos rir.
Mas há outros locais sportinguistas aonde podemos sempre ir rir mais um bocadinho. O Sporting Autêntico, do famigerado MM, é sem dúvida um dos melhores. Desta vez, o escriba decidiu fazer um post no qual defende que a época desportiva do Sporting foi a melhor, comparada com a dos outros dois rivais. E dá-lhe um nome pomposo: "Sporting Clube de Portugal, consensual vencedor por equipas na temporada Nacional 2011/12".
Abdico de versar muito sobre o teor do mesmo - de tão surreal que é - mas a maior polémica levantada na caixa de comentários é de ir às lágrimas. MM pôs lá que o Sporting tinha sido campeão em Pólo Aquático - só não esclareceu os leitores que se referia ao campeonato nacional de... juvenis.
Como é sabido, os 16.000 títulos são contabilizados assim: títulos de formação, invenções, 4ºs e 13ºs lugares, invenções, mais formação, 18ºs lugares, invenções e, no meio daquilo tudo, uns, poucos, verdadeiros. Como bom adepto leonino, MM segue a escolástica conveniente e caminha nas mesmas águas. Já sobre Benfica e Porto, só títulos seniores e esquecendo-se de alguns. Chamado à realidade por um adepto do Portinado - verdadeiro campeão nacional de Pólo Aquático - MM persistiu na mentira e acrescentou-lhe elementos.
Mas chega de tanta conversa. Façam-me o favor de visitarem esse local de paródia. Leiam o post de que falo e o imediatamente a seguir. E a caixa de comentários. O Sporting devia ser considerado Britcom.
No meio de tanta banalidade, é difícil encontrar algo sobre o Euro que realmente ensine e ajude a compreender melhor o jogo. Difícil, mas possível - nos sítios do costume, claro. Nos dois blogues que, em estilos completamente diferentes, oferecem paixão pelo jogo, conhecimento, visão, alternativas de pensamento ao comezinho pensar maioritário.
Um, o Lateral-esquerdo, que estreou uma nova forma de estudar lances do jogo e que me parece bastante feliz, dinâmica e acessível a quem procura uma ideia e não gosta de muitas letras. A qualidade do PB, enquanto analista do jogo, parece-me indesmentível.
Outro, o excelente Entre Dez, que é um blogue voltado para o texto mais literário - quem não gosta de ler, é favor fugir deste blogue. Uma escrita de grande qualidade, um autor (Nuno) com um conhecimento claro do futebol e um certo lado provocatório que neste blogue acolhemos com gosto e simpatia.
O Euro está bem entregue a estes dois rapazes. Limitemo-nos, pois, a ler e a, esporadicamente, darmos a nossa humilde contribuição.
Na televisão, e há já muito tempo, contra os Rosados e Ritas, um Carlos Daniel a um nível pornográfico.
Parabéns aos campeões, aos jogadores, ao treinador Paulo Fernandes, de quem eu confesso ter sido muito crítico (por depois de nos roubar o título há 2 anos, nada ter ganho no ano passado) e portanto dou a mão à palmatória, ao responsável pelas modalidades João Coutinho por um ano à Benfica como já não se via e ao Presidente Luís Filipe Vieira por não embarcar na cantiga de que o Benfica é só futebol, não é, o principal é o futebol, mas um Benfica sem modalidades não é o Benfica, um Benfica sem modalidades ganhadoras não é o Benfica, por isso apenas fica um pedido para 2012/13, mostre aos jogadores os vídeos dos títulos das modalidades este ano, mostre ao Jesus as declarações dos treinadores campeões, que em vez de quererem para eles os elogios os fazem aos atletas, que sabem que o que o Benfica espera deles é a competência para nos levar aos títulos, porque esse é o nosso ADN.
Depois da Supertaça e Taça de Portugal, chega o caneco principal: CAMPEÕES!
