segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Saudades do Alentejo


"Vila Fernando é o sítio ideal para fazermos um break." disse o G.
"Vila Fernando ? Onde raio é que é Vila Fernando ?" indaguei-me eu. Independentemente do desconhecimento disse logo "Vila Fernando it is then."
Nesses tempos, a malta juntava-se e ia por aí à descoberta do país, novas terras, novos restaurantes, novas locais, novas experiências.

Efectivamente, para quem quer deliciar-se com o tempo que passa mais devagar, porque se dizem que no Alentejo não há pressa então em Vila Fernando ainda haverá menos. A Vila Fernando que falo como já perceberam é a de Elvas e não a da Guarda, fica ali entre Barbacena e Vila Boim nos arredores da cidade conhecida pelas ameixas.

Mas para que verdadeiramente se desfrute de algo, é bom temperar esse deleite com algo completamente diferente. E para algo completamente diferente, optámos por ir à noite de Campo Maior. Se é verdade que passávamos tão despercebidos na discoteca como o Luisão no meio da área, não é menos verdade que nunca houve qualquer atitude menos amigável. Mesmo depois do B. ter praticado futebol americano com as laranjeiras que estavam à porta desse estabelecimento.

A segunda vez que voltei a essa discoteca, foi após um jogo do Glorioso contra o Sporting local. Campo Maior é uma terra que já estaria condenada se não fosse pelos valores do comendador do café, que sempre preferiu não ganhar tanto a deixar para trás a sua gente. Espero que os netos saibam honrar a memória do avô. É que a geração anterior teve outras prioridades. Nomeadamente o homem que sonhava com uma equipa na elite do futebol nacional. Seria das primeiras a abandoná-lo, pois o Comendador exigiu que se parasse com aquela loucura que punha em causa o futuro de algo que tanto lhe custara a erguer.

Sem o dinheiro do café, lá teve o Campomaiorense que abandonar o convívio dos grandes. O estádio de Campo Maior tinha duas particularidades que o destacavam de muitos estádios, tinham umas casas de banho como se fossem as casas de banho de casas particulares, todas com azulejos de qualidade e coloridos, que contrastavam com o branco que normalmente ocupa o lugar central nas casas de banho públicas e tinha bares dentro do estádio que vendiam bebidas alcoólicas, apesar da lei o proibir. A verdade é que uma terra de gente de bem, que podem beber o seu copito, ou mesmo exagerar, mas que não criam desacatos, não andam à pedrada, nem perseguem ninguém até à morte.

Nessa época 97/98, foi um jogo difícil mas lá ganhámos. Um golo a 5 minutos do fim deixou o estádio em festa, pois a onda vermelha invadira Campo Maior dando um colorido escarlate às bancadas normalmente desnudas. Pessoalmente não estava na bancada, mas no peão que era em erva e onde estava o bar. Entre uma e outra jola, comiam-se umas bifanas de qualidade em pão alentejano. É certo que se via o jogo em pé, mas o principal era o convívio que se estabelecia com irmãos de armas nunca antes e depois vistos, mas com quem partilhávamos uma fé. E a verdade é que o mago Poborsky cumpriu a nossa fé.

Nunca mais visitei um estádio tão amistoso como o estádio do Campomaiorense, ainda eles eram leões e não galgos. O Alentejo faz falta ao campeonato, pois é toda uma outra mentalidade que hoje em dia já não existe. Campo Maior é uma cidade que se engalana por altura da festa das flores, mas mais bonita que as decorações é a paisagem que a enquadra. Ao nos aproximarmos da cidade, os campos floridos numa orgia colorida despertam a nossa atenção visual enquanto o cheiro campestre nos traz saudades de um tempo que não vivemos mas com o qual sonhamos, um tempo onde tudo era mais simples e puro ...

6 comentários:

Anónimo disse...

a minha terra vila fernando gostei ahahahha

Chev Chelios disse...

Também lá fui ver esse jogo, o ambiente é o mesmo por todos os campos deste alentejo. O Alentejo merecia uma equipa na 1ª Liga. Só um pormenor, Campomaior é uma Vila.

POC disse...

Grande Campomaiorense. Terra de gente que honra compromissos e não hipoteca o futuro das suas gentes.

Grande Nabeiro.
E pela prosa B Cool.

Abraço.

Marta disse...

E aposto que quando jogaste o futebol americano com as laranjeiras fizeste um "touchdown" B!

O Alentejo, tal como os Açores, fazem falta ao campeonato principal sim.

Unknown disse...

@Chev
Erro meu que quis promover a vila a cidade
@POC
Mas havia quem pensasse em comprometer. Abraço
@Marta
Não fui eu que plaquei as laranjeiras Marta, por isso não descobri a gravidade com uma laranja na mona.

Fenómeno disse...

Muito bom! Felizmente que o Olhanense já voltou subir, porque ainda sou do tempo em que o Campomaiorense era a equipa mais a sul da primeira divisão.