quinta-feira, 30 de junho de 2016

O crónico cronismo


Compreendo as críticas a capas como a que o A BOLA hoje apresenta, mas não acho que seja essa a razão do declínio. A capa é a capa, é a maquilhagem do jornal, a roupa; o que verdadeiramente interessa é o que é escrito pelos profissionais do ofício e pelos convidados. É precisamente aqui que a pobreza se torna franciscana.

Exceptuando ilustres excepções, os jornais desportivos estão pejados de crónicas pavorosas - textos horríveis, mal escritos, mal pensados, cheios de ódio e clubismo doentio. Onde estão as crónicas que nos iluminam o dia? Por que razão se convidam pessoas apenas por serem "famosas"? Qual é o interesse em acompanhar os delírios de Eduardo Barroso, Sílvio Cervan ou Miguel Sousa Tavares senão pelo facto de estarmos a ler o que escrevem e o que pensam (mal) um cirurgião, um político e um comentador televisivo? Que sentido faz ler uma pessoa apenas porque é famosa? O mediatismo ensina a gostar de futebol, a saber escrever, a apaixonar o leitor?

Tudo aquilo é angustiante porque não tem qualquer valor. Uma sucessão de frases-feitas com críticas idiotas aos árbitros e piadas broncas aos adversários, nada mais. O "meu Sporting", o "Carrega, Benfica", o "Somos Porto" de dezenas de adeptos VIP que espalham a mediocridade pelos jornais, que incitam a maus pensamentos e péssimas acções, que são o espelho mais fiel de uma sociedade corrompida pelos interesses pessoais.

Onde estão as crónicas dos ilustres, daqueles que nos faziam e fazem aprender mais sobre o jogo, gostar mais do jogo, viver mais o jogo? Onde está o brio de um Director que convida a mediocridade para tentar vender mais jornais através do mediatismo do medíocre cronista? Onde estão o Carlos Pinhão, o Assis Pacheco, o Artur Semedo, o Artur Agostinho, o Rui Tovar, o O'Neill, o Cesariny, o Ruy Belo, o Galeano? Isto podia ser tudo um bocadinho mais bonito.

1 comentário:

António Madeira disse...

Falta aí o saudoso Homero Serpa.
Sou daqueles que aprenderam a ler e a escrever (e, por conseguinte, a pensar) com o jornal "A Bola", naquelas folhas enormes com letras vermelhas (que lindo que aquilo era).

A mediocridade não é de agora. Se comprei um jornal desportivo nos últimos 10 anos, não me lembro. Quando era miúdo, ia comprá-lo ao quiosque e lia-o de ponta a ponta depois de o meu pai ter feito o mesmo.
É o que temos. Sinais dos tempos, dizem.