domingo, 10 de julho de 2016

Já chega de andar a rondar a praia sem direito a mergulho. Hoje vamos ser Campeões Europeus.  

1966 - Meias-finais
1984 - Meias-finais
1996 - Quartos-de-final
2000 - Meias-finais
2004 - Final
2006 - Meias-finais
2008 - Quartos-de-final
2012 - Meias-finais
2016 - ?


4 comentários:

Anónimo disse...

1. Agora que o pó começa a assentar, não posso deixar de olhar para o panorama instalado sem pensar que este terá sido, provavelmente, o pior contexto para que o momento mais marcante da Selecção Nacional pudesse ocorrer. Porquê? Porque irá inevitavelmente passar a ideia de que este é o caminho a seguir.

2. Não é. De todos, seguramente não este. Soa a contradição?

3. Não há que estranhar: pelo menos, não mais do que aquilo que todos puderam constatar após aquele minuto 25’. Para espanto de técnicos, analistas e comentadores, a Selecção Nacional começara a respirar de outra forma. A deixar a França confusa e frustrada atrás de uma bola que já não era somente sua, assim como de jogadores que não se deixavam mais manietar ou atropelar.

4. Mas antes de avançar, pausa para um momento “Nostradamus”. A meio da tarde, durante uma transmissão sobre o Euro, o canal em apreço passa uma imagem do troféu. Olhei para ele e pensei: “Estranho. Esta taça parece-me nossa. Sinto-a nossa. Não sei como vamos fazer, mas não vejo este troféu ser levantado pelo Franceses”.

5. O jogo começa e a intensidade e agressividade da França são um pronúncio do que, mais cedo ou mais tarde, acabará por acontecer a manter-se aquele estado de coisas. Mesmo assim, continuo a pensar para comigo: “Não faço mesmo ideia como, perante este cenário, vão amanhar a coisa: mas sinto que aquele troféu vem para cá”.

6. Dá-se então o minuto 8’. CR7 no chão por entrada faltosa e propositada de Payet. Lance digno de um amarelo que o árbitro entendeu não ser sequer passível de falta. CR7 coxeia e penso: “Tu queres ver?”. Levanta-se, mas todos percebem imediatamente que não está em condições.

7. Acontece o previsível: olha para o seu umbigo e insiste em manter-se em campo. Com a aprovação quer de equipa técnica, quer da equipa médica.

8. Por ali anda a coxear durante minutos (que a mim me pareceram infindáveis) e a equipa sangra por todos os lados, só mesmo as cordas a impedindo de ir ao solo. O que se ouve por parte dos comentadores? “Grande espírito de sacrifício de CR7! Como se sacrifica pela equipa CR7!”.

9. Perdoa-lhes Senhor, que eles não sabem mais.

10. Perto dos 20’, senta-se finalmente. Imagens dolorosas que, naturalmente, não se deseja a nenhum atleta. Sai apoiado em braços pela equipa médica, face às dificuldades notórias em sequer andar. Sai pela linha lateral e o que se vê imediatamente em seguida? CR7 vai colocar uma meia elástica na perna e tentar voltar ao campo!

RedMist

Anónimo disse...

11. Num tom de indisfarçável contentamento e esperança por ver reentrar em campo um jogador francamente inferiorizado, o comentador alude ao altruísmo e capacidade de sacrifício que retira da atitude do atleta. Como se, no futebol moderno, ainda não se pudesse proceder a substituições… E no banco, ao invés de atletas profissionais, houvesse pinos.

12. Certo. Vai lá para dentro. Dá umas corridinhas. Finge que está em jogo. Até que um pique o faz cair novamente por terra. Estávamos no minuto 25’ quando, finalmente, CR7 sai irremediavelmente do jogo.

13. Com a aceitação de equipa técnica, equipa médica e inteligência desportiva em geral, aquela equipa esteve cerca de 20’ em campo a “sangrar” única e exclusivamente por capricho de um único. Reduzida a 10 por vontade egocêntrica e inadmissível de um jogador visivelmente inferiorizado: que, naquele momento, nem a uma partida de cariz lúdico do “jogo da macaca” conseguiria corresponder convenientemente.

