Surpresa: ainda há Benfica. Quando se pensava que os adeptos tinham todos entrado numa espiral de autismo e subserviência a uns senhores que de Benfica só têm o facto de o dirigirem - e mal -, a massa decidiu apareceu e dizer: "basta!". Basta de tanta incompetência. Basta de tanto engano. Basta de tanto desrespeito, de tanta mentira, de tanta incongruência, de tanto despesismo, de tão fraca cultura vencedora. Ao contrário do que alguns dizem, o Benfica não saiu a perder. Pelo contrário, reforçou-se e pode a partir deste momento garantir um futuro condizente com a sua História, com os seus valores, com a sua génese. Se as escolhas serão as melhores, ninguém sabe; espera-se que sim. Do que já muita gente não tem dúvidas nenhumas é de que, com estes, o caminho é para o abismo. E isso, passados tantos e tantos anos de cegueira, é decisivo. Um clube como o Benfica não pode viver com medo de mudança a viver de fantasmas. Os verdadeiros fantasmas estiveram ali à nossa frente, a brincar com os telemóveis.
O chumbo de ontem é um apoio inequívoco não a Fernando Gomes mas ao Benfica. É um passe de sobrevivência, uma ávida vontade de ter a dirigir o clube gente que, em vez de dormir nas Assembleias ou rir em sinal de gozo ou meter as mãos na cara de vergonha, saiba assumir as suas acções e enfrentar o juízo popular. Queremos um Presidente e uma Direcção que falem verdade aos benfiquistas, que cumpram o que prometem, que sejam dignos da memória, que sejam competentes, sérios, apaixonados. Que saibam o que é verdadeiramente "vencer" e não este grupo de incompetentes para os quais 2 campeonatos em 10 anos é motivo de grande orgulho e regozijo. Só um defensor do benfiquinha mais deformado pode defender estes senhores para o Benfica. Mas eles existem.
Existem e de idades e circunstâncias muito diferentes. O benfiquista jovem, com acesso a toda a informação sobre o clube, é apoiante desta direcção por três motivos: ou é burro ou tem algum interesse ou é louco. Há muitos que não são burros nem loucos. Resta-nos a segunda opção. Há, no entanto, outro tipo de benfiquista: o mais experimentado. São os senhores que se colocam nas primeiras filas a levantar o braço com os seus 50 votos. A estes devemos todos o nosso respeito, mesmo que discordemos das suas opções. Na sua maioria, não estão a par do que verdadeiramente se passa no clube; compram o "A BOLA" - braço político de Vieira - todos os dias, vão aos jogos e, de vez em quando, vão jogar cartas para a Sala de Convívio. Viram um Benfica grandioso, exultaram com os seus feitos e depois caíram na depressão mais profunda aquando das passagens de Damásio e Azevedo. Naturalmente, têm medo desses tempos. Compreensivelmente, hesitam e duvidam da mudança. Com algum sentido, para a vivência que têm, preferem a mediocridade actual ao desconhecido. E portanto merecem-nos todo o respeito. Insultá-los ou coagi-los não é, de forma alguma, um acto de benfiquismo, é outra coisa qualquer que deslustra a história democrática do Benfica. Por mais incredulidade e raiva que a incompetência dos que nos dirigem nos tragam, é fundamental ter presente o respeito por quem construiu um Benfica glorioso. Que isso fique bem claro para o futuro: não se depõe uma Direcção de mal-educados com insultos a outros benfiquistas.
A votação foi clara e inequívoca. A forma como foi feita é que de claro tem muito pouco. Em 2012 termos de assistir ao espectáculo deprimente de dois senhores a contar os papelinhos nas mãos dos adeptos é absurdo - não é só pelo facto de a contagem obviamente entrar no campo da subjectividade (alguém consegue garantir o mínimo de credibilidade a um sistema de contagem deste tipo?), é também porque expõe o clube a um atraso evolutivo completamente desnecessário. Uma votação electrónica ou, se quiserem manter um sistema mais palpável, o voto nas urnas são as soluções que podem no imediato e para a próxima Assembleia corrigir este estranho anacronismo.
A Direcção fará de tudo para que haja uma colagem do extintor rebentado aos adeptos que chumbaram o Relatório e Contas - faz parte dos incapazes quererem resistir a todo o custo. Haverá muitas teorias, muitas suposições e conspirações, quererão desrespeitar os adeptos, misturando-os com uma minoria que usou de estratégias erradas e, em alguns casos, vergonhosas. Mas quem lá esteve sabe bem que a grande parte dos que votaram contra é um conjunto de pessoas que só quer bem ao Benfica, que respeita os outros e defende o espírito democrático que este clube, com algumas excepções (Vieira na linha da frente), sempre teve. A todos os que educadamente votaram contra e a todos os egrégios benfiquistas que votaram a favor, o meu obrigado. Aos radicais que desrespeitaram o clube e aos benfiquistas esclarecidos que votaram a favor, o meu desprezo. Não se constrói Benfica com tanta falta de cérebro.
Chegados aqui, o quê? Ninguém sabe.
É possível - é, aliás, muito provável - que para Vieira isto tenha sido só um acaso, um acidente de percurso, e que continue a sua saga de autismo, agarrado ao poder - qualquer benfiquista que se preocupe com o clube, na situação dele, demitir-se-ia logo ali. Antes da noite de ontem só com o inenarrável Damásio esta situação tinha ocorrido. Vieira fugiu a sete pés do pavilhão, Damásio demitiu-se. Façam vocês as vossas contas sobre isto.
É possível - é mesmo muito possível - que tenhamos a sequela do filme "vamos manchar a história democrática do Benfica". Depois da vergonhosa antecipação de eleições em 2009, só falta mesmo a Vieira repetir a dose. E depois vocês façam as contas sobre isto.
O que não me parece possível, ou provável, é que a imberbe oposição existente - nem sequer falo de Carvalho, um estranho senhor que, ainda assim, não merece ser insultado - aproveite mais uma oportunidade de ouro de constituir uma equipa séria e competente para, organizada, trazer uma esperança ao coração dos adeptos. Uns porque se vendem - Varandas nem sequer foi à Assembleia -, outros porque têm dúvidas - Tavares e Rangel esperam o momento apropriado, que deverá ser em 2050 - e outros porque, enfim, não estão para isso, não podem ou não têm dinheiro para garantir um crédito que sustente o abismo financeiro no qual o Benfica está inequivocamente metido.
Resta-nos esperar. Com serenidade e comprometimento com os nossos ideais. E dar não um cartão amarelo - tão temido pelos situacionistas de algibeira - mas um claro e benfiquista cartão vermelho a esta gente. E, podem crer, quando isso acontecer, aparecerão candidatos. Uns maus, outros assim-assim e outros que trarão ao Benfica o que desejamos. É tempo de fazer regressar o clube a um patamar de benfiquismo apaixonado e credível. O mote está lançado, saibamos a partir de agora proporcionar o próximo passo. Os abutres saíram à rua.