Muita luta, muito talento, muita rivalidade, alguma sorte, imenso benfiquismo. O futsal torna-se campeão e junta-se a Hóquei, Basquetebol e Atletismo. Uma época fabulosa para a modalidade e um ano das amadoras mais próximo do que é o verdadeiro Benfica. Que os projectos saibam evoluir e manter o que de bom têm. Pede-se continuidade às modalidades vencedoras e reflexão às que venceram menos.
Acabei de ver o programa Debate, na Benfica TV. Mais uma vez sobre a blogosfera, com quatro convidados - o JG, do Redpass; o Fialho, do Vedeta da Bola; o João Tomaz, do Benfiquistas desde pequeninos e um tal de Paulo Silva, do Avante p´lo Benfica. Como no anterior, em que Pedro Ferreira sustentou todo o programa (pelo menos do ponto de vista do interesse de opinião), desta vez coube a JG a função de levar o programa para fora do âmbito da banalidade. E muito bem.
É sempre bom quando assistimos a gente interessada em debater os assuntos do clube, sem amarras nem pretensões a mais do que simplesmente dar a sua opinião sobre temas que muitas vezes são relegados para segundo plano, perdidos que andamos todos em culpar os insucessos do clube com os árbitros apoiados pelo homem que inequivocamente é apoiado pelo nosso Presidente. Espera, há aqui algo que não bate certo. Então nós criticamos quem domina o futebol português, mas apoiamos quem apoia inequivocamente uma das cabeças mais importantes do sistema? O benfiquismo tem razões transcendentes. Deixemo-lo assim, por agora.
Ao tal Paulo Silva, ouvi pouco, quase não falou. Mas chegou-me a ideia principal que trouxe à mesa de conversações: está na blogosfera para dizer bem; mal, diz entre amigos. É uma ideia curiosa, esta, e muito difundida por aí. É como se a blogosfera fosse a nossa mulher e nós uns beatos religiosos. Em casa, à missionário e baixinho para não acordar as crianças; fora, vai-se às putas e comem-se rapazinhos de 5 anos. Louve-se a capacidade que estes benfiquistas têm de se dividrem em vários: o benfiquista de casa, o benfiquista da blogosfera, o benfiquista da rua, o benfiquista do trabalho, o benfiquista do metro, o benfiquista do parque, o benfiquista da montanha e o benfiquista do mar. Venha Enid Blyton fazer uma saga que isto tem tudo para vender aos magotes.
Depois João Tomaz e a sua tranquilidade desarmante. É um bom conversador e - por já o ter conhecido pessoalmente posso afirmá-lo - um bom benfiquista. Mas há uma excessiva diplomacia ali que não colhe, para mim, grandes votos - um estar bem com tudo e todos, quando há assuntos que exigem outro tipo de abordagem, não necessariamente agressiva, mas assertiva e frontal. Vejo Tomaz na Direcção do Benfica daqui a uns aninhos. E, tendo em conta quem lá está hoje, não virá mal ao mundo.
Sobre Fialho, o que dizer? Estava ali como capanga da conversa. Sempre que a coisa entornava para uma crítica, lá aparecia o defensor-mor do castelo, com a sua falinha mansa, o seu aparte, o seu "olhe que", o seu "por outro lado...", aquele jeito de quem consegue escrever ao mesmo tempo que Oliveira é um dos rostos claros do sistema e depois vir dizer que afinal é apenas um homem de negócios com quem o Benfica deverá negociar e ao qual devemos uma série de coisas. O Fialho já está para lá de afialhar-se. O Fialho é o Fialho. Uma série de banalidades, defesa do regime e um afastar de responsabilidades e ambições. Para ele, diz-nos no programa, fundamental é escrever de livre vontade, sem pretensões. E os camarotes, pá?