14. Tudo porque, no entendimento embevecido dos Tadeias desta vida, “nenhum jogador gosta de ficar de fora numa final…”. Estes ficam para outra altura. Adiante.

15. Vejo finalmente CR7 sair e imediatamente penso: “F***-se FS, não faças m***, não agora. Assume!”. Que é como quem diz: Rafa.

16. Mas não: com uma equipa encostada às cordas, a jogar nos seus últimos 30 metros, a precisar de uma “lebre”, tecnicista, familiarizada com aquela dinâmica de jogo, com capacidade para correr no espaço 30 a 40 metros com bola para, assim, permitir não só à equipa respirar, mas colocar igualmente a França com as dúvidas e no estado de alerta que ainda não havia sentido…. entra Quaresma.

17. Um trintão. Perito em lances ofensivos nos últimos 20 metros do campo. Que nunca correu, defendeu ou se sacrificou verdadeiramente na vida em prol de um colectivo. E não era agora que iria começar. Ainda assim, acontece o inevitável: a equipa protege-se mais ao centro dos arrombamentos de que estava a ser alvo e a dimensão do jogo nacional passa para onde nunca devia ter saído: rente ao solo, na relva.

18. Para os mais desatentos, o que aconteceu verdadeiramente ao minuto 25’? Um sacrilégio na FPF do século XXI: a ideia de uma Selecção Nacional que não está refém de ninguém. Nem mesmo de alguém que vale a estonteante marca de 2,25 golos por Europeu - a faceta de CR7 que verdadeiramente interessa aos Portugueses, ao invés dos 50 golos/época no Real da capital do país vizinho.

19. O golo foi o culminar de uma exibição que, a partir daquele momento, foi sempre em crescendo, assente na muita solidariedade e qualidade ali existentes. À medida que o tempo foi passando, sentia-se uma França cada vez mais descrente, desgastada e a duvidar de si própria. Do lado nacional, precisamente o inverso.

20. Éder limitou-se a dar corpo ao que já estaria no subconsciente de muitos. A machadada final num jogo e torneio onde, tudo o que podia correr mal, correu bem. E o que podia correr bem, correu muito melhor que o esperado.

RedMist

Anónimo disse...

21. Abel Xavier declara que este título é inteiramente merecido, que se fez justiça. Concordo: mas apenas parcialmente. Mais do que no capítulo do jogo jogado, o seu merecimento passa, fundamentalmente, por aquilo que, de há longas décadas a esta parte, o futebol nacional tem representado para o mundo.

22. É de Bento, Damas e Baía. De Germano, Humberto e Carvalho. Do “Monstro Sagrado”, a Carlos Manuel, a Paulo Sousa. De Simões, do “Pequeno Genial” ao “El Português”. De Diamantino, Oliveira ou do “Maestro”. Do “Pantera Negra” ao “Bom Gigante”, de Vítor Baptista a Águas.

23. De todos quantos vestiram o manto nacional: a única roupagem de todos nós. Dos que, de fora, sofreram. Por cá. Pelo mundo. Esta… é de todos eles. De todos nós. E merecemo-la há muito. Pode alguém verdadeiramente negá-lo?

24. Contudo, não é nada disto que vai ser falado. Conforme as interpretações do momento o provam, os adeptos e país desportivo não estão preparados para assimilar e interpretar correctamente o que aconteceu. Como tal, irão insistir no mesmo erro: e, com isso, recusar aspirar à excelência. A evoluir. A estar um passo à frente do seu tempo.

