sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Dificuldade de Governar

«1.
Todos os dias os ministros dizem ao povo
Como é difícil governar. Sem os ministros
O trigo cresceria para baixo em vez de crescer para cima.
Nem um pedaço de carvão sairia das minas
Se o chanceler não fosse tão inteligente. Sem o ministro da Propaganda
Mais nenhuma mulher poderia ficar grávida. Sem o ministro da Guerra
Nunca mais haveria guerra. E atrever-se ia a nascer o sol
Sem a autorização do Führer?
Não é nada provável e se o fosse
Ele nasceria por certo fora do lugar.

2.
E também difícil, ao que nos é dito,
Dirigir uma fábrica. Sem o patrão
As paredes cairiam e as máquinas encher-se-iam de ferrugem.
Se algures fizessem um arado
Ele nunca chegaria ao campo sem
As palavras avisadas do industrial aos camponeses: quem,
De outro modo, poderia falar-lhes na existência de arados? E que
Seria da propriedade rural sem o proprietário rural?
Não há dúvida nenhuma que se semearia centeio onde já havia batatas.

3.
Se governar fosse fácil
Não havia necessidade de espíritos tão esclarecidos como o do Führer.
Se o operário soubesse usar a sua máquina
E se o camponês soubesse distinguir um campo de uma forma para tortas
Não haveria necessidade de patrões nem de proprietários.
E só porque toda a gente é tão estúpida
Que há necessidade de alguns tão inteligentes.

4.
Ou será que
Governar só é assim tão difícil porque a exploração e a mentira
São coisas que custam a aprender?»

Bertolt Brecht

3 comentários:

César Campos disse...

«Perguntas de um Operário Letrado

Quem construiu Tebas, a das sete portas?
Nos livros vem o nome dos reis,
Mas foram os reis que transportaram as pedras?
Babilónia, tantas vezes destruída,
Quem outras tantas a reconstruiu? Em que casas
Da Lima Dourada moravam seus obreiros?
No dia em que ficou pronta a Muralha da China para onde
Foram os seus pedreiros? A grande Roma
Está cheia de arcos de triunfo. Quem os ergueu? Sobre quem
Triunfaram os Césares? A tão cantada Bizâncio
Só tinha palácios
Para os seus habitantes? Até a legendária Atlântida
Na noite em que o mar a engoliu
Viu afogados gritar por seus escravos.

O jovem Alexandre conquistou as Índias
Sozinho?
César venceu os gauleses.
Nem sequer tinha um cozinheiro ao seu serviço?
Quando a sua armada se afundou Filipe de Espanha
Chorou. E ninguém mais?
Frederico II ganhou a guerra dos sete anos
Quem mais a ganhou?

Em cada página uma vitória.
Quem cozinhava os festins?
Em cada década um grande homem.
Quem pagava as despesas?


Tantas histórias
Quantas perguntas»

Grande Brecht

http://www.youtube.com/watch?v=IXyu3TZ1DZM

Grande Viegas

Anónimo disse...

Caro Ricardo,

Não acredito em anarquia. Anarquia é o caos, a desordem, a indisciplina. O pior da raça humana rapidamente ebuliria. O homem é um animal e essa animalidade de um sopro apagaria o fósforo do respeito e da solidariedade.

Não acredito na ditatura, no culto da pessoa, do líder, do querido líder, o Salvador de todos os males, o único, aquele a quem devemos odebiência. A mesma animalidade também aparece, a história já o comprovou em demasiadas e pestilentas alturas de mortandade.

Acredito na democracia participativa, mas sou um ingénuo. Acredito que existam cidadãos eleitos pelos restantes cidadãos, por um período definido de tempo. Que naqueles sejam delegados por estes mais que direitos, deveres de serviço à comunidade, de sacrífico pessoal em prol do grupo, que se comprometam a tudo fazer para o bem estar geral.

O problema é que essa democracia está corrompida, quem é eleito quer sê-lo eternamente. Não por serviço, mas sim por benefício próprio, por poder, por perpetuação desse poder, por dinheiro. A democracia está podre e quem a deve regular, também.

Exemplo 1. A fonte da corrupção nacional está nas câmaras, veja-se o que decidiu o TC acerca dos Searas e Meneses desta vida. Um nojo.

Exemplo 2. Há quantos anos estão o corrupto de Contumil e o nosso querido Vieira no poder? Porquê? Se fosse desagradável e não rendesse, estariam lá todo este tempo? Quem os controla?

Eu não sou Vieirista, mas também não sou anti-Vieirista, simplesmente, aguardo que alternativas surjam e que me transmitam confiança.

Os ideais fundadores do Benfica são os da democracia participativa, são nobres e dignos. É outra razão por que sou benfiquista.

Abraço
Pedro B.

Ricardo disse...

César, obrigado. Tanto o poema como a interpretação são uma maravilha. E encaixam aqui que nem uma luxa. Abraço.

Pedro B., a democracia existente - tal como está estruturada - serve tudo menos ideais democráticos. As maiorias são ignorantes, desconhecedoras dos verdadeiros problemas, incapazes de reflectir sobre eles, muito aptas ao seguidismo não-pensante, bastando para isso que alguém as lidere e lhes dê a falsa ilusão de estabilidade, através de mentiras, enganos, promessas. As pessoas dizem «democracia» e acham que ela se baseia em dar votos a todos e com isso estar já ofício todo feito. Não está. Pelo contrário: esperar que a democracia seja apenas uma votação é prendê-la a uma possibilidade imensa de caciquismo mais reles. A democracia só existirá quando a construção crítica for uma constante e não apenas de 4 em 4 ou 3 em 3 ou 5 em 5 anos. Fala-se em democracia e esquece-se a falácia que é permitir poder de votos a qualquer um. Pior: com graus de poder de voto diferentes. Qual democracia. O Benfica vive hoje numa mini-ditadura, da qual muito dificilmente sairá sem repercussões ao seu interior de grande monta.

O meu único deseja, a minha única esperança, é que consigamos tirar de lá o Vieira antes de ele destruir por completo o clube. Mas temo que a carneirada ainda passará muito tempo até deixar de seguir o pastor. Abraço.