Por fim, JG. Não fosse ele e não teria ficado tanto tempo a assistir ao programa. Tocou em pontos fundamentais, de frente, sem curvas, disse o que pensava e foi coerente com o que tem vindo a escrever há muito tempo. Abordou a questão da incompetência na comunicação e no marketing e sobretudo refutou a ideia de que no Benfica se dá uma verdadeira importância ao que se passa de qualidade na blogosfera. Não dá e JG defendeu, bem, que, por exemplo, no Sporting se fazem esforços muito mais organizados para uma reunião de ideias e pessoas que possam, através dos blogues, criar um movimento gerador de projectos estruturados para o clube. Transcrevo aqui parte de um texto do PLF, do blogue sportinguista "Bancada Nova", para que se compreenda o que de bem se faz no Sporting e que não se faz no Benfica - e que é, afinal, tão simples, se houver vontade, atenção e verdadeira intenção de ouvir os adeptos e absorver as suas melhores ideias:
«Há
cerca de um ano fui convidado – entre muitos outros participantes nas redes sociais
– para uma reunião na sala do Conselho Directivo, pelo Pedro Cunha Ferreira, no
âmbito daquilo que era referido como a “iniciativa digital” do Sporting (...)Essa
reunião contou com a presença do presidente do clube – Godinho Lopes – que se predispôs
a esclarecer as dúvidas que as pessoas na reunião tinham, e ainda – no seu
final e para fazer uma visita de cortesia ao Museu e ao relvado – do seu Vice-Presidente, Paulo
Pereira Cristóvão. Portanto, o Sporting fez-se representar ao mais alto nível e
por três(!) dirigentes (alguém imagina o Benfica ou o FCPorto a fazer isto?).
Ficou acordado entre todos que aquele seria um grupo de trabalho, que estaria
aberto a mais iniciativas digitais, e que àquela reunião inicial se seguiriam
outras reuniões.»
Estão a ver o Benfica a fazer isto? Imaginam Vieira, João Gabriel e, vá, Gomes da Silva sentadinhos à mesa com bloggers a responderem a dúvidas e a procurarem um debate com os adeptos? Eu também não. Mas é este o caminho e o futuro só poderá passar por largar o autismo que se vive no Benfica em relação aos seus adeptos (que não são clientes, são ADEPTOS) e começar uma aproximação e uma química de respeito e gratidão. Enquanto viverem como reizinhos em castelos, vão continuar mais longe do sucesso. Mas esta é uma discussão que teremos nos próximos tempos, lá mais para Agosto, quando o clima e não só aquecerem até temperaturas quase impossíveis.
Agradeço ao JG o que disse de nós. E não, não temos problema nenhum contigo. Temos divergências que na maior parte das vezes são saudáveis e servem para encontrar soluções. Do que te ouvi hoje, parece-me que convergimos mais do que o contrário. E, quando assim é, todo o debate sai mais valorizado. Da minha parte, como sócio do clube, agradeço a tua participação no programa. Se é para ir à televisão do Benfica, ao menos que seja assim: construir e acrescentar.
A
Federação Portuguesa de Futebol fretou um avião que fez ontem a
ligação Lisboa-Porto-Varsóvia (regresso após o jogo de Portugal diante
da Rep. Checa, 1-0) onde viajaram, entre outros, Pinto da Costa, José
Luís Arnaut e a mulher, Alexandre Mestre, Miguel Relvas e acompanhante,
Marques Mendes, Joaquim Oliveira e Vítor Baptista (antigo deputado do
PS), Antero Henriques e Rui Oliveira e Costa, bem como mais de 80
elementos dos órgãos federativos.
O CM tentou contactar
Fernando Gomes para lhe perguntar quanto é que FPF pagou, mas o líder
federativo não atendeu o telemóvel. Segundo uma fonte de uma agência de
viagens, o preço de referência para um voo charter para a Polónia (ida
e volta no mesmo dia) ronda os 130 mil euros", CM.
Não nego que neste blogue as críticas a esta Direcção costumam ser violentas - a culpa não é nossa, a incompetência daqueles rapazes obriga-nos a expressarmos o nosso sentir, que é imenso, sobre as patifarias que nos fazem ao nosso clube.