25. Acusem-me de ser do contra. De não reconhecer virtudes. Só ver defeitos. De ver tudo ao contrário. De não perceber da poda. O que quiserem. À luz do que vou apanhando, uma coisa reconheço: não vejo, de facto, o que outros vêem. Ou me querem fazer ver. Sou dos que acredita que, se alguém segue a um ritmo ou em direcção diferente dos demais, talvez seja por escutar uma música diferente…

26. Há uns tempos, assisti ao documentário “A Sr.ª do n.º 6”. Recomendo vivamente. Uma lição de vida. Uma das suas muitas lições passa pela forma sentida e penetrante como a protagonista refere que, na vida, tudo tem um lado bom e um lado mau: tendo esta, apesar das crueldades de que os seus e a própria foram vítimas, optado somente por olhar para o lado bom da vida.

27. Talvez só veja o lado mau. O que, seguramente, não concede popularidade nos tempos que correm. A ser esse o caso, tal aspecto poderá estar, porventura, relacionado com o facto de esse “lado mau” efectivamente existir. Estar lá. Apenas não lhe sendo dada a devida atenção, dada o estado de “embriaguez” da actualidade.

28. Um dia, quando não alcançarmos qualquer vitória numa fase de grupos graças ao “grande bocejo” em que se tornou o futebol do “Brasil da Europa” e, ao invés de ganhar a final desse torneio, viermos mais cedo para casa, talvez sejam abordados os temas que me propunha inicialmente desenvolver (mas, relaxem, não farei porque isto já vai longo).

29. O significado do antes e do após aquele minuto 25’. O foco (dentro e fora de linhas) em CR7 e, inerentemente, o menosprezo pelos demais. A verdadeira origem da sua mudança de atitude. A lesão aos 8’ e o significado da sua saída somente aos 25’. A sua relação com a figura do treinador. O que deve verdadeiramente este grupo, federação e país a CR7. E o inverso.

30. A ideia de jogo, postura e afirmações de FS. A manifestação do seu conhecimento pela verdadeira essência do jogo. O resultado enquanto prova irrefutável da infalibilidade da estratégia. A primazia da defesa sobre o ataque: que proposta à criação após a destruição. O mito das equipas que, jogando bonito, nada ganha(ra)m. A continuidade de FS e possíveis alternativas.

RedMist

Anónimo disse...

31. Da submissão ou autonomia perante os lobbies e a clubite: nos adeptos, media, instâncias, no critério de escolha pelos responsáveis técnicos.

32. As críticas da crítica às críticas internas e externas.

33. A gestão do plantel de Benfica, FCP e SCP perante a aproximação e realização do Euro. Apreciação dos jogadores benfiquistas que lá estiverem. Assim como dos que não estiveram. Os melhores do Euro e da Selecção. As desilusões.

34. Se saímos do Euro enquanto equipa que venceu e convenceu: mostrando categoricamente ao mundo sermos a mais forte da Europa. Ou, contrariamente, se foi um caso inopinado, esporádico, casual. Irrepetível. O que representa verdadeiramente no presente e para o futuro.

35. Da vontade em reencontrar beleza no jogo. O toque da genialidade. A arte de simplificar, ao invés de adensar. Em libertar, ao invés de prender. Em criar, ao invés de formatar.

36. Em apurar se, testemunhos (inevitavelmente isolados) como o presente, personificam a crítica gratuita, desfasada e descabida ou, contrariamente, assumem a procura da defesa do grupo e da evolução da modalidade.

37. Se é o discurso romântico de um passado que não volta mais ou, por oposição, o de um futuro inevitável com vista à sobrevivência e recuperação da essência da modalidade – e que está na génese da sua dimensão actual.

38. Por agora, dar-me-ia por feliz se, do exposto, resultasse, numa pessoa que fosse, o despertar da sensibilidade e concordância para a importância da arte de pensar em/ao contrário. Fora da caixa. Mesmo que para concluir não ser nada daquilo e “aliviá-la para fora do estádio”.

39. Criar. Levantar a âncora do cais da estagnação.

40. Pela mesma razão pela qual parte esmagadora do que nos acontece na vida é responsabilidade exclusivamente nossa: por a mudança começar em nós.

RedMist