Mas há coisas que, por obrigação moral, temos mesmo de aceitar, defender e provavelmente até concordar. Coisas que fazem sentido, coisas simples, evidentes, competentes, coisas que demonstram não só a defesa mais acérrima do clube como uma política e estratégia do mais capazes a que alguma vez tivemos a oportunidade de assistir.
Falo de Wass. Jogador apresentado com dignidade e esperança na pré-época 2011/2012, um loiro tímido, quase assustado com tão grande viagem até à Luz. Rui Costa apresentou-o, disse palavras bonitas, Wass foi até ao relvado, deu uns toques na bola, trocou palavras de circunstância com Nuno Coelho (que também acabou recambiado) e, quando deu por ela, estava emprestado ao Evian.
Nós nem sequer precisávamos de lateral-direito. Tanto que passámos a época a jogar com o Maxi até o estoirar e, quando ele não podia, metíamos lá o Amorim - isto até o emprestarmos ao Braga por época e meia. A partir desse momento, a alternativa era retirar um médio fabuloso do seu lugar para o enfiar na direita defensiva, a fazer cortes contra o Luisinho - que, já agora, também já comprámos para o emprestar a um Evian qualquer. Mas não precisámos de Wass, não senhor.
E não é que Wass se potenciou, se valorizou, ganhou pontos em todas as áreas? Dizem-nos sempre: valorizar jogadores, valorizar jogadores, valorizar jogadores. Aqui ou quando emprestados. Valorizar jogadores. Pois bem, Wass valorizou, ganhou experiência, tem mercado. E agora, Benfica? Aproveitamos um dos 80 emprestados para o plantel? Não, vendemo-lo por 2,5 milhões, valor que, bem aproveitado, ainda dará para mais um avançado e para deixar Maxi sozinho mais uma época inteira.
Falo de Éder Luís e Fellipe Bastos. Compramos o primeiro por 2 milhões (metade do passe) há 2 anos, joga seis meses, vai para o Brasil emprestado. Torna-se um dos melhores jogadores do Brasileirão. O segundo tem um potencial imenso, também anda emprestado há 2 anos ao Vasco - tem muito mercado, no Brasil e fora do Brasil. Nós queremos o central Dedé. O que fazemos? Vendemos os dois por... 3 milhões de euros, sem vir ninguém. Faz todo o sentido.
Reparem: 5,5 milhões de euros de encaixe em jogadores emprestados. Se esta fosse a política adoptada com método, seria de aplaudir. O problema é que Wass, Éder Luís e Fellipe Bastos são, dos dois autocarros de gajos que temos dados por aí ao desbarato, dos poucos com potencial para ou entrarem no plantel ou serem vendidos a um preço que realmente faça dos negócios mais-valias financeiras evidentes.
Se negociamos assim com quem tem MUITO mercado, imaginem com os outros 77.
PS - Entretanto, continuamos a comprar jogadores para a equipa B. Estaremos atrás de uma folha salarial de 100 jogadores, record mundial? E a formação, serve para quê?
Este blogue tem 3 anos e 8 meses de vida. Está na altura de organizar o primeiro mega-jantar, não na ponte Vasco da Gama mas num local mais recatado, entre amigos, álcool (muito), comida (muita) e tudo o que vier acrescentado, sendo que a premissa única para ser um dos membros passa por ser DEMASIADO BENFIQUISTA - com isto excluo Joseph Lemos, Manuel, Tomás Pizarro e outros afialhados que por aí andam.
De resto, estão todos convidados. Quem quiser fazer parte desta grande equipa, é favor deslocar-se até à caixa de comentários e anunciar vontade e dia disponível para a farra. Se quiserem uma coisa mais silenciosa, têm o mail no meu perfil.
Por
razões desconhecidas, acabo sempre no meio do avião, com as asas a
taparem os campos e a queda do mar na areia - de cima, parece tudo tão
estático, como uma estrela que morreu milhões de anos antes.
Há círculos
nas terras, demasiados. Ao nível humano, parecem-me as coisas tão
rectangulares, anárquicas, imperfeitas. E lá no alto, recortes certeiros,
terras lavradas sob um método circular, limpo, quase extraterrestre.
As estradas não se vêem, nem aquela mulher que vai de alma em chama
comprar as flores para um velório que nem sequer é o dela.
Tudo somente
retalhos e um camuflado geral, como se houvesse um plano contra os seres
de outras galáxias: castanho escuro, castanho claro, verde tropa, verde
vegetal, amarelo torrado - impossível de detectar do cosmos. O mar
parece uma pia cheia, com ondinhas brandas de movimentos de mãos. Mas o
que mais espanta é ver aquele ser levantar-se e aterrar.
E ainda ninguém
notou que na Easyjet as pás que sustêm as asas são roubadas de gaivotas
da praia de Carcavelos.
O avião sobrevoa território nacional, detecto baixios, restingas, curvas de rio e uma orla desenhada a lápis. Avançamos pela margem sul, planando. Quero o Seixal e campos de futebol. Não vejo. Desce até à Arrábida, e depois curva, vamos morrer, vamos morrer em frente ao mar - há uma ideia que faz sentido: se chegarmos devagarinho à água, nadamos todos, muito direitinhos, para terra. Cresce pela Costa da Caparica em línguas de sal, ninguém na praia - uma semana em areias de Portugal e o mar morreu todo?
O Cristo recebe-nos, embriagado de vento. Vejo a ponte e uma cidade sob uma luz dourada. Quero o Estádio da Luz e um relvado no meio. Não o vejo. De repente, a carroça aérea começa aos solavancos, desce como um bêbado cai em degraus, pum, pum, pum e estamos no cinza do aeroporto, frio como as coisas que não têm alma, frio como resorts pelo mundo. Jamaica, Japão, Ceará, República Dominicana, Belize. O que achaste do país? As sombrinhas dos copos servidos na praia são claramente nativas. E ficamo-nos por aqui, que há que desapertar o cinto.
Os grandes jogadores não ensinam apenas os outros colegas ou os adversários. Ensinam públicos, adeptos e especialmente os boçais comentadores que, de tanta banalidade com que enchem a cabeça, não sabem pensar. Na verdade, é muito simples: se estás isolado frente ao guarda-redes e tens um jogador da tua equipa ao teu lado, atrás da linha da bola, tens duas hipóteses: rematas à baliza com um gajo à tua frente que te tapa algum ângulo e pode interceptar a bola e evitar o golo OU fazes um passe lateral simples e crias um golo feito, de baliza aberta.
Não é lance sequer que defina exclusivamente um jogador, de tão óbvio que é - Iniesta demonstra-nos que é o melhor do mundo em todos os jogos e em momentos bem menos evidentes -, mas serve bem para ilustrar o que deve ser o começo de uma lição definitiva sobre a frase mais estúpida do comentário em Portugal: não, um jogador, por estar isolado, não deve rematar à baliza. Não, um jogador frente ao guarda-redes, não deve ser perdoado por ter uma decisão estúpida. Não, ao atacante não se "compreende" a opção por rematar só porque é a sua "natureza".
O atacante - ou o médio ou o defesa ou o guarda-redes - deve, a cada momento, decidir-se pela melhor opção. E essa, num lance deste tipo, não passa por ser estúpido ao ponto de perder probabilidades de golo por egoísmo ou incapacidade de ver para além do óbvio. Como o comentador que atira, orgulhoso, um "não podemos criticar o jogador por rematar à baliza, visto que estava isolado frente ao guarda-redes", deve de imediato ser recambiado para a Nigéria, onde será colocado enterrado até ao pescoço, só com a cabecinha de fora num círculo de gajos com pedras na mão.
Ou isso ou ser obrigado a ficar numa sala de cinema durante uma semana inteira, a ver consecutivamente este vídeo: